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Senhor Secretário de Estado,

Ao acolher Vossa Excelência e sua comiti-va, desejo expressar-lhe a satisfação com que sua visita é recebida pelo Governo bra-sileiro. Sua vinda ao Brasil constitui exce-lente oportunidade para impulsionarmos o diálogo entre nossos países, diálogo que es-tá lastreado por amplo capital de boa von-tade recíproca.

Nos últimos anos, registrou-se importante intensificação nos encontros entre altas au-toridades dos dois países. Em 1982, os Pre-sidentes João Figueiredo e Ronald Reagan trocaram visitas extremamente bem-sucedi-das e que revigoraram os contatos no mais alto nível. Na ocasião da visita do Presiden-te norPresiden-te-americano, os dois mandatários de-cidiram criar os Grupos de Trabalho, cujas atividades constituem o motivo mais ime-diato de nosso encontro nesta oportuni-dade.

Eu próprio estive em Washington em março de 1983, para o lançamento das atividades

desses Grupos de Trabalho, e, naquela oportunidade, manifestei a esperança de que Vossa Excelência pudesse aqui vir quando elas se encerrassem. Tais eventos encontram paralelo na multiplicação dos contratos nas demais esferas do relaciona-mento bilateral.

Vossa Excelência tem prestado valiosa con-tribuição pessoal para desenvolver e atuali-zar os laços entre nossos países. A variada experiência que Vossa Excelência traz ao cargo que ocupa, e seu conhecimento da realidade brasileira, o credenciam como in-terlocutor lúcido, neste difícil momento internacional que todos atravessamos. Nosso encontro de hoje convida à reflexão sobre as características marcantes do rela-cionamento entre os Estados Unidos da América e o Brasil.

Se nossas nações dialogam há mais de du-zentos anos e nossos Governos há mais de cento e cinquenta, é porque esses contatos fluem de fontes perenes e porque lhes sou-bemos dar flexibilidade e adequá-los à reali-dade. Assim construímos uma relação ao mesmo tempo estável, pois que baseada em

valores consagrados, e dinâmica, pois que dotada da plasticidade necessária para aco-lher os anseios cambiantes de nossos povos. A amizade é o traço mais nítido de nossas relações. É um fator presente desde as pri-meiras instâncias em que nossas nações se fizeram conscientes uma da outra. Espontâ-nea, reforçada pelo progresso e pelo traba-lho de tantas gerações, é ela a garantia maior para o futuro.

A solidariedade é outro fator permanente. Desde o século X V I I I , com o interesse sus-citado em nosso país pela Revolução ameri-cana, e, através dos séculos, fomos solidá-rios, os Estados Unidos e o Brasil, em cau-sas decisivas, de amplo escopo, defendidas por ambos os países no interesse da huma-nidade.

Hoje, como antes, a solidariedade manifes-ta-se e se deve manifestar através da com-preensão da complexidade dos problemas e das atitudes específicas de cada um dos dois países.

O respeito mútuo é também uma caracte-rística essencial de nosso convívio. Natural em nossos países, de índole democrática e avessos à uniformidade e à unanimidade co-mo norma, constitui ele orientação segura para nosso intercâmbio político, económi-co e cultural.

Nossa comum adesão a certos valores per-manentes, não só nos permite, senão nos impõe, o respeito às identidades próprias e aos pontos de vista da outra parte na cons-trução de uma relação equilibrada e mutua-mente satisfatória.

O reconhecimento de diferenças nas situa-ções que vivem cada um dos dois países confere realismo e vitalidade a nossos en-tendimentos. Dialogamos com plena cons-ciência dessas diferenças decorrentes, em última análise, das circunstâncias próprias de situação geográfica, de inserção política, de níveis de poder e desenvolvimento e de

interesses específicos que caracterizam cada um de nossos países.

Poderseia dizer que a maturidade é, f i -nalmente, traço marcante de nosso relacio-namento. Virtude essencial, ela confere ao diálogo bilateral a serenidade necessária pa-ra torná-lo opepa-rativo e equilibpa-rado.

A amizade, a solidariedade, o respeito mú-tuo, a aceitação da identidade e dos interes-ses próprios, a maturidade são mais do que expressões de um relacionamento diplomá-tico bem construído. Na verdade, são pa-drões de relacionamento que orientam e de-vem orientar o complexo de intercâmbios entre o Brasil e EUA, em que todas as for-mas de aproximação entre nações são to-cadas. As trocas económicas e financeiras, a presença cultural, a participação nos esfor-ços de desenvolvimento são facetas de uma relação que se renova e aperfeiçoa a cada dia.

Em síntese, Senhor Secretário de Estado, devo ressaltar que a busca do relacionamen-to estreirelacionamen-to é uma das bases tradicionais da história de nossa aproximação, meta perma-nente de sucessivos Governos. Diante deste quadro, o Governo brasileiro mantém sua decisão de dinamizar a cooperação com os Estados Unidos da América, em bases igua-litárias, dando relevo à exploração de con-vergências e buscando sempre solucionar, pelo canal diplomático e de forma criativa e dinâmica, as questões que se colocam no plano bilateral.

Senhor Secretário de Estado,

As dificuldades que marcam a economia in-ternacional — a recessão ainda dominante em tantas áreas, as elevadas taxas de juros, a desaceleração do comércio, o reforço do protecionismo e a abrupta contração dos fluxos financeiros dirigidos aos países endi-vidados — afetam de maneira grave, ainda que em graus e modalidades diferentes, a nossos países.

Tais fatos em nada diminuem, entretanto, nossa disposição de buscar cooperação mais

estreita nas questões bilaterais, assim como maior conhecimento recíproco no que se refere a atitudes diante dos problemas eco-nómicos globais.

A recuperação económica que ora se inicia nos EUA revela de forma inequívoca a pu-jança e o inesgotável poder de renovação de seu país. Confiamos em que, em seus des-dobramentos, tal recuperação venha a con-tribuir efetivamente para que a economia mundial — por força dos fatos, mas tam-bém de ações deliberadas da comunidade internacional — readquira as condições de estabilidade e previsibilidade sem as quais nem o Norte nem o Sul reencontrarão os rumos de uma prosperidade sustentada. O Brasil, de sua parte, vem dando, apesar dos dramáticos impactos externos que tem sofrido, exemplo de persistência na luta pela superação da crise de endividamento que ora lhe tolhe tão severamente as pers-pectivas de desenvolvimento.

O Governo dos Estados Unidos da América tem adotado atitude particularmente positi-va diante do esforço que estamos fazendo, em especial na condução dos entendimen-tos no plano financeiro. Esperamos que outros setores de opinião nos próprios EUA e em outros países exportadores de capital revelem sensibilidade à altura da determina-ção com que a sociedade brasileira se empe-nha em sobrepujar a presente crise. Refiro-me, sobretudo, à necessidade de que sejam reduzidos os óbices que se antepõem ao imenso esforço exportador empreendido por este país, cujo êxito é essencial para o encaminhamento da questão da dívida externa.

Senhor Secretário de Estado,

A multiplicação dos focos de tensão mun-dial e regional constitui motivo de constan-te sobressalto. Em não poucos casos, a paz e a segurança internacionais se vêem, de uma forma ou outra, ameaçadas. A acelera-ção da carreira armamentista nuclear susci-ta inquiesusci-tações em todos os quadrantes do globo.

Em nosso entender, o momento requer maior diálogo entre todos os países e, so-bretudo, entre as Grandes Potências. Aos Estados Unidos da América cabe a difícil responsabilidade histórica de contribuir pa-ra a reconstrução do entendimento interna-cional.

Como país que pertence tanto ao Ocidente quanto ao Terceiro Mundo, o Brasil, por sua vez, tem sensibilidade apurada para a necessidade de uma aproximação mais níti-da entre esses dois grupos de nações. Per-manecemos convencidos de que existe uma fundamental mutualidade de interesses en-tre os países do Norte e do Sul, o que deve ter permanente tradução tanto na esfera económica quanto na política.

No plano interamericano, continua o Brasil a apoiar o entendimento e a negociação. No que diz respeito à América Central, o Gru-po de Contadora merece, como se sabe, o decidido apoio brasileiro por seus esforços no sentido de uma solução pacífica dos conflitos da região. Temos acolhido tam-bém favoravelmente as reiteradas declara-ções de autoridades norte-americanas de que desejam trabalhar nesse sentido. De modo mais amplo, acreditamos que o trata-mento adequado para os problemas políti-cos de nossa região só pode ser o diálogo aberto e a negociação diplomática, com ba-se no respeito mútuo, na não-intervenção e na compreensão recíproca.

Senhor Secretário de Estado,

Foi com especial agrado que, conjunta-mente com Vossa Excelência, dei hoje por concluídas as tarefas dos Grupos de Traba-lho. Os resultados de tal iniciativa bem ex-pressam as melhores tendências de nossas relações bilaterais, pois estimulam a coope-ração ao mesmo tempo que permitem pre-servar os interesses específicos e as políticas de cada um dos dois países.

Não menor foi minha satisfação em manter com Vossa Excelência uma troca de impres-sões sobre as principais questões da

atuali-dade, renovando o contato que temos man-tido. Continuo disposto a realizar con-sultas com Vossa Excelência sempre que necessário ou conveniente, assim como a conservar abertos e em pleno funcionamen-to os canais de comunicação entre o Itama-raty e o Departamento de Estado.

Desejo agora convidar todos os presentes a me acompanharem erguendo suas taças em um brinde aos laços de amizade que unem o Brasil e os Estados Unidos da América, à prosperidade do povo norte-americano, à saúde do Presidente Ronald Reagan e à feli-cidade pessoal de Vossa Excelência.

Muito obrigado.