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1 CRIMES HEDIONDOS: CONSIDERAÇÕES GERAIS E PRINCIPAIS

4.1. Propostas de Alteração da LCH

A fim de amenizar o problema, o Ministério da Justiça anunciou, integrando o Pacote de Segurança Pública, no dia 20 de março de 2006, o envio de Projeto de Lei (PL-6793/06)42, com tramitação em regime de urgência, ao Congresso Nacional prevendo que, no caso de réus primários cometerem crime hediondo, será necessário cumprir um terço da pena antes do preso pedir a progressão para o regime semi-aberto (ao contrário do um sexto praticado após decisão do STF); metade, no caso de reincidência e direito à liberdade provisória. Em exposição ao Presidente da República das razões que justificariam a alteração, o ministro Márcio Thomaz Bastos pondera:

“O Projeto pretende modificar o artigo 2º da Lei no. 8.072, de 1990, com objetivo de adequá-la à evolução jurisprudencial ocorrida desde sua entrada em vigor, bem como de torná-la coerente com o sistema adotado pela Parte Especial do Código Penal e com os princípios gerais do Direito Penal.

(...)

5. A proposta de alteração da regra do § 1º do artigo 2º da Lei no 8.072, de 1990, procura estabelecer uma forma mais rigorosa de progressão de regime prisional para os condenados por crimes considerados hediondos ou a eles equiparados, diferenciando-os dos crimes comuns. Com efeito, enquanto a regra geral da Lei de Execução Penal possibilita a progressão de regime mediante o cumprimento de um sexto da pena privativa de liberdade (artigo 112), a nova proposta é de, nos casos especificados, permitir a progressão apenas depois de cumpridos um terço da pena, ou a metade, no caso de reincidência. Ou seja, para os crimes hediondos ou equiparados serão duplicados os prazos de progressão adotados para os crimes comuns.

6. Esse aumento dos prazos para progressão de regime responde à necessidade de estabelecer tratamento mais severo para os crimes definidos como hediondos ou a eles equiparados. Contudo, procura-se também equilibrar a proporção de tempo de pena cumprido em cada um dos regimes prisionais, tendo por base o critério temporal já fixado pelo legislador ordinário para o livramento condicional, que é de dois terços da pena (inciso V do artigo 83 do Código Penal, acrescentado pela Lei no 8.072, de 1990).

(...)

Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, deferiu pedido de habeas corpus e declarou, incidenter tantum, a inconstitucionalidade do § 1º do artigo 2º da Lei no 8.072/90, que veda a possibilidade de progressão do regime de cumprimento da pena nos crimes hediondos definidos no artigo 1º do mesmo diploma legal - v. Informativos 315, 334 e 372. Inicialmente, o Tribunal resolveu restringir a análise da matéria à progressão de regime, tendo em

42BRASIL. Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em 29 de maio

conta o pedido formulado. Quanto a esse ponto, entendeu-se que a vedação de progressão de regime prevista na norma impugnada afronta o direito à individualização da pena (CF, artigo 5º, LXVI), já que, ao não permitir que se considerem as particularidades de cada pessoa, a sua capacidade de reintegração social e os esforços aplicados com vistas à ressocialização, acaba tornando inócua a garantia constitucional. Ressaltou-se, também, que o dispositivo impugnado apresenta incoerência, porquanto impede a progressividade, mas admite o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena (Lei no 8.072/90, artigo 5º). Considerou- se, ademais, ter havido derrogação tácita do § 1º do artigo 2º da Lei no 8.072/90 pela Lei no 9.455/97, que dispõe sobre os crimes de tortura, haja vista ser norma mais benéfica, já que permite, pelo § 7º do seu artigo 1º, a progressividade do regime de cumprimento da pena. Vencidos os Ministros Carlos Velloso, Joaquim Barbosa, Ellen Gracie, Celso de Mello e Nelson Jobim, que indeferiam a ordem, mantendo a orientação até então fixada pela Corte no sentido da constitucionalidade da norma atacada. (Informativo STF no. 417, de 08 de março de 2006)”.

Em fevereiro de 2007, a matéria foi ao Senado Federal, e no mês seguinte transformou-se na lei ordinária 11.464/07, sendo publicada na edição extra do Diário Oficial da União em 29 de março de 2007.

Além deste Projeto de Lei, que posteriormente foi aprovado, outras produções legislativas também apresentaram alterações para a LCH.

Seguindo a proposta do Ministério da Justiça, o deputado Bentinho Rosado (PFL-RN)43, em 03 de abril de 2006, apresenta Projeto de Lei (PL) 6842/2006,

estabelecendo que o condenado deva cumprir o período de um terço da pena e ostentar bom comportamento carcerário antes de pleitear a progressão. Devido à nova lei, este projeto foi arquivado em outubro do corrente ano.

Mais rigorosa que a do governo, foi aprovada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado44, sob a relatoria do senador Romeu Tuma, a

proposta prevendo que terão direito a pedir livramento condicional apenas réus primários. Estes poderiam progredir de regime depois de cumprida metade da pena, e

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BRASIL. Câmara dos Deputados. Ob.cit.

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BRASIL. Jornal Diário do Nordeste. CCJ aprova lei que torna mais difíceis benefícios para crimes hediondos. Disponível em: <http:// www.diariodonordeste.com.br>. Acesso em: 22 de maio de 2006.

presos reincidentes só teriam direito ao benefício depois de cumprido dois terços da pena. O autor do Projeto de Lei45 (PLS 48/2006, de 09 de março de 2006), o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), conta, "assim que soube da decisão do STF, corri para fazer o texto, submeti a uma avaliação de ministros do Supremo e às lideranças dos partidos". O projeto foi arquivado no último mês de agosto.

O conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Alberto Zacharias Toron46, presidente da Comissão Especial desta entidade, considerou positiva a decisão do Supremo. No entanto, acredita que o Legislativo deve, agora, promulgar uma lei que estabeleça, para esse tipo de crime, uma exigência quanto a um lapso temporal maior para a progressão das penas.

“Assim, por exemplo, nos casos em que houve morte ou lesão corporal grave, a exigência de cumprir metade da pena em regime integralmente fechado, nos parece perfeitamente cabível. Quanto ao restante, o juiz vai verificar as condições subjetivas para permitir ou não a progressão no cumprimento da pena”.

Acrescenta o conselheiro que o STF deu um grande passo no sentido da humanização das penas, porque, para ele, a pena, além da carga punitiva que induvidosamente deve ter, deve apontar também para a socialização do detento ao afirmar que “pena não pode ser sinônimo de destruição da pessoa. De outro lado, a sociedade também tem a ganhar com uma pena mais humana porque o sujeito que sai da cadeia não sai tão embrutecido, sairá mais humanizado”.

Mas nem todos aprovaram a concessão do benefício. Em oposição à decisão do STF, tramita na Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 521/06, iniciada

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BRASIL. Senado. Disponível em: <www.senado.gov.br>. Acesso em: 30 de setembro de 2007.

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BRASIL. Artigos. OAB: Agora é Legislativo que deve editar lei sobre crimes hediondos. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br>. Acesso em: 29 de maio de 2006.

no mês seguinte ao julgamento do HC 82.959, do deputado Ciro Nogueira (PP-PI)47,

que dá nova redação ao artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, posto que proíbe a progressividade da pena para os condenados a crime hediondo, prevalecendo assim o entendimento de se cumprir a pena em regime integralmente fechado, sem os benefícios de progredir após atingir um sexto da pena, como ocorre nos crimes comuns. Segundo o deputado, a única forma de manter a vedação desse benefício é incluí-la na Constituição, eliminando-se a inconstitucionalidade da medida, afirmando também que a proibição do regime progressivo é um anseio da sociedade, “angustiada com a violência no país”. Inclusive, o relator desta, o deputado Robson Tuma (PFL-SP) era favorável à admissibilidade da proposta sugerida.

Arquivada em janeiro deste ano, a proposta, a requerimento de seu autor, teve seu desarquivamento em abril, recebendo, entretanto, parecer de inadmissibilidade segundo o atual relator, deputado Benedito Lira (PP-AL). Encontra-se sujeito à apreciação do Plenário.

Posteriormente apensada à proposta supra, a PEC 525/06, de autoria do deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP), estabelece além do cumprimento da pena em regime integral fechado, a vedação da substituição da pena por outra de espécie diversa.

A repercussão da possibilidade de progressão foi percebida não somente no meio jurídico, mas grande quantidade de artigos publicados, de representantes dos mais diferentes setores da sociedade, foi encontrada no decorrer desta pesquisa, e que frisavam a preocupação pela necessidade de disciplinamento da matéria por nova lei.

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BRASIL. Agência Câmara. Progressão da pena pode ser proibida em crimes hediondos. Disponível em: <http://www.juspodivm.com.br>. Acesso em: 29 de maio de 2006.