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EXCELENTÍSSIMO MINISTRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO DOUTOR AUGUSTO NARDES, RELATOR DA REPRESENTAÇÃO TCU Nº

III- Comprovação das irregularidades na Ponte

22. Do cotejo entre as alegações trazidas aos autos pelas

representadas, forçoso concluir pela urgente realização de auditoria sob o crivo desse Tribunal, a fim de otimizar a utilização da Ponte Presidente Costa e Silva em prol do interesse público.

23. Com efeito, a ANTT exime-se de qualquer responsabilidade pelo controle e segurança do trânsito na Ponte Rio-Niterói, atribuindo a incumbência, exclusivamente, à Polícia Rodoviária Federal.

24. A seu turno, a Polícia Rodoviária Federal assevera que a resolução

da ANTT, que estabelece restrição ao trânsito de caminhões pesados (isto é, acima de 02 eixos), não é precisa e impede o seu efetivo cumprimento.

25. Aponta, ainda, a Polícia Rodoviária que o descumprimento do

horário permitido à passagem de veículos pesados, de 22 às 04 horas, enseja multa inócua, de apenas RS 85,00 (oitenta e cinco reais), valor este bastante inferior ao custo da viagem contornando a Baía de Guanabara. E deixa claro que não há controle de excesso de velocidade por radares fixos ao longo da ponte.

26. Outro aspecto a considerar é o de que a Concessionária Ponte S.A tem fornecido meios operacionais (automóveis, vídeos etc.) de forma graciosa, o que, embora louvável, não é correto a PRF operar “de favor”, quando caberia à ANTT viabilizar os recursos materiais à segurança dos usuários em próprio nacional.

27. Restou ainda comprovado nos autos que a Ponte S.A. não fornece

nota fiscal aos usuários e pratica veiculação publicitária mediante painéis instalados em toda a extensão da ponte Rio-Niterói, contrariando expressas disposições legais do CNT e da Lei nº 5.137/2007.

28. Ademais, a Ponte S.A. e a Polícia Rodoviária Federal não lograram

fornecer aos usuários serviço telefônico para urgências, notadamente, com vistas à segurança dos que trafegam pela ponte Rio-Niterói.

29. Digno de nota o fato de que a Ponte S.A., afinal, não efetuou a aquisição de caminhão guincho especial para a retirada de ônibus ou caminhões danificados, inclusive, por incêndio, nem de unidades móveis dotadas de sistema para combate a incêndio, o que é imprescindível em defesa dos usuários e da própria estrutura da ponte, que se viu ameaçada com o incêndio do ônibus da Rio Ita.

30 Caso a aquisição desses equipamentos houvesse ocorrido,

conforme fora ventilado logo após a propositura desta representação, ao menos, haveria nos autos fotografias dos aludidos equipamentos.

31 Desse modo, a passagem de ônibus e caminhões pesados

representa risco para a ponte, enquanto não instalado o necessário aparato de combate a incêndio.

IV – Exigência de emissão de nota fiscal

32. Patente restou comprovado que a ausência de emissão de nota

fiscal na cobrança do pedágio representa efetivo PRIVILÉGIO e absoluta falta de transparência, notadamente no atual estágio da evolução tecnológica fiscal no Brasil, em que até microempresas emitem, em frações de segundos, a competente nota fiscal eletrônica, até pela venda de simples pão de sal.

33. Em verdade, a entrega de nota fiscal pela Ponte demoraria o mesmo que a expedição do recibo de pedágio, que já é fornecido aos usuários, e cujas máquinas também poderiam emitir a competente nota fiscal, sendo certo que esta singela operação conferiria maior transparência e consistência à receita obtida com o pedágio.

34- A propósito, reproduza-se o seguinte recibo de pedágio fornecido

35. Cumpre consignar que esse Tribunal já havia detectado inúmeras inconsistências na escrituração da concessionária, a exemplo dos seguintes excertos da Decisão proferida nos autos TC 006.322/2003-6, sob a Relatoria do Ministro Valmir Campelo, pertinente à “auditoria realizada na Concessionária da Ponte Rio-Niterói S.A., para verificar a pertinência das tarifas de pedágio cobradas desde o início da concessão”, nos seguintes termos:

“265. Os ganhos ou perdas de receita decorrentes dos reajustes tarifários não foram sistematicamente lançados no fluxo de caixa pela concessionária.

(..)

“297. Quanto a esse aspecto, deve-se destacar que os arquivos eletrônicos obtidos pela equipe de auditoria explicitam a incoerência entre as informações prestadas na proposta e os cálculos formulados. Assim, como explicitado no parágrafo 0, a comprovação de falha na análise da proposta econômico-financeira requer seja determinado à ANTT e ao Ministério dos Transportes que, em futuros procedimentos licitatórios, certifique-se quanto à consistência das premissas e exequibilidade das propostas econômico-financeiras apresentadas.”

(...)

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. determinar à Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992 c/c o art. 250, inciso II, do RI/TCU, que:

9.1.1. em futuros procedimentos licitatórios, certifique-se quanto à consistência das premissas e exeqüibilidade das propostas econômico-financeiras apresentadas;

9.1.2. seja categórica quanto aos procedimentos a serem adotados, aos ajustes a serem implementados no fluxo de caixa da concessão e às tarifas resultantes, quando da aprovação das revisões e adequações;

9.1.3. fiscalize o cumprimento do Programa de Exploração da Ponte - PEP, abstendo-se de efetuar no fluxo de caixa da concessão a transposição de obras e serviços que, em tese, já foram realizados; 9.1.4. desenvolva planilhas de cálculo claras e precisas, evite a apresentação de números sem fórmula de cálculo, a utilização de ajustes sem as devidas explicações e a adoção de fórmulas de arredondamento nas planilhas de cálculo, bem como instrua a Concessionária Ponte Rio-Niterói S.A. nesse sentido;

(...)

9.2. determinar à Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992 c/c o art. 250, inciso II, do RI/TCU, no prazo de 90 (noventa) dias, que:

(...)

9.2.2.1.5. a Contribuição Social e o Imposto de Renda não estão apresentados no fluxo de caixa de forma explícita, como estabelece as Leis nº 7.856/89, art. 2º, e nº 8.541/92, arts. 3º, § 1º, e 10;

(...)

9.2.2.2.2. o cálculo da receita financeira incide somente sobre a receita de pedágio e desconsidera todas as demais receitas operacionais lançadas no fluxo de caixa; ... (vide cópia integral nos autos). (Grifou- se)

36. Por conseguinte, a emissão de nota fiscal conferirá maior confiabilidade aos cálculos inerentes à exploração privada de bem público federal, em especial nos cálculos relativos à modicidade tarifária, ao Imposto de Renda e à COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

37. Impende registrar que há exigência legal para emissão de nota fiscal, mediante a instalação de Equipamento Emissor de Cupom Fiscal (ECF), ao contrário da equivocada alegação, às fls. 109/110, da Concessionária Ponte S/A.

38. Com efeito, dispõem os arts. 7º e 23, da Lei nº 11.033, de 21 de

dezembro de 2004:

Art. 7º As pessoas jurídicas que aufiram as receitas de que trata o inciso XXIII do art. 10 da Lei no 10.833, de 29 de dezembro de 2003, ficam obrigadas a instalar equipamento emissor de cupom fiscal em seus estabelecimentos, na forma disciplinada pela Secretaria da Receita Federal.

Art. 23. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos:

I - na hipótese dos arts. 1º a 5º e 7º, a partir de 1º de janeiro de 2005;

39. A redação do art. 10, inciso XXIII, da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003 é a seguinte:

Art. 10. Permanecem sujeitas às normas da legislação da COFINS, vigentes anteriormente a esta Lei, não se lhes aplicando as disposições dos arts. 1º a 8º:

(...)

XXIII - as receitas decorrentes de prestação de serviços públicos de concessionárias operadoras de rodovias (Incluído pela Lei nº 10.925, de 2004);

40. Ademais o convênio CONFAZ nº 01/98 e respectivas alterações,

que regulamentam a matéria no âmbito da União e dos Estados, não reconhece a alegada exclusão do emprego de Equipamento Emissor de Cupom Fiscal (ECF) pelas Concessionárias Operadoras de Rodovias, razão por que a Ponte S/A sujeita-se ao sistema inaugurado pelos arts. 61 a 63, da Lei nº 9532/97.

41 A instrução às fls 249, item 39, registra que “a Secretaria da Receita Federal (SRF) ainda não disciplinou o uso de equipamento emissor de cupom fiscal, pelo que as concessionárias não têm como implementá-lo (fls. 227/228).

42. Em consequência, cabe seja recomendado ao Exmo. Sr. Ministro

da Fazenda e ao Ilmo. Sr. Secretário da Receita Federal que determinem com urgência a regulamentação do emprego de “Equipamento Emissor de Cupom Fiscal” para utilização pelas Concessionárias Operadoras de Rodovias.

43. A recomendação em tela revela-se de suma importância neste

grave momento da vida nacional em que a Previdência Social carece de maiores recursos financeiros.