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Veiculação ilegal de publicidade na Ponte Rio-Niteró

EXCELENTÍSSIMO MINISTRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO DOUTOR AUGUSTO NARDES, RELATOR DA REPRESENTAÇÃO TCU Nº

V- Veiculação ilegal de publicidade na Ponte Rio-Niteró

44. A Concessionária da Ponte alegou que o art. 11, da Lei nº 8.987,

de 13 de fevereiro de 1995, Lei Federal das Concessões, permitiria a veiculação publicitária como receita alternativa (v. petição às fls. 111).

45. O referido dispositivo legal tem a seguinte redação:

Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá o poder concedente prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.

46. Como se lê, dito dispositivo, nem qualquer outro da Lei nº

8.987/95, autorizou a publicidade às “margens de rodovia”, “em terrenos limítrofes” e muito menos sobre a faixa de domínio das estradas, ainda mais em pontes e viadutos.

47. E não se diga que há autorização de órgãos com jurisdição sobre

vias federais ou mesmo estaduais. Muito pelo contrário, senão, vejamos a seguir.

48. A ANTT admitiu a exibição de publicidade pela Concessionária da

Ponte, conforme ofício às fls. 129, mas apenas foi permitida a instalação de painéis em postes próximos à praça de pedágio, e não ao longo de toda a extensão da Ponte (14km), a fim de que fosse respeitada a legislação de trânsito.

49. Com efeito, reproduza-se o Ofício nº 505/2006-SUINF/GEFEI:

“Reportamo-nos à Carta nº 0631/PR-01, de 17/03/2006, na qual essa Concessionária apresenta o orçamento para a instalação de painéis de propaganda em postes próximo a praça de pedágio.”

“Sobre o assunto, informamos que esta ANTT não apresenta objeções desde que sejam observados os aspectos de segurança ao usuário e de interferência com a sinalização vertical existente. Solicitamos, ainda, que nos seja encaminhado o contrato firmado” (Grifou-se).

50. Ocorre que a publicidade disponibilizada pela Concessionária

estende-se por toda a via e não se restringe aos postes próximos ao pedágio, como teria sido autorizado pela ANTT.

51 Além disso, os painéis de propaganda estão afixados nos suportes

da sinalização de trânsito, instalados sobre as pistas de rolamento da Ponte, o que contraria frontalmente os artigos 81 e 82 do Código Nacional de Trânsito, verbis:

Art. 81. Nas vias públicas e nos imóveis é proibido colocar luzes, publicidade, inscrições, vegetação e mobiliário que possam gerar confusão, interferir na visibilidade da sinalização e comprometer a segurança do trânsito.

Art. 82. É proibido afixar sobre a sinalização de trânsito e respectivos suportes, ou junto a ambos, qualquer tipo de publicidade, inscrições, legendas e símbolos que não se relacionem com a mensagem da sinalização (Grifou-se).

52. E não é só. A Lei nº 5.137/2007 proibiu a publicidade nas faixas de domínio das rodovias, especialmente em pontes e viadutos, do Estado do Rio de Janeiro, verbis:

Lei nº 5.137, de 21 de novembro de 2007

Proíbe a instalação de engenhos de divulgação de publicidade em forma de outdoors e painéis luminosos em vias expressas.

O Governador do Estado do Rio de Janeiro,

Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1° - É proibida a colocação de engenhos de divulgação de publicidade, sejam quais forem suas formas, composições ou finalidades, nos seguintes casos:

I - nas faixas de domínio das rodovias;

II - nos locais em que prejudiquem, de qualquer maneira, a sinalização do trânsito ou outra destinada à orientação pública, ou que causem insegurança ao trânsito de veículos ou pedestres, especialmente em viadutos, pontes, canais, túneis, pontilhões, passarelas de pedestres, passarelas de acesso, trevos, entroncamentos, trincheiras, elevados e afins;

III - nos locais em que prejudiquem as exigências de preservação da visão em perspectiva, sejam considerados poluentes visuais pela legislação específica, ou prejudiquem direito de terceiros;

Art. 2° - Consideram-se engenhos de divulgação de publicidade: I - tabuleta ou outdoor - engenho fixo, destinado à colocação de cartazes em papel, substituíveis periodicamente;

II - painel - engenho fixo ou móvel constituído por materiais que, expostos por longo período de tempo, não sofrem deterioração física substancial, caracterizando-se pela baixa rotatividade da mensagem; III - letreiro - a afixação ou pintura de signos ou símbolos em fachadas, marquises, toldos, elementos do mobiliário urbano ou em estrutura própria;

IV - dispositivo de transmissão de mensagens - engenho que transmite mensagens publicitárias por meio de visores, telas e outros dispositivos afins;

Art. 3º - Sem prejuízo das sanções civis e penais cabíveis, o descumprimento do disposto nesta Lei acarretará a aplicação da penalidade de multa no valor de 1.000 até 10.000 UFIRs.

Parágrafo único – A regulamentação desta Lei deverá estar disponível, para efeitos de fiscalização, no prazo de quarenta e cinco dias a contar da publicação desta Lei.

Art. 4º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

53. Frise-se que o Estado do Rio de Janeiro tem competência para legislar sobre a exibição de publicidade nas estradas (v. CF, arts. 23, XII, 24, XVI, par. 2º, e 25, par. 1º), mesmo porque, na hipótese, em consonância com a legislação federal, conforme dispõem os artigos 81 e 82 do CNT.

54 A propósito, em relação ao perigo causado pelos painéis

publicitários em estradas de alta velocidade (que dirá em Pontes!), reproduzam-se as conclusões da OHIO STATE UNIVERSITY, divulgadas pelo Detran/RS, segundo os estudos do Major João Batista Hoffmeister e Paulo Ricardo Meira (in: http-www.detran.rs.gov.br-notícias-PasestrahoffmesistermeiraCBCR.ppt.url):

> Um condutor pode ficar até 8 segundos tentando ler um outdoor rodoviário.

> A visão noturna de um condutor é prejudicada após prestar atenção em um painel iluminado.

> Motoristas em estradas de alta velocidade podem percorrer 150 a 250 metros durante o tempo em que estão lendo um outdoor.

55 No caso da Ponte Rio-Niterói a situação é mais grave, porque os

sinais verdes ou vermelhos existentes em cada pórtico de sinalização, que deveriam sinalizar pista livre ou bloqueada, acham-se apagados à noite, coincidentemente, para não prejudicar o efeito visual dos painéis de propaganda iluminados.

56. E mais, ditos painéis são afixados em cima da pista de rolamento,

no sentido contrário de direção, fazendo com que os motoristas, institivamente, passem a desviar a atenção para o lado esquerdo, em detrimento da segurança viária.

57 Enfim, somente numa sociedade pouco desenvolvida, argumentos

a favor da modicidade tarifária sobrepõem-se à segurança viária e à incolumidade de vidas humanas.

58 Face ao exposto, requer seja expedida recomendação à ANTT no

sentido de que faça cumprir os artigos 81 e 82, do Código Nacional de Trânsito em toda a extensão da Ponte.

VI– Excesso de velocidade e demais abusos na Ponte Rio-Niterói

59. É quase impossível respeitar a velocidade limite de 80km, face à

pressão no trânsito dos que praticam excesso de velocidade e manobras irresponsáveis, ante a ausência de qualquer controle na Ponte.

60 Daí a necessidade de se instalar radares fixos para controle de velocidade ao longo da via, aumentando-se, no entanto, o limite máximo para até 110km, por faixas de rolamento e características dos veículos (carros, ônibus, caminhões etc.), consoante prévia avaliação técnica sob encargo da ANTT com apoio da Universidade Federal Fluminense. A título de comparação, no túnel Rebouças a velocidade máxima é de 90km e nos túneis da Linha Amarela atinge 110km. Em ambos locais há radares fixos.

61. Urge, também, disciplinar o tráfego de motocicletas na Ponte, eis

que, a exemplo do que ocorre em todo o País, apresenta absoluto desregramento com sérios riscos à integridade física dos usuários.

62. Destarte, requer seja expedida recomendação à ANTT para (a) promover a instalação de radares fixos, (b) realizar estudo técnico para fixação de velocidade máxima por faixas de rolamento e tipos de veículos (b) estabelecer maior rigor técnico nas portarias que disciplinam a restrição de caminhões pesados, o tráfego de motocicletas, em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal, e o tráfego militar de veículos pesados, também, em conjunto com as autoridades militares responsáveis pela Base Naval do Rio de Janeiro, na ilha de Mocanguê, Niterói (vide sugestões da PRF, às fls. 176/178).

63. Quanto às imensas retenções de trânsito causadas por obras nos

acessos da Ponte, que comprometem a economia de combustível e tempo de deslocamento entre residência e local de trabalho, cumpre expedir

recomendação ao DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – para que nas licitações com vistas à ampliação e reforma de acessos à Ponte, notadamente, em direção a São Gonçalo, sejam exigidas soluções alternativas para o pleno desembaraço do trânsito na Ponte Rio- Niterói.

VII – Ausência de serviço de atendimento de urgência ao usuário da Ponte

64. Depreende-se das alegações da ANTT, às fls. 32, que o serviço disponibilizado pela Ponte S.A., por intermédio do telefone nº 2620-9333, destina-se à informação “sobre as condições climáticas e do tráfego”, podendo o usuário “fazer comentários ou receber orientação sobre os serviços da Concessionária. O telefone funciona 24h, diariamente, e atende milhares de chamadas/mês”.

65. Como se vê, o serviço telefônico da Ponte não se presta ao atendimento de emergência, nem poderia, uma vez que há mera reprodução de gravação automática, cuja duração leva vários minutos, isto é, o tempo gasto na travessia da Ponte, de forma que o usuário não é atendido de imediato em situações de urgência, mesmo porque a Concessionária parte do princípio de que suas câmeras de TV a tudo veem, sendo despiciendo qualquer contato com o usuário (na dúvida, basta ligar para o aludido telefone e confirmar este relato).

66. A PRF, recentemente, disponibilizou o telefone nº 191, mas este

não é divulgado em placas indicativas, apesar de a ANTT admitir a sua divulgação, às fls. 32, desde que solicitado pela Polícia Rodoviária Federal. 67. Ademais, dito atendimento dá-se em call center da PRF e não diretamente nos Postos da Polícia Rodoviária instalados na Ponte, o que provoca demora indesejável e possível perda de objeto da chamada de urgência.

68. Além disso, esclareça-se que é deficitário o sinal de telefonia celular em alguns pontos do trajeto, a título de exemplo, na entrada da ponte, no sentido Rio-Niterói, no vão central e próximo à Base Naval do Mocanguê. No caso, cabe a convocação das concessionárias de telefonia celular para aprimorar o alcance das antenas transmissoras nestes e outros locais em que a fiscalização considerar necessário.

VIII – Ausência de plano estratégico para diminuir o volume de tráfego na Ponte

69 Contribuição importantíssima à solução do impasse causado pela

defasagem da Ponte Rio-Niterói em relação a atual demanda de tráfego representa a NOTA TÉCNICA nº 36/GREX/SUINF/2007, da ANTT, às fls. 140/155.

70. Com efeito, após exaustivo estudo técnico que levantou o atual fluxo de tráfego na Ponte Presidente Costa e Silva, a Agência Nacional de Transportes Terrestres com o apoio da Universidade Federal Fluminense exarou o seguinte Parecer:

“O transporte de carga e as atividades econômicas envolvidas são muito importantes, porém passar pela Ponte, que já apresenta a trafegabilidade bastante comprometida é a solução? A idéia de arco rodoviário que retiraria os caminhões das vias urbanas do rio de janeiro não seria uma melhor opção?

71. Tal entendimento, sem dúvida, vem ao encontro da declaração de

Vossa Excelência, por ocasião da Visita Técnica à Ponte Rio-Niterói, em 16 de julho de 2007, ao expressar-se no sentido de que era flagrante a “ausência de plano estratégico para diminuir o volume de tráfego na Ponte”. Inaugurada em 1974 e planejada para o fluxo diário de 50 mil automotores, na atualidade, recebe mais de 130 mil veículos (v. fls. 173), o que denota o total esgotamento das condições viárias da Ponte Rio-Niterói com sérios prejuízos para o Setor de Transportes.

72. Sem dúvida, a construção do Arco Rodoviário do Rio de Janeiro,

que ligará as cidades de Itaboraí e Itaguaí, RJ, representa obra estratégica para o País, pois otimizará o escoamento da produção brasileira para o Exterior, via Porto de Sepetiba. E isto permitirá que a Ponte assuma, de fato, a sua atual vocação urbana.

73 Em consequência, cabe expedir recomendação ao Ministério dos

transportes a urgente construção do Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, face à sua importância logística para o escoamento da produção nacional e consequente desenvolvimento do Brasil.

IX - Instalação de linha marítima para transporte de massa entre o Rio de Janeiro e São Gonçalo

74. Milhões de trabalhadores residem em São Gonçalo e trabalham

na cidade do Rio de Janeiro, do outro lado da Baía de Guanabara. Estas cidades integram a segunda maior Região Metropolitana do Brasil e não se compreende o porquê da União Federal, que é vocacionada pela Constituição para tal mister, não tenha, decorridos 37 anos desde a sua última intervenção local, com a inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva, apresentado projeto para a solução do impasse consistente no deslocamento diário superior a 2.000.000 (dois milhões) de trabalhadores entre as duas cidades, cujo trajeto no horário de rush, estende-se por longas 2 horas e 30 minutos.

75 Por via marítima, a demora seria de apenas 40 minutos e a

otimização do transporte de massa resultaria em aumento da produção e do IDH brasileiros. Esta poderia se tornar uma das importantes conclusões da Auditoria em prol dos anseios da população economicamente ativa do Grande Rio de Janeiro.

76 A Ponte S.A., a ANTT e a PRF têm receio da perda do status quo,

mas se colaborassem com a iniciativa ora sob os auspícios do Tribunal de Contas da União, também, cresceriam com a economia do Estado, prestes a sofrer um nó em seu sistema viário com o crescimento econômico da região, notadamente, após a futura inauguração do Polo Petroquímico de Itaboraí e dos portos de Sepetiba e São João da Barra.

77 Em consequência, cabe seja recomendado ao Poder Executivo

Federal, que, em associação ao Estado do Rio de Janeiro, promovesse a instalação de linha marítima para transporte de massa entre as cidades do

Rio de Janeiro e São Gonçalo, além de incentivar maior aproveitamento do transporte marítimo para carga e veículos na Baía de Guanabara.

X – Conclusão

78. Ex Positis, em sede de Agravo, requer este Procurador Regional da

República a reforma do r. despacho que julgou improcedente o pedido desta Representação com vistas à realização de Auditoria Operacional na Ponte Presidente Costa E Silva ou outra intervenção fiscalizatória do Tribunal de Contas da União, julgada mais apropriada por essa Corte de Contas.

79 E uma vez que restou comprovada a realidade fática narrada na

inicial, face à Visita Técnica empreendida por essa douta Relatoria na Ponte e às respostas das entidades representadas que, implicitamente, reconheceram a veracidade dos fatos, tanto que imputaram umas às outras a responsabilidade pelas irregularidades comprovadas, requer, sem prejuízo de outras medidas julgadas cabíveis pelo Tribunal, sejam efetuadas as recomendações propostas nos itens III a IX retro, em defesa dos altos interesses da Previdência Social na cobrança da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e dos justos anseios de milhões de trabalhadores, que têm emprego no Rio de Janeiro, residem na cidade de São Gonçalo e clamam por transporte marítimo alternativo, além da razoável pretensão de todos usuários da Ponte Rio-Niterói, que aguardam a melhoria do serviço público concedido à Ponte S/A com maior empenho na segurança coletiva e desembaraço no deslocamento entre as duas maiores cidades do Estado do Rio de Janeiro.

80 Caso Vossa Excelência entenda não reconsiderar a r. decisão

monocrática pela improcedência do pedido, requer o cumprimento da norma prevista no artigo 289, par. 2º, do Regimento Interno do Tribunal, isto é, “submeter o feito à apreciação do colegiado competente para o julgamento de mérito do processo”.

81 Protesta seja ouvido o Ministério Público perante o Tribunal de Contas da União, por força do artigo 62, I e II, do respectivo Regimento Interno.

Rio de Janeiro, 12 de julho de 2010 Ricardo Santos Portugal

ANEXO

ACÓRDÃO Nº 2210/2010 -

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU)