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3 BASES TEÓRICAS DO PROCESSO INVESTIGATIVO

3.3 Turismo e territórios como suporte das políticas públicas

Para fazer uma abordagem a respeito de território e Turismo, com amparo nas discussões sobre o papel do Estado acerca do que desenvolvimento representa, far-se-ão debates atinentes aos conflitos nos espaços onde o Turismo se instala. Em outras palavras,

refuta-se, também, as relações de poder estabelecidas a partir de identidades e sentimentos de pertencimento provenientes das pessoas daquele lugar e parte dessa ideia corrobora para a construção do que é território.

Além da relação território e Turismo como categoria de análise para compreender a complexidade da atividade turística, faz-se necessário entender também a relação entre Estado, políticas públicas e território. Essa tríade compreende elementos que se conectam nas disputas para organização e transformação de espaços onde a atividade turística se desenvolve.

Essa ligação é percebida por Coriolano (1998, p. 24), quando considera que “[...] a relação do Turismo com o território desemboca inevitavelmente na análise do papel do Estado e das políticas públicas”.

As relações que emergem quando se pensa em território constituem o aspecto mais evidente encontrado na literatura. Souza (1995) apud Ouriques (2003) entende que "[...] o território é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder". O autor continua reforçando as palavras de Souza (1995), evidenciando seu pensamento em relação a acreditar que território é mutável de acordo com as relações nele existentes.

O território é um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre 'nós' (o grupo, os membros da coletividade ou 'comunidade', os insiders) e os 'outros' (os de fora, os estranhos, os outsiders) ( SOUZA, 1995 apud OURIQUES, 2003).

Na compreensão de Barbosa (2011) são os sujeitos sociais que constituem e desconstituem o sentido de território, corroborando a ideia de que território é mutável, pois as

Ações de interesse dos sujeitos sociais promovem um intenso processo de construção e desconstrução territorial, configurando, assim, o território móvel, dinâmico e articulado em rede, como algo não estático, posto que é produto constituído de relações sociais, e não configurando, apenas espaço físico. (P. 27).

No campo das políticas públicas de Turismo e suas implementações, essas coalizões são reverberadas pelas intenções dos setores público e privado que se sobrepujam aos

interesses das comunidades receptoras da atividade turística que, por vezes, veem seus territórios serem ameaçados e seus espaços modificados a partir das intervenções do setor privado e das intenções do poder público, que prioriza os interesses capitalistas.

Como revela Coriolano (2009, p. 280), “[...] o Turismo não somente mapeia territórios, mas cria territorialidades, pois define destinos, propõe roteiros, dando visibilidade a espaços até então ‘invisíveis’”.

Esses espaços são erguidos por movimentos dos agentes constituintes do processo de construção e desconstrução territorial e com base nessa suposição, é também por via dessas relações, ora dialógicas, ora conflituosas, que se constituem os processos de turistificação resultantes em territórios que se modificam em função da atividade turística, como bem explica Fratucci:

O território do Turismo é, portanto, a soma dos territórios dos turistas, dos agentes do mercado, do poder público, dos trabalhadores da atividade (diretos e indiretos) e do território da população local dos destinos turísticos. Nos processos de planejamento e de gestão desses territórios é condição sine qua non a contemplação das relações e interações que se estabelecem entre os territórios de cada agente social, pois é a partir delas que se estabelece o território do Turismo, em sua concretude e totalidade (2014, p. 93)

Exemplo de território modificado em função dos conflitos é o da localidade de Curral Velho, uma comunidade tradicional do Município de Acaraú, lócus deste estudo, distante 220 km de Fortaleza, que passou a desenvolver Turismo comunitário a partir dessas coalizões onde a disputa pelo território foi marcante em virtude dos distintos usos da terra na zona costeira do Município. Isso reafirma o que Souza (1995) exprime acerca de território ser um campo de forças entre os membros das comunidades e os ‘outros’.

A comunidade de Curral Velho é conhecida pela resistência em defesa de seu território de modo a garantir a preservação ambiental.

A partir dos episódios de luta pela proteção do seu ecossistema, em 2007 passou a integrar a Rede Cearense de Turismo Solidário e Comunitário - Rede Tucum, integração essa que se consolidou quando, na compreensão de Borges (2011), houve uma crise na pesca artesanal e a comunidade percebeu que o Turismo poderia ser uma forma de gerar renda e garantir a permanência dos moradores. A seguir, mostra-se o mapa 1 onde essas comunidades agem para proteger seus espaços das explorações ‘dos outros’, evidenciando uma crescente responsabilidade social e ambiental e redesenhando seus territórios.

Mapa 1: Mapa da Rede Tucum

Fonte: Rede Tucum, adaptado.

É possível também perceber no mapa um número significativo dessas comunidades que lutam pelo fortalecimento dos modelos tradicionais de sobrevivência da população local no Estado do Ceará.

Segundo Loreiro (2013, p. 12),

A preservação ambiental trabalhada na Comunidade tem consistido não apenas na busca pelo equilíbrio dos ecossistemas existente, mas na manutenção dos moldes tradicionais de sobrevivência e de cultura predominantes que se diferem do modelo capitalista, muitas vezes, exploratório.

Adiante, se adentra o estudo de modo mais amplo desses modelos tradicionais que constituem o Turismo de Base Comunitária e oferecem a oferta desse serviço e das demandas de lazer de maneira sustentável.