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UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES: ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Administração da

Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.

MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA

São Paulo – SP 2017

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES: ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Administração da

Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Ernesto Michelangelo Giglio

Área de concentração: Redes

Organizacionais.

Linha de pesquisa: Abordagens Sociais nas Redes.

MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA

São Paulo - SP 2017

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Arruda, Maria Carolina Silva de.

Interface entre incertezas e governança relacional nas redes: análise de múltiplos casos da região de Cuiabá. / Maria Carolina Silva de Arruda. - 2017.

136 f.: il. color. + CD-ROM.

Dissertação de Mestrado Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista, São Paulo, 2017.

Área de concentração: Redes Organizacionais: Abordagens sociais nas redes.

Orientador: Prof. Dr. Ernesto Michelangelo Giglio.

1. Redes. 2. Governança relacional. 3. Incerteza ambiental. 4. Incerteza comportamental. I. Giglio, Ernesto Michelangelo (orientador). II. Título.

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MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA

INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES: ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Administração da

Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Aprovada em: ____ / ____ / ____.

BANCA EXAMINADORA

___________________________/___/___ Prof. Dr. Ernesto M. Giglio

Universidade Paulista – UNIP

___________________________/___/___ Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblum

Universidade Paulista – UNIP

________________________________/___/___ Prof. Dr. Cristiano de Oliveira Maciel

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC

SÃO PAULO 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus ter me dado saúde e força para alcançar meus objetivos;

Ao meu esposo, Augusto Cézar D’Arruda, sua parceria e apoio incondicional nos momentos de dificuldade, meu agradecimento especial;

Ao meu professor orientador, Dr. Ernesto Michelangelo Giglio, a dedicação, paciência e incentivo. Um grande exemplo de pessoa e de educador. Afirmo que foi um privilégio ser sua orientanda em todo o período do curso e que os seus ensinamentos foram muito além dos conteúdos da dissertação, pois tive aprendizados para a vida;

Aos meus pais, José Luiz de Arruda e Celia Lúcia Arruda, que ensinaram os valores que norteiam a minha vida, e aos meus sogros Cézar Augusto D’Arruda e Lenise Curvo D’Arruda todo suporte e incentivo nessa caminhada;

Ao Instituto Federal de Mato Grosso que deu todo apoio necessário, reconhecendo a importância de se fazer um curso de mestrado;

A todos os professores do Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista - UNIP que contribuíram para o enriquecimento do meu conhecimento;

Aos amigos do mestrado, a parceria nos momentos difíceis enfrentados juntos e as vitórias conquistadas e comemoradas, afinal estamos em rede;

o professor Dr. Arnaldo Ryngelblum e ao professor Dr. Cristiano de Oliveira Maciel a disponibilidade de participação e principalmente as contribuições ao trabalho;

Ao Departamento de Pós-Graduação em Administração na pessoa da Aline que sempre me atendeu com muita presteza e atenção.

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"A mente que se abre a uma nova ideia nunca mais volta ao seu tamanho original." (Albert Einstein)

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RESUMO

O objetivo deste trabalho foi discutir, investigar e analisar o tema da governança relacional em redes na sua interface com as incertezas ambientais e comportamentais. Define-se governança como o arranjo das regras que possibilita o trabalho coletivo, e incerteza como a falta de conhecimentos, que exige a tomada de decisões em ações coletivas, incluindo instrumentos de defesa. A teoria de base da governança advém de modelos que incorporam a incerteza ambiental e comportamental, criando sistemas de regras de controle e de incentivos. O problema da pesquisa pode ser resumido na pergunta: Qual a relação entre incertezas e governança nas redes? Realizada a revisão bibliográfica, concluiu-se que são raros os modelos que integram as incertezas com a governança, embora existam muitas afirmativas a respeito. No desenho da pesquisa colocou-se a interface das incertezas com a governança relacional, mostrando que os indicadores da governança podem ter origem tanto interna do grupo, quanto externa; entretanto, foram estudados apenas os indicadores de origem interna. A pesquisa configura-se como descritiva e exploratória, de natureza qualitativa, com método de estudo de caso, coletando dados de uma rede de negócios e uma rede de catadores de materiais recicláveis. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram a entrevista com roteiro semiestruturado e os dados de fontes secundárias. Nas duas redes realizaram-se análises inter e intraorganizacional. Na rede de economia solidária que envolve catadores de materiais recicláveis, cuja organização foco foi a ASSCAVAG - Associação dos Catadores de Várzea Grande, a conclusão é que se pode estabelecer uma relação entre as incertezas ambientais e comportamentais a partir da análise intraorganizacional já que os mecanismos de governança relacional estão resolvendo a maioria dos problemas surgidos no grupo. A mesma conclusão é afirmada para o caso da rede de negócios, cuja organização foco foi o Shopping Popular, a partir da análise intraorganizacional. Nas duas análises interorganizacionais, os mecanismos formais e regras de mercado predominaram, com pouca margem para arranjos entre as partes. A interpretação para os resultados é que a rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG – Associação dos Catadores de Várzea Grande, faz parte compõe planos e projetos do governo, tornando as regras mais inflexíveis. Além disso, essa rede tem como atores grandes empresas, que desenvolvem ações sociais e, por questões de controle dessas ações, criam contratos com regras para serem obedecidas, sob pena de suspensão dos financiamentos, o que caracteriza uma rede interorganizacional formalizada, com pouca margem para negociação. Seguindo nessa mesma linha, a rede interorganizacional na qual o Shopping Popular faz parte também possui sua formalização, fundada em regras de comércio de varejo, controle de pirataria, leis de segurança e higiene no local, entre outras. No entanto, diferente da rede anterior, aqui existiram casos de negociações e acordos entre os atores. A contribuição do trabalho foi metodológica, haja vista a construção de indicadores que nortearam a elaboração dos instrumentos completos de investigação que podem ser testados em outras pesquisas; e teórica tendo em vista relacionar a governança relacional com incertezas ambientais e comportamentais, fato com certo ineditismo na literatura. Como sugestão de pesquisa futura indica-se investigar a correspondência de incertezas e governança relacional em redes com menor participação e controle do governo, ou seja, tentar selecionar redes que não tenham tanta intervenção do governo para poder analisar se, nesse caso, as organizações apresentam mais interação e negociação.

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Palavras-chave: Redes; Governança Relacional; Incerteza Ambiental; Incerteza

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ABSTRACT

The objective of this work was to discuss, investigate and analyze the theme of relational network governance in its interface with environmental and behavioral uncertainties. Governance is defined as the arrangement of rules that enables collective work and uncertainty such as lack of knowledge, which requires decision-making in collective actions, including defense instruments. The basic theory of governance comes from models that incorporate environmental and behavioral uncertainty, creating systems of control rules and incentives. The research problem can be summarized in the question: What is the relationship between uncertainties and governance in networks? The bibliographical review was concluded that the models that integrate the uncertainties with the governance are rare, although there are many affirmations about it. In the research design, the interface of uncertainties with relational governance was shown, showing that governance indicators can originate both within the group and external, however, only the indicators of internal origin were studied. The research is descriptive and exploratory, of a qualitative nature, with a case study method, collecting data from a business network and a network of recyclable material collectors. The data collection instruments used were the interview with semi-structured script and data from secondary sources. Inter and intraorganizational analyzes were performed in both networks. In the network of solidarity economy that involves collectors of recyclable materials whose organization was ASSCAVAG - Varzea Grande Collectors Association the conclusion is that a relationship can be established between environmental and behavioral uncertainties from the intraorganizational analysis since the mechanisms of relational governance are solving the majority Problems encountered in the group. The same conclusion is affirmed for the case of the business network, whose organization was Popular Shopping, based on the intraorganizational analysis. In both interorganizational analyzes the formal mechanisms and market rules predominated, with little scope for arrangements between the parties. The interpretation for the results is that the interorganizational network of which ASSCAVAG is part composes government plans and projects, making rules more inflexible. In addition, this network has as actors large companies, which carry out social actions and, for control of these actions, create contracts with rules to be obeyed, under penalty of suspension of financing, which characterizes a formalized interorganizational network with little margin For trading. Along the same lines, the interorganizational network in which the popular shopping mall is part also has its formalization, based on rules of retail trade, control of piracy, safety and hygiene laws in place, among others. However, unlike the previous network, there have been cases of negotiations and agreements between the actors. The contribution of the work was methodological, considering the construction of indicators that guided the elaboration of the complete research instruments that can be tested in other researches; And theoretical in order to relate relational governance with environmental and behavioral uncertainties, a fact with certain novelty in the literature. As a suggestion of future research it is necessary to investigate the correspondence of uncertainties and relational governance in networks with less participation and control of the government, that is, try to select networks that do not have so much intervention of the government to be able to analyze if in this case the organizations present more interaction and negotiation.

Keywords: Networks; Relational governance; Environmental uncertainty; Behavioral

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Item Página

FIGURA 1 – O modelo de governança relacional 36

FIGURA 2 – Modelo proposto do Desenho de Pesquisa 43

FIGURA 3 – Foto do galpão em que fica localizada a ASSCAVAG 57 FIGURA 4 - Mapa das relações da Rede da ASSCAVAG, conforme

respostas dos entrevistados

59

FIGURA 5 – Foto do Shopping Popular 81

FIGURA 6 - Mapa das relações da Rede da Shopping Popular,

conforme respostas dos entrevistados. 83

QUADRO 1 - Indicadores das categorias governança relacional,

incerteza ambiental e comportamental 46

QUADRO 2 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 1

64

QUADRO 3 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2

68 Quadro 4 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 3 e 4

74 Quadro 5 - Combinação dos indicadores com os sinais de

governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual a ASSCAVAG está inserida

76 Quadro 6 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 1 da rede na qual o Shopping Popular está

inserido. 89

Quadro 7 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está

inserido. 94

Quadro 8 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está

inserido. 99

Quadro 9 - Os indicadores com os sinais de governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual o

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Quadro 10 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de governança relacional presentes nas entrevistas das redes investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram

convergência total. 104

Quadro 11 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de governança relacional presentes nas entrevistas das redes investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram

convergência parcial. 105

TABELA 1 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias governance (governança),

relational governance (governança) e network (redes) 22

TABELA 2 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO

sobre a categoria governança 24

TABELA 3 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias uncertainty (incerteza) e network

(redes) 29

TABELA 4 – Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASSCAVAG Associação dos Catadores de Várzea Grande

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

COOCOMP/MT Cooperativa de Compras do Comércio Popular de Mato Grosso

DETRAN/MT Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SEMA/MT Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso

SETAS Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social

(13)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 15 1.1 Tema ... 18 1.2 Problema ... 18 1.3 Justificativa ... 18 1.4 Objetivo Geral ... 19 1.5 Objetivos Específicos ... 19 2 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA ... 20 2.1. Governança ... 20

2.2 Governança nas Redes ... 21

2.3 Governança Relacional ... 26

2.4 Incerteza ... 28

2.5 Incerteza nas Redes ... 29

3 TEORIA DE BASE ... 34

3.1 Perspectiva Social de Redes ... 34

3.2 Conceito de Governança Relacional ... 36

3.3 Conceito de Incerteza Ambiental e de Incerteza Comportamental... 39

3.4 Relação entre Incerteza e Governança Relacional ... 42

3.5 Desenho e Proposta de Pesquisa ... 43

3.6 Indicadores das categorias Governança Relacional, Incerteza Ambiental e Incerteza Comportamental ... 44

4 METODOLOGIA ... 49 4.1 Plano da Pesquisa ... 51 4.2 Protocolo de Pesquisa ... 51 4.2.1 Objetivo ... 52 4.2.2 Tipo de Pesquisa ... 52 4.2.3 Escopo ... 52 4.2.4 Sujeitos ... 52

4.2.5 Instrumentos de coleta de dados ... 53

(14)

4.2.5.2 Questionário com afirmativas ... 54

4.2.5.3 Dados de fontes secundárias ... 55

4.2.6 Formas e processo de análise ... 55

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 57

5.1 Rede de Economia Solidária de Catadores de Materiais Recicláveis ... 58

5.1.1 Dados de fontes secundárias ... 58

5.1.2 Dados de fontes primárias – entrevistas ... 62

5.1.3 Resposta ao problema de pesquisa ... 76

5.2 Rede de Negócios do Shopping Popular de Cuiabá/MT... 80

5.2.1 Dados de fontes secundárias ... 80

5.2.2 Dados de fontes primárias – entrevistas ... 84

5.2.3 Resposta ao problema de pesquisa ... 96

5.3 Conclusão sobre os resultados das redes ... 104

6 COMENTÁRIOS FINAIS ... 108

6.1. Sobre os objetivos ... 110

6.2 Resposta sobre a proposição orientadora ... 113

6.3 Comentários sobre a fundamentação teórica e os resultados alcançados ... 115

6.4 Comentários sobre a metodologia ... 118

6.5 Comentários sobre as duas redes ... 119

6.6 Comentários sobre os limites e as contribuições do trabalho... 119

6.6.1 Limites do trabalho ... 120

6.6.2 Contribuições do trabalho ... 120

6.7 Sugestões de novas pesquisas ... 121

6.8 Comentário finais ... 122

REFERÊNCIAS ... 123

Apêndice I. Instrumento Roteiro de Entrevista com Questões Semiestruturadas ... 130

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é discutir, investigar e analisar o tema da governança relacional em redes na sua interface com as incertezas do ambiente e do comportamento dos atores no grupo. No projeto utiliza-se o conceito de governança como mecanismos de controle e de coordenação que surgem dos relacionamentos sociais e inclui salvaguardas informais, como confiança e reputação (JONES; HESTERLY; BORGATTI, 1997; BACHMANN; ZAHEER, 2008).

Revisão bibliográfica prévia indicou que a categoria governança aparece em muitos estudos sobre redes, com uma variedade de conceitos, afirmativas e modelos de investigação. Como exemplo de autores frequentemente referenciados sobre o tema, citam-se: Grandori (1997) que entende que a governança pode ser considerada a base das redes, em que são utilizadas técnicas de coordenação, e Jones, Hesterly e Borgatti (1997) que apresentaram uma teoria sobre governança, afirmando que o seu modelo esclarece e resolve os aspectos racionais, econômicos e sociais das redes; já que problemas tais como custos, ou incertezas de mercado são resolvidos a partir de relações sociais.

Os estudos contemporâneos, como de Liu e Zhang (2013), afirmam que a governança relacional é um modo de coordenar relacionamentos de negócios, no qual empresas independentes, por meio de esforços conjuntos, executam ações coordenadas para alcançar resultados mútuos ou singulares. Rodrigues e Malo (2006) retratam a governança no sentido de práticas de controle relacionadas aos conceitos de parceria, de aprendizado coletivo, de participação, de regulamentação e de benefício para as estruturas organizacionais, no estudo de uma rede sem fins lucrativos. Tais autores buscaram relacionar a governança com algumas variáveis como de resultados, de motivação, de solução de conflitos e de controle. Sobre este último exemplo, os controles referem-se às incertezas e imprevisibilidades do ambiente e às incertezas comportamentais. O que se nota nessa revisão prévia é que predominantemente se coloca a governança na direção do controle, isto é, na sua função de controle e raramente se coloca o sentido das incertezas influenciando a construção da governança. Assim, nasceu o tema de se investigar nessa direção, do caminho que começa nas incertezas e chega à construção da governança.

Quando se trata de incerteza ambiental, a linha dominante do conceito é a incapacidade percebida do ator da rede para prever com precisão eventos futuros do

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ambiente no qual a organização está inserida (MILLIKEN, 1987); e, sobre a incerteza comportamental, a linha dominante do conceito é a imprevisibilidade do comportamento de um ator (GULATI,1998). No entanto, quando se trata de incerteza ligada à governança relacional de redes, são raros os trabalhos que resolvem essa equação, entre os quais, o trabalho de Jones, Hesterly e Borgatti (1997) e da Grandori (1997) que afirmam que a governança em rede nasce com a função de diminuir as incertezas, tanto do ambiente quanto do comportamento. Sobre as incertezas ambientais, foram abordadas incertezas sobre legislação e sobre o clima; e sobre as incertezas comportamentais, foram tratadas as incertezas sobre oportunismo e negligência.

O tema de redes tem importância crescente no ambiente acadêmico. Conforme Nohria e Eccles (1992), essa tendência tem como decorrência o surgimento de uma nova forma de competição, baseada na competição entre grupos; no desenvolvimento de tecnologias nos últimos anos que possibilitou o nascimento de novos arranjos produtivos e de distribuições mais flexíveis e descentralizadas; e no incremento do interesse do assunto pelos pesquisadores científicos.

Dentre as categorias que constituem a rede, a revisão bibliográfica inicial destaca a governança, a estrutura e os fluxos de relacionamento como as mais citadas. Tais categorias têm recebido ênfase dos pesquisadores, que buscam seu surgimento, sua natureza e suas influências no desenvolvimento e nos resultados das redes.

Uma convergência que surge da revisão inicial sobre governança é a sua característica de controlar os processos, os relacionamentos e o comportamento dos atores. Em outras palavras, a governança é o arranjo das regras que possibilita o trabalho coletivo (GRANDORI e SODA, 1995). Outra convergência é caracterizar a governança como forma de incentivo para ações coletivas, buscando eliminar o oportunismo. Essa afirmativa foi repetida por Williamson (1994), em seus estudos sobre contratos, incertezas e a função de controle das relações sociais.

Apesar dessas convergências, existem questões em aberto, por exemplo, sobre a governança relacional, a saber: Qual a origem dessa governança? Como ela se desenvolve? Quais as variações e tipos de governança? Essas variações dependem do ramo de negócios? É independente dos problemas do grupo? Quais os mecanismos, ou meios de governança relacional mais utilizados?

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Outro ponto é que existem muitas classificações e diferentes sentidos de governança. Cassanego Junior (2014), por exemplo, afirma que os elementos a serem considerados em pesquisas sobre governança são: a estrutura da governança, suas funções, seus mecanismos e meios, seus objetivos, seus agentes e seus requisitos da governança.

No que tange às incertezas, também surgem questões a serem respondidas, quais sejam: Quais as fontes e as dimensões da incerteza? Que tipos de incertezas podem estar presentes? Como investigar essa incerteza? A investigação deve seguir por sinais tangíveis, ou pela percepção de cada ator? Como evoluem as incertezas? A governança relacional atinge seus objetivos de prevenção, defesa e controle das incertezas? Quais os efeitos das incertezas na governança da rede? Esxas questões estão no centro de discussão neste projeto.

Considerando essas questões em aberto sobre o tema da governança e da incerteza, a proposta do trabalho é discutir, investigar e analisar a interface entre incerteza e governança relacional em redes. Afirma-se que a governança relacional surge e se desenvolve a partir das relações sociais na rede, conforme modelo de Jones et al. (1997). O conceito também se estende para a governança como guia, controle e incentivo das relações entre os atores. A linha geral do conceito é que a governança relacional é uma coordenação que nasce dos relacionamentos sociais da rede.

Como plano de investigação, criou-se um quadro de indicadores dos sinais da governança relacional e da presença de incertezas, os quais foram construídos a partir da revisão bibliográfica e da base teórica. Com esse quadro foi possível construir instrumentos para investigar a interface proposta em exemplos de redes.

A proposição orientadora é que, diante das incertezas ambientais e comportamentais, os atores de uma rede criam regras sobre sistemas de defesa, para evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras sobre sistemas de controles e incentivos para exercer algum grau de controle nas incertezas comportamentais. A proposta tem foco na construção dessas defesas, independentemente dos resultados comerciais obtidos, o que ensejaria outro trabalho.

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1.1 Tema

Discussões e análises da Governança Relacional nas redes associada às Incertezas Ambientais e às Incertezas Comportamentais.

1.2 Problema

Considerando um ambiente com rápidas mudanças e necessidade constante de adaptação, no qual existem incertezas, faz-se necessário criar uma governança como forma de diminuir as incertezas e criar segurança. Sendo assim, este estudo procurou verificar em pesquisas de campo a correspondência entre incertezas e governança nas redes e responder à seguinte questão:

Quais os sinais de governança relacional presentes na rede que buscam se prevenir dos efeitos das incertezas ambientais e exercer um grau de controle sobre as incertezas comportamentais dos atores?

1.3 Justificativa

O estudo justifica-se, em primeiro lugar, pela relevância conceitual de se colocar categorias sociais como bases das redes e pelo fato de a governança ser um tema em evidência nos estudos de rede. Justifica-se, ainda, pelo fato de as redes estarem em ambientes de constante mudança, sejam comerciais, políticas, sociais, comportamentais; valorizando o papel da governança na solução de problemas coletivos.

A questão de entender a interface da governança relacional com as incertezas presentes nas redes também justifica o desenvolvimento desse estudo. Na parte metodológica existem dúvidas, questionamentos sobre quais indicadores são válidos para se investigar as incertezas do ambiente, do comportamento dos indivíduos do grupo e dos sinais de governança construída no grupo.

O trabalho, portanto, está inserido numa corrente de questionamentos sobre o tema de governança relacional associada às incertezas ambientais e comportamentais nas redes.

(20)

1.4 Objetivo Geral

O objetivo geral do trabalho consistiu em identificar e apresentar os sinais de governança relacional que buscam prevenir e defender a rede dos efeitos das incertezas ambientais e exercer algum grau de controle nas incertezas do comportamento dos indivíduos.

1.5 Objetivos Específicos

 Mapear as ligações das redes selecionadas;

 Apresentar os objetivos e as características das redes;  Criar e aplicar indicadores de governança relacional;  Criar e aplicar indicadores de incerteza;

 Apresentar os resultados finais dos sinais de governança relacional encontradas nos casos; e

 Comparar os resultados do campo com as afirmativas teóricas.

O trabalho estrutura-se da seguinte maneira, nesta introdução apresenta-se a proposta do trabalho, com a proposição orientadora, seus pontos de partida, sua justificativa e sua estrutura. No item 2 apresenta-se a revisão bibliográfica sobre a governança nas redes e sobre as incertezas. A proposta desse item é analisar as tendências dos trabalhos envolvendo a categoria governança nas redes. Desse modo, o item indica a importância e justificativa do problema levantado; a convergência dos trabalhos contemporâneos e estabelece a posição do presente trabalho. No item 3 são apresentadas as bases teóricas que servem de fundamento para a construção dos instrumentos de coleta e para as discussões finais. No item 4 aponta-se o plano metodológico. No item 5 são apresentados os dados e são discutidos os resultados. Por fim, no item 6 são apresentados os comentários finais.

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2 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA

A revisão bibliográfica tem como propósito conhecer a tendência e o leque de abordagens, teorias, metodologias e discussões de trabalhos atuais a respeito do tema em análise. Ao final do item é possível justificar a validade e relevância do problema levantado, estabelecer a posição do presente projeto na trilha de pesquisa, isto é, se alinhado ou divergente das tendências que a revisão indicou, além de mostrar a relevância do trabalho e das categorias selecionadas.

A pesquisa bibliográfica foi obtida por meio de consultas a sites de trabalhos acadêmicos. Para os regionais, foi utilizado o SCIELO – Scientific Electronic Library Online – e, para internacionais, a fonte foi o PROQUEST. Essas fontes foram selecionadas por indicarem os artigos presentes em revistas qualificadas e por permitirem cruzamentos e variações de busca, conforme interesse do pesquisador.

2.1 Governança

O termo governança encontra diversas definições nas mais variadas disciplinas e áreas de estudo. Realizando uma pesquisa no portal PROQUEST referente à palavra governance obtêm-se o número de 50.005 indicações de publicações, obtendo maior número de concentração nos estudos referentes aos assuntos de Governança (18341), Ensino superior (5309), Gestão (3080), Economia (2713), Política (2033), Política Educacional (2168) e outros assuntos como políticas públicas, business e tomadas de decisões que aparecem com menos frequência.

A partir da listagem, verificou-se com mais detalhes os títulos e a origem do meio de publicação de cada um desses itens mais frequentes, recolhendo-se uma amostra dos 30 primeiros, com filtro da ordem cronológica do mais recente. O resultado é que tópicos tais como Ensino Superior, Gestão e Economia tratam da governança no sentido diferente, distante dos objetivos deste projeto, por exemplo, no sentido de análise financeira, ou de organização corporativa, ou de gestão de uma organização.

No sistema de busca do PROQUEST, existe um item específico com o título Governança. A análise dos assuntos indicados nesse tema resulta em grande variedade, tal como Sociologia do crime, ou Políticas educacionais. Selecionando-se

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a área Governança, conforme a classificação dada pelo portal, restam 3.270 resultados.

Essa primeira busca de dados indica a maleabilidade do conceito e dos campos de aplicação da governança. Tendo em vista o foco do trabalho que é a governança em redes, realizou-se uma segunda busca com expressões conjugadas, em inglês, de governance e network.

2.2 Governança nas Redes

Na busca no portal PROQUEST, a palavra network com filtro para título do documento resulta em indicações da ordem de 900 mil e a palavra governance sem filtro resulta em indicações da ordem de 305 mil. Já a palavra governance com filtro para título do documento resulta em indicações da ordem de 27 mil. Nesses trabalhos, conforme a classificação feita pelo portal de pesquisa, a governança é abordada em diversas áreas e temas, sendo as mais frequentes, na ordem, gestão, questões políticas, política educacional e governança corporativa.

Ao colocar o filtro de título de documento nas duas palavras, governance e network, obtêm-se 595 resultados. A partir daí, foi realizado um levantamento de 2005 até 2016, ou seja, dos últimos onze anos, e se chegou ao número de 507 trabalhos publicados. As indicações foram tratadas conforme orientação de Araújo (2006) sobre levantamento bibliométrico, que é uma técnica de avaliação da produção científica verificando índices de produção, frequência de temas, natureza do texto (se artigo, tese, depoimento, etc.) num período determinado.

Realizou-se, também, a busca no PROQUEST da expressão relational governance com filtro para título do documento que resultou em 65 indicações. Se aceita que o filtro para título do documento resulta em trabalhos mais próximos do objetivo deste projeto, pois a expressão no título faz com que o autor desenvolva mais profundamente o tema.

Fazendo uma busca da palavra network com filtro no título combinado com a palavra relational governance sem filtro, chegou-se a 285 indicações. Realizando-se uma segunda busca com a combinação das expressões network e relational governance ambas com filtro para título geraram-se 4 indicações.

Tais resultados são apresentados na Tabela 1, podendo ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros aplicados.

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Tabela 1 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias governance (governança), relational governance (governança relacional) e network (redes).

CATEGORIAS ARTIGOS

(1) Network (no título) 900 mil (2) Governance (sem filtro) 305 mil (2) Governance (no título) 27 mil (3) Relational Governance (no título) 65 (1) + (2) (ambos no título) 595 (1) + (2) (no título) (2005 – 2016) 507 (1) (no título) + (3) (sem filtro) 285 (1) + (3) (ambos no título) 4 Fonte: Construído pela autora, 2017.

Como se percebe naTabela 1, os trabalhos de governança sobre redes são poucos quando se compara com a produção total da expressão governança (595/305.000). Nesse sentido, foram analisados os trabalhos dos seguintes resultados: network + governance (ambos no título; no intervalo de 2005 até 2016, (507); relational governance (no título), (65); e relational governance + network (ambos no título) (4).

Das 507 indicações que se referem à pesquisa com as palavras governance + network ambas com filtro no título e no intervalo de 2005 até 2016, 334 referem-se a artigos, e 12 referem-se a teses e dissertações. Esse material constitui o foco de análise, para a qual foi lido o título, as palavras-chave e o resumo.

Das 12 indicações de teses e dissertações, 10 abordaram a governança no tema de políticas públicas, uma referia-se à governança em rede social na internet e uma abordava a relação entre as características da rede com o desempenho. Esse trabalho retrata um assunto que buscou unir a governança com outras categorias, no caso em tela, a estrutura da rede, uma vez que o autor Whitall (2008) afirmou que além da governança, outras características, tais como estrutura e capital social exercem efeitos diretos e indiretos sobre o desempenho da rede.

Na análise dos 334 artigos, ao entrar no link de cada indicação, o sistema automaticamente rearranja o total chegando finalmente ao número de 264 indicações. Dessas 264 indicações, lendo os títulos, as palavras-chave e os resumos encontrou-se que 104 tratavam da governança como gestão, 35 sobre políticas públicas, 24 sobre gestão pública, 24 sobre internet, 19 sobre tecnologia da informação, 18 sobre políticas educacionais, 7 na área de economia, 5 na área da saúde, 4 sobre gestão

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de recursos hídricos, 4 sobre gestão de pesca, 5 sobre governança corporativa, 3 sobre canais de marketing, 1 sobre segurança, e 11 indicações apresentam relação mais evidente com o objeto de estudo deste trabalho e que serão expostas a seguir. Esses 11 trabalhos foram lidos nas partes relevantes como introdução e base teórica, em que se discutem conceitos de governança e de governança relacional.

Mueller (2011) aborda a governança em rede dentro da visão econômica e desenvolve um estudo que relaciona a forma de governança com o tipo de rede. O autor divide a governança em duas formas no que tange aos seus sistemas de incentivos, a forma conduzir-firme que é mais eficiente em rede vertical com relacionamento vertical, e a de terceiros que é mais adequada a redes horizontais pelo fato de apresentar um relacionamento mais competitivo e maleável.

Park e Wilding (2014) utilizam o conceito de governança como mecanismos de coordenação que se apresentam de diferentes formas no relacionamento. Na mesma linha de coordenação, os trabalhos de Raeymaeckers (2013) e Schuesler et al. (2013) não definiram governança, mas utilizaram a tipologia de Provan e Kenis (2008) que define a governança como uma forma de estrutura e de elementos de organização e de coordenação das redes.

Pilbeam et al. (2012) e Pilbeam, Alvarez e Wilding (2010) adotaram o conceito de governança de Grandori e Soda (1995) como um conjunto de mecanismos de coordenação, controle e incentivo das relações entre os atores da rede para atingir os resultados. Na mesma linha de coordenação entre os atores encontram-se os trabalhos de Ibert e Stein (2012) e Span et al. (2012).

Ainda no trabalho de Pilbeam et al. (2012) relatam-se seis variáveis de resultados da governança em uma rede: criatividade, viabilidade, controle, coordenação, desempenho e legitimidade. Conforme será detalhado na parte teoria de base, algumas dessas variáveis, tais como controle e coordenação, poderão ser utilizadas como indicadores.

Arranz et al. (2007) utilizou o conceito de Gulati (1998), que define governança como as estruturas contratuais formais usadas para organizar parcerias em alianças estratégicas. Ressalta-se que, Gulati (1998) também desenvolveu um estudo com intuito de mostrar que pessoas participam de redes sociais que contribuem para a minimização das incertezas de comportamento relacionadas às escolhas dos parceiros.

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Czakon (2009) utilizou o modelo de Jones et al. (1997) que define governança como uma combinação estrutural dos sistemas informais, sociais, com estruturas burocráticas e contratos formais. Ren et al. (2013) definiram governança relacional como um importante mecanismo social que regula e orienta as atividades de troca, tendo como base a confiança e a colaboração entre os parceiros, evitando, assim, o comportamento oportunista.

Como se percebe, as definições encontradas se agrupam em estudos que analisam os elementos constitutivos e operacionais da governança, ou seja, suas funções de controle e formas de trocas e também os mecanismos da governança. Em alguns estudos os mecanismos são construídos a partir de regras do mercado, ou de legislação específica, ou de contratos firmados; em outros é uma construção a partir dos relacionamentos entre os atores.

Realizando o mesmo caminho da pesquisa internacional, a consulta ao banco de dados brasileiro SCIELO, com a palavra governança isolada gera 692 indicações de artigos. Colocando-se filtro do intervalo de 2005 até 2016; apenas na área de Ciências Sociais Aplicadas e artigos brasileiros, obtiveram-se 237 resultados. Filtrando ainda para artigos com a expressão “governança” no título, chegou-se a 101 resultados, sendo a maioria deles de gerenciamento (57), sociologia (19), administração pública (18). Esses resultados são apresentados na Tabela 2, podendo ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros aplicados.

Tabela 2 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO sobre a categoria governança.

Palavra Filtro Nº de artigos

Governança Sem filtro 692

Governança (2005 – 2016) - ciências sociais

aplicadas – artigos brasileiros

237

Governança No título 101

Fonte: Construído pela autora, 2017.

O passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas 101 indicações, o que resultou na seleção de 5 artigos. O corte ocorreu pelos seguintes critérios: foram retirados os artigos que tratavam de governança corporativa,

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governança internacional, institucionalização, marketing, agroindústrias, questões policiais, governança ambiental global, governança eletrônica, governança fundiária e governança de TI.

Rodrigues e Malo (2006) abordam a governança no sentido de práticas de controle relacionadas aos conceitos de parceria, aprendizado coletivo, participação, regulamentação e benefício para as estruturas organizacionais, no estudo de uma rede sem fins lucrativos: os doutores da alegria.

Villela e Pinto (2009) usaram a definição de governança que se enquadra no entendimento de Le Galès (2006) que define governança como um processo de coordenação de atores advindo de grupos sociais, de redes organizacionais ou de instituições para atingir objetivos debatidos e estabelecidos coletivamente.

Teixeira et al. (2011) e Oliveira e Santana (2012) adotaram o conceito de governança de Williamson (1985) que define governança como estrutura de coordenação necessária para gerenciamento das transações das organizações. Já Castro e Gonçalves (2014) utilizaram o conceito de governança levantado por Provan e Kenis (2007) que conceituam a governança como uma forma de estrutura e de coordenação das redes.

Brand et al. (2015) observaram que gestão e governança, apesar de se inter-relacionarem, são conceitos diferentes por configurarem distintas perspectivas de análise de redes interorganizacionais. Enquanto a gestão é mais flexível, adequando-se mais às práticas de atendimento das necessidades coletivas, a governança é a forma como a rede está organizada quanto aos mecanismos regulatórios e de tomada de decisão. O projeto atual, com caráter analítico e não gerencial, segue mais a linha de governança como mecanismos de regulação das ações coletivas.

Realizada a revisão bibliográfica dos trabalhos sobre governança, percebe-se a divergência entre os autores no que se refere aos conceitos e campos de investigação. O presente estudo está mais relacionado às ideias do trabalho do Villela e Pinto (2009), em que se coloca que a governança nasce dos objetivos discutidos coletivamente. Verifica-se, ainda, a existência de uma distinção conceitual entre governança como mecanismo de grupo e governança como gestão, sendo que, neste último caso, as regras e mecanismos existentes na rede são utilizados como base para o gestor realizar sua tarefa de obter resultados.

Pode-se concluir dos trabalhos internacionais e nacionais analisados que a palavra governança é apresentada com variados conceitos e campos de aplicação.

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Pode-se dizer que ainda não há um consenso na definição de governança, ora definida a partir de um conceito de controle, ora como incentivo, ou como matriz política, ou estratégica, ou corporativa, ou de gestão. O conceito está aberto à discussão, o que justifica um esforço de investigá-lo na vertente de mecanismos de controle das incertezas, os quais são construídos pelo grupo.

Considerando a raridade de estudos específicos sobre essa vertente de governança relacional, isto é, que é construída no grupo, realizou-se uma segunda rodada de busca bibliográfica específica sobre a expressão.

2.3 Governança Relacional

A busca no PROQUEST da expressão relational governance com filtro no título resultou em 65 indicações, conforme indicado na Tabela 1. O passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas 65 indicações. Ao entrar no link de cada indicação o sistema automaticamente rearranja o total chegando ao número de 51 indicações. Esses 51 trabalhos foram lidos nas partes relevantes como introdução e base teórica, em que se discute o conceito da governança relacional.

Dessas 51 indicações, 2 trabalhos estavam inclusos na pesquisa com as palavras governance + network, ambas com filtro no título. Um é o trabalho de Ren et al. (2013) que se baseou no modelo de Jones et al. (1997); e o outro é o trabalho de Bodin e Crona (2009), que trata de gestão de recursos naturais. Dos 47 restantes, 19 trabalhos tratavam da governança como gestão, 10 sobre tecnologia da informação, 7 sobre governança corporativa, 5 sobre políticas educacionais e 6 que apresentavam uma relação mais evidente com o tema desta dissertação e que serão expostos a seguir.

Cao e Lumineau (2015), baseando-se no conceito de Poppo et al. (2008), entendem que governança relacional se refere ao grau em que as relações interorganizacionais são regidas pelas relações sociais e regras comuns.

Luo et al. (2013) definem a governança relacional como conjunto de normas relacionais que norteiam as trocas interorganizacionais, motivando as partes a prosseguirem com cooperação e investimentos. Já Goo e Huang (2008) entendem governança relacional como mecanismos destinados a influenciar o comportamento, baseados na prática e não em documentos escritos.

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Ferguson et al. (2005) não conceituaram a governança relacional, mas, com base em Noordewier et al. (1990), comentam que ela pode ser medida pela força de normas relacionais como, por exemplo, o compartilhamento de informações, a flexibilidade, a solidariedade e a justiça presentes nas trocas relacionais.

Liu e Zhang (2013) adotaram o conceito de Anderson e Narus (1990) que definem governança relacional como um modo de coordenar relacionamentos de negócios, em que empresas independentes, por meio de esforços conjuntos, executam ações coordenadas para alcançar resultados mútuos ou singulares.

Yeh (2016) afirma que a governança relacional está diretamente e positivamente correlacionada com a qualidade da relação e a aprendizagem interfirma. Afirma ainda que a governança relacional complementa os limites adaptativos dos contratos, promovendo a continuidade das transações e confiando a ambas as partes resultados mutuamente aceitáveis. O autor também afirma que a governança relacional afeta a capacidade dos parceiros de adaptar e superar com flexibilidade a incerteza no relacionamento da cadeia de suprimentos. Esta última afirmativa está diretamente relacionada ao presente trabalho, ao afirmar uma relação direta entre governança relacional e incertezas comportamentais.

Das quatro indicações resultantes da busca com a combinação das expressões network e relational governance (ambas com filtro para título), uma estava inclusa na pesquisa com as palavras governance + network, ambas com filtro no título, que foi o trabalho de Ren et al. (2013) que se baseou no modelo de Jones et al. (1997); a outra, o trabalho de Foster, Borgatti e Jones (2011), que também não definiu governança, mas se baseou no modelo de Jones et al. (1997) que afirma que governança é uma forma de coordenar e salvaguardar trocas que estreitam os laços entre os atores e reduz a incerteza sobre o comportamento oportunista. A outra, o trabalho de Bodin e Crona (2009), tratou a governança como estrutura da rede que coordena as ações dos atores. Por último, o trabalho de Tepic et al. (2011) baseou-se nos preceitos de Poppo e Zenger (2002), afirmando que governança relacional surge dos valores e dos processos acordados, gerados através de interações e intercâmbios nas relações sociais, como em relações de confiança.

A partir da revisão bibliográfica, entende-se que esses conceitos convergem com a definição de governança de Jones et al. (1997), que afirma que ela se origina das relações sociais do grupo e as afirmativas de Williamson (1987) e Grandori (2006) sobre a necessidade de ajustes no grupo (isto é, uma governança relacional), uma

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vez que os contratos formais não conseguem resolver as incertezas do ambiente de negócios e do comportamento humano. A governança, portanto, implica sempre em ajustes e formas de implementação, mesmo quando a origem é uma regra plena e claramente estabelecida no ambiente organizacional.

O próximo item investiga os trabalhos sobre incerteza.

2.4 Incerteza

O termo “incerteza” encontra diversos conceitos nas mais variadas disciplinas e áreas de estudo. Realizando uma pesquisa no portal PROQUEST referente a palavra uncertainty obtêm-se o número da ordem de 230 mil indicações de publicações, obtendo maior número de concentração nos estudos referentes aos Modelos Matemáticos (48476), Análise matemática (18400), Simulação em Computador (15951), Algoritmos (13383), Marinha (13180), Engenharia de Projeto (9446).

A partir da listagem, verificou-se com mais detalhes os títulos e a origem do meio de publicação de cada um desses itens mais frequentes, recolhendo-se uma amostra dos 30 primeiros, com filtro da ordem cronológica do mais recente. O resultado é que tópicos tais como Engenharia, Tecnologia da Informação e Economia tratam da incerteza em diferentes contextos, por exemplo, como oscilação, probabilidade, risco de determinado fato.

No sistema de busca do PROQUEST, existe um item específico com o título Incerteza. A análise dos assuntos indicados nesse tema resulta em grande variedade, tal como Controle e Sistemas, ou Instrumentos e Medidas ou Engenharia Aeroespacial. Selecionando-se a área Incerteza, conforme a classificação dada pelo portal, restam 55.034 resultados.

Essa primeira busca de dados indica a maleabilidade do conceito e dos campos de aplicação da incerteza. Tendo em vista o foco do trabalho que é a incerteza em redes, realizou-se uma segunda busca com expressões conjugadas de uncertainty e network.

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2.5 Incerteza nas Redes

Na busca no portal PROQUEST, a palavra network com filtro para título do documento resulta em indicações da ordem de 461 mil e a palavra uncertainty com o mesmo filtro resulta em indicações da ordem de 34 mil. Nesses trabalhos, conforme a classificação feita pelo portal de pesquisa, a incerteza é abordada em diversas áreas e temas, sendo as mais frequentes, na ordem, incerteza, modelos matemáticos, análise matemática, simulação de computador.

Ao colocar o filtro de título de documento nas duas palavras, uncertainty e network, obtêm-se 946 resultados. Desses, 784 referem-se ao período de 2005 em diante. Conforme Araújo (2006), o tempo de 11 anos é suficiente para um levantamento bibliográfico indicar de forma objetiva uma produção científica, com suas convergências e índices de produção.

Aceitando essa afirmativa foi feito um levantamento dos últimos onze anos, no intervalo de 2005 até 2016 de trabalhos publicados com os termos uncertainty e network no título.

Tais resultados são apresentados na Tabela 3, podendo ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros aplicados.

Tabela 3 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias uncertainty (incerteza) e network (redes)

CATEGORIAS ARTIGOS

(1) Network (no título) 461 mil (2) Uncertainty (sem filtro) 230 mil (2) Uncertainty (no título) 34 mil (3) Relational Governance (no título) 29 (1) + (2) (no título) 946 (1) + (2) (no título) (2005 - 2016) 765 (1) (no título) + (2) + (3) (sem filtro) 4 (1) + (2) + (3) sem filtro 9 Fonte: Construído pela autora, 2017.

A partir da análise dos 20 primeiros trabalhos das 687 indicações, da busca da combinação das expressões network e uncertainty com filtro para o título e do intervalo de 2005 até 2016, verificou-se que se tratava da incerteza em diferentes contextos e campos de investigação, por exemplo, 4 relacionados à rede neural, 4 sobre incerteza

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de demanda, 5 relacionado à análise matemática, 4 relacionados à medida e 3 sobre a área de sistema da informação.

Das 9 indicações da busca da combinação das expressões network, uncertainty e relational governance sem filtro verificou-se 1 indicação relacionada à incerteza da gestão de políticas ambientais, 1 indicação sobre a incerteza no planejamento urbano, 1 indicação sobre incerteza na tomada de decisão, 2 indicações tratam da incerteza nas redes e 4 indicações são as encontradas na busca da expressão network com filtro para o título combinada com as expressões uncertainty e relational governance sem filtro. Logo, o passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas 4 indicações e das 2 relacionados ao tema de rede.

Foster, Borgatti e Jones (2011) não definiram incerteza; entretanto utilizaram o modelo de Jones et al. (1997) que afirma que governança é uma forma de reduzir a incerteza sobre o comportamento oportunista.

Gravier (2007) utilizou o conceito de Rindfleisch e Heide (1997) que afirma que incerteza é qualquer alteração imprevista das circunstâncias que cercam uma troca. O autor coloca ainda que essa incerteza engloba a incerteza comportamental, conforme exposta por Leiblein (2003), que considera não só o comportamento propriamente dito, mas também os custos adicionais causados pelas mudanças não previstas.

Hui e Tsang (2006) não definiram a incerteza em seu trabalho, sendo que a utilizaram no sentido de tomada de decisão incerta. Whitford (2003) também não definiu incerteza, sendo relacionado a risco no âmbito econômico.

Wu (2011) e Cousin e Crone (2003) não definiram a incerteza, mas a relacionaram com a teoria da dependência de recursos, dizendo que estabelecer relações de cooperação entre os atores é uma resposta estratégica para a incerteza e dependência no ambiente, sendo que a incerteza ambiental levou ao aumento do número de contratos relacionais e alianças estratégicas estabelecidas pelas empresas.

Priem et al. (2002) conceituam incerteza como a variação imprevisível; já Carpenter e Fredrickson (2001), como a falta de informações necessárias para avaliar as relações de causa e efeito, a fim de tomar decisões. Krishnan, Martin e Noorderhaven (2006) veem a incerteza como mudanças nas condições ambientais enfrentadas por uma organização que estão fora de seu controle e difícil de antecipar.

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Realizando o mesmo caminho da pesquisa internacional, a consulta ao banco de dados brasileiro SCIELO, com a palavra “incerteza” isolada gera 519 indicações de artigos. Colocando-se filtro dos últimos onze anos, apenas na área de Ciências Sociais Aplicadas e artigos brasileiros, obtêm-se 70 resultados. Filtrando ainda para artigos com a expressão “incerteza” no título, chegou-se a 14 resultados, sendo eles na área de gerenciamento (10), economia (4). Esses resultados são apresentados na Tabela 4, podendo ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros aplicados.

Tabela 4 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO sobre a categoria incerteza.

Palavra Filtro Nº de artigos

Incerteza Sem filtro 634

Incerteza (2005 - 2016) - ciências sociais

aplicadas – artigos brasileiros

76

Incerteza No título 14

Fonte: Construído pela autora, 2017.

O passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas 14 indicações, o que resultou na seleção de 5 artigos. O corte ocorreu pelos seguintes critérios: foram retirados os artigos que não eram da área de redes, não definiram um conceito de incerteza a ser seguido e utilizavam conceitos de cenários econômicos macro-ambiental.

Gardelin et al. (2013) adotaram o conceito de incerteza de Milliken (1987) que define a incerteza como uma inabilidade individual para prever de modo preciso o ambiente. Já Silva e Brito (2013) colocam que a incerteza pode ser entendida como o grau de imprevisibilidade das mudanças e do grau de dissimilaridade dos seus elementos, em outras palavras, a incerteza se baseia na dificuldade das empresas em conseguir as informações.

Lombardi e Brito (2010) adotaram uma definição de incerteza derivada das perspectivas de Keynes (1937) e Knight (1921) que é entendida como fenômeno perceptual do indivíduo e descrita como a percepção da capacidade de prever a ocorrência de eventos futuros, a partir do estudo de ocorrências passadas.

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Zanini et al. (2009) entendem a incerteza ambiental na forma de falta de informações que afetam o comportamento humano significativamente, restringindo o desenvolvimento de confiança dentro das organizações, devido ao aumento da incerteza comportamental.

Zanini (2005) não definiu incerteza e utilizou a concepção de Coriat e Guennif (1998) que enxergam a incerteza como a imprevisibilidade referente ao comportamento do indivíduo e seu grau de confiabilidade, em virtude da diversidade de possíveis comportamentos de cada parceiro numa relação.

Jacomossi e Silva (2016) comentam que existem discordâncias conceituais sobre incerteza ambiental: alguns autores entendem a incerteza no sentido de imprevisibilidade dos acontecimentos, e outros autores entendem-na a partir de uma percepção de uma pessoa sobre o meio ambiente. Tal divisão já havia sido apontada por Milliken (1987), que afirma que a palavra incerteza pode expressar tanto um estado de incerteza em organizações, quanto um estado de incerteza de uma pessoa que dispõe de insuficientes informações acerca do ambiente.

Giovannini (2011) entende as organizações como sistemas dinâmicos não-lineares, que apresentam duas grandes fontes de incertezas: a incerteza ambiental, mesmo sentido de outros autores, isto é, da imprevisibilidade dos acontecimentos do ambiente; e a fonte interna originada das imprevisibilidades do comportamento das pessoas e dos processos em execução.

A partir dessa revisão bibliográfica, pode-se concluir que a incerteza é definida por conceitos variados e em diferentes campos de aplicação. Das análises, surgiram com mais frequência trabalhos tratando da percepção de cada um sobre a incerteza ambiental e dos riscos percebidos, trilha que não se pretende seguir neste trabalho, pela complexidade envolvida no próprio conceito de percepção.

A dissertação segue a trilha das incertezas de fato, ou objetivas, que afetam todos do grupo de maneira igual, tais como imprevisibilidade climática, mudanças de lei, flutuações de demanda, revoluções tecnológicas. Assim, o estudo está voltado para a convergência sobre a existência de incertezas, conhecidas pelo grupo e as consequentes ações coletivas, aqui denominadas de governança relacional.

Sobre incerteza comportamental, os trabalhos encontrados não estão inseridos no tema de redes e de governança, embora a ideia de imprevisibilidade do comportamento dos indivíduos tenha sido citada em alguns deles. Entre as incertezas

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comportamentais citam-se o oportunismo, a negligência, o desconhecimento, a decisão errada.

Sobre a governança relacional, conclui-se que existem poucos trabalhos nessa área e que há uma concordância do conceito, retratando a governança como regras e normas construídas por meio da interação do grupo para alcançar objetivos coletivos. Quanto à metodologia de pesquisa, não foram encontrados instrumentos e indicadores validados para a relação específica entre incerteza e governança relacional.

Quanto aos trabalhos que relacionam a governança relacional com as incertezas ambientais e de comportamento, a situação é de quase ausência de resultados. Isso significa que o presente trabalho carrega certo grau de ineditismo, com sua vantagem de valorização e com os riscos associados à falta de teorias, modelos e instrumentos validados.

Realizada a tarefa dessa investigação mais detalhada da produção acadêmica sobre governança e incertezas, conclui-se pela validade e justificativa do trabalho, já que os dois lados das expressões carregam discussões de conceitos e de formas de investigação e o caminho que leva das incertezas para a construção da governança é raramente comentado e investigado.

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3 TEORIA DE BASE

Para o desenvolvimento deste trabalho seguir-se-á o paradigma da interpretação social das redes e, como uma das bases, os conceitos de Granovetter (1985), com seu conceito de imersão que se refere ao imbricamento entre as relações sociais e econômicas, destacando-se os fatores econômicos e tecnológicos influenciados e imersos em relações sociais. Ainda para Granovetter (1985), há a possibilidade da existência de cooperação em transações entre firmas, o que levou o autor a investigar as ações econômicas como imersas nas relações sociais.

Para que se possa compreender melhor a categoria governança relacional, seguir-se-á o conceito de Jones et al. (1997) e da Grandori (2006). Segue-se a ideia geral dos conceitos referenciados por tais autores, que serão detalhados adiante. Jones et al. (1997) associou a Teoria dos Custos de Transação com a Teoria das Redes Sociais explicitando que os mecanismos sociais influenciam as relações de transações. Já no entendimento da Grandori (2006), governança relacional pode ser vista a partir da perspectiva de um contrato criado pelo grupo, ou seja, ela é analisada a partir de um contrato que surge por meios extracontratuais (sociais e relacionais). Dito de outra forma, são acordos que surgem após o contrato formal, porque situações inesperadas, ou imprevisíveis, ocorrem, exigindo solução.

A incerteza ambiental neste trabalho está relacionada às incertezas de informações do ambiente no qual a rede está inserida, citada nos estudos de Milliken (1987) e Thompson (1967). Já a incerteza comportamental se sustentará principalmente nos conceitos de Gulati (1998), afirmando que incerteza é a imprevisibilidade do comportamento de um ator, sendo essa incerteza do comportamento de um possível ator um dos fatores que leva à necessidade de uma governança relacional.

3.1 Perspectiva Social de Redes

Este subitem apresenta os conceitos de redes na perspectiva social. As redes são conceituadas e analisadas de diversas formas. Análises bibliográficas anteriores (MILES, SNOW, 1986; GRANDORI, SODA, 1995; DIMAGGIO, POWELL, 1983) indicam que existem dois grandes paradigmas explicativos sobre redes: (a) o paradigma racional e econômico, que afirma que as redes são formadas com base

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nas necessidades econômicas, ou seja, foca apenas nos motivos racionais para estabelecer parcerias; e (b) o paradigma social, que afirma que as relações sociais constituem uma teia que direciona todos os processos, decisões e comportamentos de atores na rede.

Um dos conceitos principais do paradigma social é o embeddedness, que é a influência do ambiente social nas transações dos atores da rede, em outras palavras, as ações econômicas estão imersas nas estruturas das relações sociais. Outros autores (GULATI, 1998; DIMAGGIO, POWELL, 1983; RUSBULT et al. 2003) também afirmaram a importância do social nos processos técnicos das redes.

Nessa linha, Thorelli (1986) define rede como um número de nós ou ligações entre atores, em que cada um, dinamicamente, ajuda a melhorar a posição do outro dentro da rede. No entendimento de Powell (1990), o formato de redes é considerado um terceiro tipo organizacional com características próprias, uma vez que não são nem hierarquias e nem mercado. A rede pode ser considerada ainda como uma construção planejada, em que cada ator decide sobre sua participação e seus objetivos (EBERS, JARILLO, 1998; GIGLIO et al., 2006).

Para Kogut (2000), a formação de uma rede é entendida como a criação das regras das relações entre os atores, criadas a partir de conhecimentos de experiências cotidianas, em uma lógica racional; sendo que existem três razões para o nascimento de redes: custos de transação, comportamento estratégico e busca de conhecimento, ressaltando-se este último.

Gulati e Gargiulo (1999) têm afirmado sobre a importância de buscar no nascimento da rede seus sinais, visíveis no comportamento dos atores. Giglio (2010) afirmou não ser suficiente utilizar os princípios do paradigma racional econômico para se compreender as redes, como ocorre predominantemente em trabalhos sobre redes derivados da logística.

A perspectiva social, portanto, coloca as relações sociais como o princípio orientador dos processos da rede, incluindo a construção da governança. Entendido dessa forma, a governança relacional é o conjunto de mecanismos de ações coletivas, construído a partir das relações entre os atores; buscando resolver os problemas da tarefa do grupo, sejam eles de natureza comportamental, como conflitos de interesses; sejam de natureza ambiental, como imprevisibilidades de demanda.

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3.2 Conceito de Governança Relacional

Este subitem apresenta conceitos de alguns autores que buscaram definir a governança relacional, tais como Uzzi (1997); Poppo e Zenger (2002); Powell (1990); Jones et al. (1997) que apresentaram argumentos sobre a possibilidade de unir conceitos de custos de transação com conceitos da sociologia econômica, para demonstrar que a governança é uma construção social que busca resolver os problemas de negócios, incluindo os econômicos.

Neste trabalho não se discute a validade e lógica dessa união conceitual. O que importa, como ponto de reflexão inicial, é a afirmativa da governança sendo originada dos encontros constantes dos atores. Esses encontros criam uma cultura do grupo, que origina as regras, papéis e formas de ação coletiva. Selecionando as afirmativas que interessam para este projeto e fazendo adaptações aos desenhos encontrados no artigo de Jones et al. (1997) chega-se à Figura 1.

Figura 1 - O modelo de governança relacional.

Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Jones et al. (1997).

O que se pretende ressaltar na Figura 1 é que características do ambiente organizacional, incluindo incertezas ambientais e comportamentais, levam a ações coletivas e a uma dinâmica de grupo que origina a governança, a qual, por sua vez, realimenta o sistema.

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Pode-se afirmar ainda que o modelo adaptado de Jones et al. (1997) também é um exemplo de conjunção da perspectiva social com a perspectiva econômica, na qual combinam conceitos e pressupostos das duas abordagens, já que os problemas do grupo não são estritamente econômicos e a solução passa por construções sociais internas ao grupo. Já Granovetter (1985), com afirmativas baseadas na lógica de imersão social, em que a troca não é uma transação entre agentes econômicos, mas entre atores sociais que desempenham papéis sociais construídos durante sua socialização e tenha feito uma crítica a teoria de custos de transação, não descartou o valor da abordagem econômica, propondo até que fenômenos econômicos e sociais caminhem lado a lado.

A adaptação do modelo de Jones e colaboradores aceita a concepção de Granovetter (1985) de que as relações econômicas têm um pano de fundo social, explicitando como os mecanismos sociais buscam influenciar o comportamento das pessoas e orientar os modos de ações coletivas, incluindo as trocas econômicas. Mecanismos tais como acesso restrito de informação, regras de penalidades, controle do oportunismo pela força dos laços de confiança e comprometimento formam o conjunto da governança relacional. A força das relações sociais como origem de mecanismos de incentivos e controles também foi afirmada por Zaheer et al. (2010).

Sendo assim, a partir dessa breve distinção da lógica da teoria dos custos de transação com a lógica da sociologia econômica proposta por Granovetter (1985), esta dissertação não pretende discutir a validade da conjunção teórica social e racional proposta por Jones et al. (1997), mas selecionar a parte que afirma que para resolver as questões econômicas das operações de uma rede, precisa-se de mecanismos sociais, além dos contratos formais.

No entendimento de Poppo e Zenger (2002), a governança em trocas interorganizacionais ultrapassam contratos formais, uma vez que as repetidas trocas estão imersas nas relações sociais. Ainda para os autores, essa governança caracterizada como relacional pode ser entendida como um mecanismo social que regula e orienta os parceiros nas transações e que se baseia em relações de confiança e de colaboração, reduzindo as condutas oportunistas por impor compromissos, obrigações e expectativas através de meios processuais sociais não formais. Essa afirmativa aparece no presente projeto quando se coloca que a governança relacional busca exercer algum grau de controle sobre o comportamento.

Referências

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