• Nenhum resultado encontrado

A TIC na Lei de Bases do Sistema Educativo: uma proposta de Reorganização Curricular

TECNOLOGIA EDUCATIVA

17 Decreto-Lei nº 48962 de 14 de Abril de 1969, artigo 4º (Reorganização do IMAVE para Instituto de meios Audiovisuais de Educação)

2.2.4. A TIC na Lei de Bases do Sistema Educativo: uma proposta de Reorganização Curricular

Face aos múltiplos desafios do futuro, a educação surge como um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais de paz, de liberdade e da justiça social. As políticas educativas constituem-se como processo permanente de enriquecimento dos conhecimentos, do saber fazer, mas também como uma via privilegiada de construção da própria pessoa, das relações entre indivíduos, grupos e nações.

A mundialização da cultura gera uma certa tensão entre tradição e modernidade, problemática que exige que cada indivíduo se adapte sem se negar a si própria e construa a sua autonomia em dialéctica com a liberdade e a evolução do outro e pelo domínio do progresso científico.

As Novas Tecnologias (NT) fazem entrar a humanidade na Era da Comunicação universal, tal como referiu Cloutier (2001); abolindo às distâncias, concorrem muitíssimo para moldar a sociedade do futuro, que não corresponderá, por isso mesmo, a nenhum modelo do passado. As informações mais rigorosas e mais actualizadas podem ser em

23

Decreto-Lei nº 427-B de 4 de Novembro de 1977. (Cria o Ensino Superior de Curta Duração, propenso à formação de técnicos especialistas e de profissionais de nível superior intermédio).

24 Decreto-Lei nº 519-VI, de 29 de Dezembro de 1979. (Cria o Instituto Português de Ensino à

Distância. - Esta instituição procurou ter «em conta a experiência adquirida durante dois anos de trabalho associados às actividades do Propedêutico» bem como integrar experiência técnico-administrativa acumulada pelo gabinete Coordenador de Ingresso ao Ensino Superior).

tempo real, postas ao dispor de quem quer que seja, em qualquer parte do mundo. Esta livre circulação de imagens e de palavras transformou as relações interpessoais e internacionais e a compreensão do mundo pelas pessoas.

O conhecimento e domínio de utilização das NT é hoje um objectivo educativo, tal como afirma Delors (1997: 105), “ tal reforço das infra-estruturas e das capacidades assim como a difusão das tecnologias por toda a sociedade devem ser consideradas prioridades”.

A Sociedade da Informação constitui um desafio que tem de ser enfrentando com determinação de modo a adequar o país às profundas mudanças que rodeiam nosso quotidiano, afectando o pensamento estratégico das nações.

A designação utilizada, Sociedade da Informação, refere um modo de desenvolvimento social e económico no qual a aquisição, armazenamento, processamento, valorização, transmissão, distribuição e disseminação de informação conducente à criação de conhecimento e à satisfação das necessidades dos cidadãos e das empresas desempenham um papel central na actividade económica, na criação de riqueza, na definição da qualidade de vida dos cidadãos e das suas práticas culturais.

Atendendo nesta realidade, aos responsáveis administrativos pela gestão do sistema educativo impõe-se a tomada de decisões que viabilizem a dotação de competências, neste âmbito, às camadas emergentes, de forma a que, seja assegurado um acesso mais facilitado ao mundo do trabalho e uma integração social realizada quer como cidadão do seu país, quer como cidadão do mundo.

Assim, o entendeu Marçal Grilo em 1996,e enquanto Ministro da Educação, lançou a proposta de um Pacto Educativo para o Futuro, pelo Despacho 232/ME/96 25,

identificando implicitamente muitas das críticas que recaíram sobre a implementação da Reforma em curso, iniciando o processo de reorganização de vários sectores educativos, que culminou na publicação, em 18 Janeiro de 2001, dos Decretos-lei nº 6 e 7 de 2001, que estabelecem os princípios orientadores da organização e gestão curricular do Ensino Básico e do Ensino Secundário.

O Decreto-Lei n.º 6/ 2001 assume a necessidade de reforçar “a organização de processos de acompanhamento e indução que assegurem, sem perda das respectivas identidades e objectivos, uma maior qualidade das aprendizagens”.

25

O mesmo decreto propõe ainda uma reorganização curricular que privilegie “ a utilização das tecnologias de informação e comunicação como formas transdisciplinares (…) abordando de forma integrada a diversificação das ofertas educativas…”

Contudo não bastam medidas administrativas para que, no terreno, as mudanças aconteçam. É imperativo criar condições e mudar mentalidades. A escola atravessava momentos particularmente desmotivadores para toda a comunidade educativa, resultado da inércia institucional que arrastava os profissionais para uma continuidade de práticas pedagógicas desfasadas face às expectativas sociais e que contrastavam com a inovação tecnológica que inundava o quotidiano das crianças

“a realização repetida de rotinas pré-estabelicidas, a uniformidade securizante, a dependência quase exclusiva de manuais, a escassa iniciativa e a tradição de trabalho docente individual não partilhado ou discutido com outros profissionais” (Roldão, 1999: 18).

Era imperativa a mudança, pôr fim à situação que se vivia nas escolas e que resultava de

“uma dupla saturação: a das formas de regulação, normalizadoras e uniformizadoras das práticas educativas, inerentes a uma administração estatal altamente centralizada, burocrática e supra regulamentadora, e a dos modos institucionalizados em que se sedimentou a organização escolar e a acção pedagógica” (Carvalho et al., 1999: 33).

A Reorganização Curricular do Ensino Básico surgiu como uma “reabilitação do espaço público educacional, a qual representa o culminar de uma longa caminhada efectuada nestes últimos anos no que diz respeito aos currículos do Ensino Básico. Após a Reforma Curricular de 1990, cuja generalização se concluiu em 1996 o Departamento da Educação Básica (DEB) lançou no ano lectivo de 1996/ 97 um processo a que chamou de “Reflexão Participada sobre os Currículos” com a qual pretendia uma gestão diferenciada dos currículos, o estabelecimento de um corpus nuclear de aprendizagens comuns em função das competências garantidas a todos os alunos, e modos de articulação entre esse currículo nuclear comum e os projectos diferenciados de gestão e as opções curriculares específicas, a decidir por cada escola ou grupo de escolas.

“não se trata de elaboração ou reelaboração dos programas disciplinares em vigor, mas sim de analisar modos de gerir, numa perspectiva curricular, os programas existentes de formas mais adequadas às necessidades e aos públicos concretos de cada escola” (M.E –DEB, 1997: 13)

Como consequência desta reorganização faz-se hoje alusão às Novas Tecnologias. A formação integral dos alunos impõe-se com, cada vez maior, premência para que disponham de competências que lhes permitam integração plena na sociedade tecnológica em que vivemos e que cada vez mais lhe exige saberes multidisciplinares.

“as funções da escola básica não podem traduzir-se na mera adição de disciplinas; devendo centrar-se no objectivo de assegurar a formação integral dos alunos” e a “utilização das tecnologias da informação e da comunicação, integra também o currículo em todos os ciclos, assumindo igualmente uma natureza transversal. Sem prejuízo desta perspectiva, as áreas de estudo acompanhado e de projecto serão espaços privilegiados para o desenvolvimento do trabalho com estas tecnologias (…)” (Reorganização curricular do Ensino Básico Lei 6/2001 de 18 de Janeiro de 2001).

A análise a este modelo de reorganização curricular pode ser realizada sob diferentes perspectivas. Os nossos interesses e os que norteiam esta investigação levam-nos a centrar este texto na análise do papel atribuído às tecnologias, quer nos princípios justificativos da sua concepção quer no desenho curricular preconizado por este novo modelo de reorganização curricular. A proposta assume o carácter instrumental da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), integrada em todos os ciclos de aprendizagem na área de formação transdisciplinar.

Blanco e Silva (1993: 37-55) destacam cinco momentos principais relativamente à integração das TIC nas escolas Portuguesas, integrando já o momento presente da proposta de Reorganização Curricular. O quadro que se segue apresenta de forma sintetizada esses momentos:

Quadro 11: Momentos de integração das TIC nas escolas Portuguesas segundo Blanco e Silva (1993)