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3.2 Princípios de Direito Tributário Relevantes à Tributação Ambiental

3.2.4 Princípio da Tipicidade

Ao lado do princípio da legalidade tributária, encontra-se no ordenamento ju- rídico brasileiro o princípio da tipicidade, a exigir que a lei seja rigorosa na descrição da imposição tributária.

A lei tributária deve conter como elementos estruturais que compõem qual- quer tributo, a delimitação do fato gerador da obrigação tributária, a definição do su- jeito passivo, a fixação da alíquota do tributo e da base de cálculo, a definição de infrações e imposição de penalidades, as hipóteses de exclusão, de suspensão e extinção de créditos tributários, dispensa ou redução de penalidades.

O princípio determina, assim, que o legislador estará jungido a fixar, em sua plenitude, o desenho integral da figura típica do gravame.

Tôrres142 ensina que o tipo pode ser aberto ou fechado, segundo a articulação de linguagem que o legislador adote, à luz dos cânones constitucionais, único fun- damento para justificar a criação e cobrança de tributos.

Segundo Amaral143, o tipo fechado ou cerrado define, de modo exaustivo, seus elementos sempre necessários. Nesse tipo há a adequação do fato concreto ao tipo, isto é, o fato concreto deve apresentar todos os elementos do tipo. O tipo aberto, por sua vez, apenas descreve, isto é, faz uma enumeração não exaustiva de seus elementos. No caso concreto pode faltar um elemento ou apresentar um ele- mento a mais, o que é irrelevante, podendo o tipo legal aberto ser aplicado ao fato.

141 COSTA, Regina Helena. Princípio da Capacidade Contributiva. São Paulo: Malheiros, 1993. p. 70.

142 TÔRRES, Heleno Taveira. Direito Tributário e autonomia privada: negócios jurídicos e atitu- de elisiva na aplicação das normas tributárias. 2002. Tese apresentada ao Concurso de Livre

Docente do Departamento de Direito Econômico e Financeiro da Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 93.

143 AMARAL, Paulo Henrique. Tributação ambiental. 2004. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, p. 60-61.

Desta forma, no tipo aberto, o intérprete fica mais livre por ter maior flexibili- dade, podendo solucionar lacuna por meio da analogia144. Enquanto no tipo fechado, o intérprete não tem essa amplitude para atuar no caso concreto, está subordinado aos elementos da lei tributária, não os podendo interpretar extensivamente, apenas restritivamente.

Amaral145 aponta que "a abertura do tipo, que se revela na inesgotabilidade

de suas notas, torna-o mais adequado a adaptar-se às situações vitais novas, en- quanto a forma de pensar, por conceitos rígidos e fechados, está sempre em atrito com a vida".

A legislação brasileira reconhece o tipo tributário como fechado. O Código Tributário Nacional, em seu artigo 97146, estabelece a necessidade de lei para institu- ir ou extinguir tributos, definir todos os seus elementos como fato gerador, base de cálculo, alíquota e outros. Todavia, a própria legislação tributária brasileira traz uma série de exceções em relação à regra da tipicidade fechada, ao utilizar, embora ex- cepcionalmente:

O emprego de conceitos indeterminados tais como 'despesas razo- áveis' ou 'lucro arbitrado', como de resto são encontradiços na legislação pátria do imposto de renda ('gastos incompatíveis', 'despesas necessárias à manutenção da fonte' conceituadas como ligadas a 'operações exigidas pela atividade da empresa', 'bens imprestáveis'). A lei complementar do imposto sobre serviços também contempla na respectiva lista de incidências concei- tos indeterminados ao se referir a 'serviços congêneres' e 'serviços correla- tos'. O mesmo se diga da legislação sobre incentivos fiscais subordinados a exame administrativo do mérito de projetos 'de interesse' (ou de 'relevante interesse') para o 'desenvolvimento' econômico, da cultura etc. E a legisla- ção sobre contribuição de melhoria não destoa, ao admitir a sua cobrança quando executada a obra na sua totalidade, ou 'em parte suficiente' para beneficiar determinados imóveis147.

144 BRASIL. Constituição (1988). Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I – processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Traba- lho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressal- vada a competência da Justiça Eleitoral;

b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal;

e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal. 145 AMARAL, op. cit., p. 61.

146 CTN – Código Tributário Nacional, Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. 3. ed. São Paulo: Sa- raiva, 2007.

147 OLIVEIRA, José Marcos Domingues de. Direito Tributário e meio ambiente: proporcionalidade, tipicidade aberta e afetação a receita. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 116-117.

Ensina Modé148 que:

A tipicidade fechada não exclui a interpretação ou a integração da lei tributária, afasta-se, sim o emprego da analogia (pelo Poder Judiciário) e da discricionariedade (pela Administração Pública) na criação ou majoração de tributos.

A completude de conceitos 'indeterminados' (embora plenamente determináveis) [...] é próprio da hermenêutica jurídica. Não se pode perder de vista o fato de que o caráter genérico de uma disposição legal leva o le- gislador, no momento de definir a melhor redação para o texto de lei, abster- se de expressões, que, pela generalidade buscada, representem um concei- to indeterminado à vista do intérprete no momento da aplicação do direito. Caberá assim, ao intérprete, diante do caso concreto, e valendo-se dos di- versos métodos de interpretação e integração disponíveis (CTN, art. 108), encontrar a verdadeira “vontade da lei”.

No que tange a tributação ambiental, a linguagem jurídica é, naturalmente, fluida e abrangente, porque, afinal, é a disponível na matéria ambiental, volátil, di- nâmica e necessariamente aberta em função dos avanços tecnológicos sempre im- previsíveis.

Continua Modé149,

Não se há de limitar a aplicação de uma norma tributária ambiental, assim como não se faz com outras normas tributárias em caráter geral, pelo simples apego ao conceito delimitado no momento da elaboração da norma, que tenha se modificado, em decorrência de descobertas científicas que se sucederam. É sabido que os progressos científicos, em todas as áreas, e na ecologia não se faz diferente, ocorrem com velocidade muito grande nos dia de hoje. De um dia para outro descobrem-se novas substâncias e proces- sos, o mesmo verifica-se o caráter poluidor em substâncias e processos até então insuspeitos.

Portanto, o direito deve estar em dinamismo constante da sociedade, acomo- dando os novos direitos e combatendo suas agressões. A tributação ambiental, para

148 MODÉ, op. cit., p. 80. 149 MODÉ, op. cit., p. 81.

ser eficaz, deve utilizar-se da tipicidade aberta para que a lei tributária ambiental possa ser aplicada a situações, poluidoras que não existiam no momento da criação da lei instituidora do tributo ambiental, mas que foram descobertas após sua entrada em vigor. Esta tipicidade aberta, por sua vez, não poderá permitir que a lei trace re- gras tão genéricas a ponto de se colocar em risco a segurança jurídica.

Verifica-se, assim, que é por meio do tipo aberto, devidamente aplicado, que se encontra a verdadeira segurança jurídica, no sentido exato de uma larga identi- dade entre o direito positivo e a evolução social.