• Nenhum resultado encontrado

Concentração de capital e dominância bancário-financeira

GOVERNO DO PT: DE LULA A DILMA

2.3 MODELO LIBERAL PERIFÉRICO NOS GOVERNOS LULA E DILMA

2.3.3 Concentração de capital e dominância bancário-financeira

O MLP tem padrões específicos de dominação, acumulação e distribuição (GONÇALVES, 2014b). No que tange a dominação, há o pacto dos grupos dirigentes com os setores dominantes (empreiteiras, bancos, agronegócio e mineradoras), tendo como consequência o aumento da concentração de riqueza e poder. O padrão de acumulação apresenta baixas taxas de investimento e produção voltada para o setor primário-exportador. No âmbito do padrão de distribuição, há uma redistribuição incipiente da renda entre os distintos grupos da classe trabalhadora, fazendo com que os interesses do grande capital sejam preservados, não havendo mudança na estrutura primária de distribuição de riqueza e renda. Para discutir a concentração do capital e dominância financeira nos governos Lula e Dilma, apresentamos a Tabela 8.

Tabela 8 - Concentração do capital e dominação financeira - Série 1995-2013 (valores em %)

Lucro líquido/PIB Patrimônio líquido/PIB Ativo/PIB 500 Maiores empresas 1995-98 0,9 18,9 32,7 1999-2002 0,5 26,2 51,9 2003-06 3,8 32,4 61,9 2007-10 3,5 34,6 62,9 2011-13 2,2 37,5 67,7

Bancos (Itaú, Unibanco e Bradesco)

1995-98 0,2 1,4 10,7 1999-2002 0,4 1,9 14,9 2003-06 0,4 1,8 18,8 2007-10 0,5 2,7 32,8 2011-13 0,6 3,3 40,8 Dominação financeira Lucro líq. G3/Lucro líq.500

maiores PL G3/PL 500 maiores Ativo G3/Ativo 500 maiores

1995-98 22,5 7,5 32,8

1999-2002 42,8 7,8 29,2

2003-06 10,5 5,6 30,4

2007-10 15,6 7,8 52,1

2011-13 29,4 8,7 60,2

Fonte: Gonçalves (2014b). (Elaboração própria)

Quando se analisa os resultados das 500 maiores empresas brasileiras e dos 3 principais bancos, é perceptível que houve aumento em seus Lucros Líquidos (LL), Patrimônio Líquido (PL) e Ativo, em relação ao PIB. Isso demonstra que de 1995-1998 (FHC) a 2011-2013 (Dilma) houve concentração de capital.

O LL das 500 maiores empresas teve um grande salto quando comparamos o período do governo FHC com o governo Lula, pois enquanto a média do LL/PIB daquele foi de 0,7%, o deste foi 3,6%. Já no governo Dilma a média do LL/PIB foi inferior em relação aos governos Lula, mas superior ao governo FHC. Assim, o auge da concentração de capital das 500 maiores empresas se deu no governo Lula, principalmente em seu primeiro mandato, devido o ciclo de ascensão da economia mundial. Em relação ao LL/PIB dos 3 principais bancos privados, houve um aumento gradativo de 1995-98 para 2011-13, tendo passado de 0,2% para 0,6%, demonstrando que também houve concentração de capital no setor bancário- financeiro.

A concentração de capital também se evidencia pelo aumento observado do PL/PIB em relação as 500 maiores empresas, indo de 18,9% em 1995-98 para 37,5% em 2011-13, enquanto o PL/PIB dos três maiores bancos privados foi de 1,4% para 3,3% no mesmo período. No primeiro, o PL duplicou e, no segundo, aumentou 2,5 vezes. O Ativo/PIB, tanto das 500 maiores empresas – foi de 32,7% para 67,7% – como dos 3 principais bancos privados – foi de 10,7% para 40,8% – teve grande aumento de 1995-98 para 2011-13, chamando atenção pela quase duplicação dos ativos dos 3 principais bancos no período. Tabela 9 - Indicador de concentração de capital – Série 2002-2014 (valores em %)

Participação das vendas das maiores empresas nas vendas das 500 maiores empresas

Ano CR-5 CR-10 CR-20 CR-30 CR-40 CR-50

2002 15,7 19,9 29,2 35,6 39,7 43,9

2006 18,2 23,4 32,3 38,6 43,0 46,4

2010 19,3 25,4 33,5 40,0 44,9 48,7

2014 21,1 26,6 34,9 40,7 45,5 49,6

Fonte: Gonçalves (2013); Revista Exame (s. d.). (Elaboração própria)

Outra expressão da ampliação da concentração de capitais nos governos Lula e Dilma é pela análise do núcleo central das 50 maiores empresas, pois identificamos que, de 2002 a 2014, estas cresceram sua participação no valor das vendas totais das 500 maiores empresas. Exemplo disso, a relação percentual entre o valor total das vendas das 5 maiores empresas e o valor total das vendas do conjunto das 500 maiores empresas (CR-5), teve um aumento de 15,7% em 2002, para 21,1% em 2014. Assim, das 500 maiores empresas brasileiras, apenas 5 delas correspondem a mais de 20% das vendas realizadas, enquanto as 50 maiores empresas contam com praticamente 50% das vendas destas 500 maiores empresas, resultando que 10% das maiores empresas atuantes no Brasil vendem mais que as outras 90%.

O processo de concentração de capitais tem um reflexo muito grande sobre toda a sociedade, pois “[...] a megaconcentração de capitais parece cavar continuamente o solo da crise social, para, em seguida, transformar a tragédia humana em base para sua lucratividade, convertendo a penúria que provoca em mercado para os bens que produz.” (FONTES, 2010, p. 304). Além disso, à medida que os setores foram sendo concentrados, mais foram se realizando processos massivos de expropriação em todos os setores da vida social.

Além de aprofundar a concentração de capital nas empresas brasileiras durante os governos do PT, houve também o processo de desnacionalização da economia brasileira, sobretudo no núcleo central das 50 maiores empresas. Como pode ser visto na Tabela 7, dentre as 50 maiores empresas atuantes no Brasil, as empresas estrangeiras têm tido maior participação nas vendas, tendo aumentado sua atuação de 17,6% em 2002 para 19,9% em 2014.

Tabela 10 - Indicador de concentração de capitais no sistema financeiro – Série 2002-2014 (valores em %)

Sistema financeiro brasileiro - total Total - exceto BNDES, CEF e BB

Ano CR-5 CR-10 CR-20 CR-5 CR-10 CR-20

2002 56,8% 74,2% 87,3% 50,6% 67,8% 81,4%

2006 55,5% 77,5% 88,5% 56,4% 75,3% 84,4%

2010 68,0% 85,0% 90,6% 70,6% 79,6% 85,9%

2014 70,4% 86,0% 90,9% 69,4% 78,9% 85,3%

Fontes: Gonçalves (2013) (Elaboração própria). Dados referentes aos ativos totais.

Como pode ser visto na Tabela 10, o processo de concentração do capital também se dá no sistema financeiro. Assim, de 2002 a 2014 houve aumento da concentração de ativos dos maiores bancos, sendo o mais emblemático, o CR-5, passou de 56,8% para 70,4%. Além disso, os ativos dos 20 maiores bancos passaram a controlar, em 2014, mais de 90% dos ativos do sistema financeiro brasileiro.

Quando descontamos a presença dos três grandes bancos públicos federais - Banco do Brasil (BB), CEF e BNDES - a concentração de capital é ainda mais forte, tanto que o CR-5 passou de 50,6% em 2002 para 69,4% em 2014, tendo também ocorrido aumentos expressivos no CR-10 e CR-20.

O processo de concentração de capital mais forte no sistema financeiro do que no sistema produtivo, fez com que houvesse a dominação financeira, que pode ser entendida como: “[...] a ascendência do setor financeiro, inclusive sobre os outros setores dominantes, e tem expressão concreta na apropriação do excedente econômico.” (GONÇALVES, 2013, p. 107), conforme discutimos no capítulo 1.

A partir de dados da Tabela 8, é possível identificar que, uma das expressões da dominância financeiro durante os governos do PT, é o aumento da relação entre o PL dos 3 maiores bancos privados e o PL das 500 maiores empresas, que foi de 7,5% no primeiro mandato de FHC para 8,7% no mandato da Dilma. Fica ainda mais evidente a dominância financeira quando se considera a relação entre os Ativos dos 3 maiores bancos e das 500 maiores empresas, pois passou-se de 32,8% em 1995-98, para 60,2% em 2011-13.

Gonçalves (2014b, p. 9) mostra que alguns fatores se destacam na dominação financeira no Brasil durante os governos petistas: “[...] juros altos, expansão do crédito, aumento das tarifas sobre serviços bancários e fragilidade institucional para conter o abuso do poder econômico”. Além disso, “o poder econômico dos bancos se expressa por meio da elevação do spread para compensar taxas de juros mais baixas ou desaceleração do crédito, e também com cobranças abusivas e outras práticas comerciais restritivas.” (GONÇALVES, 2014b, p. 9).

É possível afirmar que a dominância bancário-financeira nos governos Lula e Dilma repercutiu diretamente na política macroeconômica e na vulnerabilidade externa estrutural (GONÇALVES, 2013). Portanto, fizeram parte daqueles governos: desindustrialização, dessubstituição de importações, reprimarização das exportações, maior dependência tecnológica, maior desnacionalização, perda de competitividade internacional, crescente vulnerabilidade externa estrutural, maior concentração de capital e crescente dominação financeira (GONÇALVES, 2013; 2014a).

Fontes (2010) apresenta que, com o governo Lula, foram reativadas as retóricas autonomistas e desenvolvimentistas, tendo mobilizado perspectivas terceiro-mundistas e vagamente anti-imperialistas. Contudo, os governos do PT ampliaram e aprofundaram a inserção no capital-imperialismo, bem como no MLP.

A seguir, aprofundaremos o debate sobre a dominância bancário-financeira durante os governos Lula e Dilma, tendo por base a discussão sobre hegemonia e bloco no poder nestes governos.