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Resultados com suporte no Círculo Hermenêutico-Dialético (CDH)

7 AVALIAÇÃO DO PRODETUR NO MUNICÍPIO DE ACARAÚ

7.1 Resultados com suporte no Círculo Hermenêutico-Dialético (CDH)

Para melhor entendimento desse procedimento metodológico, tomou-se o grupo de nove entrevistados com ligação com a atividade turística no Município, desenvolvendo atividades da gestão, de empreendedorismo ou com alguma representatividade local.

No segundo momento, estes foram divididos em três grupos: gestores, empreendedores e representantes comunitários para constituir consensos entre os representantes do mesmo grupo e depois os consensos entre os grupos distintos.

Por último, foi feita a articulação entre os dados coletados e os referenciais teóricos da pesquisa, de modo a encontrar a percepção dos sujeitos sobre o Turismo local e principais ações desenvolvidas pelas políticas públicas na Costa Sol Poente de maneira a compreender as mudanças sociais e econômicas na região.

A figura a seguir representa o método dos encontros dessas percepções e/ou construções iniciais até chegar à síntese, que será o consenso geral.

Figura 15: Representação do Círculo Hermenêutico-Dialético

Fonte: elaboração própria.

A seguir veremos as construções teóricas iniciais de cada entrevistado sobre as principais ações do PRODETUR.

Quadro 16: Construções teóricas iniciais dos gestores

Entrevistados Construções teóricas iniciais

Gestor 1

O Acaraú dessa divisão ficou muito parado com relação a desenvolver o Turismo, não só das praias, mas até de outras de outras áreas também que a gente também pode citar que é uma coisa que é muito limitada é a cultura, e o Turismo né o nosso Município também é muito rico de cultura. Com a abertura da estrada que a gente chama Litorânea, o Acaraú passou a ser passagem até para outros Estados. A partir daí começou a despertar nos governantes e até os próprios moradores que nós temos tudo para crescer com Turismo.

Gestor 2

Com abertura de ligação de Fortaleza com Acaraú pela a CE 085 que nós conhecemos como estruturante que começou a facilitar a vida do povo da grandes cidades para Jericoacoara, que passou ser uma praia de referência internacional, começou a despontar no Acaraú da necessidade de se trabalhar o desenvolvimento turístico.

Gestor 3

O Prodetur/NE, em suas duas fases, foi definitivo para alavancar o desenvolvimento do Turismo no litoral oeste do Ceará. Com a duplicação da CE-085 (mesmo sendo somente até Trairi, por enquanto) e o aeroporto de Jijoca de Jericoacoara sem dúvida favoreceram a todo o entorno, principalmente aos Municípios mais próximos que também tenham algum atrativo turístico, como Cruz, Camocim, Acaraú, Itarema e Amontada.

Segundo Minayo (1996), após o processo dialético com a identificação dos consensos é preciso que os dados sejam acomodados, alinhando-os com os pressupostos teóricos para que os resultados sejam a aproximação da realidade.

Na sequência, o quadro 17 traz o consenso entre os gestores entrevistados.

Quadro 17: Consenso dos gestores entrevistados.

Consenso dos Gestores

A principal ação que contribuiu para o desenvolvimento do Turismo na Costa Sol Poente foi a construção da rodovia 085. A partir daí despertou-se a necessidade de criar outras políticas que favorecessem a atividade turística.

Fonte: elaboração própria.

Durante toda a pesquisa a CE 085 foi apresentada como umas das principais obras realizadas pelo PRODETUR I, e, de acordo com Paulo Bezerra (2008), coordenador do PRODETUR, do Departamento de Edificações e Rodovias (DER) - antigo Dert – “foi através desta rodovia que o Ceará pôde dar um salto de qualidade no desenvolvimento turístico de vários Municípios ao longo do litoral Oeste do Estado.”

A seguir as construções teóricas iniciais sob a visão dos empreendedores.

Quadro 18: Construções teóricas iniciais dos empreendedores sobre as principais ações do PRODETUR

Entrevistados Construções teóricas iniciais

Empreendedor 1 Não conheço ações do Prodetur. Empreendedor 2 Não conheço

Empreendedor 3 Do PRODETUR sim, tem a obra da praia, mas não obedeceu a lei da natureza, fez uma coisa dentro d’água. Esse é no âmbito Federal e no âmbito municipal...acho que esse é do governo federal, estadual, municipal, acho que são os três juntos.

Fonte: elaboração própria, com base nas entrevistas.

Com as construções apresentadas no quadro 18, chega-se ao seguinte consenso mostrado a seguir.

Quadro 19: Consenso dos empreendedores sobre conhecimento das ações do PRODETUR

Consenso dos Empreendedores

Não há conhecimento por parte dos empreendedores locais sobre a realização do obras ou de ações do PRODETUR na região.

No capítulo 4, viu-se todo um contexto histórico para a formulação das políticas públicas de Turismo no Ceará, em especial, o PRODETUR. Em todo o seu processo de formulação desde o PRODETURIS, os objetivos caminhavam para a criação de condições favoráveis para a expansão da atividade turística, o desenvolvimento local e a melhoria da qualidade de vida das populações dos Municípios alcançados, no entanto, foi objeto de críticas, por não envolver as comunidades que seriam impactadas pelo Turismo. Assim, sob a exigência do BID, na segunda fase do Programa, foram incorporados mecanismos de participação popular por meio dos conselhos de Turismo. Coriolano (2006) ressaltou que, à época “[...] o próprio BID exigiu a participação da sociedade civil, das comunidades, como critério para liberação das verbas, mesmo que na prática isso sirva mais para legitimar posturas políticas.”

De todo modo, as exigências para a segunda fase reverberaram na implementação desses mecanismos de participação popular para na elaboração, execução e fiscalização das políticas de Turismo locais. Em Acaraú, esse mecanismo foi instituído em 2005, pela Lei Municipal nº 1114/05, a fim de institucionalizar a relação entre poder público e sociedade civil, no entanto, com as construções expressas no quadro anterior, percebe-se o quanto a sociedade tem estado desconectada das questões que a interessam. Coriolano explica que as mudanças advindas de programas de Turismo, embora associadas ao crescimento econômico, ao desenvolvimento regional e à modernização do espaço físico, por meio de aeroportos nas capitais nordestinas, não são acompanhadas de benefícios a parte do povo nordestino, especialmente no que diz respeito aos investimentos sociais e assim o povo “[...] continuou despreparado, sem capacitação para interagir nesse processo de mudança”. (CORIOLANO, 2006, p.113).

A importância da participação popular é reforçada com as discussões sobre formulação de políticas públicas na história do Brasil, em que as conquistas e direitos sociais somente ocorreram após a união das forças e mobilização das pessoas que sentiram seus direitos violados. Isso significa dizer que esses atores sociais ainda não se descobriram como parte importante da construção dessas políticas para melhoria e mudança da realidade em que vivem. Percebe-se, ainda, com o consenso do quadro 19, que há generalização sobre o entendimento da política pública quando relacionam o PRODETUR a outras ações estatais.

Veja-se agora no quadro 20, as construções de outros atores sociais a respeito do conhecimento das ações do PRODETUR no Município de Acaraú.

Quadro 20: Construções teóricas iniciais dos representantes do Turismo local

Entrevistados Construções teóricas iniciais

Representante 1

Não conheço as ações implementadas que fazem parte do programa de desenvolvimento do Turismo no Nordeste. Sei que tem muitas essas coisas, mas eu não estou muito envolvida com essas coisas, nem estou muito informada disso.[...] só tem impacto positivo porque às vezes o Turismo dá muito impacto ambiental que não é o nosso caso, o que a gente vê assim como incluir o povo e o Turismo nos trabalhos com rendas e Bordados, essas coisas; então acho que isso não causa impacto nenhum. Seria muito bom que existisse um bom contato entre o turista e o artesão.

Representante 2

Foi realizado o nosso Centro de Educação Ambiental, isso foram ações dessa organização Terramar envolvido com outras organização (sic) que surgiu esse centro que nós temos hoje. [...]Alguns programas essenciais nas comunidades assim, eu ainda não vi, esse desenvolvimento de Turismo relacionado, eles podem ter até planos, mas é somente planos, mas que ações concretas mesmo assim eu não vi ainda.

Representante 3

Eu posso dizer que tem pouco ou quase nada, quando eu falo isso eu não estou querendo falar mal do poder público a gente tá falando porque a gente ver. A primeira vem pela estrada, o pouco acesso, difícil acesso para chegar aqui, é uma das dificuldades. E a outra, uma das outras é um pouco interesse do Poder público que a gente vê, embora tenha as promessas demoram muito e finda não acontecendo.

Fonte: elaboração própria, com base nas entrevistas.

Apresentadas as construções e percepções dos representantes comunitários de modo individual, vai-se aos consensos sobre o conhecimento das políticas públicas aplicadas no Município sob exame.

Quadro 21: Consenso dos representantes comunitários

Consenso dos Representantes Comunitários

Apesar de não saberem quais ações concretas que fazem parte do PRODETUR, sabem que elas existem e relacionam as poucas ações que chegaram ao conhecimento destes, como sendo ações do referido programa. Citam que não veem ou que não estão informados, sentem dificuldades quanto ao acesso local e que o poder público tem planos mas falta agir de forma mais concreta.

Diferentemente do grupo dos empreendedores, estes apresentaram uma certa consciência quanto ao desenvolvimento das ações, mas acreditam que o poder público deve agir mais concretamente. Assim, inconscientemente, sabem da importância do papel do Estado para a transformação dos espaços nas comunidades, pois atribuem ao Ente Estatal a responsabilidade de assegurar os investimentos para o crescimento local. Cada um exprime singularmente o modo como percebem o que deve ser feito para o desenvolvimento do Turismo: facilitação dos acessos para as comunidades; a valorização do artesanato e a das organizações para a preservação ambiental e das localidades.

Com essas elaborações, se procede ao encontro dessas concepções como resultante do consenso dos três grupos que representam figuras distintas no contexto de formulação das políticas públicas de Turismo em Acaraú.

A seguir as síntesesdas construções teóricas e consenso dos três grupos:

Quadro 22: síntese das construções teóricas e consenso dos três grupos

SÍNTESE

Gestores Empreendedores Representantes Comunitários

A principal ação que contribuiu para o desenvolvimento do Turismo na Costa Sol Poente foi a construção da rodovia 085. A partir

daí despertou-se a necessidade de criar

outras políticas que favorecessem a atividade turística. Não há conhecimento por parte dos empreendedores locais sobre a realização de obras ou de ações do PRODETUR na região.

Apesar de não saberem quais ações concretas que fazem parte do PRODETUR, sabem que elas existem

e relacionam as poucas ações que chegaram ao conhecimento destes,

como sendo ações do referido Programa. Citam que não veem ou que

não estão informados, sentem dificuldades quanto ao acesso local e que o poder público tem planos, mas

falta agir de forma mais concreta.

Consenso

Através do PRODETUR, com a obra da CE 085, com beneficiamento de acesso a rotas turísticas em várias localidades da Costa Sol Poente, foram ampliadas as potencialidades da região, o que despertou o interesse em desenvolver outras ações que favoreçam o Turismo local. Os moradores sentem necessidades de outras ações que venham a inserir o Município de Acaraú, efetivamente, na rota do Turismo local. Falta consciência dos munícipes sobre o que foi realizado por parte do programa e confirma-se a necessidade de aprimoramento e fortalecimento da capacidade municipal da gestão do Turismo, da capacitação, infraestrutura e planejamento estratégico e da participação social na construção dessas ações.

Com a síntese busca-se aproximar os consensos com a realidade fazendo relação com os resultados da pesquisa documental. Segundo o resumo executivo do BNB, apresentado em 2004, foi possível verificar que o PRODETUR/CE I serviu para suprir a área de planejamento da infraestrutura mínima necessária para o desenvolvimento sustentável do Turismo, uma vez que direcionou 78,2% dos recursos do programa para obras de infraestrutura, básica e turística.

O mesmo relatório demonstrou que o PRODETUR tinha como um dos seus objetivos facilitar os deslocamentos para e dentro da região, por meio de investimentos no melhoramento de aeroportos, sistemas de vias urbanas e rodovias secundárias e de acesso, complementados pelo fortalecimento dos órgãos estaduais de transportes em termos da sua capacidade operacional e de manutenção. Pode-se constatar no quadro 23, que trata sobre os investimentos do PRODETUR I no litoral extremo oeste por componentes e prioridades, apresenta nas prioridades de obras de infraestrutura, o investimento para a complementação da rodovia Estruturante CE 085 no valor de R$ 6.600.000,00 para atender o entorno de Jericoacoara e ainda a construção do aeroporto para atender o fluxo turístico da região através do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região Turística.

Segundo o relatório do BNB (2005), a implantação das rodovias, contemplada pelo programa PRODETUR/CE I, permitiu uma melhoria substancial na qualidade de acesso às localidades turísticas, possibilitou o desenvolvimento econômico e turístico da região e proporcionou a ampliação e modernização da malha rodoviária estadual.

O PRODETUR ainda contribuiu para o desenvolvimento econômico do Município quando, com a análise do perfil econômico setorial, revela que, dos Municípios da microrregião 3 do Estado do Ceará, apresentados neste estudo, Acaraú denota maior participação no PIB com 29,09% em 2015. No mesmo ano o setor de serviços representava 30,35% do total do PIB, por setores da economia. Os resultados estão nas tabelas 06 e 07. Quanto ao fortalecimento da capacidade municipal da gestão do Turismo, da capacitação, o PRODETUR propôs como ação prioritária a necessidade da elaboração dos Planos Diretores Municipais, investindo o total de R$ 584.000,00. A ação proposta buscava contribuir com os objetivos do Programa, concorrendo para a melhoria da qualidade de vida das suas populações fixas, para a proteção e conservação dos atrativos turísticos e do meio ambiente natural e construído, para a melhoria da capacidade da gestão dos governos municipais e ampliação da participação popular no processo de planejamento e gestão.

Como consequência e sob orientação do Governo do Estado do Ceará, que estabeleceu os critérios de elegibilidade e roteiro básico para elaboração e revisão de planos diretores municipais participativos, em 2008, a Lei Orgânica do Município de Acaraú estabelece que deve haver o Plano Diretor, a qual delimita e descrimina as áreas específicas para o Turismo. Em 2011, outra audiência pública aprovou o novo PDP, mediante Lei nº 1.410/2011.