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Este subitem apresenta conceitos de alguns autores que buscaram definir a governança relacional, tais como Uzzi (1997); Poppo e Zenger (2002); Powell (1990); Jones et al. (1997) que apresentaram argumentos sobre a possibilidade de unir conceitos de custos de transação com conceitos da sociologia econômica, para demonstrar que a governança é uma construção social que busca resolver os problemas de negócios, incluindo os econômicos.

Neste trabalho não se discute a validade e lógica dessa união conceitual. O que importa, como ponto de reflexão inicial, é a afirmativa da governança sendo originada dos encontros constantes dos atores. Esses encontros criam uma cultura do grupo, que origina as regras, papéis e formas de ação coletiva. Selecionando as afirmativas que interessam para este projeto e fazendo adaptações aos desenhos encontrados no artigo de Jones et al. (1997) chega-se à Figura 1.

Figura 1 - O modelo de governança relacional.

Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Jones et al. (1997).

O que se pretende ressaltar na Figura 1 é que características do ambiente organizacional, incluindo incertezas ambientais e comportamentais, levam a ações coletivas e a uma dinâmica de grupo que origina a governança, a qual, por sua vez, realimenta o sistema.

Pode-se afirmar ainda que o modelo adaptado de Jones et al. (1997) também é um exemplo de conjunção da perspectiva social com a perspectiva econômica, na qual combinam conceitos e pressupostos das duas abordagens, já que os problemas do grupo não são estritamente econômicos e a solução passa por construções sociais internas ao grupo. Já Granovetter (1985), com afirmativas baseadas na lógica de imersão social, em que a troca não é uma transação entre agentes econômicos, mas entre atores sociais que desempenham papéis sociais construídos durante sua socialização e tenha feito uma crítica a teoria de custos de transação, não descartou o valor da abordagem econômica, propondo até que fenômenos econômicos e sociais caminhem lado a lado.

A adaptação do modelo de Jones e colaboradores aceita a concepção de Granovetter (1985) de que as relações econômicas têm um pano de fundo social, explicitando como os mecanismos sociais buscam influenciar o comportamento das pessoas e orientar os modos de ações coletivas, incluindo as trocas econômicas. Mecanismos tais como acesso restrito de informação, regras de penalidades, controle do oportunismo pela força dos laços de confiança e comprometimento formam o conjunto da governança relacional. A força das relações sociais como origem de mecanismos de incentivos e controles também foi afirmada por Zaheer et al. (2010).

Sendo assim, a partir dessa breve distinção da lógica da teoria dos custos de transação com a lógica da sociologia econômica proposta por Granovetter (1985), esta dissertação não pretende discutir a validade da conjunção teórica social e racional proposta por Jones et al. (1997), mas selecionar a parte que afirma que para resolver as questões econômicas das operações de uma rede, precisa-se de mecanismos sociais, além dos contratos formais.

No entendimento de Poppo e Zenger (2002), a governança em trocas interorganizacionais ultrapassam contratos formais, uma vez que as repetidas trocas estão imersas nas relações sociais. Ainda para os autores, essa governança caracterizada como relacional pode ser entendida como um mecanismo social que regula e orienta os parceiros nas transações e que se baseia em relações de confiança e de colaboração, reduzindo as condutas oportunistas por impor compromissos, obrigações e expectativas através de meios processuais sociais não formais. Essa afirmativa aparece no presente projeto quando se coloca que a governança relacional busca exercer algum grau de controle sobre o comportamento.

A governança relacional utiliza as relações sociais como base das transações, ou seja, a governança relacional utiliza salvaguardas informais, como reputação e confiança como base dos mecanismos de controle e coordenação, sendo que esses mecanismos informais complementam ou substituem os mecanismos formais (JONES, HESTERLY, BORGATTI, 1997; GULATI, 1995; UZZI, 1997). Na concepção de Uzzi (1997), as trocas organizacionais baseadas em regras e acordos estruturados socialmente economiza tempo que poderia ser gasto com renegociações contratuais. Grandori (2006) argumenta que os contratos formais, por sua insuficiência, necessitam serem complementados pela governança relacional, já que essa governança contribui para o ajuste e redução nas falhas existentes em um contrato formal. A autora apresenta quatro concepções de governança relacional, comparando o grau de efetividade de cada uma, a saber: os contratos executáveis socialmente, os contratos autoexecutáveis, o contrato baseado em processos e o contrato baseado em recursos.

Os contratos executáveis socialmente estão relacionados às falhas de mercado e de formalização do contrato, em que existem pressões financeiras para orientar e controlar o comportamento. Em outras palavras, as normas sociais e o controle social ditam o comportamento adequado do grupo, adaptando-se aos problemas e imprevisibilidades do mercado.

Os contratos autoexecutáveis estão relacionados à ideia de conjunção forçada de interesses, de crenças, de objetivos e de controles, isto é, uma governança que nasce no grupo, mas é pouco democrática, ou flexível. Em outras palavras, o grupo tem seu próprio conjunto de regras, de controle e de incentivos que dispensa formalização, mas sua origem e natureza são de coesão, por exemplo, construídos a partir de uma liderança legitimada no grupo.

Os contratos baseados em processos transmitem a ideia de que o contrato relacional é processual, não sendo necessário conhecer e especificar ações dos atores com antecedência, pois as relações, no sentido de comportamento dirigido ao processo, devem seguir as normas dos processos.

Os contratos baseados em recursos foram elaborados com a finalidade de regular as atividades incertas, que nem as regras formais e nem as normas sociais podem proporcionar; e de entender se contratos que compreendem contingências têm qualquer propriedade, sobre troca de recursos, que não pode ser facilmente replicada.

A partir da apresentação das diferentes noções de governança relacional colocada por Grandori (2006), pode-se afirmar que esta dissertação segue a linha da governança relacional como contratos auto executáveis, pelo fato de haver uma convergência de interesses por parte dos participantes do grupo que dispensa qualquer tipo de verificação de uma terceira parte, e como contratos executáveis socialmente, pelo fato de o comportamento do grupo ser ditado pelo controle social.

Justifica-se a escolha dessas duas definições da Grandori (2006) pelo fato de mais se aproximarem da linha conceitual desta dissertação, que trata da governança relacional como um complemento aos contratos formais, que apresentam falhas ou lacunas por não conseguirem abarcar todos os eventos ocorridos no cotidiano.

Grandori (2006) considera a governança relacional como uma resposta às situações de incertezas em que se encontram os gestores, por se tratar de situações não privilegiadas em contratos. Os próximos parágrafos indicam a linha teórica de incerteza.