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Dados de fontes primárias – entrevistas

5.1 Rede de Economia Solidária de Catadores de Materiais

5.1.2 Dados de fontes primárias – entrevistas

Sujeito 1

O sujeito é uma associada fundadora da ASSCAVAG que foi presidente da associação por cinco anos. Antes era catadora de material reciclável no lixão e mais tarde decidiu criar a associação juntamente com mais duas famílias, também de catadores do lixão de Várzea Grande. É Respeitada e admirada pelos demais do grupo, pela dedicação e empenho ao negócio ao longo dos sete anos de existência da associação.

A análise temática do discurso indica a seguinte linha de resposta sobre o problema da pesquisa:

Sobre a governança relacional, surgiram indícios dessa categoria quando o sujeito 1 mencionou a necessidade de contratação de professores para alfabetização dos catadores e demais trabalhadores que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola e que não concordou com a escolha da professora indicada pelo gerenciador do projeto, dando prioridade aos professores que vivenciaram a realidade, ou conheciam a história dos catadores de alguma forma. O fato revela os indicadores 2.2 (comprometimento dos parceiros); 2.5 (intenções dos parceiros), 3.4.1 (coordenação das atividades se dá por uma comissão) e 3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo.). Com essa regra de seleção

dos professores, a organização busca o comprometimento do indivíduo, por ter a possibilidade de se capacitar e crescer pessoalmente, além do ganho econômico fazendo com que minimize uma possível vontade do indivíduo em deixar o grupo, podendo esse fato ser traduzido em um incentivo formal. O selecionado, dessa forma, acaba por ser um ator que decide situações em favor do grupo, quando houver conflitos de interesses.

Esse exemplo está relacionado com a autoridade e a força política que esse sujeito 1 detinha, ao fazer com que predominasse o interesse interno do grupo. A regra externa, inicialmente estabelecida, era que os gestores do projeto indicassem um professor que estivesse disposto a lecionar num projeto de alfabetização; entretanto, o que predominou foi a regra interna e/ou relacional de que esse professor fosse indicado pelo grupo na pessoa desse sujeito 1 que apontou um professor familiarizado com a história dos associados da ASSCAVAG.

Portanto, pode-se afirmar que, nesse caso, houve uma regra externa que foi adaptada pelos atores da rede interna da ASSCAVAG, sendo aceita pelos outros atores da rede. Em outras palavras, uma regra que foi alterada para a realidade do grupo, sendo um exemplo de governança relacional. Os indicadores presentes nesse exemplo são: indicador 3.2.1 (coordenação do grupo) – pelo fato de a coordenação e a gerência das atividades do grupo retratarem a vontade de todas as pessoas que compõem o grupo; indicador 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo) – pelo fato de retratar que o grupo se reúne para realizar ajustes das regras em prol do grupo.

A partir da presença desses indicadores, pode-se inferir que existem significativos sinais de governança relacional nessa rede que busca a prevenção e controle das incertezas. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de pesquisa, construiu-se o Quadro 2 com a apresentação dos sinais de governança relacional que surgiram com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de incerteza comportamental 2.2 e 2.5; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2, 3.4.1 e 3.7).

Quadro 2 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 1. Indicadores de Incertezas Ambientais e Comportamentais Os mecanismos criados ou

adaptados Indicadores de governança 2.2 (sobre o comprometimento dos parceiros) 2.5 (sobre a intenção dos parceiros em continuar no grupo)

- contratar professores que são do grupo ou tiveram experiência no

grupo;

- rotinas de encontros com vários representantes, para ajustes.

- compartilhamento de autoridade, em rodízio de funções.

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência

dos integrantes do grupo) 3.2.2 (rotinas de encontro) 3.2.1 (a coordenação e controle das atividades compartilhadas por todos) 3.4.1 (a coordenação das atividades do grupo se dá por uma comissão

eleita por todos)

Fonte: Construído pela autora, 2017. Sujeito 2

O sujeito 2 é uma associada da ASSCAVAG que faz parte de uma das famílias fundadoras da ASSCAVAG. É também a representante do Movimento Nacional dos Catadores Recicláveis (MNCR), lutando para o fortalecimento dos catadores, a conscientização da população a respeito da classificação dos materiais recicláveis e a coleta seletiva. Sobre sua história, ela inicialmente era apenas catadora de material reciclável no lixão, mais tarde decidiu estudar, formando-se em técnica de enfermagem e tornou-se membro da Associação.

A análise temática do discurso indica a seguinte linha de resposta sobre os dois problemas da pesquisa:

No início da entrevista surgiram traços da categoria governança relacional quando o sujeito menciona: “tudo aqui é direcionado em conjunto para desenvolver coletivamente ações em prol do grupo, pois, se está dentro do grupo, os problemas devem ser resolvidos em grupo. E que nos dias de hoje, quem não estiver em grupo, não sobrevive tendo em vista o mercado estar muito competitivo”. Analisando-se esse trecho, percebe-se o indicador de incerteza de comportamento 2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os coletivos) e para solucionar esse problema aplica-se o indicador da categoria de governança relacional 3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo) e o indicador de governança

relacional 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo). Em outras palavras, o grupo procura decidir tudo em conjunto para ouvir e conciliar o posicionamento de cada ator; para se prevenir da incerteza do associado desenvolver objetivos individuais diversos dos objetivos coletivos. Percebe-se também o indicador de incerteza ambiental 1.3.2 (mudanças comerciais e seus efeitos no grupo) que leva ao mecanismo 3.9.1 (ações e/ou tarefas para suporte financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade), ou seja, por conta da imprevisibilidade do mercado, são desenvolvidas ações e/ou tarefas para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade.

Outra frase do sujeito analisada: “No início o nosso lucro aqui na Associação era distribuído por rateio e, posteriormente, foi alterado para um mecanismo de esquema de produção”. Aqui foi evidenciado o indicador de incerteza 2.4 (comportamento dos parceiros) que levou ao indicador de governança relacional 3.6.2 (controle e regras de combate aos comportamentos oportunistas). Analisando-se o trecho, percebe-se que essa regra na ASSCAVAG foi alterada pelo grupo com intuito de tentar exercer um controle na produção dos catadores e no comportamento oportunista dos catadores de quererem ganhar mais, produzindo menos. Esse fato evidenciou um problema comum que eles possuíam, inclusive com outras associações, que é o caso do catador oportunista ser remunerado igualmente a outros catadores que trabalham mais.

Sobre a questão de riscos e incertezas dentro do grupo, o sujeito mencionou que “os riscos e as incertezas aqui dentro da associação que mais existiam eram quanto aos acidentes de trabalho”. Com essa afirmação surgiu outro sinal de governança relacional com o indicador 3.6.1 (algum controle, ou vigilância do comportamento do parceiro), por conta da incerteza que remete a um novo indicador, 2.7 (sobre ações imprevisíveis dos parceiros que podem causar acidentes) que não consta na matriz, mas que surgiu com a entrevista. Isso porque existiam problemas com acidentes de trabalho e criaram regras para mecanizar e afastar o perigo que esses acidentes poderiam causar. Assim, infere-se que para se defenderem dessa incerteza, além da aquisição de máquinas mais seguras, criaram uma regra de que os associados teriam que aceitar a ajuda de um técnico em segurança do trabalho que foi contratado para minimizar este problema, e seguir suas orientações.

Sobre a questão da existência de concorrentes, o sujeito mencionou que “a concorrência provém dos catadores de rua que estão saindo do lixão e que não entram

para a Associação pelo fato de ganharem mais fora da associação por não precisar contribuir com as despesas internas da associação”, relatou ainda que “para evitar a saída dos catadores da associação, oferecemos qualidade de vida, como descanso e trabalho com horário fixo e diversas opções de coleta para terem constantemente local para coletar o material e não precisar voltar para o lixão ou para as ruas”. Esse ponto do discurso remete tanto ao indicador de incerteza ambiental 1.5 (sobre os concorrentes), como ao indicador de incerteza comportamental 2.5 (sobre intenções dos parceiros) que levam ao sinal de governança relacional representado pelo indicador 3.7.1 (incentivos internos para a permanência dos integrantes no grupo). Veja-se, pois, que o problema levantado foi a incerteza quanto à existência de outras associações concorrentes e a regra surgida para se prevenirem desse problema foi o estabelecimento de alguns incentivos como horário de trabalho fixo para proporcionar lazer e horários de descanso aos associados.

Sobre incerteza do comportamento dos associados, o sujeito mencionou que “o problema desse grupo é a relação interpessoal, pois alguns catadores acham que os outros não podem mandar nele, gerando uma competição entre eles”. Veja-se, pois, que o problema levantado foi a incerteza advinda da competição presente no relacionamento das pessoas do grupo, referindo-se ao indicador 2.2 (comprometimento dos parceiros), e foi utilizada a existência de um líder para tentar controlar o comportamento coletivo, retomando o indicador 3.2.1 (coordenação do grupo), e exercer uma relação interpessoal de parceria.

Sobre a possibilidade de os associados ajudarem financeiramente quando surgissem problemas imprevistos, como custos extras, ou ajuda emergencial para alguém do grupo, o sujeito respondeu que “esse é um exemplo que forçou aos associados a criarem um regimento interno com a regra de existir um fundo econômico para emergências, em que o associado contribui com 10% do que ganha”. Para incertezas sobre possíveis emergências, que remetem ao indicador 2.6 (sobre ações coletivas), foi criada a regra da contribuição de 10% do rendimento de cada associado que remetem ao indicador 3.4.1 (um grupo decide, mesmo com resistências) tendo em vista ser estipulado essa regra por ser uma decisão coletiva. Apesar de ter sido uma decisão do grupo em separar uma quantia de 10% do arrecado, essa é uma regra quase que fixa que aparece na maioria das cooperativas e associações.

Continuando no mesmo exemplo, o sujeito menciona ainda que “mesmo com a regra disposta no regimento, nem todos os associados aceitam contribuir com esses

10%”, remetendo ao indicador 4.4.2 (casos de regras falhas), pois nem todos concordam com tais regras e deixam de cumpri-las, sendo que tal ação leva ao indicador 2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os coletivos).

O sujeito discorreu sobre a criação de um regimento interno, no qual aparecem regras como de exclusão, que são para incertezas comportamentais, e outras, como assistência, que são para incertezas ambientais. Aparecem também outras regras como assistência à saúde, obediência e respeito controlado pelo conselho de ética que foram criadas por conta de motivos como doenças, falhas do sistema do governo, problemas financeiros emergenciais, entre outros, que foram citados na entrevista. Pode-se dizer ainda que esse regimento interno, que foi uma adaptação de modelos já existentes, pode ser considerado um bom exemplo de governança relacional, pelo fato de ter sido construído e/ou adaptado pelo grupo na medida em que os problemas foram surgindo.

Diante ao exposto, a análise do discurso do sujeito indica um raciocínio de separação das pessoas internas ao grupo dos outros que estão fora do grupo, sendo que esses outros são os políticos, empresas e outros catadores que querem tirar proveito do grupo. No que diz respeito à dinâmica de grupo, o sujeito repete padrões de “decidir pelo coletivo”, evidenciado a consciência de ação coletiva.

Infere-se que o tema mais recorrente do sujeito gira em torno das relações da ASSCAVAG com o governo e das relações entre os associados, sendo que as questões do negócio não foram tanto abordadas. O sujeito indicou ainda que a governança relacional na ASSCAVAG está mais voltada para a proteção do grupo, o qual não busca relacionamentos abertos e/ou transmissão de conhecimentos. Esse grupo é considerado uma família a ser protegida em que os recursos obtidos permanecem protegidos dentro do grupo.

A entrevista apontou diversos sinais de governança relacional na rede interna da ASSCAVAG que busca a prevenção e controle das incertezas; porém houve poucos exemplos de mudanças de regras da ASSCAVAG com outras instituições. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de pesquisa a partir dessa entrevista, construiu-se o Quadro 3 com a apresentação dos sinais de governança relacional que surgiram com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de incerteza ambiental 1.3.2 e 1.5; indicadores de incerteza comportamental 2.2, 2.3, 2.4, 2.5 e 2.6; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2, 3.4, 3.6.1, 3.6.2, 3.7.1 e 3.9.1; indicador de sinais da interface entre incertezas e governança relacional 4.4.2).

Com a análise dessa entrevista, surgiu ainda um novo indicador, 2.7 (atitudes dos parceiros), que pode ser incorporado à matriz de indicadores e ser utilizado em futuras pesquisas.

Quadro 3 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2. Indicadores de

Incertezas Ambientais e Comportamentais

Os mecanismos criados ou

adaptados Indicadores de governança 1.3.2 (sobre possíveis

mudanças comerciais e seus efeitos no grupo)

1.5 (sobre as ações dos

movimentos dos concorrentes e sua influência no grupo) 2.5 (sobre a intenção dos parceiros de continuidade no grupo) 2.2 (sobre o comprometimento dos parceiros que integram

o grupo)

2.6 (sobre disposição de arcar com os custos

coletivos) 2.3 (sobre os objetivos

individuais, dos parceiros que integram

o grupo, conflitantes com os coletivos) 2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros) 2.7 (sobre ações que possam comprometer a saúde e integridade dos

parceiros) 2.3 (sobre os objetivos

individuais, dos parceiros que integram

o grupo, conflitantes com os coletivos)

- os problemas que surgiram que são resolvidos coletivamente.

- oferecer qualidade de vida aos

associados.

- oferecer qualidade de vida aos associados.

- surgimento de um líder para

controlar o comportamento coletivo.

- surgimento de regra pela

decisão da maioria, mesmo alguns discordando. - Estar em formato de grupo, com

decisões tomadas em conjunto.

- a distribuição dos lucros por

esquema de produção ao invés de rateio. - aquisição de máquinas e contratação de técnico em segurança do trabalho. - descumprimento do regimento

por alguns associados.

3.9.1 (existência de ações para conseguir algum apoio

financeiro ou de infraestrutura do governo, do

mercado e da sociedade) 3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência

dos integrantes do grupo) 3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência

dos integrantes do grupo) 3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades do grupo se dão por todos do

grupo)

3.4.1 (existência de uma comissão que decide) 3.2.1 (coordenação do grupo

se dá por todos do grupo) e o indicador de governança

relacional; 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo)

3.6.2 (existência de regras de controle e de combate

aos comportamentos oportunistas) 3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro) 4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao cumprimento de algumas regras) Fonte: Construído pela autora, 2017.

Sujeitos 3 e 4

Os sujeitos 3 e 4 foram entrevistados juntos, por solicitação deles.

O sujeito 3 possui a função de consultor do Projeto, é o responsável por fazer o acompanhamento desse Projeto, a verificação das aplicações dos recursos, o acompanhamento das prestações de contas e o acompanhamento do plano de negócios, ou seja, a partir de quando o investimento começará a dar retorno e quando o negócio vai atingir seu equilíbrio.

O sujeito 4 é o representante do grupo Gama que é o principal patrocinador do projeto que contempla a ASSCAVAG. Sendo esse Projeto patrocinado pelo BNDES e pelo Instituto Gama.

Lançada uma pergunta genérica de como funciona essa parceria e qual a relação com a ASSCAVAG, os sujeitos responderam que “os auxílios aos programas sociais que o Instituto Gama fornece, geralmente, são em cidades onde são situadas

fábricas da Gama e que carecem de investimentos financeiros”. Fato que convergiu

com a política do BNDES que procura investir em localidades que tenham baixo índice de desenvolvimento humano. Os sujeitos disseram ainda que “a ASSCAVAG foi submetida a uma análise na qual se verificou que essa Associação desenvolvia trabalho social, assim foi selecionada para receber investimentos financeiros desde que seguisse as regras estipuladas no termo de parceria entre o Instituto Gama e a ASSCAVAG”. Por essa fala, é possível entender que as regras que regem essa relação já vieram estipuladas no termo de acordo assinado entre eles, cabendo à ASSCAVAG apenas o cumprimento do termo de acordo. Essas regras que estão no contrato estão mais relacionadas às questões legais, sendo que outros assuntos podem ser decididos conforme a necessidade da ASSCAVAG. Há, portanto, uma janela de possibilidades de acordos, que podem servir de exemplos de governança relacional.

Os sujeitos 3 e 4 disseram que “esse grupo de catadores da ASSCAVAG não aceitam pessoas estranhas, assim demoraram para pedir nosso auxilio. Aos poucos fomos conquistando a confiança deles, sendo que a partir daí a Associação começou a buscar frequentemente nosso apoio e suporte quando se deparava com determinadas situações ou problemas”. Tal afirmativa dos sujeitos remete a dois indicadores de incerteza de comportamento, o 2.2 (sobre o comprometimento dos parceiros) e o 2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros). Isso

porque, como o grupo da ASSCAVAG não os conhecia, demorou a dar credibilidade aos sujeitos. Remete também ao indicador de governança relacional 3.5.1 (existência de regras para eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo), pois o grupo criou uma regra informal de buscar tanto o representante do Projeto como o representante da Gama para auxiliar no gerenciamento e coordenação do grupo, sempre que surgissem problemas a serem resolvidos. Essa regra nasceu das relações de confiança entre as partes, sendo, um bom exemplo de governança relacional.

Sobre incertezas desse negócio, os sujeitos disseram que “os riscos e problemas existentes nesse negócio estão muito ligados ao relacionamento interpessoal deles”. Sobre as medidas tomadas para solucionar esses problemas eles disseram: “nós interferimos quando surgem conflitos entre eles que atrapalham o andamento do projeto. Nós servimos, em alguns casos, como mediadores nos conflitos e em outros casos de orientadores daqueles que administram diretamente as atividades dos catadores. Tudo isso para tentar manter a união entre os membros da ASSCAVAG”. Vê-se, pois, que existe incerteza a respeito do comportamento das pessoas do grupo nas relações sociais desenvolvidas entre eles, remetendo ao indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo), surgindo uma regra informal de intercessão dos sujeitos 3 e 4 com intuito de harmonizar o conflito, fato que se reporta ao indicador de governança 3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro).

O trecho da entrevista evidencia a presença da incerteza do comportamento dos associados que influencia diretamente na governança relacional da rede interna da ASSCAVAG, uma vez que a Associação busca regras para, entre outras coisas, exercer controle no comportamento dos catadores.

Sobre incertezas advindas de leis e normas, responderam que “todos os grupos que recebem apoio desse projeto devem passar por licenciamento ambiental, e com o Grupo ASSCAVAG não foi diferente. Nós nos atentamos também aos materiais que chegam lá na associação, para que eles sejam licenciados, ou seja, materiais recicláveis”. Esse discurso sinaliza uma regra formal/contratual, ou seja, uma regra que já veio estipulada no termo de acordo somente para ser cumprida.

Sobre as incertezas advindas da relação entre o Instituto Gama e a ASSCAVAG, os sujeitos disseram não possuírem, mas disseram que “houve um caso de incerteza, que foi a saída da primeira presidente da Associação”. Perguntado sobre

as medidas tomadas para resolver essa questão, contaram que “foi realizada uma eleição, na qual houve uma votação apertada com duas chapas, sendo que nessa eleição surpreendeu a positividade dessa concorrência, na qual os membros se mostraram bastante envolvidos. Em contrapartida, houve muitos associados descontentes com a Presidente que assumiu”. O trecho em questão retrata a incerteza de cunho político que surgiu no ambiente interno da Associação e que poderia influenciar na relação com o Instituto Gama, remetendo ao indicador 1.3.1 (sobre as mudanças políticas e sua influência no grupo) e que leva ao indicador de governança 3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que têm autoridade para controlar as outras pessoas no que diz respeito a seguir as regras) pelo fato de elegerem uma nova presidente para administrar a ASSCAVAG.

A respeito da disposição da Associação em seguir as regras que o Instituto Gama estipulou, os sujeitos afirmaram que a ASSCAVAG segue categoricamente o que é colocado no termo de Parceria apresentado pelo Instituto Gama, o que caracteriza um exemplo de governança formal/contratual.

Sobre incertezas relacionadas à ética dos parceiros, os sujeitos 3 e 4 responderam que “dentro da ASSCAVAG houve casos pontuais de pequenos furtos, divergindo da conduta coletiva do grupo, e que foi difícil a saída desse membro por envolver questões sociais e afetivas, uma vez que os associados sabem da dificuldade que o colega vai passar e pelo fato de um dos papéis da Associação ser a inclusão social”, e que conforme dito pelo sujeito 3 existe muita compaixão de um pelo outro dentro da associação, ou seja, um se coloca na situação do outro. Perguntado