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ESTADO CAPITALISTA E ESTADO BRASILEIRO

3) integrar as classes dominadas, garantir que a ideologia da sociedade continue sendo a da classe dominante e, em consequência, que as classes exploradas aceitem

1.1.3 O Estado e sua função integradora

Para discutir a função integradora do Estado é fundamental compreender que “as ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante.” (MARX; ENGELS, 2009, p. 67). Isso faz com que múltiplas ideologias – magia e ritual, filosofia e moral, lei e política – sejam utilizadas para integrar as classes dominadas, promovendo a reprodução das relações sociais vigentes (MANDEL, 1982).

De acordo com Gramsci (1981, p. 16), a ideologia é o significado “[...] mais alto de uma concepção de mundo, que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas as manifestações da vida individuais e coletivas [...]”. Ele nos aponta (GRAMSCI, 1982) que cada classe social cria organicamente uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência das funções econômica, social e política. Como a classe dominante no capitalismo são os capitalistas, logo as ideias de seus intelectuais são as mais difundidas e internalizadas pela sociedade.

A reprodução e evolução da função integradora se dá por meio de instrução, educação, cultura e meios de comunicação, “[...] mas sobretudo pelas categorias de pensamento peculiares à estrutura de classe de uma sociedade.” (MANDEL, 1982, p. 334). No capitalismo prevalece o fetichismo da mercadoria, onde há relações entre coisas (mercadorias) e não relações entre seres humanos por meio do seu trabalho que dariam base às trocas de mercadorias (MARX, 2010). O Estado burguês busca proteger institucionalmente e legitimar juridicamente a propriedade privada, fazendo com que sejam impregnadas as estruturas de crenças e comportamentos da grande maioria da população (MANDEL, 1982).

Conforme apresentado no tópico anterior com Marx, Engels e Lenin, o Estado apresentava uma forte presença coercitiva para reprodução das relações sociais. Gramsci em sua obra aponta que houve uma ampliação do Estado, onde ocorreu a junção da sociedade política (Estado) – que predomina a coerção – e da sociedade civil, em que há a presença da hegemonia e do consenso (PORTELLI, 1977). Coutinho (2011) ratifica dizendo que o conceito de “Estado ampliado” ou “integral” se dá pela associação: sociedade política + sociedade civil, coerção + consenso e ditadura + hegemonia, pois Gramsci compreendia que o Estado nada mais é que um prolongamento da sociedade civil (PORTELLI, 1977).

Para Gramsci, a sociedade civil é inseparável da noção de totalidade, estando ligada às relações sociais de produção, às formas de produção da vontade e da consciência e ao papel que exerce o Estado nos dois precedentes (FONTES, 2010). O conceito de sociedade civil em Gramsci se contrapõe ao de origem liberal36. De acordo com Fontes (2010, p. 133, grifos da autora), “o fulcro do conceito gramsciano de sociedade civil – e dos aparelhos privados de hegemonia – remete para a organização e, portanto, para a produção coletiva, de visões de mundo, da consciência social, de formas de ser adequadas aos interesses do mundo burguês (a hegemonia) [...]”. Mas, também esta organização pode se dar em direção a uma sociedade igualitária, por um viés e contra hegemônico.

De acordo com Gramsci (1982) a sociedade civil é formada pelo conjunto dos aparelhos privados de hegemonia (organismos privados), que são instâncias associativas – distintas das organizações empresariais e instituições estatais –, que se pautam na associatividade voluntária, apresentando-se sobre diversos formatos: clubes, partidos, jornais, revistas, igrejas, escolas, entidades diversas que se implantam e reconfiguram a partir da complexidade da vida urbana capitalista (FONTES, 2010).

Eles não são homogêneos em sua composição: podem estar descolados da organização econômico-política da vida social, como é o caso de clubes, associações culturais ou recreativas; podem estar ligados a formas que enfatizam a questão econômica, como é o caso dos sindicatos patronais ou de trabalhadores; e há ainda os que se vinculam à questão política, mais especificamente ao segmento de uma classe, como é o caso de partidos políticos e

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“Antes de Gramsci, o conceito de sociedade civil admitia um sentido mais ou menos comum entre os diversos autores – designava, sobretudo, o âmbito dos apetites incontroláveis, naturais, traduzidos através dos interesses, do mercado, da concorrência, do âmbito privado. Para uns, valorizado como instância central a ser preservada, figurando a propriedade mencionada, inclusive, da vida. Por esse viés, a propriedade e o mercado eram equiparados à própria civilização. Para outros, como a expressão do predomínio, numa sociedade histórica precisa e delimitada, da sociedade burguesa moderna, de um individualismo que limitava e reduzia a própria individualidade, fazendo-a perder a consciência de seu pleno sentido, o do pertencimento a um processo histórico e social.” (FONTES, 2010, p. 131).

jornais; entretanto todos são formas organizativas que tem relação com a produção econômica e política, embora seja eminentemente de cunho cultural (FONTES, 2010).

Gramsci (1982) apontou o papel daqueles aparelhos de organização cultural e de seus esteios, os intelectuais, mostrando como se dava a dominação na sociedade capitalista e sua reprodução. Cada grupo social, a partir da sua base no mundo da produção econômica, cria para si de modo orgânico os intelectuais que lhe darão homogeneidade e consciência da função deste grupo social nos campos econômico, social e político (GRAMSCI, 1982). A relação dos intelectuais com o mundo da produção é mediada pelo contexto social (conjunto das superestruturas).

Fontes (2010) coloca que na sociedade civil há um duplo espaço de luta de classes, entre as classes sociais e dentro das próprias classes. Entre as classes há a busca por manter a dominação por parte da classe dominante, utilizando-se para isso de convencimento e persuasão, lançando mão de formas coercitivas quando necessário. Já dentro da própria classe, é preciso que se encontre equilíbrio entre os diversos interesses das frações dominantes, atendendo aos interesses dos capitalistas individuais, mas pensando no capitalismo como um todo.

Em relação ao convencimento, Fontes (2010) esclarece que ele se dá em duas direções: dos aparelhos privados de hegemonia (sociedade civil) em direção as instâncias estatais, e do Estado (sociedade política) em direção a fortalecer as frações de classe dominante por meio da sociedade civil, ou seja, um âmbito fortalecendo o outro, havendo uma estreita relação entre eles. Desta forma, “o vínculo entre sociedade civil e Estado explica como a dominação poreja em todos os espaços sociais, educando o consenso, forjando um ser social adequado aos interesses (e valores) hegemônicos e formulando, inclusive, as formas estatais da coerção aos renitentes.” (FONTES, 2010, p. 137).

Para Lenin e Gramsci, hegemonia é a superação do corporativismo – elevação da consciência de classe do particular ao universal –, não havendo oposição entre a presença da hegemonia e o fato de que todo Estado tem uma dimensão coercitiva ou ditatorial (COUTINHO, 2011). Enquanto Lenin tratou apenas da hegemonia proletária, Gramsci teria elaborado uma teoria geral da hegemonia, já que analisou tanto a hegemonia proletária quanto a hegemonia burguesa (COUTINHO, 2011).

A hegemonia burguesa se baseia num consenso passivo (manipulado) – que esconde a realidade pela ideologia –, já a hegemonia do proletariado tem necessidade de um consenso ativo – precisa revelar os enganos ideológicos (COUTINHO, 2011). Hegemonia não é apenas

um conceito estratégico para revolução socialista, mas também um conceito analítico que permite deslindar as diferentes formas de supremacia de classe (COUTINHO, 2011).

Para Gramsci há necessidade da hegemonia para uma educação permanente para o autogoverno, ou seja, busca da extensão da hegemonia para que haja redução da coerção (PORTELLI, 1977). Esta discussão pode ser sintetizada quando Gramsci (1982, p. 10-11) esclarece os conceitos de

[...] “sociedade civil” (isto é, o conjunto de organismos chamados comumente de “privados”) e o da “sociedade política ou Estado”, que correspondem à função de “hegemonia” que grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela de “domínio direto” ou de comando, que se expressa no Estado e no governo “jurídico”. Estas funções são precisamente organizativas e conectivas. Os intelectuais são os “comissários” do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político, isto é: 1) do consenso “espontâneo” dado pelas grandes massas da população à orientação impressa pelo grupo fundamental dominante à vida social, consenso que nasce “historicamente” do prestígio (e, portanto, da confiança) que o grupo dominante obtém, por causa da sua posição e da sua função no mundo da produção; 2) do aparato de coerção estatal que assegura “legalmente” a disciplina dos grupos que não “consentem”, nem ativa nem passivamente, mas que é constituído para toda a sociedade, na previsão dos momentos de crise no comando e na direção, nos quais fracassa o consenso espontâneo.

Destarte, para Gramsci os grupos dominantes necessitam de hegemonia na sociedade civil e no Estado, sendo os intelectuais essenciais neste processo. É interessante perceber que os grupos dominantes constroem o consenso para se manterem no poder, chegando a este devido ao prestígio, que por sua vez é fruto da sua dominação econômica, que acaba conduzindo à dominação política. Contudo, o aparato coercitivo do Estado é utilizado para disciplinar os grupos onde não há aquiescência. Tendo por base o conceito de consentimento, Gramsci (1976, p. 87) vai dizer que o “[...] Estado é todo o complexo de atividades práticas e teóricas com as quais a classe dirigente justifica e mantém não só o seu domínio, mas consegue obter o consentimento ativo dos governados [...]”.

Desta forma, para Gramsci, a sociedade civil não está isolada do mundo da produção, sendo a partir deste que surgem as classes sociais, seus antagonismos e a subordinação. Nessa perspectiva, “a sociedade civil é o momento organizativo a mediar as relações de produção e a organização do Estado, produzindo organização e convencimento.” (FONTES, 2010, p. 137). Um elemento que demonstra isso claramente é o partido político, um dos principais aparelhos privados de hegemonia para Gramsci (1982, p. 14)

[...] o partido político, para todos os grupos, é precisamente o mecanismo que representa na sociedade civil a mesma função desempenhada pelo Estado, de um

modo mais vasto e mais sintético, na sociedade política, ou seja, proporciona a fusão entre os intelectuais orgânicos de um dado grupo – o grupo dominante – e os intelectuais tradicionais; e esta função é desempenhada pelo partido precisamente em dependência de sua função fundamental, que é a de elaborar os próprios componentes, elementos de um grupo social nascido e desenvolvido como “econômico”, até transformá-los em intelectuais políticos qualificados, dirigentes, organizadores de todas as atividades e funções inerentes ao desenvolvimento orgânico de uma sociedade integral, civil e política.

De acordo com Gramsci (1976), o partido político é o instituto-chave da nova forma de hegemonia, uma vez que teria a função de equilibrar e arbitrar os diversos interesses na sociedade civil, em que o partido seria o “moderno príncipe”. Gramsci (1976) vai diferenciar os partidos como “de elite” e “não-elite”, onde os primeiros atendem aos interesses do grupo dominante e os segundos se vinculam aos interesses dos grupos dominados. Desta forma, “a sociedade civil é o momento da formulação e da reflexão, da consolidação dos projetos sociais e das vontades coletivas.” (FONTES, 2010, p. 138). Em consonância com isso os grupos dominantes e dirigentes por meio de partidos políticos e outros aparelhos privados de hegemonia asseguram o “Estado educador”37, havendo a construção da hegemonia e do consenso.

Voltando ao conceito de Estado ampliado de Gramsci, ele faz uma diferenciação importante a partir do momento que vivenciava o capitalismo em sua época, ou seja:

No Oriente, o Estado era tudo, a sociedade era primordial e gelatinosa; no Ocidente, havia entre o Estado e a sociedade civil uma justa relação e em qualquer abalo do Estado imediatamente descobria-se uma poderosa estrutura da sociedade civil. O Estado era apenas uma trincheira avançada, por trás da qual se situava uma robusta cadeia de fortalezas e casamatas [...] (GRAMSCI, 1976, p. 75)

Nesse sentido, a forma como o Estado se organizava no tempo e espaço que vivenciaram Marx e Lenin – Estado Oriental –, fez com vissem que a forma de superar o Estado burguês era tomá-lo de assalto – era necessário romper as trincheiras e fortalezas do Estado –, haja vista a grande força do Estado, enquanto a sociedade civil era gelatinosa.

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“Na realidade, o Estado deve ser concebido como “educador”, desde que tende a criar um novo tipo ou nível de civilização. Em virtude do fato de que se atua essencialmente sobre as forças econômicas, reorganiza-se e desenvolve-se o aparelho de produção econômica, inova-se a estrutura, não se deve concluir que os elementos de superestrutura devam ser abandonados a si mesmos, ao seu desenvolvimento espontâneo, a uma germinação causal e esporádica. O Estado, inclusive neste campo, é um instrumento de “racionalização”, de aceleração e de taylorização, atua segundo um plano, pressiona, incita, solicita e “pune”, pois, criadas as condições em que um determinado modo de vida é “possível”, a “ação ou omissão criminosa” devem receber uma sanção punitiva, de alcance moral, e não apenas um juízo de periculosidade genérica. O direito é o aspecto repressivo e negativo de toda a atividade positiva de civilização desenvolvida pelo Estado. Deveriam ser incorporadas na concepção do direito inclusive as atividades “premiadoras” de indivíduos, de grupos, etc.; premia-se a atividade louvável e meritória como se pune a atividade criminosa (e pune-se de modo original, permitindo a intervenção da “opinião pública” como sancionadora).” (GRAMSCI, 1976, p. 97)

Contudo, no Ocidente, havia uma justaposição entre Estado e sociedade civil, ou seja, a presença do “Estado ampliado” tornava necessário construir uma hegemonia na sociedade civil para se chegar ao Estado. É importante deixar claro que o Estado burguês, nessa perspectiva ampliada, não perdeu os traços repressivos indicados por Marx, Engels e Lenin, mas adquiriu novas determinações no momento em que Gramsci desenvolveu suas reflexões (COUTINHO, 2011; PORTELLI, 1977).

Gramsci (1976, p. 74) coloca que “parece-me que o Ilich [Lenin] compreendeu que se verificava uma modificação da guerra de manobra, aplicada vitoriosamente no Oriente em 1917, para a guerra de posição, que era a única possível no Ocidente [...]”. Gramsci percebe que, com a ampliação do Estado, não era mais possível a “guerra de movimento” – guerra militar –, mas a “guerra de posição” – luta política. Coutinho (2011, p. 143) aprofunda essa perspectiva dizendo que

é precisamente essa nova característica do Estado que define o novo conceito gramsciano de revolução, baseado não mais apenas na “guerra de movimento” (como foi o caso da revolução bolchevique), mas também e sobretudo na “guerra de posição”, na qual a luta pela hegemonia – por uma “reforma intelectual e moral” – ocupa um papel decisivo.

Desta forma, os “[...] Estados mais avançados, onde a “sociedade civil” transformou- se numa estrutura muito complexa e resistente às “irrupções” catastróficas do elemento econômico imediato (crises, depressões, etc.): as superestruturas da sociedade civil são como o sistema de trincheiras na guerra moderna.” (GRAMSCI, 1976, p. 73).

É interessante perceber que este processo em que o Estado se tornou mais poroso (ampliado) fez com que houvesse a necessidade de hegemonia na sociedade civil. Assim, os trabalhadores começaram a se organizar em aparelhos privados de hegemonia para lutar por seus direitos. Como o capitalismo passou por um processo de desenvolvimento, passando da manufatura para a industrialização – se utilizando de processos como cooperação simples, divisão do trabalho e uso de máquinas –, isso fez com que os trabalhadores fossem reunidos em um único lugar para ampliar o mais-valor (MARX, 2010), fato que, contraditoriamente, possibilitou a organização do movimento operário.

Portanto, para Mandel (1982), a crescente influência do movimento operário fez com que se conquistasse o sufrágio universal e maior participação na democracia formal, sendo que o surgimento de poderosos partidos da classe trabalhadora, fez com que aumentasse a urgência e o grau da função integradora do Estado. Havia igualdade formal (cidadão/eleitor) “[...] dissimulando a desigualdade fundamental do acesso ao poder político, que é uma

decorrência da profunda desigualdade de poder econômico entre as classes na sociedade burguesa.” (MANDEL, 1982, p. 338). Portanto, se economicamente uma função vital do Estado é administrar as crises, possibilitando as condições gerais da produção por meio de políticas governamentais anticíclicas, socialmente deve haver um esforço para “integrar” o trabalhador, seja como consumidor, “parceiro social” ou “cidadão” (MANDEL, 1982).

O poder integrador do sistema estatal burguês fez com que quadros dirigentes dos partidos de massa da classe operária e dos sindicatos fossem cooptados.

A rigorosa utilização do Estado burguês como arma dos interesses de classe dos capitalistas é escondida tanto dos atores quando dos observadores e vítimas dessa tragicomédia pela imagem mistificadora do Estado como árbitro entre as classes, representantes do “interesse nacional”, juiz neutro e benevolente dos méritos de todas as “forças pluralistas”. (MANDEL, 1982, p. 347, grifo do autor)

Desta forma, embora Gramsci (1976) apontasse que os partidos políticos tivessem a função de equilibrar e arbitrar os interesses da sociedade civil e do Estado, isto era realizado tendo por base as necessidades das classes que estes representam e fazem parte.

A forma como o Estado burguês se estrutura – separação dos poderes e uma burocracia profissional – faz com que se previna o exercício direto do poder pela classe trabalhadora (MANDEL, 1982). Sobre a separação dos poderes, Gramsci (1976) aponta que foi fruto de luta entre a sociedade civil e o Estado em determinado período para manter o equilíbrio instável entre as classes, de tal forma que a ideologia liberal se convenceu da necessidade do princípio da divisão dos poderes.

Corroborando com o entendimento acima de Mandel, Gramsci (1976, p. 65) aponta que a técnica política moderna teve uma mudança completa após 1848, pois a “[...] expansão do parlamentarismo, do regime associativo sindical e partidário, da formação de amplas burocracias estatais e “privadas” (político-privadas, partidárias e sindicais) e das transformações que se verificaram na política num sentido mais largo [...]”. Desta forma, houve mudanças no aparelho estatal, do conjunto das forças organizadas pelo Estado e da sociedade civil, buscando o domínio político e econômico das classes dirigentes (GRAMSCI, 1976).

Por consequência, as classes dominantes perceberam, por meio do Estado, que poderiam agregar demandas das classes subalternas sem, contudo, abalar a subalternização de classe, vez que esta era uma forma de reforçar a hegemonia burguesa. Assim, reforça-se a busca por manter a ordem social vigente, pois “um aparelho de Estado que não preserva a

ordem social e política seria tão impensável quanto um extintor de incêndio que espalha chamas ao invés de apagá-las.” (MANDEL, 1982, p. 348).

A classe burguesa utiliza-se de todos os meios para manter seu poder. Inicialmente promete e decreta reformas38 – o Estado transforma qualquer rebelião em reformas que o sistema possa absorver (MANDEL, 1982) – mas, em último caso, usa a força bruta, se utilizando inclusive de ditadura, pois a democracia é uma concessão burguesa que, a depender dos interesses em jogo, pode ser suprimida (HARVEY, 2008). Deste modo, o Estado capitalista, “fundamentalmente continua sendo o que sempre foi, um “grupo de homens armados” contratados para manter a dominação política de uma classe social.” (MANDEL, 1982, p. 349). Por outro lado, “ao contrário do que era para Marx e Engels, hoje os capitalistas não “arregimentam os homens que manejarão as armas” que desferirão o golpe mortal no capitalismo. Eles criam milhões de trabalhadores temporários, instáveis, amedrontados, amarrados ao nexo monetário.” (PETRAS, 2010, p. 245).

A partir desta discussão mais geral sobre o Estado capitalista e suas funções de garantia das condições gerais de produção, de repressão e integração, passamos ao debate de um momento específico do Estado: o capital-imperialismo. Isto será realizado tendo por base o Estado brasileiro e sua inserção neste processo.