• Nenhum resultado encontrado

Comunidades com importância turística em Acaraú – CE: qual o olhar dos seus

6 RESULTADOS

6.2 Comunidades com importância turística em Acaraú – CE: qual o olhar dos seus

A praia de Barrinha, nos últimos meses recebe muitos turistas que querem desfrutar de outras praias locais, além de Jericoacoara. A comunidade fica a 22 km de distância do núcleo turístico regional, com acesso pela praia do Preá-Cruz, conforme figura 4.

Figura 4: distância entre as praias de Barrinha e Jericoacoara

Fonte: Google Earth, 2018.

A praia tem identidade pesqueira, mas possui alguns restaurantes. Segundo os empresários locais, donos desses empreendimentos, a praia só tem se desenvolvido em razão do fluxo de turistas que chegam para conhecer a praia de Jericoacoara. Moradores consideram que o número de visitantes aumentou com a chegada do restaurante Komaki, que foi construído em 2015, no alto de uma duna e toda a sua arquitetura foi projetada para que o cliente pudesse curtir a natureza. Na praia, uma das atrações é o passeio de buggy que segue pelas dunas e lagoas de Barrinha. Os coqueirais soterrados pelas dunas fazem

parte do cenário e as lagoas de água doce são um atrativo à parte, com suas águas mornas, rasas e gostosas para um banho.

Figura 5: Praia da Barrinha – Acaraú – CE.

Fonte: Google imagens, 2019.

Apesar dos atrativos, os moradores reclamam da falta de infraestrutura e de iluminação pública. Segundo eles, a coleta de lixo é organizada pela própria comunidade. Reclamam que não existe uma organização da parte dos empregadores para o desenvolvimento da atividade turística. A praia é considerada tranquila e, mesmo com o Turismo em fase crescente, não há disputas entre os nativos, no entanto, eles se sentem inseguros quanto às ocupações com seus equipamentos turísticos como restaurantes, pois as áreas ocupadas são de propriedade da Marinha. Também relatam o desconhecimento de parcerias interinstitucionais para o desenvolvimento do Turismo local, mesmo assim, apontam o aumento de emprego, aberturas de negócios próprios e do comércio, como pontos positivos. As principais atividades desenvolvidas pelos nativos ou moradores das localidades próximas são de garçom, camareiras e vigilantes.

Uma das entrevistadas que é dona de restaurante, destaca que são organizadas atividades solidárias que unem a comunidade e que as atividades não são voltadas para atrair os turistas, pois a praia em si já tem os próprios atrativos, com lagoas cristalinas entre as dunas, práticas de kitesurf, atividades de pesca e mergulho. Uma prática desenvolvida pelos pescadores que aproveitam o fluxo dos turistas é o aluguel de canoas para pesca

artesanal em alto mar para conhecer os corais. A organização de outras atividades é de responsabilidade da Associação Comunitária de Barrinha. Com a visita de campo, também foi possível perceber que estrangeiros aproveitam o crescimento do Turismo na comunidade para implantação de seus negócios.

Outro destaque na pequena comunidade é o museu gestado por um senhor, cujo nome denomina o próprio museu. O equipamento, sem fins lucrativos, visa a promover a cultura local, com exposição de peças antigas e com algumas curiosidades. Para o dono do empreendimento, a localidade se desenvolveu muito em razão do aumento da atividade turística, porém ele expõe as muitas dificuldades enfrentadas por falta de investimentos do poder público para melhorar os acessos da localidade. Para ele, apesar do pouco investimento, e de não se beneficiar diretamente dos grandes equipamentos turísticos implantados na região, como o aeroporto de Jericoacoara, muitas pessoas tiveram a vida melhorada em função do aumento do número de empregos gerados com a instalação do equipamento nas redondezas. A seguir, registros da fachada do Museu, em fevereiro de 2019.

Figura 6: Fachada do Museu em Barrinha

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2019.

O pequeno museu, como dito, abriga peças antigas e algumas curiosidades. A seguir, na figura 7, a exposição de equipamentos de TV dos anos de 1980, cartuchos de bala de canhão, dentre outros.

Figura 7: Exposição de peças antigas do Museu de Barrinha

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2019.

O terceiro morador deu entrevista e demostrou receio para expor sua opinião em questões que envolviam o poder público municipal. Apesar disso apontou que o Turismo na região tem sido desenvolvido com o “gancho” de Jericoacoara, “[...] pois o berço de Jeri tornou-se pequeno e transbordou”. Ele também acredita que a comunidade local não está organizada para receber o fluxo turístico e não há apoio dos órgãos, corroborando, assim, o pensamento de outra empreendedora local. Afirmou que os proprietários locais estão se organizando aos poucos e que já existem pautas para que os incentivos aconteçam por parte da Secretaria de Turismo de Acaraú.

Segundo ele, “[...] o Turismo na comunidade de Barrinha passou a ter maior importância a partir do crescimento das atividades de esporte aquático, além das áreas naturais serem bonitas e inexploradas e que estas são as principais potencialidades da região que tem formação de dunas”; com isso há o aumento do “[...] conhecimento da população para recebimento do Turismo”. Mesmo com tantos atrativos, porém há também os pontos negativos provenientes do desenvolvimento da atividade econômica de Turismo, o mesmo morador aponta a ocorrência de entulho na praia e a falta de reciclagem como problemas da região. Outro ponto positivo citado é a boa vontade dos empregadores locais em acolher os nativos com ocupações laborais.

Outra importante comunidade é a de Curral Velho – Acaraú CE, localizada a 250 km da Capital Fortaleza e tem aproximadamente três mil habitantes. Desenvolve como

atividades de subsistência a pesca e a mariscagem. Os moradores locais têm relação estreita com os ambientes naturais e, em virtude disso, a localidade de Curral Velho já foi palco de conflitos entre interesses locais de preservação do meio ambiente e dos territórios de moradores e dos donos de viveiros de camarão, que definem seu relacionamento com o meio ambiente voltado para exploração dos recursos naturais.

Gomes (2010), expressa no livro Historiando Curral Velho que, na comunidade há um patrimônio ambiental composto por manguezais, dunas, praia, gamboas e o apicum7. O mesmo autor cita como principais manifestações culturais o reisado e o drama, além de outras expressões atualmente mais presentes como as novenas, as coroações e a prática do futebol, que anima a comunidade nos finais de semana. Sobre os saberes tradicionais da localidade estão “[...] a construção dos currais de pesca e das casas de taipa, a arte de pescar, o artesanato em palha e renda, a culinária” além disso “o ofício das marisqueiras e dos pescadores”, a “farinhada e o modo de fazer o mocororó - bebida tradicional de Curral Velho feita a partir do sujo de caju - esses dois últimos mostrados como heranças do modo de vida e da cultura dos povos indígenas ( GOMES, 2010, P. 20).

Com já exposto, a comunidade de Curral Velho se organizou com base na intenção de enfrentar os problemas decorrentes da prática da carcinicultura. Com isso foi criado o Centro de Educação Ambiental e Turismo Comunitário Encante do Mangue e em 2007, passando a fazer parte da Rede Tucum. Foi com suporte nesse engajamento com a Rede que a localidade percebeu que o desenvolvimento de atividades turísticas poderia ensejar renda, melhorando, assim, a qualidade de vida das famílias residentes.

Com efeito, o engajamento dos moradores também previa o enfretamento desses problemas com o avanço da atividade de carcinicultura que, segundo Gomes (2010), são: [...] a ocupação de terras; divisão da comunidade; violações aos direitos humanos, havendo casos de intimidação física e psicológica dirigida às pessoas que resistiam a esta atividade; devastação da vegetação de mangue, de áreas de carnaubais e mata ciliar, provocando a desestruturação da paisagem; desestruturação das funções ecológicas do manguezal; comprometimento das atividades comunitárias, por conta da salinização do solo; destruição das espécies que dependem desse ecossistema para completar seu ciclo de vida e que são importantes para a nossa soberania alimentar; contaminação das águas; etc. (GOMES, 2010, p. 07)

7É uma área nos arredores do manguezal, que também é conhecido por “salgado”. É de grande importância

para o equilíbrio e a manutenção da biodiversidade da natureza. Destruí-los é anunciar a morte do ecossistema manguezal, debilitando as condições de vida de mais de 65% das espécies de peixe e demais organismos, que necessitam dos estuários para nascer, crescer e reproduzir-se. Abriga vidas como o Chié, que tem como uma das funções 'arar' a terra do “salgado” para os mangues se desenvolverem. (GOMES, 2010, p. 08)

Com o desenvolvimento da pesquisa, pode-se constatar que a comunidade resiste e que é exemplo de luta para atendimento das necessidades das famílias que sobrevivem das atividades da pesca artesanal, da agricultura tradicional e da produção de artesanato.

Consoante expressa Borges (2010), o centro educacional da comunidade, que simboliza a força da organização local, oferece cursos de capacitação para jovens e adultos, acesso gratuito à internet e oficinas de audiovisual financiadas pelo Ministério da Cultura e pelo Banco do Nordeste.

Segundo o morador da localidade (representante 2), que também trabalha com Turismo Comunitário, o Centro de Educação Ambiental foi uma ação que contribuiu para o desenvolvimento do Turismo local. Ele cita as principais atividades praticadas na comunidade: “[...] o passeio de barco, as trilhas dentro do manguezal, informações sobre o conhecimento da cultura do lugar, como a casa de farinha e apresentação de objetos antigos.”

Ele ratifica o fato de que essas atividades são desenvolvidas no âmbito do Turismo Comunitário e que o desenvolvimento dessas atividades está relacionado com as lutas que ocorreram especialmente por causa das posses de terras. Veja-se um trecho da entrevista.

[...] então tudo isso é desenvolvido com essa prática do Turismo comunitário. estão também relacionado o nosso trabalho, a nossa luta! Teve uma grande luta por causa da posse de terra porque as pessoas quiseram tomar e por causa dessa luta, por causa dessa grande luta, veio a ideia de fazer com que pudesse concentrar mais esse centro que hoje nós chamamos de centro de educação ambiental. Para que? para poder fortalecer a comunidade e fazer com que os empresários pudessem ver essa região com bons olhos, coisa que eles não veem. (REPRESENTANTE DO TURISMO COMUNITÁRIO EM CURRAL VELHO, 2019)

Nas proximidades de Curral Velho, localiza-se Arpoeiras, a principal praia de Acaraú, cujos investimentos para o desenvolvimento do Turismo estão exposto à frente. Arpoeiras é atrativo especialmente pela prática de esportes náuticos, como o kitesurf, que tem crescido nos últimos anos no Município de Acaraú. Segundo empreendedor local, a praia tem grande potencial para o Turismo que passou a ter maior importância após a construção da CE 085 e do início da prática do kitesurf, mas, segundo ele, o fluxo muito intenso na praia de Jericoacoara tem atrapalhado os negócios em Acaraú, pois o turista não

se desloca para o entorno e não há organização local para que isso aconteça. Vejamos o trecho dessa observação:

[...] Eu acho que atrapalha, o turista só vem aqui quando ele aluga um carro e vem certinho para cá. O Turismo hoje está direcionado para Jeri. Os guias lá tem um roteiro, eles só fazem o roteiro deles, só vão até a Barrinha, que é Acaraú, mas que é considerado Jeri, está dentro do mapa de Jeri, só chega até ali e pronto! (EMPREENDEDOR LOCAL, 2019).

O empreendedor e morador da praia acentua que a Secretaria de Turismo está atuante, especialmente com as obras da urbanização das praias, mas que os sonhos foram frustrados pela interdição das obras, já que havia risco de desabamento em função do avanço do mar e a força das marés que destroem o muro de arrimo. Para solucionar o problema de falta de acesso aos estabelecimentos, ele conta que os moradores se reuniram para fazer doação de terrenos onde construíram acessos com a ajuda da Prefeitura para fazer o aterro. Na sequência, imagens das obras realizadas em Arpoeiras no intuito de melhorar a infraestrutura local e impulsionar o Turismo na região.

Figura 8: Obras da construção das barracas na praia de Arpoeiras

Fonte: Tide Andrade, 2017.

O anúncio do investimento realizado foi em 2014 pelo então governado Cid Gomes. Abaixo a Figura 9 mostra as barracas em fase de conclusão.

Figura 9: Obras das barracas de Arpoeiras, em fase de conclusão

Fonte: Google, 2018.

A Secretária de Turismo confirma que houve atrasos em virtude do avanço das marés, mas que serão realizadas obras para garantia da entrega das barracas à comunidade. Para o secretário de Assistência Social, além das barracas que estão sendo construídas, tem que haver uma preocupação com a qualidade do serviço, com a formação dos profissionais que atuarão na área do Turismo com a oferta de cursos de gastronomia para melhorar a situação alimentar, com paralela preocupação com a saúde pública e com ações que diminuam os impactos sociais. Imagens do entorno da praia comprovam que se faz necessário, também, uma preocupação com os pequenos empreendedores que mal podem desfrutar de infraestrutura mínima para atendimentos dos clientes. A figura abaixo, explicita que os munícipes tentam implantar seus negócios no setor turístico, mas que as condições do entorno à obra onde ficam as novas barracas são precárias.

Figura 10: Restaurantes no entorno do centro de Arpoeiras

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2018.

Para melhorar o acesso à praia, também foi realizada obra de sinalização e pavimentação do trecho Cauassú – Curral Velho, que dá acesso à praia, no valor de R$ 116.641,46, no entanto, percebe-se que muito precisa ser feito para que o Turismo seja desenvolvido de maneira organizada e assim trazer resultados mais significativos para seus moradores.

Para complementar os resultados e demais percepções dos moradores, ver-se-á a seguir, a análise de similitude e nuvem de palavras das entrevistas realizadas com gestores e empreendedores locais, de modo a avaliar as políticas trabalhadas no Polo Costa Sol Poente, bem como a percepção do Turismo local e a participação dos beneficiários. Para isso, analisam-se as classes geradas pelo dendograma do software IRAMUTEQ, seguido da análise de conteúdo.

Destaca-se o fato de que todos os entrevistados aceitaram participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). (Apêndice 1).

6.3 A percepção do Turismo local sob o olhar dos gestores, empreendedores