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Capítulo IV Os Vídeos: um recurso

1. Os Vídeos didácticos

1.5. Restrições à sua utilização

As realidades de cada contexto escolar e opções pedagógicas de cada docente são diferentes condicionando, em última instância, o uso desta tecnologia na sala de aula. Os docentes têm consciência de que introduzir uma tecnologia como recurso didáctico acarreta certas dificuldades e responsabilidades metodológicas acrescidas.

Sevillano e Bartolomé (1994) agrupam essas dificuldades em três categorias:

1) Dificuldades do meio: o custo da elaboração de um vídeo com um mínimo de qualidade é significativamente elevado e obriga a um trabalho interdisciplinar entre técnicos do meio e técnicos educativos, ambos com linguagens muito distintas. O mercado do livro de texto e do material impresso, destinado a uso escolar, é um mercado fácil devido ao poder de compra que detém.

2) Dificuldades do docente: os docentes nem sempre têm a formação técnica e didáctica adequada para poderem usar, de forma rentável, o vídeo. Para além de uma insuficiente formação, detectam-se, por vezes, atitudes e comportamentos que, per se, influem negativamente o rendimento educativo do vídeo.

3) Dificuldades do centro de recursos: um dos principais entraves a uma boa rentabilidade deste recurso tecnológico é o seu número. Na maioria das vezes, as escolas do 1º Ciclo só possuem um vídeo, que nem sempre está acessível, pelo que o seu uso implica uma organização e gestão por parte dos professores da escola.

Acrescido a estes entraves, Ariza e Serna (2000: 177) referem-se à estrutura dos vídeos educativos, que é muito expositiva e de carácter narrativo. Poucos são os vídeos didácticos de cariz mais lúdico e animado.

1.5.1. Uso inadequado

A utilização de recursos audiovisuais, no contexto educativo, deve ser planificada com antecedência e nunca improvisada, levando a que, o professor os caracterize e delimite bem ou, pelo menos, dentro do razoável, a fim de que os alunos aprendam. Para

que o professor possa aproveitar ao máximo o conteúdo do vídeo, como recurso auxiliar do ensino, é necessário que conheça aquilo que este recurso didáctico pode oferecer.

Ele é o principal actor de qualquer processo de mudança na escola. Para que haja mudanças na qualidade do ensino, é necessário que perceba com clareza as concepções sobre a educação, o que considera significativo para melhorar esse processo e só, então, reflectir o modo como as diversas tecnologias o poderão auxiliar.

Neste sentido, Moran (2000) aponta uma variável para um ensino de qualidade “é preciso uma organização inovadora, aberta, dinâmica, com um projecto pedagógico coerente, aberto, participativo; com infra-estrutura adequada, actualizada, confortável; tecnologias acessíveis e renovadas”. Um dos motivos que fazem com que experiências inovadoras não se institucionalizem na escola é a resistência dos professores, porque estas propostas são frequentemente resultado de teorias elaboradas segundo directrizes ou especialistas sem vivência do dia-a-dia da escola.

O vídeo e as outras tecnologias tanto podem ser utilizados para organizar como para desorganizar o conhecimento. Depende de como e quando os utilizamos.

Vídeo tapa-buraco: Usar o vídeo em situações particulares, por exemplo a ausência de um professor. Usar o vídeo nestas circunstâncias com frequência pode levar o aluno a associa-lo a uma diversão (não ter aula).

Vídeo enrolação: É exibir o vídeo sem muita ligação com a matéria. O aluno percebe que o vídeo serve de camuflagem à aula e embora concorde na hora, acaba por discordar da sua má utilização.

Vídeo deslumbramento: O professor que acaba de descobrir o vídeo tem tendência a empolgar-se e a recorrer ao seu uso com frequência, esquecendo – se de outras dinâmicas mais pertinentes. O uso exagerado do vídeo acaba pró empobrecer as suas aulas e diminuir a sua eficácia.

Vídeo perfeição: Existem professores que questionam todos os vídeos porque possuem defeitos de informação ou estéticos. Ora estes defeitos podem ser descobertos em conjunto numa aula.

Só vídeo: Não é pedagogicamente correcto exibir um vídeo sem, posteriormente, discutir os seus conteúdos com os alunos e integrá-lo no assunto da aula.

A pedagogia moderna apoia-se, nos métodos da descoberta e da redescoberta. As tecnologias de comunicação são um óptimo recurso para esta pedagogia. Trata-se de apelar para a curiosidade da criança e para a sua capacidade de descoberta.

O vídeo ocupa um espaço considerável na prática pedagógica dos professores por isso cada vez mais é fundamental formar e actualizar os professores para trabalhar com as tecnologias disponíveis, fornecendo-lhes informação sobre as múltiplas condicionantes subjacentes a uma eficaz utilização.

Em síntese, utilizar adequadamente este recurso na sala de aula torna-se fundamental, para que o aluno possa, mais facilmente, compreender os assuntos que estão a ser discutidos e envolver-se na construção do seu próprio conhecimento. Ressalvamos que é importante que o professor analise com antecedência o filme, localizando os pontos de sua interferência para sistematizar os conteúdos, para que a aprendizagem significativa ocorra efectivamente. Após a visualização do filme, o professor deverá propiciar instantes de discussão sobre o que assistiu, para que os alunos relacionem o que observaram, expondo fatos e coordenando-os.

Assim, propiciam-se condições para que realizem ligações lógicas, estabelecendo conexões entre acções e reacções dos objectos. Além de relatos e discussões orais, o professor deverá sistematizar estes conhecimentos através do registo escrito, que seleccionará em função de cada realidade em que ocorre o visionamento do vídeo.

Analisar as possibilidades ou desvantagens do vídeo na sala de aulas supõe, a nosso ver, a tomada de consciência de uma problemática que envolve dois actores principais, professor e alunos, em interacção numa relação de ensino e aprendizagem mediatizada, situada num contexto regido por seus próprios objectivos, leis, regras de funcionamento, que caracterizam a instituição escolar.

Tal perspectiva dinâmica parece fundamental, pois, o modo de utilização do suporte será resultante das interacções específicas que ocorrerão no “triângulo” professor/aluno/ vídeo na sala de aulas. Cabe aos professores, um papel importante quando usam novas tecnologias da informação e comunicação, cujo uso deverá ser como ferramenta e recurso pedagógico de uma forma crítica e responsável e não somente como meros consumidores (Belloni, 1999: 17).

Pensamos que uma formação permanente e actualizada poderá proporcionar ao professor oportunidade de incorporar, de forma criativa, o uso dessa ferramenta ao seu fazer pedagógico.