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Contribuição de Melhoria de Caráter Ambiental

3.3 A Tributação Ambiental

3.3.4 As Espécies Tributárias compatíveis à Tributação Ambiental

3.3.4.3 Contribuição de Melhoria de Caráter Ambiental

O Código Tributário Nacional não definiu a contribuição de melhoria. Em seu artigo 81, todavia, encontram-se os elementos necessários a esse conceito:

Artigo 81 — A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados,

pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas a- tribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

Esse artigo esclarece que o tributo, contribuição de melhoria, é utilizado quando, como resultado de uma obra pública, ocorra a valorização de imóvel de par- ticular. Assim como a taxa, seu fato gerador une-se a uma atividade estatal específi- ca relativa ao contribuinte, sendo, portanto, um tributo vinculado.

Por isso, a contribuição de melhoria tem como característica essencial o be- nefício diferencial que a obra pública proporciona às propriedades privadas da zona de influência dessa obra.

Os proprietários de imóveis localizados nas proximidades dessas obras públi- cas, além de obterem os benefícios que toda a coletividade sentirá, também experi- mentarão a valorização de seus imóveis em razão dessas obras. Não é justo utilizar recursos de toda a sociedade para beneficiar diretamente apenas um determinado grupo de pessoas. Conseqüentemente, a instituição de contribuição de melhoria cor- rigirá essa injustiça, pois os beneficiados diretamente com as obras públicas paga- rão proporcionalmente à valorização de seus imóveis.

Para Ataliba181, a contribuição de melhoria não se paga somente porque se

obtém um benefício, mas porque esse benefício se relaciona com um gasto, e não é justo que a coletividade responda pelo custeio de uma obra que vem enriquecer, de modo especial, a alguns de seus membros.

181 ATALIBA, Geraldo. Natureza jurídica da contribuição de melhoria. São Paulo: Revista dos Tri- bunais, 1964. p. 18.

Portanto, da obra pública resultam vantagens gerais para toda a comunidade, mas pode resultar uma vantagem especial para os proprietários de imóvel no local em que se encarta. Não é justo, que estes proprietários usufruam dessa valorização, decorrente da obra realizada com dinheiro do Tesouro Público. O equivalente a essa valorização imobiliária há de retornar ao Tesouro. Por isso é que os financistas ima- ginaram um tributo capaz de fazer retornar ao Tesouro o valor despendido em obras públicas, até o limite da valorização imobiliária decorrente182.

Do ponto de vista ambiental, a contribuição de melhoria poderia cobrir o custo de obras públicas que tenham finalidade ambiental, como praças, parques, arboriza- ção de logradouros, entre outras, podendo, assim, levar a uma valorização de imó- veis próximos a esses espaços públicos. Enseja, desse modo, a cobrança de contri- buição de melhoria, pelo Estado, ao proprietário do imóvel beneficiado por essas obras públicas destinadas à preservação ambiental. Portanto, poder-se-ia utilizar um tributo de cunho fiscal, no caso da contribuição de melhoria, para que os entes fede- rativos se sentissem estimulados a fazer grandes obras que viessem, direta ou indi- retamente, a preservar o meio ambiente.

Porém, Oliveira183 alerta para o uso da contribuição de melhoria de caráter ambiental, apontando que a despoluição de um rio, por exemplo, sem dúvida causa- ria a valorização imobiliária para os imóveis ribeirinhos. Todavia, não se poderia, com a exigência de contribuição de melhoria, fazer com que tais pessoas arcassem sozinhas com a retirada de toda a poluição de um rio, feita ao longo dos anos por pessoas físicas e jurídicas, de direito público e privado, agricultores, garimpeiros. Se fosse utilizado como base de cálculo o custo da obra, seria praticada uma grande injustiça, com o desrespeito ao princípio da igualdade, para com tais contribuintes. Além disso, considerando-se que vários proprietários ribeirinhos não possuem capa- cidade contributiva e que vários rios poluídos se encontram em Municípios de baixa renda, a idéia da instituição dessa espécie tributária para financiar a recomposição do meio ambiente ficaria ainda mais impraticável.

Segundo Araújo184

182 AMARAL, op. cit., p. 168.

183 OLIVEIRA, Karen Alvarenga de. O sistema tributário ecológico. 1999. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Minas Gerais – UFSM, Belo Horizonte. p. 80.

Nossa Constituição Federal elenca que todos têm direito à sadia qualidade de vida, e é dever do Poder Público e da coletividade preservá-lo. Logo, pagar a mais para manter uma praça arborizada é um entendimento às avessas que privilegia um grupo, diga-se, aquele que pode arcar com despesas mais elevadas, e afasta o benefício que a própria constituição de- fende, ou seja, o acesso de todos ao meio ambiente. Isso justifica a contra- riedade, se estamos buscando medidas favoráveis à isenção e aos benefí- cios tributários que elevam a condição do meio ambiente à sustentabilidade, colocar a contribuição de melhoria nos termos da atual legislação tributária como tributo ambiental será desconsiderar os princípios de direito ambiental e ferir os preceitos constitucionais em matéria ambiental.

Entretanto, não há como se concordar com a colocação acima de Cláudia Campos de Araújo, uma vez que qualquer obra ambiental, como arborização de um logradouro, por exemplo, traria benefícios de ordem ambiental e social, atingindo toda a coletividade. No entanto, é bom lembrar que o fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização de imóvel decorrente de obra pública, o que obrigaria ape- nas os proprietários dos imóveis valorizados a arcar com o ônus de tal tributo, embo- ra os efeitos da obra ambiental beneficiem toda a sociedade.

Entretanto, o presente trabalho defende a possibilidade de instituição de con- tribuições de melhoria de caráter ambiental, pois, a par de seu potencial arrecadador (fiscal), pode-se transformar num elemento estimulador de grandes obras de profun- do sentido ambiental (extrafiscal). A contribuição de melhoria poderá assumir natu- reza extrafiscal ao incentivar o Poder Público a construir obras de natureza ambien- tal.

Além do seu caráter utilitário, tais obras contribuem para a educação do povo, posto que, o pagador da contribuição de melhoria passará a ser mais cuidadoso e zelará pela obra, já que contribuiu para financiá-la. A ignorância tem íntima conexão com a destruição do meio ambiente, de modo que qualquer ação que vise a incenti- var o desenvolvimento de consciência ambiental é benéfica á sociedade e se coa- duna com os princípios constitucionais de direito ambiental.