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Conceito de Incerteza Ambiental e de Incerteza

Este trabalho analisa a incerteza a partir do aceite que os fenômenos são imprevisíveis independentemente das percepções de cada um. Essa incerteza, que está inserida no âmbito da Teoria das Organizações, é associada com a falta de informações. Para Geersbro e Ritter (2010), a incerteza pode ser vista sob duas óticas: a incerteza do grupo, caracterizada por elementos futuros coletivamente imprevisíveis que sempre estão presentes na vida; e a incerteza individual, caracterizada por elementos futuros imprevisíveis na percepção de um ator apenas, sendo que existem outros atores já informados, mostrando que cada ator percebe a incerteza de maneira diferente. Esta dissertação segue as definições e discussões da incerteza do grupo.

Segundo Grandori (2006), a incerteza pode ser entendida com a falta de conhecimento sobre um assunto, ou a falta de conhecimento de um indivíduo tomador de decisão. Essa incerteza pode se originar do ambiente (condições externas), do comportamento (ações imprevisíveis de outros atores) e de tarefas (intensidade de resolver os problemas) (GRANDORI, 2006).

No entendimento de Duncan (1972), a incerteza ambiental é a falta de informações sobre os fatores ambientais relacionados à tomada de decisão e aos efeitos da tomada de decisão no desempenho da organização. O autor trata das

percepções da incerteza do ambiente externo das empresas para a tomada de decisão, embora as incertezas internas também gerem importantes resultados nessas decisões. As organizações precisam se adequar constantemente ao seu ambiente (DUNCAN, 1972; MILLIKEN,1987).

Para Duncan (1972), o ambiente organizacional é dividido em elementos externos, compostos por clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político e tecnologias, e elementos internos que são compostos pelo pessoal, pelas equipes e funcionalidade organizacional e nível organizacional.

Segundo Milliken (1987), incerteza ambiental é a incapacidade percebida do ator para prever com precisão evento futuro do ambiente no qual a organização está inserida. A autora afirma que a expressão incerteza pode ser usada tanto para relatar uma condição de incerteza em ambientes das organizações, como para relatar uma condição de incerteza de uma pessoa que verifica a falta de informações sobre o ambiente. A autora coloca ainda o conceito de incerteza como percepção, em que diferentes indivíduos podem perceber diferentes incertezas sobre um mesmo conjunto de dados.

Milliken (1987) argumenta também que, na construção de incerteza, devem ser desagregadas e identificadas três percepções de incerteza notadas no meio ambiente: (1) incerteza de estado - a incapacidade, por parte dos gestores, de prever o futuro estado do ambiente; (2) incerteza de efeito - a incapacidade dos gestores em prever como a ausência de informação irá impactar nas mudanças para as organizações; e (3) a incerteza de resposta - a incapacidade dos gestores em prever os possíveis resultados das ações organizacionais executadas. Essas percepções foram analisadas a partir dos elementos criados por Duncan (1972) e podem gerar diferentes comportamentos em cada gestor.

Williamson (1985)afirma que a incerteza ambiental advém da incapacidade de uma organização ou um indivíduo de antever eventos, ressaltando ainda que ela é um dos fatores que determina a forma de governança em rede. O autor ainda diferencia essa incerteza em primária e secundária, a saber: a incerteza primária reflete uma falta de conhecimento sobre estados da natureza, tais como a incerteza a respeito dos eventos naturais; enquanto que a incerteza secundária reflete uma falta de conhecimento sobre as ações de outros agentes econômicos.

Para Thompson (1967), a incerteza ambiental está presente na formação de todos os processos das organizações, sendo considerada um problema relevante por

limitar o planejamento e a tomada de decisões dos gestores. O autor desconsidera o campo da percepção da incerteza, entendendo que as incertezas ambientais existem e que precisam ser minimizadas, criando-se instrumentos que possam lidar com elas. Neste projeto aceita-se a diretriz de não discutir diferenças de percepções, mas sim de buscar as convergências.

No que se relaciona à incerteza comportamental, parte-se da noção do princípio da incerteza de Heisenberg (1927), originado no campo da física quântica, que declara a presença da incerteza no comportamento das partículas pelo motivo de não poder determinar com exatidão e simultaneamente a posição e a velocidade da partícula. A relação desse princípio com o comportamento humano é a impossibilidade de previsão e controle das ações humanas. Como metáfora, o comportamento humano não tem exatidão, nem posição e nem velocidade determinada, como as partículas.

Segundo Barabási (2009), os comportamentos humanos são imprevisíveis, haja vista um certo evento poder impactar de várias formas em diferentes pessoas, o que leva os indivíduos a terem atitudes totalmente imprevisíveis pelo fato de as características das pessoas serem múltiplas.

Para Gulati (1998) a incerteza comportamental é a imprevisibilidade do comportamento de um parceiro, sendo que essa imprevisibilidade pode ser minimizada com a formação de alianças. Ainda no entendimento do autor, muitas organizações estabelecem alianças como forma de diminuir a incerteza a respeito do comportamento oportunista do parceiro.

Um autor que segue a mesma linha de raciocínio de Gulati (1998) é Pesaran (1993), que também define incerteza comportamental como a imprevisibilidade sobre o comportamento futuro dos outros indivíduos. O autor acrescenta ainda que a incerteza comportamental gera uma situação na qual os atores devem criar expectativas, não a respeito da condição do ambiente, mas a respeito do comportamento dos demais atores, tanto pessoas, quanto organizações.

Williamson (1985), ao separar a incerteza em ambiental e comportamental, afirma que a incerteza comportamental decorre da dificuldade em prever as ações de outros atores relevantes, tendo em vista o potencial para o comportamento oportunista desses atores.

Sobre as incertezas ambientais, o presente trabalho segue as afirmativas de Milliken (1987) que defende a existência da incerteza no ambiente organizacional. Já em relação às incertezas comportamentais, esta dissertação segue a linha das

afirmativas de Gulati (1998) que define incerteza comportamental como sendo a imprevisibilidade do comportamento dos atores. Ressalta-se ainda que esse comportamento não pode ser modificado, embora se possa exercer um certo grau de controle, o que pode minimizar as incertezas advindas do comportamento.

Para tratar da interface das incertezas com a governança relacional, o próximo item apresentará conceitos que relacionam essas duas categorias.