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1 CRIMES HEDIONDOS: CONSIDERAÇÕES GERAIS E PRINCIPAIS

3.1 Conceito e Requisitos

Mirabete29, em seu livro “Execução Penal”, enuncia: “a progressão consiste na transferência do condenado de regime mais rigoroso para o menos rigoroso, quando demonstra condições de adaptação ao mais suave”, logo, seria a possibilidade de, em iniciando o cumprimento da pena em regime fechado, pleitear, posteriormente, observadas as exigências legais, sua execução em regime semi-aberto e até mesmo no aberto.

Com a progressão da pena tem-se o início da comprovação de boa conduta do infrator perante o futuro retorno à sociedade, pois, partindo desta, será observada a aptidão de reinserção social daquele que, por motivo qualquer, cometera determinado delito.

A reforma penal de 1984 adotou o sistema progressivo de cumprimento da pena privativa de liberdade, conforme se constata da disposição do artigo 33, parágrafo 2º do Código Penal: “As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva (...)”.

Doutrina, jurisprudência, e mesmo a legislação (vê-se o artigo 112 da LEP) apontam dois requisitos básicos para os pedidos de progressão, quais sejam: objetivos ou temporais (cumprimento mínimo de um sexto da pena), e subjetivos (certidão do comportamento carcerário). Registre-se que a obrigatoriedade do exame criminológico, antes inserido como requisito subjetivo, foi abolida pela Lei 10.972/2003, tornando-se facultativa:

Ementa

E M E N T A: CRIME HEDIONDO OU DELITO A ESTE EQUIPARADO -

IMPOSIÇÃO DE REGIME INTEGRALMENTE FECHADO -

INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ART. 2º DA LEI Nº 8.072/90 - PROGRESSÃO DE REGIME - ADMISSIBILIDADE - EXIGÊNCIA, CONTUDO, DE PRÉVIO CONTROLE DOS DEMAIS REQUISITOS, OBJETIVOS E SUBJETIVOS, A SER EXERCIDO PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO (LEP, ART. 66, III, "B"), EXCLUÍDA, DESSE MODO, EM REGRA, NA LINHA DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE (RTJ 119/668 - RTJ 125/578 - RTJ 158/866 - RT 721/550), A POSSIBILIDADE DE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, EXAMINANDO PRESSUPOSTOS DE ÍNDOLE SUBJETIVA NA VIA SUMARÍSSIMA DO "HABEAS CORPUS", DETERMINAR O INGRESSO IMEDIATO DO SENTENCIADO EM REGIME PENAL MENOS GRAVOSO - RECONHECIMENTO, AINDA, DA POSSIBILIDADE DE O JUIZ DA EXECUÇÃO ORDENAR, MEDIANTE DECISÃO FUNDAMENTADA, A REALIZAÇÃO DE EXAME CRIMINOLÓGICO - IMPORTÂNCIA DO MENCIONADO EXAME NA AFERIÇÃO DA PERSONALIDADE E DO GRAU DE PERICULOSIDADE DO SENTENCIADO (RT 613/278) - EDIÇÃO DA LEI Nº 10.792/2003, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 112 DA LEP - DIPLOMA LEGISLATIVO QUE, EMBORA OMITINDO QUALQUER REFERÊNCIA AO EXAME CRIMINOLÓGICO, NÃO LHE VEDA A REALIZAÇÃO, SEMPRE QUE

JULGADA NECESSÁRIA PELO MAGISTRADO COMPETENTE -

CONSEQÜENTE LEGITIMIDADE JURÍDICA DA ADOÇÃO, PELO PODER JUDICIÁRIO, DO EXAME CRIMINOLÓGICO (RT 832/676 - RT 836/535 - RT 837/568) - PRECEDENTES - "HABEAS CORPUS" DEFERIDO, EM PARTE. (original sem grifo)

STF, HC 88005 / SP - SÃO PAULO, Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Órgão Julgador: Segunda Turma, Julgamento: 04/04/2006, DJ 09-06-2006.

Ementa

EMENTA: PENAL. EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 112 DA LEI Nº 7.210/84, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 10.792/03. PROGRESSÃO DE REGIME. REQUISITOS. EXAME CRIMINOLÓGICO. ARTIGO 33, § 2º DO CP. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA. I - A obrigatoriedade do exame criminológico e do parecer multidisciplinar da Comissão Técnica de Classificação, para fins de progressão de regime de cumprimento de pena, foi abolido pela Lei 10.972/03. II - Nada impede, no entanto, que, facultativamente, seja requisitado o exame pelo Juízo das Execuções, de modo fundamentado, dadas as características de cada caso concreto. III - Ordem denegada. (original sem grifo)

STF, HC 86631 / PR, Relator (a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJ 20-10- 2006.

Ementa

EMENTA: HABEAS CORPUS. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ART. 2º DA LEI Nº 8.072/90, QUE VEDA A PROGRESSÃO DE REGIME NA EXECUÇÃO DAS PENAS DOS CONDENADOS POR CRIMES

HEDIONDOS. PRECEDENTE PLENÁRIO. RECONHECIMENTO DA

INCONSTITUCIONALIDADE. Reconhecida a inconstitucionalidade do impedimento da progressão de regime na execução das penas pelo cometimento de crime hediondo, impõe-se a concessão da ordem para afastar o óbice legal. Ressalve-se que pretendida progressão dependerá do preenchimento dos requisitos objetivos e subjetivos que a lei prevê; tudo a ser aferido pelo juízo da execução. Writ deferido. (original sem grifo)

STF, HC 86224 / DF - DISTRITO FEDERAL, Relator (a): Min. CARLOS BRITTO, Órgão Julgador: Primeira Turma, Julgamento: 07/03/2006, DJ 23-06- 2006.

Assim, dentro de um rol de penas previstas no Código, se uma certa pena apresentar-se como apta aos fins da prevenção e da preparação do infrator para o retorno ao convívio pacífico na comunidade em que está inserido, não estará justificada a aplicação de outra pena mais grave, que resulte em maiores ônus para o condenado e para a sociedade. O mesmo se diga em relação à execução da pena. Francisco de Assis Toledo30 assim ressalta:

“Se o cumprimento da pena em regime de semiliberdade for suficiente para aqueles fins de prevenção e de reintegração social, o regime fechado será um exagero e um ônus injustificado. Se, entretanto, o delinqüente se apresenta como ameaça à paz social e à tranqüilidade dos homens livres, o regime fechado em estabelecimento de segurança máxima estará a sua espera”.

30

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios que regem a aplicação da pena. Disponível em: <http://www.cjf.gov.br>. Acesso em 20 de agosto de 2006.

Sobre a forma pela qual se desenvolve a progressividade da execução da pena privativa de liberdade, reforça o artigo 112 da Lei de Execução Penal:

“A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinado pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão”.

Desse modo, dada a forma progressiva, constata-se a abertura de um novo rumo para o cumprimento da pena, em que estará o detento demonstrando sua nova personalidade à sociedade, que está, outrossim, apta a recebê-lo, entretanto não de uma forma integral, mas pela conquista da mudança de regimes. Dependerá sempre das condutas, do preenchimento dos requisitos (a serem verificados pelo juízo competente), pois estando em regime mais maleável e comete algum ato inverso daqueles considerados de boa conduta, retornará à estaca zero novamente. Leia-se pronunciamento do ministro do STF Joaquim Barbosa:

Ementa

EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME HEDIONDO. PROGRESSÃO DE REGIME. INCONSTITUCIONALIDADE DA VEDAÇÃO CONTIDA NA LEI DE CRIMES HEDIONDOS. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. O Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou, incidenter tantum, a inconstitucionalidade da vedação à progressão de regime, contida no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990. A inconstitucionalidade da vedação não significa que o preso tenha direito subjetivo à progressão, mas apenas que o juízo competente deve verificar se estão presentes os requisitos objetivos e subjetivos para a concessão do benefício (HC 82.959, rel. min. Marco Aurélio). Ordem parcialmente concedida, para determinar-se que o juízo de execuções criminais competente analise a situação do paciente, verificando se ele preenche os requisitos objetivos e subjetivos indispensáveis à obtenção do benefício da progressão de regime, e ordene, se entender necessária, a realização de exame criminológico (RHC 88.134-MC, rel. min. Celso de Mello). (original sem grifo)

STF, HC 87890 / SP - SÃO PAULO, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Órgão Julgador: Segunda Turma, Julgamento: 14/03/2006, DJ 02-06-2006.

A concessão do benefício é uma forma de ir dosando a punição e diminuindo-a acerca do tempo decorrido e cumprido na situação de detento.

Contudo, há de se enfatizar, e nem poderia ser diferente, o entender de José Benedito Antunes31, no qual a progressividade da execução da pena privativa de liberdade “revela um caminho de mão dupla: a progressão e a regressão de regime. Enquanto na progressão evolui-se de um regime mais rigoroso para outro menos rigoroso, na regressão dá-se o inverso”.