• Nenhum resultado encontrado

OMISSÃO DO PODER EXECUTIVO FEDERAL NO CUMPRIMENTO DE DECISÃO DA CORTE DE CONTAS

2. Histórico

O artigo aborda a Representação do Ministério Público Federal com vistas à instalação de Auditoria Operacional na Ponte Presidente Costa e Silva, em face da Concessionária Ponte Rio-Niterói S/A, Agência Nacional de Transportes Terrestres, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte e Polícia Rodoviária Federal, que restou julgada nos termos do acórdão n° 2210/2010-TCU-Plenário, pertinente aos autos nº TC 029.555/2006-3.

A iniciativa ministerial demonstrou-se necessária após a fatídica segunda-feira, dia 04 de dezembro de 2006, quando a interrupção da Ponte, ocasionada por incêndio de ônibus da empresa Rio-Ita, causou o mais demorado e extenso engarrafamento jamais ocorrido no Rio de Janeiro, provocando prejuízos a centenas de milhares de cidadãos, que amargaram cerca de 06 (seis) horas de paralização e retenção do trânsito com reflexos no Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo e quase todas as cidades da Região do Grande Rio.

Os danos à Ponte Rio-Niterói foram enormes. O ônibus da Rio-Ita ardeu em chamas sem nenhum socorro, pois o Corpo de Bombeiros de Niterói tem sede na rua Marques de Paraná, perto do centro de Niterói e distante cerca de 18KM do local do acidente, ocorrido no horário de rush. Assim, com a carcaça calcinada do ônibus, foram, também, retiradas 8 (oito) toneladas de asfalto danificado, conforme divulgação no site da Ponte Rio-Niterói, à época.

Do exame da situação existente na Ponte, revelaram-se as seguintes irregularidades: a) ausência de atuação integrada entre a concessionária e a Polícia Rodoviária Federal; b) não entrega de nota fiscal aos usuários após o pagamento do pedágio; c) exibição de propaganda ao longo de rodovia de alta velocidade; d) inexistência de escritório nas imediações do pedágio para atendimento ao público e de livro para reclamações de usuários; e) ausência de comunicação entre a concessionária e os usuários; f) impossibilidade de a Ponte servir ao transporte de veículos pesados ante a ausência de serviço adequado ao combate de incêndios; g) insegurança dos usuários na volta para casa ao fim de cada dia de trabalho; h) “ausência de plano estratégico para diminuir o volume de tráfego na Ponte” e consequente pedido de recomendação ao poderes executivos federal e estadual para construir o arco rodoviário do Rio e Janeiro e instalar linha marítima para transporte de massa entre o Rio de Janeiro e São Gonçalo.

A Secretaria de Fiscalização de Desestatização- Sefid - emitiu proposta de arquivamento da Representação, que restou acatada por despacho do eminente ministro relator Augusto Nardes, em 14 de junho de 2010:

Considerando a instrução de lavra da Secretaria de Fiscalização de Desestatização-Sefid, às fls. 245/251 deste processo, a qual logrou demonstrar a ausência de irregularidades nos atos ora trazidos à baila pelo representante, acolho como minhas razões de decidir os argumentos apresentados pela unidade técnica, os quais incorporo ao

meu despacho e, conheço da presente representação, por preencher os requisitos de admissibilidade previstos no art. 237, inciso I, do Regimento Interno do TCU, para no mérito considerá-la improcedente. Por conseguinte, com fundamento no art. 137 da Resolução/TCU n° 191/2006, determino o arquivamento dos autos, sem prejuízo do envio de cópia deste despacho e das instruções pertinentes à Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, à Concessionária da Ponte Rio-Niterói, à 5ª Superintendência da Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro e ao representante. À Sefid, para provimentos a seu cargo.

Em sede de Agravo, no entanto, o Plenário do TCU julgou procedente em parte a Representação, consoante a seguinte parte dispositiva do Acórdão TC nº 2210, de 1º de setembro de 201060:

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em: 9.1. com fundamento no art. 289 do Regimento Interno, conhecer do agravo interposto pelo Sr. Ricardo Santos Portugal, Procurador da República no Estado do Rio de Janeiro para, no mérito, dar-lhe provimento, tornando insubsistente a decisão monocrática que considerou improcedente a representação formulada pelo interessado; 9.2. com fulcro no art. 237, inciso I, do Regimento Interno, conhecer da representação formulada pelo interessado, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;

9.3. indeferir o pedido de realização de auditoria de natureza operacional, por falta de amparo legal ou regimental;

9.4. determinar ao Ministério da Fazenda (MF) e à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) que, no prazo de 90 (noventa) dias, de forma conjunta, adotem medidas no sentido de promoverem a regulamentação do uso do Equipamento Emissor de Cupom Fiscal (ECF) pelas concessionárias de rodovias federais, em face do contido no art. 7º da Lei nº 11.033/2004; art. 10, caput, e inciso XXIII, da Lei nº 10.833/2003, com as modificações introduzidas pela Lei nº 10.925/2004; e nos arts. 61 a 63 da Lei nº 9.532/1997, dando ciência a este Tribunal das providências adotadas;

9.5. determinar à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que, no prazo de 90 dias, adote providências no sentido de efetuar fiscalização junto à Concessionária Ponte S/A, visando à verificação do cumprimento dos artigos 81 e 82 do Código Nacional de Trânsito, comunicando a este Tribunal das medidas levadas a efeito; 9.6. recomendar à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que, em conjunto com os demais órgãos federais envolvidos, adote providências para sanear ou minorar, conforme o caso, as questões objeto da representação relativas a velocidade inadequadas, trânsito de veículos proibidos, falta de radares, ausência de comunicações

60

Inteiro teor do Acórdão nº 2210/2010: http://contas.tcu.gov.br/portaltextual/MostraDocumento?lnk=%28AC- 2210-32/10- P%29%5bnumd%5d%5bB001,B002,B012%5d

telefônicas de urgência e segurança física dos usuários nos acessos à Ponte Rio-Niterói, nos termos das cláusulas 73, 74 e 75 do Contrato PG-154/94-00, dentre outras que garantem aos usuários um serviço adequado;

9.7. determinar à Secretaria de Fiscalização de Desestatização (Sefid) que monitore as determinações supra, representando a este Tribunal caso necessário;

9.8. remeter cópia desta deliberação, acompanhada do relatório e do voto que a fundamentam ao representante, à Concessionária Ponte Rio-Niterói S/A, à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ao Ministério da Justiça (MJ), ao Ministério dos Transportes (MT), às Casas Civis da Presidência da República, do Governo do Estado do Rio de Janeiro e das Prefeituras dos Municípios do Rio de Janeiro/RJ, Niterói/RJ e São Gonçalo/RJ.

9.9. arquivar os autos.”

3. A legitimidade Ministério Público para representar ao Tribunal de Contas da