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Capítulo IV Os Vídeos: um recurso

1. Os Vídeos didácticos

1.2. Conceito e características

A palavra vídeo é empregada com uma variedade de significados, nomeadamente, fita ou aparelho de vídeo, ou ainda, como câmara de vídeo. Contudo neste contexto de estudo não nos referimos ao termo vídeo enquanto meio de projecção de imagem em movimento, mas sim enquanto recurso didáctico, ou seja, como própria imagem de vídeo e, consequentemente, conteúdo educativo.

Neste contexto Caldas (2002: 53-54) refere que o vídeo é

“ o meio que permite aos indivíduos desempenhar em grande escala e em simultâneo o papel de receptor de mensagens audiovisuais e o de criador das mesmas (…) contribui para “democratizar” o fenómeno da manifestação audiovisual, possibilitando que muitos dos considerados receptores dos grandes fenómenos comunicacionais passem a ser, também emissores: como criadores das mensagens audiovisuais”.

O conceito de vídeo didáctico carece de alguns esclarecimentos e explicação relativamente ao vídeo educativo deste modo, uma outra distinção que ressalvamos fazer é entre vídeo didáctico e vídeo educativo.

“se os vídeos têm uma estrutura pedagógica interna, trata-se de um vídeo didáctico. O vídeo formativo apresenta uma estrutura pedagógica externa, que lhe é dada pelo professor quando na estratégia curricular” (De Pablos, 1995: 244). Raposo (2002: 130) baseando-se nas referências de Salinas (1992) diz que

“ o vídeo didáctico é aquele que é concebido expressamente para a sua utilização na prática educativa, responde a uma estrutura didáctica e visa abordar conteúdos de carácter curricular. Pelo contrário, os vídeos educativos, são aqueles programas que podem usar-se com finalidades de aprendizagem, mas que não foram expressamente concebidos para isso”.

Percebemos assim, que qualquer documento vídeo, ou fracções de documento vídeo, podem ter uma utilização didáctica. Tratando-se de um vídeo didáctico, possui uma estrutura pedagógica interna propícia à aprendizagem. Se é um documento que foi produzido sem fins didácticos, ele pode ser integrado na acção didáctica, após a definição de uma estrutura pedagógica, neste caso externa ao documento vídeo.

Cabe ao professor, de acordo com o contexto de utilização, definir a forma de integrar um determinado documento vídeo educativo numa unidade didáctica. Esta acção didáctica pressupõe uma correspondência a uma unidade coerente, em que as diferentes tarefas aparecem interrelacionadas.

É importante lembrar que a estrutura pedagógica interna de um vídeo didáctico, determinada pelos seus autores, pode não corresponder ao estilo e necessidades pedagógicas do professor, pelo que é importante uma preparação prévia à sua utilização e uma previdência quanto à inter-relação com outras actividades. Por outro lado o visionamento puro e simples de um vídeo didáctico não se tem mostrado suficiente como processo de aprendizagem (Cabero, 1989, Ferrés, 1995).

Defendemos tal como Cabero, que

“ (…) a influência do vídeo não é unidireccional em relação ao sujeito, (…) advogamos por uma linha interacionista, sujeito-meio, onde cada um contribui com uma parte para alcançar um resultado específico: o vídeo, os seus sistemas simbólicos e a forma como estes se estruturam, o aluno, os seus modos de processamento, a percepção que tem do meio e de determinadas formas de utilização e a sua auto-eficácia para a realização da tarefa (…) (Cabero, 1989: 143)

Assim, do nosso ponto de vista, o vídeo didáctico é todo o documento, concebido para ser utilizado em contexto educativo, detentor de informação e conteúdos de carácter curricular e que, é susceptível de ser transmitido a partir do equipamento vídeo (formato VHS), DVD ou computador.

Ainda nesta perspectiva de análise convém realçar que os vídeos didácticos apresentam os seguintes códigos (De Pablos, 1995):

• Códigos audiovisuais: tipos de planos, movimento de câmara, angulação, fundidos, montagem visual, montagem sonora, efeitos, entre outros.

• Códigos pedagógicos: sumários, perguntas, organizadores prévios (guiões), exemplos, esquemas, resumos.

Esta dupla estrutura (didáctica/técnica) constitui uma característica importante dos vídeos didácticos e, condiciona a organização do conteúdo específico do documento didáctico, cujas características temáticas também influenciam no momento da escolha dos recursos narrativos. Cabe aos autores dos vídeos didácticos definir a natureza da sua estrutura pedagógica.

Silva (1998) condensando o contributo de outros autores (Mallas, 1985 e 1986; Borras, 1987; Salinas, 1992) caracteriza o vídeo didáctico desta forma:

“Os vídeos mantêm um equilíbrio entre a motivação e a informação; despertam o interesse pela qualidade estética e técnica; ajustam-se ao programa de ensino com a apresentação dos conteúdos segundo uma ordem lógica; são sintéticos, tratando o assunto de forma concisa e exacta, reforçando os assuntos chave, com a duração de forma a deixar um tempo razoável da aula para a actividade do professor e alunos; apresentam um vocabulário e uma sintaxe adequados à capacidade receptiva da idade dos alunos; mantêm relações sincrónicas entre imagem e som e apresentam uma unidade de estilo homogéneo, usando separadores com boa qualidade gráfica para os diferentes assuntos” (Silva, 1998: 265)

O vídeo oferece portanto, inúmeras características e proporciona interacções entre os sistemas simbólicos do vídeo e as capacidades cognitivas dos alunos. Contudo, se os vídeos didácticos não cumprirem certas características e as estratégias didácticas de utilização não forem as mais adequadas, este poderoso meio/recurso tecnológico pode perder a sua legitimidade educativa.

Ariza e Serna (2000: 169-170), apresentam algumas das características que os vídeos didácticos devem possuir para que cumpram, de forma efectiva, os objectivos subjacentes à sua utilização.

a) Não devem conter toda a experiência educativa pois um vídeo didáctico deve estar pensado para um uso conjunto com outros materiais didácticos. Os conteúdos a leccionar não devem residir unicamente neste suporte, pois pode levar à saturação e a um ensino exclusivamente mediatizado através do vídeo.

b) Devem possuir “chaves” que guiem a sua leitura e desenvolvimento pois o seu uso exige a complementaridade de explicações que orientem a interpretação do conteúdo em análise e desenvolvam um processo colaborativo entre o professor e o aluno para evitar incorrecções na percepção da sua “leitura”. Devem ser elaborados, previamente, indicadores (guiões) que forneçam pistas que “trabalhadas” antes, durante e depois da exibição ofereçam informações que permitam desenvolver exercícios prévios à visualização. Durante a visualização de um vídeo devem fazer-se pausas para dar espaço a discussões e questões sobre o conteúdo do vídeo.

c) Não se devem esquecer as possibilidades plásticas e emotivas desta linguagem- vídeo pois para o sucesso de um vídeo didáctico na sala de aula, Os vídeos didácticos devem conjugar o emocional com o racional. São preferíveis vídeos motivacionais que facilitem a “emoção por conhecimento” em vez de vídeos que só transmitam informações, conceitos e factos.

d) Um vídeo didáctico deve conjugar o equilíbrio entre duas ideias contraditórias sendo ao mesmo tempo “aberto”e “fechado”. Num vídeo fechado toda a informação é feita tendo em conta o nível de conhecimento dos seus destinatários, tendo a vantagem de terem uma redundante, eficaz e clara informação. Num vídeo aberto a informação não está toda disponível. Estes fomentam a descodificação conotativa. Um vídeo que conjugue estas duas vertentes transcende uma função meramente transmissora potencia também a curiosidade, capacidade interventiva e espírito crítico.

e) Deve romper-se a individualidade e unidirecionalidade da sua recepção pois os vídeos devem ser feitos de forma a animar o seu destinatário e a facilitar a sua recepção. O conhecimento que se produz na escola é fruto de um processo social pelo que as experiências do vídeo devem proporcionar-se antes, durante e depois de um trabalho de grupo como forma de complemento da experiência individual. f) Tempo e duração do vídeo, que não deve ser excessiva e oscilar entre os 5 e os 20

minutos. Numa duração prolongada corre-se o risco de cansaço com inerente de falta de atenção para além de não assegurar que a mensagem esteja a ser

compreendida. Um vídeo demasiado extenso pode levar à falta de comunicação na aula e os alunos acabam por não reflectir sobre o que vêm e ouvem. Na verdade, por muito lúdicos que possam ser os vídeos que se apresentam aos alunos não devemos “empanturrá-los” com visionamentos muito longos, pois podemos cair no outro extremo do interesse, o desinteresse.

g) A apresentação dos conteúdos pode ser feita através de uma história, e neste caso falamos de vídeos narrativos ou ser transmitida com uma descrição ou apresentação da realidade, vídeos expositivos.

h) Os vídeos deveriam ser usados, com frequência, para abordar temas transversais pois estes integram numa mesma mensagem conhecimentos de diferente natureza, contrastam diferentes áreas de conteúdos e apresentam os problemas em todas as suas dimensões.

Para estes autores, a aplicação deste material audiovisual pode ser uma medida pedagógica excelente desde que devidamente utilizado.

Para Salinas e Sureda (1987), o vídeo

a) Deve permitir contrapor o abstracto pelo concreto, ocupando-se com aspectos da realidade que são dificilmente acessíveis pelo professor, na aula.

b) Possibilita a apresentação de conteúdos que, surgidos do currículo em vigor, se integram no meio social e cultural do aluno destinatário.

c) Esclarecer correctamente quanto à delimitação da audiência que, ajustada aos distintos estádios de maturação, se adapte à estrutura de ciclos do sistema educativo.

d) Contemplar a possibilidade de serem utilizados utilização em situações didácticas que não fossem exclusivamente em grupo.

Assim, o vídeo didáctico pressupõe uma alternativa, à mensagem scripto-visual dos manuais, que geralmente constituem o recurso mais usado pelos professores. Integrar vídeos didácticos no contexto representa uma forma criativa e dinâmica para abordar conteúdos curriculares onde a mensagem audiovisual se torna mais atraente. A linguagem audiovisual desenvolve múltiplas atitudes perceptivas: solicita constantemente a imaginação e reinveste a afectividade com um papel de mediação primordial no mundo,

enquanto que a linguagem escrita desenvolve mais o rigor, a organização, a abstracção e a análise lógica (Moran, 1995:27-35).