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OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL, A ESCOLA, A FAMÍLIA E OS OUTROS AGENTES

Em educação sexual, assim como noutras áreas, a colaboração estreita entre a escola e a família só pode estabelecer-se se os pais vierem à escola e a escola for até aos pais (Cortesão, 2005). Assim, nesta secção, interessa-nos compreender os aspetos inerentes aos projetos de educação

sexual, a relação entre a escola e a família na dinamização desses projetos, bem como a influência de outros agentes na educação sexual (nomeadamente os pares e os media).

2.4.1. A Colaboração Escola/Família na Educação Sexual

“Ser educador e não compreender o que se passa dentro de uma criança, ignorar o seu passado, é como caminhar num corredor escuro. Esta é uma das razões porque é importante existir uma colaboração estreita entre a escola e a família” (Cortesão et al., 2005:65).

O desenvolvimento “sociofamiliar”, como é designado por Cortesão et al. (2005), marca a criança desde que ela desponta para a vida, influenciando o seu caráter, a sua sensibilidade e até a sua inteligência. Por este motivo, o papel dos pais é fundamental na estruturação da personalidade, o que pressupõe as questões da sexualidade.

Os pais (ou os adultos que substituem esses papéis) são considerados os primeiros e os mais importantes educadores sexuais dos filhos. Haffner (2005) explica que são os pais que providenciam as primeiras perceções sobre os papéis sexuais de cada sexo, sobre relacionamentos e valores, bem como as primeiras noções de autoestima e responsabilidade. A verdade é que mesmo sem se aperceberem, os pais ensinam os filhos sobre sexualidade quando os acariciam, quando brincam com eles, quando os ajudam a vestir ou a tratar da sua higiene pessoal, quando servem de modelos ao nível das interações, entre outras várias situações (Marques & Silva, 2000; Dias et al., 2002; Haffner, 2005; Rufo, 2005). Porém, muitos pais, quando questionados diretamente sobre temas da sexualidade remetem-se ao silêncio, o que leva as crianças a pensarem que esta é uma área sobre a qual não se deve falar. Por este motivo, as crianças rapidamente sentem vergonha e dificuldade em conversar sobre este assunto.

Na tentativa de ajudar os pais a ultrapassar as suas dificuldades na educação sexual dos filhos, tornar-se fundamental estabelecer parcerias entre a escola e a família. Aliás, a própria legislação em vigor preconiza essas parcerias, tal como se pode constatar na Lei n.º 120/99: “(…) deverá existir uma

colaboração estreita com os serviços de saúde da respetiva área e os seus profissionais, bem como com as associações de estudantes e com as associações de pais e encarregados de educação” (p.

5233). A Lei mais recente, Lei n.º 60/2009, reitera a importância de uma estreita colaboração entre a escola e a família.

Torna-se então necessário preparar um encontro onde se apresente o projeto que se pretende desenvolver, se apele à necessidade de educação sexual nas escolas e se esclareçam as dúvidas que possam surgir (Cortesão et al., 2005). Neste processo, é natural que algumas famílias apresentem resistências à implementação do projeto, mas este não deve ser um motivo para o abandonar. É necessário incutir nas famílias a ideia da importância do seu contributo num projeto a este nível e

dar-lhes a possibilidade de participar nas diferentes fases (Branco, 1999). Para isso, será importante o desenvolvimento de atividades específicas para os pais e encarregados de educação, podendo ser eles os próprios dinamizadores (CCPES et al. 2000).

A verdade é que não poderá haver “competição entre o papel que a escola desempenha ou

pretende desempenhar e o da família, já que dificilmente um substitui o outro” (CCPES et al.

2000:54).

Ao usufruírem da colaboração escola/família, as crianças e os jovens conseguem desenvolver conhecimentos, atitudes e competências que lhes permitam vivenciar a sua sexualidade de uma forma mais saudável.

2.4.2. Outros Agentes de Educação Sexual: os Pares e os Media

Fruto da sociedade em que vivemos, a maior parte dos jovens passam mais tempo com a comunidade educativa, onde se inserem os pares, do que com a família. Assim, do ponto de vista quantitativo, os pares (colegas e amigos) têm um peso muito importante na educação sexual (Santos

et al., 2001).

Os pares constituem também um contexto essencial de crescimento e de interação, sendo eles próprios o reflexo dos diversos contextos de educação sexual em que se situam.

Vilar (2003) refere que na presença dos pares reproduzem-se os contextos sociais e comunicacionais em que se integram, com os mitos e crenças de cada um.

No círculo de amigos as crianças e os jovens aprendem com os outros, testam e desenvolvem competências, criam vínculos e relações amorosas, assim como integram as normas dos grupos e das gerações de pertença. Para além disso, desenvolvem os seus próprios valores e estilos de vida contrariando, ou não, o mundo dos adultos e as mensagens parentais (Vilar, 2005).

Tal como a família, os pares operam mais ao nível das atitudes e são um campo de treino de várias competências sociais (h, 2000).

Outros agentes importantes na educação sexual são os media.

Os media são responsáveis pela circulação rápida de informações e outros produtos culturais, ideias, formas de estar na vida e valores morais que saturam os quotidianos das populações das sociedades ocidentais. A televisão, as revistas, a rádio (entre outros), alteram constantemente os sentidos das suas mensagens. Fornecem alguma informação, mas esta é parcelar, espartilhada, seletiva, superficial, muitas vezes mistificadora e confusa na sua apresentação.

Folscheid (2002), citado por Vilar (2005:11), refere que “no tempo do audiovisual, é normal

que apareça o sexovisual”. Com esta alusão, o autor pretende demonstrar que os conteúdos da

(2005), torna-se primordial explicar às crianças as mensagens sexuais que são transmitidas para que não haja deturpação dos valores e conhecimentos.

Na realidade, estes agentes informais de educação sexual têm, sobretudo, alterado as paisagens morais, legitimado o que antes era oculto e introduzido novos temas para o debate quotidiano (questões como a homossexualidade masculina e feminina, o aborto, entre outros).

Podemos então concluir que os media influenciam poderosamente a educação sexual, embora essa influência seja muito reduzida ao nível dos conhecimentos, da literacia e das competências. Desta forma, delegar nos media o papel principal na socialização sexual das crianças e jovens é altamente redutor e perigoso.