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Conceções Relacionadas com os Conceitos de “Amor & Paixão” e “Namoro”

CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

JU Fazer um ser,

5.1. PRINCIPAIS CONCEÇÕES DE SEXUALIDADE.

5.1.4. Conceções Relacionadas com os Conceitos de “Amor & Paixão” e “Namoro”

Este tópico centra-se particularmente na análise das argumentações inerentes aos termos pivô

“amor & paixão” e “namorar”. Não obstante, compreende também a análise de outros temas

Os afetos sempre foram considerados essenciais no desenvolvimento humano e prova disto são as argumentações dos alunos da nossa amostra sobre esta temática, assim como todas as dinâmicas diárias que eles estabelecem entre si.

É inquestionável que os afetos estão presentes em todos os momentos, tornando-os agradáveis ou desagradáveis. As atividades ou pensamentos agradáveis atraem-nos e fazem-nos desejar repeti-los, enquanto as atividades e os pensamentos desagradáveis nos repelem e levam-nos a evitá-los a todo custo. Esta gestão de sentimentos inicia-se desde os primeiros momentos de vida, sendo que a relação com a mãe (e com o pai) ou com quem exerce esse papel é de enorme importância no desenvolvimento afetivo. Haffner (2005) salienta que a relação estabelecida inicialmente com os progenitores (ou adultos de referência) vai influenciar o modo como encaramos os outros e como nos relacionamos com eles (sejam elas amigos e parentes, namorados…).

No que respeita ao nosso estudo, foram os alunos do GF I, GF II e GF IIV que somaram mais participações no âmbito destas temáticas. Por sua vez, o GF III mostrou-se menos interventivo nestes domínios. Note-se que o GF III foi o único grupo que não era constituído por elementos do sexo feminino.

As primeiras inferências aqui apresentadas são explicadas por Brizendine (2007:48), na medida em que a autora salienta que a “agenda social” das raparigas, expressa nas atitudes e brincadeiras, é baseada numa necessidade de relacionamento individual muito próximo e, pelo contrário, os rapazes centram mais as suas atenções no jogo ou outras brincadeiras que destacam o estatuto social, o poder, a defesa do território e a força física, em detrimento dos sentimentos e das relações. Na verdade, a autora acrescenta que o circuito cerebral feminino, apurado para obter significado a partir das expressões do rosto e do tom da voz, também leva as raparigas a compreenderem muito cedo a necessidade de estabelecer relações afetivas e vinculativas, bem como a procurar o aprovação e o reconhecimento dos outros. Brizendine (2007:36) afirma mesmo que “As meninas nascem já

interessadas na expressão emocional”. Neste contexto, a superior qualidade dos circuitos cerebrais

para a comunicação e emotividade começa desde cedo a influenciar o comportamento das meninas. Por sua vez, o cérebro do rapaz, influenciado pela testosterona, não se preocupa em estabelecer relações sociais e afetivas tão profundas como o das raparigas (Brizendine 2007).

Braconnier (1996), ao analisar estudos feitos sobre a emotividade, verificou que todos os sujeitos interrogados atribuíam ao sexo feminino reações emocionais mais intensas, quer se tratasse da vivência ou da expressão. Também no nosso estudo foi evidente que o sexo feminino exprime mais intensamente as suas mágoas, as suas alegrias, os seus receios e as suas paixões. As expressões de AL, IS e MO, confirmam essa expressividade: “Eu gosto de muitos rapazes daqui da escola” (AL - Quadro 4.1.4.2); “Às vezes gostamos deles porque são muito amigos” (IS - Quadro 4.1.4.2); e

Por sua vez, no GF III (só constituído por rapazes), as únicas participações subordinadas ao termo pivô “amor & paixão” centraram-se na tentativa de explicação dos conceitos envolventes e não na partilha dos sentimentos a eles aliados. A expressão de LU é exemplo disso: “Estar

apaixonado é gostar um do outro e querer ficar junto um do outro” (Quadro 4.1.4.3).

No GF IV (grupo heterogéneo quanto ao sexo), a participação dos rapazes também se centrou no esclarecimento do conceito de “amor”. Neste grupo foi ainda relevado o facto de ser muito difícil explicar a essência dos termos “amor” e “paixão”. Assim, JU (rapariga), em conformidade com JO (rapaz), afirma que o “amor é uma coisa muito delicada” (Quadro 4.1.4.4), utilizando esta expressão para demonstrar toda a complexidade subjacente a este sentimento.

Num outro domínio, JU explica que as pessoas apaixonadas ficam, muitas vezes, inibidas quando estão juntas e não conseguem expressar os seus verdadeiros sentimentos. Várias obras (por exemplo Haffner, 2005), expõem que tais constrangimentos são decorrentes do medo de rejeição, ou seja, da não-aceitação por parte do outro. Este medo verificou-se, apenas, nas raparigas.

Já no que concerne à explicação do termo “namorar”, foi o GF I (constituído pelos alunos mais novos, com seis anos de idade) que se manifestou mais interventivo. Contudo, este termo foi sempre associado a uma agradável imagem e não a outro tipo de sentimentos, tal como se pode ler na afirmação de VI: “Somos namorados porque a Inês é a mais bonita da sala” (Quadro 4.1.5.1). Neste âmbito, o conceito de “sexy” esteve estritamente relacionado com o termo “namorar”, uma vez que os alunos associaram tal conceito à beleza física e a uma boa imagem. Haffner (2005:129) também realça a utilização do termo “sexy” em crianças desta faixa etária, ao referir que “uma das palavras

que com certeza as crianças desta idade conhecem é sexy”. Todavia, a autora defende a necessidade

de explicar, junto das crianças, que ser “sexy” tem significados diferentes para diferentes pessoas. Esta dualidade de significados também se verificou no nosso estudo, visto este conceito ter igualmente sido associado ao termo “namorar”, como se vê na intervenção de VI: “Sexy também é

ser namorados” (Quadro 4.1.6.1). No entanto, nos alunos mais velhos verificou-se que o termo

“namorar” não se encontra exclusivamente vinculado ao conceito de beleza física, tal como demonstra a intervenção de IS: “Algumas pessoas têm namoradas mas traem ela, por isso tem que

ser amigável, não precisa de ser só bonita.” (Quadro 4.1.5.2).

Note-se ainda que o termo “amor” foi relacionado com o termo “sexo”, visto IS ter afirmado que “Fazer amor é… sexo” (Quadro 4.1.4.2). Desta forma, a aluna agrega uma categoria mais afetiva a outra mais biológica, deixando transparecer a existência de uma relação entre ambas, ou seja, salientando a necessidade de existir amor para concretizar as relações sexuais. Mais uma vez, está aqui destacada a intensidade emocional/relacional que Braconnier (1996) descreve como sendo mais característica do cérebro feminino.

Importa ainda salientar que, no geral, a ausência de “amor & paixão” é apontada por muitos alunos como a causa dos divórcios e das separações entre as pessoas. Simultaneamente, também a falta de amizade, respeito e até à existência de violência são fatores considerados no fenómeno do divórcio/separação, tal como se observa nas afirmações exemplificativas de IS e DI: “Separou-se

porque ele não a amava assim tanto” (IS - Quadro 4.1.10.3); “Separam-se porque zangam-se e andam à bulha” (DI - Quadro 4.1.10.4).