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Atendendo a convite de Sua Excelência o Senhor Shri P.V. Narasimha Rao, Ministro dos Negócios Estrangeiros da República da índia, Sua Excelência o Senhor Embaixa-dor Ramiro Saraiva Guerreiro, Ministro de Estado das Relações Exteriores do Brasil, realizou visita oficial à índia, de 5 a 7 de março de 1984.

Os dois Ministros debateram questões bila-terais e multilabila-terais de interesse mútuo. As conversações se desenvolveram na atmosfe-ra de amizade e compreensão recíprocas que caracteriza as relações estreitas e amis-tosas entre os dois países.

Sua Excelência o Senhor Ministro das Rela-ções Exteriores do Brasil entrevistou-se com Suas Excelências o Senhor Giani Zail Singh, Presidente da índia, o Senhor Shri M. Hidayatullah, Vice-Presidente, a Senho-ra IndiSenho-ra Gandhi, PrimeiSenho-ra-MinistSenho-ra, o Se-nhor Sri Balram Jakhar, Presidente da Câ-mara Baixa, o Senhor Shri Shiv Shankar, Ministro do Petróleo e Energia, e o Senhor Shri N.K.P. Salve, Ministro do Aço e Minas. Os dois Ministros passaram em revista os estreitos vínculos entre os povos do Brasil e da índia e recordaram que tais vínculos fo-ram aprofundados pela história comum de luta pela descolonização, pela eliminação de todas as formas de injustiça, dominação e hegemonia, e pelo estabelecimento de uma ordem internacional mais justa, na qual a cooperação prevaleça sobre as riva-lidades. As conversações revelaram alto grau de compreensão e similitude de pontos de vista dos dois países. Ambas as partes expressaram vontade sincera de desenvolver

Comunicado Conjunto Brasil—índia, divulgado à imprensa, em Nova Délhi, em 7 de março de 1984, ao final da visita do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro.

e fortalecer ainda mais suas relações estrei-tas e amistosas.

Os dois Ministros expressaram sua grave preocupação pela deterioração da situação internacional e pela persistência de diversas formas de crise, tanto de natureza política quanto económica. Concordaram em que tal situação requer esforços destinados a di-minuir tensões e eliminar as fontes existen-tes de conflito e controvérsia, de tal manei-ra que a comunidade internacional possa concentrar suas forças no sentido do esta-belecimento de uma ordem internacional mais equitativa. Reiteraram a firme adesão de seus países aos princípios da Carta das Nações Unidas e sublinharam a necessidade de fortalecimento daquela Organização com vistas a transformá-la em instrumento efetivo de preservação da paz e da seguran-ça internacionais e de promoção da coope-ração internacional para o desenvolvimen-to.

Os dois instaram pelo desarmamento geral e completo, especialmente o nuclear, sob efe-tivo controle internacional. Concordaram em que os Estados dotados de poder militar nuclear deveriam adotar medidas urgentes para suspender e reverter a corrida arma-mentista, com vistas a impedir, de maneira efetiva, a proliferação horizontal e vertical de armas atómicas. Instaram ainda pelo con-gelamento do desenvolvimento, da produ-ção, da estocagem e da instalação de armas atómicas e pela conclusão, em futuro próxi-mo, de um tratado abrangente sobre a proibi-ção de testes, do uso e da ameaça de uso de armas nucleares. Deploraram também as tentativas de alguns Estados nuclearmente

armados de impor restrições discriminató-rias aos Estados que não dispõem de armas nucleares, como as salvaguardas, e de retar-dar, assim, seus avanços tecnológicos; rea-firmaram o direito de todos os Estados de-senvolveram a energia nuclear para fins pa-cíficos, de conformidade com suas aspira-ções e capacidade nacionais.

Os dois Ministros concordaram na urgência de que todos os Estados se abstenham, de maneira escrupulosa, de quaisquer atos de agressão, do recurso ao uso da força ou à ameaça de uso de força, bem como da intervenção e interferência em assuntos internos de outros Estados, e de todas as outras formas de pressão, inclusive os blo-queios económicos e militares. Reafirma-ram o direito de todos os povos à autode-terminação nacional, à independência, à soberania, à integridade territorial, à esco-lha do respectivo sistema político, econó-mico e social, à persecução do próprio de-senvolvimento económico, sem qualquer tipo de interferência ou pressão externas. Os dois Ministros ressaltaram sua firme crença na relevância e significado do papel do Movimento dos Não-Alinhados no esta-belecimento e fortalecimento da paz e da segurança internacionais. Concordaram em que o Movimento dos Não-Alinhados, cuja aspiração é a de que os Estados se mante-nham afastados da guerra fria, de alianças militares, da rivalidade das grandes potên-cias e da confrontação Leste-Oeste — tem um papel importante a desempenhar na sal-vaguarda da paz mundial e na proteçao dos países não-alinhados contra pressões estran-geiras, de maneira a habilitá-los a concen-trar seus esforços em seu desenvolvimento económico e social.

Os Ministros expressaram profunda preocu-pação pela persistência de crises regionais e indicaram que a transferência de tensões globais para os cenários regionais é um dos fatores de agravamento de tais crises. Con-cordaram em que as forças regionais deve-riam envidar plenos esforços, de maneira flexível e aberta, na busca de uma solução

adequada, livre de interferência das super-potências ou super-potências extra-regionais. No tocante à situação do Oriente Médio, os dois Ministros expressaram sua grave preo-cupação pelos atos de agressão continuados contra o povo da Palestina, do Líbano e das nações árabes, e reiteraram o direito inalie-nável do povo palestino a estabelecer um Estado independente em seu território, a Palestina. O Ministro das Relações Exterio-res do Brasil expExterio-ressou a opinião de que todos os Estados da região têm o direito a existir em paz, dentro de fronteiras reco-nhecidas.

Os dois Ministros expressaram sua conster-nação pela continuação do trágico conflito entre o Ira e o Iraque, dois importantes membros do movimento dos Não-Alinha-dos — e conclamaram ambas as partes a tomarem medidas imediatas para evitar per-das adicionais de viper-das civis e danos a obje-tivos não-militares. Reiteraram o apelo fei-to pela Presidente do Movimenfei-to dos Não-Alinhados durante o VII Cúpula dos Não-Alinhados de Nova Delhi, que expressa o desejo universal de que a luta cesse ime-diatamente e as duas partes alcancem uma paz honrada, justa e duradoura, através de negociações e meios pacíficos.

Os dois Ministros expressaram sua preocu-pação pela situação do Afeganistão e reafir-maram seu apoio à independência, sobera-nia, integridade territorial e à condição de não-alinhado daquele país.

Sobre a situação do Caribe, os Ministros ressaltaram as necessidades específicas dos pequenos Estados da área, tanto no campo do desenvolvimento económico quanto no

da segurança, inclusive o seu direito à sobe-rania e integridade territorial. Neste contex-to, analisaram e deploraram a recente inter-venção em Granada e apelaram em favor da autodeterminação daquele país, sem qual-quer forma de interferência externa.

Os dois Ministros expressaram sua grave preocupação pela evolução da situação da

América Central. Concordaram em que a complexa crise regional tem causas estrutu-rais, agora agravadas por formas de inter-venção e interferências externas. Considera-ram, portanto, que os esforços para a solu-ção da crise deveriam levar em conta, de maneira abrangente, o contexto regional e o respeito estrito pelo princípio da não-interferência. Neste sentido, sublinharam a ação positiva do Grupo de Contadora, que tem procurado criar condições de paz na região, através de meios exclusivamente di-plomáticos.

No tocante à África do Sul, os dois Minis-t r o s concordaram em que os aconMinis-te- aconte-cimentos na África Meridional demonstram que o apartheid e a dominação colonial continuam a resistir às forças de transfor-mação. Concordaram em que a política do

apartheid continua a gerar tensão em todos

os países da região. Os dois Ministros subli-nharam a necessidade de imediata indepen-dência da Namíbia, de conformidade com as resoluções pertinentes das Nações Uni-das; expressaram ainda seu apoio à SWAPO como representante do povo da Namíbia. Os Ministros deploraram o impasse, em to-das as negociações no marco do Diálogo Norte-Sul, para o estabelecimento de um novo conjunto de regras conducentes à re-estruturação do sistema económico interna-cional e conclamaram os países desenvol-vidos a um sério esforço no sentido de faze-rem reviver a cooperação internacional para o desenvolvimento, de especial urgência no momento atual, diante da crise económica internacional.

Os dois Ministros sublinharam a importân-cia que atribuem à meta da auto confiança coletiva entre os países em desenvolvi-mento. Expressaram satisfação pelo pro-gresso registrado até agora na implementa-ção de vários programas de cooperaimplementa-ção en-tre os países em desenvolvimento e insta-ram por maiores esforços com vistas a tal fim. Tomaram nota de que as negociações para o estabelecimento do sistema global de

preferências comerciais entre os países em desenvolvimento foram lançadas e afirma-ram sua determinação de trabalhar pela conclusão das mesmas em futuro próximo. Conclamaram também a adoção de medidas internacionais apropriadas para aliviar o ónus da dívida dos países em desenvolvi-mento — que se deve, em grande medida, a fatores fora do seu controle, como certas políticas económicas dos países desenvolvi-dos —, de maneira a fornecer uma resposta internacional ordenada à atual situação de endividamento dos mencionados países. Com vistas a habilitar os dois Governos a se manterem informados sobre os respectivos pontos de vista quanto à evolução das ques-tões acima referidas, e outras de natureza semelhante, os Ministros concordaram em estabelecer um mecanismo informal de con-sultas, no âmbito do qual poder-se-á proce-der, alternativamente no Brasil e na fndia, a intercâmbio periódico de opiniões sobre a temática internacional, de natureza política e económica.

Ao passarem em revista as relações bilate-rais, os Ministros reconheceram com satisfa-ção a existência de perspectivas concretas de incremento da cooperação entre o Brasil e a fndia, especialmente nas áreas das rela-ções económicas e de ciência e tecnologia. Neste contexto, os Ministros decidiram es-tabelecer, o mais rapidamente possível, uma Comissão Mista sobre Cooperação C o m e r c i a l , Económica e Científica e Tecnológica, integrada pelas Sub-comissões correspondentes, que fornecerá o marco institucional apropriado para avaliar e pro-mover a cooperação em tais áreas.

A respeito das relações económicas, os Mi-nistros expressaram a necessidade de incre-mentar e diversificar as importações e ex-portações entre os dois países, levando em conta o desejo de equilibrar o comércio. Reconheceram a necessidde de participação recíproca em projetos de desenvolvimento,

considerando a complementaridade exis-tente na área de bens de capital e serviços de engenharia, e consultoria. "Joint ventu-res" deveriam ser encorajadas, inclusive com vistas à cooperação em projetos a se-rem implementados em terceiros países.

Tomando em consideração o Acordo de Comércio entre o Brasil e a índia e a impor-tância que ambas Partes atribuem ao incre-mento do intercâmbio comercial e à coope-ração económica, os dois Ministros decidi-ram ainda que, enquanto não se estabelece a Comissão Mista referida em parágrafo anterior, conversações sobre temas comer-ciais e económicos deveriam realizar-se en-tre os dois Governos, de conformidade com modalidades apropriadas, que poderiam in-cluir a criação de um Comité Interino de Comércio.

Concordaram em que um programa de tra-balho deveria ser estabelecido, com a espe-cificação de áreas de cooperação económica que os dois lados considerem de mútuo in-teresse, que será adotado e implementado pelo mecanismo que vier a ser proposto ou pelo Comité de Comércio acima referido. Neste contexto, a Delegação brasileira for-mulou propostas que refletem sua opinião sobre as áreas de cooperação económica prioritárias, que a Parte indiana concordou em considerar.

No campo da ciência e da tecnologia, os Ministros expressaram o profundo interesse das autoridades governamentais e da comu-nidade científica do Brasil e da índia pela criação de sólidos vínculos de cooperação. Discutiram as possibilidades de cooperação e realização de pesquisas conjuntas nos campos da informática, microeletrônica, tecnologia do silício, química, instrumenta-ção, controle de qualidade, estandardiza-ção, agricultura, tecnologia espacial, biotec-nologia, oceanografia e fontes novas e reno-váveis de energia, tais como biogáse álcool como combustível alternativo. À luz des-sas perspectivas promissoras, consideraram da maior relevância a celebração tão logo como possível, de um Acordo de Coo-peração Científica e Tecnológica, que pre-tendem assinar até o final de 1984.

Com vistas a imprimir maior impulso à co-operação cultural entre os dois países, os Ministros concordaram em elaborar um cro-nograma de implementação para o progra-ma bilateral de intercâmbio cultural relati-vo ao biénio 1985-1987.

O Ministro das Relações Exteriores da Re-pública Federativa do Brasil expressou sua sincera gratidão pela calorosa acolhida que lhe foi dispensada e à sua delegação, pelo Governo da fndiá. Formulou um convite cordial ao Ministro do Exterior da fndia para que visite o Brasil. O convite foi aceito com prazer. A visita terá lugar em data a ser oportunamente fixada por ambas as partes.