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TECNOLOGIA EDUCATIVA

26 Resolução do Conselho de Ministros nº 8/86 de 22 de Janeiro de 1986 (Criação da Comissão de Reforma do Sistema Educativo).

2.2.6. Reorganização Curricular e inovação tecnológica

“O currículo constitui o núcleo definidor da existência da escola” (Roldão, 1999: 26)

A escola constituiu-se historicamente como instituição quando se reconheceu a necessidade social de fazer passar um certo número de saberes de forma sistemática a um grupo ou sector dessa sociedade.

Esse conjunto de saberes, considerados relevantes, constitui o currículo da escola. O entendimento e definição da sua constituição não é pacífico por nele se conjugarem diferentes vectores que vão da preservação da tradição cultural à resposta a novas necessidades

“… permanece problemático o equilíbrio entre as componentes disciplinares e as integradoras, entre o apetrechamento com uma cultura humanístico-cientifica ou o domínio de competências de vida e saberes pragmático-funcionais” (Roldão, 1999: 27).

O desfasamento entre as expectativas face à escola e a baixa eficácia social que ela tem manifestado resulta exactamente do agravamento da inadequação do currículo, que existe, face às necessidades sociais e público-alvo da sua actuação. Esta inadequação reflecte-se no crescimento do chamado insucesso escolar vulgarmente associado ao insucesso dos alunos e, nem a economia, nem o mercado de trabalho, nem o difícil equilíbrio das tensões sociais podem compadecer-se com a existência de um número significativo de população quase iletrada, afastada do acesso básico à informação e ao conhecimento. Informação e conhecimento que se constituem hoje como a principal chave para a inclusão social, para a rentabilidade económica, e também para o bem-estar social e a estabilidade pessoal e profissional.

Assegurar o acesso a instrumentos cognitivos de análise, reflexão, pesquisa e produção do conhecimento é hoje uma constante no discurso educativo oficial o que se justifica pela constatação de que “ os alunos com melhores resultados são tipicamente os que melhor sabem dominar esses mecanismos cognitivos de estruturação e relacionação” (Roldão, 1999: 21).

Verifica-se, no entanto, que a maioria destes alunos adquiriram essas competências em actividades de carácter particular.

A inclusão no currículo do acesso ao manuseamento das tecnologias como suporte da aprendizagem valida o que Ralph Tyler denomina “experiência de aprendizagem” enquanto “interacção entre o aluno e as condições exteriores do ambiente a que ele pode reagir. A aprendizagem ocorre através do comportamento activo do estudante: este aprende o que ele mesmo faz, não o que faz o professor” (Tyler, 1974: 57-58).

Resulta de tudo o que já afirmámos a importância que o currículo detém no efectivo cumprimento da vocação funcional da escola pelo que as mudanças na educação impõem

mudanças no currículo. Este é o entendimento do legislador que no decreto-lei n.º6/2001 afirma

“a escola precisa de se assumir como um espaço privilegiado de educação (…) da organização e da gestão curricular (…) bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional entendido como o conjunto de aprendizagens e competências, integrando os conhecimentos, as capacidades, as atitudes, os valores …”.

Perante os novos desafios que a sociedade coloca à escola e, entendendo-se esta como um espaço formalmente responsável pela formação das camadas mais jovens, impõe- se a sua reorganização curricular que o diploma acima referido estrutura no seu artigo 5.º, o qual no número 1 aprova um novo desenho curricular para os 1.º, 2.º e 3.º ciclos de Ensino Básico, que integra áreas curriculares e não curriculares.

O actual decreto-lei refere ainda a criação de três áreas curriculares não disciplinares: Área de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica, referenciadas no numero três deste mesmo artigo estando os objectivos do seu desenvolvimento e implementação enunciados nas alíneas a), b) e c)., que conjuntamente com as restantes áreas curriculares apontam “a realização de aprendizagens significativas e a formação integral dos alunos, através da articulação e da contextualização dos saberes” (alínea c) art. 3.º, in Decreto – Lei 6/ 2001)

Estas novas áreas

“são, por definição, áreas curriculares uma vez que fazem parte do currículo obrigatório de todos os alunos, estando por isso integradas no tempo lectivo obrigatório de todos os anos; são, no entanto não disciplinares, dado que não têm programas nacionais específicos (…) ” (Rangel, 2002: 6).

A área de projecto tem como principal objectivo o envolvimento dos alunos na concepção, realização e avaliação de projectos em torno de problemas ou temas de estudo e/ ou intervenção, que partam dos interesses e das necessidades do grupo e que articulem os saberes de diferentes áreas curriculares.

“O modo como se encontram formuladas as intenções desta área aponta claramente no sentido de metodologias a que, de uma forma genérica, se tem dado o nome de “abordagem a partir de problemas” e, mais concretamente, às chamadas “metodologias de projecto” ou apenas “trabalho de projecto” (Rangel, 2002: 12).

Destacamos a Área de Projecto por ser aquela em que entendemos mais “presente”, enquanto competência essencial, a utilização das novas tecnologias:

“Área de Projecto, visando a concepção, realização e avaliação de projectos, através da articulação de saberes de diversas áreas curriculares, em torno de problemas ou temas de pesquisa ou de intervenção, de acordo com as necessidades e os interesses dos alunos”.

A urgência do conhecimento e utilização, em contexto educativo das novas tecnologias é realçada neste diploma no seu artigo 9.º que refere Actividades de Enriquecimento Curricular

“as escolas, no desenvolvimento do seu projecto educativo, devem proporcionar aos alunos actividades de enriquecimento do currículo, de carácter facultativo e de natureza eminentemente lúdica e cultural incidindo, nomeadamente, nos domínios desportivos, artísticos, científico e tecnológico, de ligação da escola com o meio, de solidariedade e voluntariedade e da dimensão europeia na educação”.

A necessidade de reorganizar a escola nos aspectos quer administrativos quer curriculares, é bem marcado pela publicação do “Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais”. O próprio título, remete para uma escola diferente que entende o conhecimento como construção contínua, valorizando competências em detrimento de objectivos. Este documento inclui nos princípios e valores orientadores “A valorização de diferentes formas de conhecimento, comunicação e expressão”. Também as competências gerais nele enunciadas valorizam a componente tecnológica estabelecendo que “à saída da Educação Básica, o aluno devera ser capaz de:

(1) Mobilizar saberes culturais, científicos e tecnológicos para compreender a realidade e para abordar situações e problemas do quotidiano;

(2) Usar adequadamente linguagens das diferentes áreas do saber cultural, científico e tecnológico para se expressar;

(6) Pesquisar, seleccionar e organizar informação para a transformar em conhecimento mobilizável” (2001: 15)

Às competências acima referenciadas estão conotadas operacionalizações transversais das quais destacamos:

• “ Reconhecer, confrontar e harmonizar diversas linguagens para a comunicação de uma informação, de uma ideia, de uma intenção.

• Utilizar formas de comunicação diversificadas, adequando linguagens e técnicas aos contextos e às necessidades.

• Traduzir ideias e informações expressas numa linguagem para outras linguagens.

• Valorizar as diferentes formas de linguagem” (2001: 18)

Esta operacionalização pressupõe actividades que a valide. São sugeridas:

• “Rentabilizar os meios de comunicação social e o meio envolvente.

• Rentabilizar as potencialidades das tecnologias de informação e comunicação.

• Organizar o ensino prevendo a utilização de fontes de informação diversas e das tecnologias da informação e comunicação.

• Organizar o ensino com base em matérias e recursos diversificados adequados a formas de trabalho cooperativo” (2001: 20-21-22).

A progressão de diplomas e orientações educativas evidenciam o reconhecimento político da urgência de modernizar a escola e de implementar dinâmicas actuais que a tornem espaço de efectiva educação.

3. A Formação de Professores e as Novas Tecnologias Educativas

Com o desenvolvimento das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação na nossa sociedade e especialmente no âmbito educativo, o papel do professor enfrenta um desafio, na medida em que constitui um elemento fulcral na consecução das mudanças e melhoramento do sistema.

“As novas tecnologias da informação já revolucionaram ou estão em vias de revolucionar numerosas profissões. Dadas as suas grandes potencialidades enquanto instrumento educativo, seria profundamente estranho que não influenciassem de um modo ou de outro a actividade dos professores ” (Ponte, 1997: 100).

“Numa sociedade como a actual, submetida a tão profundas transformações e aceleradas mudanças, as funções e os compartimentos do professor têm que experimentar alterações significativas. Sem menosprezar a componente “artística” da tarefa docente, resulta evidente que a tecnização dos processos educativos é um facto irreversivel ” Peréz (2001: 416).