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5.2. ACESSO À INFORMAÇÃO VERSUS ACESSIBILIDADE DA INFORMAÇÃO

5.2.4 A comunicação em Saúde

Comunicação é um processo transacional e, no contexto da saúde, é parte importante do trabalho da promoção de saúde. Comunicação, de acordo com Minardi e Riley (1997), é um processo essencial, providencial e intencional. A transação de comunicação é uma das informações partilhadas que emprega um conjunto de regras

comuns (Northouse e Northouse, 1998). Na promoção de saúde, a comunicação é um processo planejado (Kiger, 2004). A eficiência desse processo planejado vem à tona quando o público atingiu, atuou ou respondeu a uma mensagem. (CORCORAN, 2011, p. 1-2, tradução de Lívia Oliveira)

A comunicação em Saúde anda junto com o letramento em Saúde. De um lado, a condição ou capacidade que o paciente tem de compreender o que lhe está sendo dito sobre sua saúde, o letramento. De outro, os esforços e estratégias para uma comunicação efetiva entre paciente/familiares e provedor, de modo que estes sejam capazes de se entender mutuamente. A comunicação em Saúde tem como principal objetivo promover a saúde. Como explica Corcoran, na promoção da saúde, a comunicação é um processo planejado e a eficiência desse processo planejado vem à tona quando o público atingiu, atuou ou respondeu a uma mensagem (CORCORAN, 2011, p. 2).

Segundo Kreps (2003, apud CORCORAN, 2011, p. 4), a comunicação em Saúde é vista como um recurso que permite que as mensagens de saúde (por exemplo, prevenção, risco ou conscientização) sejam usadas na educação e na prevenção da saúde ruim. A comunicação em Saúde, portanto, ocupa muitos níveis da sociedade e deve ter uma abordagem holística na promoção da saúde.

Em países como os Estados Unidos e a Inglaterra, juntamente com os movimentos em defesa de uma linguagem acessível ao cidadão por parte de órgãos governamentais, existem diversas iniciativas que visam a facilitar a comunicação médico-paciente ou profissional de saúde-paciente. Uma delas é a mostrada na foto abaixo. Um dicionário de Plain Language (Linguagem Acessível) para a área médica, no qual o usuário pode pesquisar por termos médicos e receber explicações acessíveis (Figura 19).

Figura 19: Dicionário médico de linguagem acessível

Segundo o site Plain Language26 do governo americano, os provedores de Saúde estão cada vez mais sendo incentivados a que os pacientes e seus familiares lhes façam perguntas, de modo que não restem dúvidas sobre sua condição e necessidades. Perguntas como as relacionadas abaixo podem nortear a comunicação entre o provedor de Saúde e o paciente/familiares.

• Qual é o meu problema?

• O que eu preciso fazer?

• Por que é importante que eu faça isso?

Mas, naturalmente, as respostas precisam ser claras e acessíveis, de acordo com o nível de letramento em Saúde do paciente. De nada adianta o médico, por exemplo, informar ao paciente sobre sua condição da mesma forma que falaria com um colega de trabalho. Portanto, para que se tenha os melhores resultados, a comunicação em Saúde deve se adequar ao letramento do paciente, o que muitas vezes não acontece. Existem diversos fatores que podem prejudicar a comunicação provedor-paciente e que devem ser observadas:

- Pessoas com baixo grau de letramento geral tendem a ter baixo grau de letramento em Saúde; portanto, o provedor deve adequar sua linguagem ao paciente e seus familiares.

- Questões culturais e a barreira da língua podem afetar a comunicação provedor- paciente. Podemos citar como exemplo a os imigrantes.

- Questões emocionais. O abalo emocional pode afetar a comunicação entre provedor e paciente/familiares, por isso é importante o provedor ter empatia.

- O sistema de saúde no Brasil, tanto público quanto privado, não proporciona tempo presencial suficiente do provedor com o paciente de modo que estabeleçam uma boa comunicação. Portanto, é importante que o provedor seja o mais claro possível nos breves contatos que tem com seus pacientes/familiares.

Pelas razões listadas acima, acredito que a implementação de diretrizes de Linguagem Acessível nos sistemas de saúde brasileiros é fundamental para que a comunicação entre provedor e paciente/familiares seja facilitada e que os pacientes tenham uma melhor noção de seus direitos, dos riscos envolvidos, bem como de suas necessidades e obrigações médicas. Os desafios são enormes, mas por meio da Linguagem Acessível, podemos melhorar o nível de letramento em saúde da população brasileira.

Algumas iniciativas como essa já podem ser vistas no país com o livro “Entendendo a Doença de Parkinson – Informações para pacientes, familiares e cuidadores” (TERRA,

26 PLAIN LANGUAGE. c2018. Disponível em: <https://plainlanguage.gov/resources/content-

N.L. 2016). O texto foi revisado pela Profa. Dra. Maria José Bocorny Finatto, especialista em Acessibilidade Textual e Terminológica (ATT) e está acompanhado de um glossário de termos. A proposta original desse livro era a de apresentar uma linguagem mais acessível para leitores leigos, considerando-se pessoas sem formação específica em Saúde ou em áreas correlatas ao tema.

Ao que parece, nem todos os autores envolvidos no livro compreenderam esse objetivo e/ou aceitaram todas as recomendações de simplificação, podendo ser encontrados vários trechos bastante complexos, o que pode ter justificado a presença do glossário na obra. Os temas escolhidos abrangem todos os cuidados que um paciente que desenvolve a Doença de Parkinson e seus cuidadores devem ter, da Fisioterapia ao atendimento Odontológico, Nutricional e jurídico.

Ainda temos duas outras iniciativas importantes, agora no âmbito da tradução. O livro infantil, “Vovô agora é cavaleiro”, de Dagmar H. Mueller e Verena Ballhaus (2012), sobre a Doença Parkinson tem por objetivo ajudar os familiares, como netos e netas, dos pacientes com DP a entenderem melhor os sintomas e as limitações da doença. Esse livro foi escrito originalmente em alemão, tendo sido traduzido e adaptado para o contexto brasileiro por Sâmia Rios. Já o livro “Terminologia Médica para Leigos” é uma tradução de “Medical Terminology for Dummies” e faz parte de uma série de livros em inglês, sobre diversos assuntos, como engenharia, informática, etc., escritos para leigos. Segundo a introdução do próprio livro, o leitor aprenderá a identificar e pronunciar termos médicos; entender a origem e a formação das palavras; desconstruir palavras para compreender as definições; e descrever situações médicas de forma exata.

Figura 20: Capa do livro infantil, Vovó agora é cavaleiro, sobre DP e do livro Terminologia Médica

para Leigos

Se o Brasil seguir essa tendência mundial, abrirá espaço para que o tradutor e o profissional do texto tenham papel fundamental nesse processo. Nos Estados Unidos, tradutores e intérpretes são contratados para trabalhar em hospitais e acompanhar pacientes de outras nacionalidades, fazendo a ponte entre profissionais de saúde e pacientes e familiares.

5.2.5 Letramento digital

Após a disseminação do acesso à Internet, a maneira como as informações chegam ao cidadão mudou completamente. Podemos acessar informações a qualquer hora, de qualquer lugar. A informação também pode chegar em tempo real. Os jornais e livros impressos continuam existindo, mas estão cada vez mais sendo substituídos por suas versões digitais, normalmente mais baratas e práticas, pois podem ser acessadas rapidamente, sem restrições logísticas. O computador e a Internet revolucionaram a maneira como nos comunicamos e até nos relacionamos uns com os outros. As exigências no trabalho já não são as mesmas. As empresas exigem de seus funcionários diversas habilidades relacionadas com o manuseio do computador e de suas funcionalidades. Por meio do computador as pessoas praticam a leitura e a escrita, se comunicam e interagem, tornam-se sujeitos da informação.

E na era digital nada mais natural que surgisse o letramento digital. Segundo Barton (1998 apud XAVIER, 2015), o letramento digital seria mais um tipo de letramento dentro da gama de letramentos de um indivíduo. E, segundo Soares (2002), por letramento digital compreende-se a capacidade que um indivíduo tem de responder adequadamente às demandas sociais que envolvem a utilização dos recursos tecnológicos e da escrita no meio digital.

Conforme explica Carmo (2003), o letramento digital é mais do que o conhecimento técnico, ele inclui ainda:

Habilidades para construir sentido a partir de textos multimodais, isto é, textos que mesclam palavras, elementos pictóricos e sonoros numa mesma superfície. Inclui também a capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informações disponibilizadas eletronicamente”. O letramento digital é, portanto, a capacidade de lidar naturalmente e com agilidade as regras da comunicação em ambiente digital. (CARMO, 2003, documento on-line)

Ainda conforme explica Soares (2002), a tela do computador se constitui como um novo suporte para a leitura e escrita digital. Segundo ela, a tela é considerada um novo