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Principais programas do Ministério do Esporte nos Governo Lula e Dilma

GOVERNO DO PT: DE LULA A DILMA

2.6 A POLÍTICA DE ESPORTE NOS GOVERNOS LULA E DILMA

2.6.4 Principais programas do Ministério do Esporte nos Governo Lula e Dilma

A seguir apresentamos os principais programas esportivos desenvolvidos pelo ME ao longo dos governos Lula e Dilma. Teremos como ponto de partida os PPAs elaborados por estes governos (PPAs 2004-2007, 2008-2011 e PPA 2012-2015), pois eles são documentos que estabelecem as políticas públicas a serem realizadas por um governo, apresentando diretrizes, objetivos e metas para que a administração pública estabeleça seus gastos. No Quadro 1, apresentamos os programas e seus objetivos no âmbito do ME nos PPAs 2004- 2007 e 2008-2011.

Quadro 1 - Os programas e seus objetivos no âmbito do Ministério do Esporte nos PPAs 2004-2007 e 2008-2011

PPA 2004-2007 PPA 2008-2011

Programa Objetivo Programa Objetivo

Brasil no Esporte de Alto Rendimento

Melhorar o desempenho do atleta de rendimento brasileiro em competições nacionais e internacionais e promover a imagem do País no exterior

Brasil no Esporte de Alto Rendimento - Brasil Campeão

Democratizar o acesso ao esporte de alto rendimento, com o objetivo de diminuir as disparidades de resultados entre as modalidades esportivas e melhorar o desempenho do atleta de rendimento brasileiro em competições nacionais e internacionais, como forma de promover a imagem do País no exterior

Esporte e Lazer na Cidade Promover o acesso ao esporte recreativo e ao lazer Esporte e Lazer da Cidade

Ampliar, democratizar e universalizar o acesso à prática e ao conhecimento do esporte recreativo e de lazer, integrados às demais políticas públicas, favorecendo o desenvolvimento humano e a inclusão social

Esportes de Criação Nacional e de Identidade Cultural

Incentivar a prática das modalidades esportivas de criação nacional e de identidade cultural, possibilitando a difusão e o conhecimento da sua história

Gestão das Políticas de

Esporte e de Lazer Coordenar o planejamento e a formulação de políticas setoriais e a avaliação e controle dos programas na área do esporte

Gestão das Políticas de Esporte e de Lazer

Coordenar o planejamento e a formulação de políticas setoriais e a avaliação e controle dos programas na área do esporte

Inserção Social pela Produção de Material Esportivo

Contribuir para a inserção social por meio da fabricação de material esportivo por detentos, adolescentes em conflito com a lei e por populações em situação de vulnerabilidade social

Inclusão Social pelo Esporte

Contribuir para a inserção social por meio da fabricação de material esportivo por detentos, adolescentes em conflito com a lei e por populações em situação de vulnerabilidade social

Rumo ao Pan 2007 Realizar os Jogos Pan-Americanos de 2007 na cidade do Rio de Janeiro

Segundo Tempo Democratizar o acesso e estimular a prática esportiva dos alunos da educação básica e superior Vivência e Iniciação Esportiva Educacional - Segundo Tempo

Democratizar o acesso ao esporte educacional de qualidade, como forma de inclusão social, ocupando o tempo ocioso de crianças, adolescentes e jovens

O PPA 2012-2015 têm inovações em relação aos PPAs anteriores, pois foi organizado em três dimensões: estratégica, que estabelece a visão de futuro, os valores e os macrodesafios; tático, que abrange os programas temáticos e seus objetivos; e operacional, onde estão as ações orçamentárias, as metas e iniciativas em relação a cada objetivo (BRASIL, 2012). Na política esportiva, a atuação governamental passou a se organizar pelos programas temáticos: “Esporte e Grandes Eventos” e “Programa de Gestão e Manutenção do ME”. Desta forma, ao invés de ter a organização da política esportiva pelos programas finalísticos, como ocorria nos PPAs 2004-2007 e 2008-2011, o PPA 2012-2015, corresponde aos objetivos de um único programa temático, tendo sido unificados os programas de gestão.

Objetivos do programa temático “Esporte e Grandes Eventos” (BRASIL, 2012): • Ampliar e qualificar o acesso da população ao esporte e ao lazer, por meio de

articulações intersetoriais, promovendo a cidadania, a inclusão social e a qualidade de vida.

• Elevar o Brasil à condição de potência esportiva mundialmente reconhecida, com apoio à preparação de atletas, equipes e profissionais, da base a excelência esportiva, com estímulo à pesquisa e inovação tecnológica, qualificação da gestão, melhoria e articulação das estruturas, com segurança e conforto nos espetáculos, fomentando a dimensão econômica.

• Coordenar, monitorar e fomentar os esforços governamentais de preparação e realização da Copa 2014 e eventos a ela relacionados.

• Coordenar e integrar a atuação governamental na preparação, promoção e realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, considerando a geração e ampliação do legado esportivo, social e urbano, bem como implantar a infraestrutura esportiva necessária.

Não realizaremos uma discussão sumária de cada um dos programas finalístico ou dos objetivos dos PPAs, mas apresentaremos aqueles que foram prioritários nas ações desenvolvidas pelo ME ao longo de 2003 a 2015. Ao compararmos os objetivos presentes no nos PPAs do governo Lula em relação aos do governo Dilma, é possível perceber uma grande modificação, pois nos de Lula a maior parte dos programas estavam associados à prática e vivência esportiva da população, sendo que no PPA 2012-2015 o foco esteve sobre os grandes eventos esportivos e o esporte de alto rendimento (o próprio título do programa temático do esporte deixa claro isso).

O PPA 2012-2015 foi impactado diretamente pelo que foi estabelecido na III CNE, bem como no PDEL, sobretudo no sentido de fortalecer o esporte de alto rendimento e a realização dos grandes eventos esportivos. Estes, passaram a ser o princípio organizador das políticas esportivas e daquilo que foi desenvolvido no âmbito do ME, processo esse iniciado durante o governo Lula e consolidado no governo Dilma.

A partir da Lei 12.395/2011, as ações para garantia do acesso ao esporte passaram a estar articuladas pela Rede Nacional de Treinamento (RNT), cujo objetivo era otimizar os recursos para que mais pessoas pudessem praticar o esporte, buscando tornar o país uma potência esportiva. A RNT conta com 31 universidades, três clubes, três instalações militares, três complexos multiesportivos, cinco instalações estaduais, sete instalações municipais e uma instalação federal, além da previsão de 254 Centros de Iniciação ao Esporte (CIE) (BRASIL, 2016b).

Figura 1 - Estrutura da Rede Nacional de Treinamento

Fonte: MINISTÉRIO DO ESPORTE (2017).

Como pode ser visto na Figura 1, a RNT apresenta uma estrutura piramidal, em que na base são colocados os programas sociais de iniciação esportiva, e no ápice os centros especializados de treinamento e os atletas de alto rendimento. No meio da pirâmide estão os

centros regionais e locais de treinamento para formação dos “talentos” esportivos identificados na base, pela iniciação esportiva.

Desta forma, temos revitalizada a pirâmide esportiva, pois “[...] a RNT se organiza segundo o mesmo modelo esportivo vigente no país desde o período da ditadura militar, isto é, prevalece a ideia da pirâmide esportiva. A diferença é que naquele momento a base da pirâmide era a Educação Física escolar e atualmente são os programas sociais.” (PNUD, 2017, p. 276). A Portaria do ME 01/201697 apontou que

a RNT coordenará decisões, ações, agentes, parceiros e unidades operacionais, incorporadas aos planos e projetos esportivos orientados pela política de desenvolvimento do esporte, nas suas diversas manifestações, integrando pessoas, infraestruturas esportivas, práticas e programas vinculados ao esporte, bem como estimular seu desenvolvimento nos âmbitos nacional, regional e local, fomentando a prática de modalidades dos programas olímpico e paralímpico.

A coordenação da RNT é do ME com contribuição direta do COB e do CPB, demonstrando que o seu objetivo é muito mais selecionar, formar e treinar atletas, do que democratizar o acesso ao esporte. Portanto, fica claro o quanto a tônica da prática esportiva foi mudada com o PT na presidência, tendo os programas sociais de esporte ficado funcionais ao processo de detecção de talentos.

Uma ação do ME em relação à RNT foi de construção dos CIEs, sendo inserido como uma ação da segunda edição do PAC 2, instituído pela Portaria nº 14/201398, caracterizando-o como “[...] um equipamento público multiuso – localizado preferencialmente em áreas de vulnerabilidade social – que comporta atividades e a prática de esportes voltados à iniciação esportiva e ao esporte de alto rendimento, estimulando a detecção de talentos e a formação de atletas”.

Os Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs) são ginásios poliesportivos e áreas de apoio que, a depender do modelo, podem agregar quadra externa e pista de atletismo. Os CIEs podem ser de três modelos diferentes (1.600m², 2.750m² e 3.700m²), de acordo com o tamanho do terreno disponível. Dos que estavam em construção em 2015, 18 seriam no Centro-Oeste, 75 no Nordeste, 26 no Norte, 99 no Sudeste e 35 no Sul (BRASIL, 2016b).

Os CIEs foram concebidos para ser uma ponte entre os programas de iniciação esportiva e os centros regionais de treinamento das diferentes modalidades esportivas que

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Disponível em:

http://www.esporte.gov.br/arquivos/snear/redenacionaltreinamento/02_09_2016_Portaria_n_01-

01_08_2016-diretrizes_da_Rede_Nacional_de_Treinamento.pdf. Acesso em: 23/04/2018.

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também estão sendo construídas pelo país. Tanto os CIEs, quanto a RNT são apontados como legados dos Jogos Rio 2016, devido a perspectiva de possibilitar mais instalações esportivas no Brasil, bem como a prática esportiva.

No âmbito do esporte de alto rendimento, a principal política ao longo dos governos Lula e Dilma foi o Programa Bolsa Atleta (PBA), que foi criado como resultado da I CNE com o objetivo de contribuir para que os atletas pudessem se preparar para participar de competições esportivas, sendo o público alvo atletas de modalidades olímpicas e paralímpicas, bem como modalidade vinculadas ao COI e ao Comitê Paralímpico Internacional. O PBA foi instituído pela Lei nº 10.891/200499, regulamentado pela Lei nº 5.342/2005100 e alterado pela Lei nº 12.395/2011. As bolsas são concedidas em 6 categorias diferentes, a partir da última modificação:

• Categoria Atleta Base – o valor é de R$ 370,00, é voltada para aqueles atletas das categorias iniciantes que tenham de 14 a 16 anos, sendo definida pela respectiva entidade de administração esportiva nacional;

• Categoria Estudantil – o valor é de R$ 370,00, é destinada aos atletas participantes de eventos nacionais estudantis reconhecidos pelo ME, devendo ter de 14 a 20 anos; • Categoria Atleta Nacional – direcionada a atletas que tenham participado de eventos

de âmbito nacional, sendo indicada pela respectiva entidade de administração esportiva do esporte e atendendo a critérios fixados pelo ME, com valor da bolsa de R$ 925,00;

• Categoria Atleta Internacional – bolsa de R$ 1.850,00, voltada para atletas que tenham integrado a seleção brasileira de sua modalidade esportiva ou representado o Brasil em competições internacionais, devendo ser reconhecido pela entidade de administração esportiva;

• Categoria Atleta Olímpicos ou Paralímpicos – destinado a atletas que tenham participado de Jogos Olímpicos ou Paralímpicos e cumpra os critérios definidos pelo ME, com valor de R$ 3.100,00; e

• Categoria Atleta Pódio101 – direcionado para atletas de modalidades olímpicas ou paralímpicas individuais que estejam entre os 20 melhores do mundo em sua prova,

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.891.htm. Acesso em: 23/04/2018.

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Decreto/D5342.htm. Acesso em: 23/04/2018.

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Esta foi a única categoria criada pela Lei nº 12.395/2011, às outras cinco já existiam desde a criação do programa.

devendo ser indicado pelas entidades de administração esportiva do esporte em conjunto com o COB, CPB e o ME. O valor da bolsa é de R$ 15.000,00.

A Lei 12.395/2011 trouxe grandes alterações para o PBA, e uma delas foi permitir que os atletas com patrocínio privado pudessem concorrer e receber a bolsa do programa. Também limitou em 15% o valor total repassado para atletas de modalidades olímpicas e paralímpicas, tendo garantido a priorização do programa para atletas que tinham condições de disputar medalhas nos Jogos Rio 2016, atendendo a deliberação da III CNE de colocar o Brasil entre os 10 primeiros colocados no número de medalhas.

O Programa Bolsa Atleta forneceu 46.246 bolsas de 2005 a 2015, sendo que no governo Lula foram 13.917 bolsas, enquanto no governo Dilma foram 32.329 bolsas (TEIXEIRA et al., 2017). Houve um fortalecimento deste programa no governo Dilma, haja vista o foco do esporte de alto rendimento de obter se melhor resultado nos Jogos Rio 2016. Há críticas levantadas de que o PBA destinaria recursos para atletas prontos, uma vez que priorizou, ao longo do tempo, atletas que já estavam competindo nacional e internacionalmente em esporte olímpicos e paralímpicos, isto é, estando próximos ao topo da pirâmide esportiva (PNUD, 2017; TEIXEIRA et al., 2017).

Os dois principais programas esportivos desenvolvidos pelos governos Lula e Dilma foram o Programa Segundo Tempo (PST) e o Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC). No governo Lula, enquanto o primeiro foi concebido e desenvolvido pela SNEE, secretaria que ficou sob a responsabilidade do PCdoB, o segundo foi pela SNDEL, cuja direção tinha ficado com quadros do PT. Com a reestruturação do ME pelo Decreto 7.529/2011, os dois programas ficaram com apenas uma secretaria finalística, a SNEELIS.

Castellani Filho (2008) afirma que estes dois programas sociais esportivos, tendo por base a execução orçamentária e ao quantitativo de pessoas atendidas, não podem ser definidos como políticas sociais esportivas. Além disso, aponta que houve uma priorização dentro do ME do PST em relação ao PELC. É importante salientar que, nos documentos do PST e do PELC, não é apresentado que seus objetivos estejam relacionados com a seleção de talentos esportivos. Pelo contrário, estavam apresentados com o propósito de possibilitar a prática e a vivência do esporte.

O PST foi criado pela Portaria Interministerial nº 3.497/2003102 do ME e do Ministério da Educação (MEC). Ele buscava democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte de maneira a “[...] promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens como

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fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente daqueles que se encontram em áreas de vulnerabilidade social e regularmente matriculados na rede pública de ensino.” (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2011, s. p.). Ele buscou se pautar pelos seguintes princípios: a reversão do quadro de injustiça, exclusão e vulnerabilidade social; o esporte como direito de cada um e dever do Estado; a universalização e inclusão social; e a democratização da gestão e da participação (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2011).

A maneira de implementar o PST foi por meio de núcleos de esporte educacional através de parcerias com entidades públicas e privadas sem fins lucrativos (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2011). Ao longo do governo Lula (2003 a 2010) teriam sido criados 21.277 núcleos, distribuídos em 2.387 municípios, tendo atendido a 3,8 milhões de crianças e adolescentes. É importante pontuar que até 2007 o PST era direcionado apenas crianças, adolescentes e jovens matriculados em instituições de ensino, tendo passado a ser aberto para qualquer criança e adolescente em situação de risco social (MATIAS, 2013b).

Uma variação do PST é o Programa Força no Esporte, desenvolvido pelo Ministério da Defesa (MD) em parceria com o ME e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Ao MD coube ceder os locais e a estrutura para o funcionamento dos núcleos e os serviços médicos e odontológicos, enquanto o ME auxilia com pagamento de estagiários e professores e aquisição de materiais, e o MDS, com a alimentação. Em 2015, o Programa Forças no Esporte teria atendido 21 mil crianças, em 89 cidades de 26 unidades da federação (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2016).

Outra estratégia que foi desenvolvida para que o PST tivesse mais atendimentos foi a parceria com o MEC, por meio da inserção dos princípios pedagógicos do PST no Programa Mais Educação103. O ME era responsável por fornecer material esportivo e formação dos monitores, enquanto o MEC ficou responsável pelos recursos financeiros para contratar monitores e materiais específicos das modalidades esportivas desenvolvidas. Foi graças a esta parceria que o PST conseguiu, ao longo do PPA 2012-2015, manter os atendimentos a 3,7 milhões de crianças e adolescentes.

Athayde (2011) apresenta que o PST tinha um forte caráter propagandístico, tanto que era proclamado como o maior programa socioesportivo do mundo. Além disso, Athayde (2011) aponta que a criação dele parecia expressar uma nova relação entre o Estado e o esporte no Brasil no sentido de política social, elemento que, como vimos em Castellani Filho (2008), não se concretizou.

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Programa do MEC instituído pela Portaria nº 17/2007, regulamentado pelo Decreto nº 7.083/2010, buscou ampliar a jornada escolar dos estudantes da escolas da rede pública de ensino fundamental em todo o Brasil.

O PELC foi criado em 2003, tendo sido fruto de experiências de gestores públicos que estiveram à frente de secretarias municipais e estaduais de esporte que pertenciam ao âmbito popular/democrático da política, além do acúmulo de conhecimentos de setores acadêmicos da Educação Física e das Ciências do Esporte (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2008).

Para Castellani Filho (2007, p. 6), um dos seus principais idealizadores, o PELC nasceu “[...] com o objetivo de responder a questões amplamente detectadas no quadro social brasileiro, indicativas de que parcela significativa da população brasileira não tem acesso ao lazer [...]”. Portanto, o PELC surge com o objetivo de “[...] suprir a carência de políticas públicas e sociais que atendam às crescentes necessidades e demandas da população por esporte recreativo e lazer, sobretudo daquelas em situações de vulnerabilidade social e econômica [...]” (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2008, p. 1).

Dessarte, o PELC partia do reconhecimento do lazer como um direito social, assim “[...] buscou expressar a vontade política e dar ação à ação governamental o sentido e a direção a materialização do direito social aludido, oferecendo respostas à necessidade social por política de lazer apoiada no projeto histórico de emancipação humana.” (CASTELLANI FILHO, 2007, p. 7, grifos do autor). O PELC se organizava a partir de três eixos centrais: a) o funcionamento de núcleos de esporte recreativo e de lazer; b) funcionamento da Rede CEDES (Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e Lazer); e c) Implantação e modernização de infraestrutura para esporte recreativo e lazer.

O funcionamento de núcleos de esporte recreativo e lazer é a forma como são operacionalizadas as atividades do programa, sendo espaços para o atendimento da comunidade. Os núcleos do PELC

[...] abrangem oficinas de diversas manifestações culturais possibilitando a caracterização de um espaço de convivência social. As oficinas culturais, como atividades sistemáticas, ocorrem de duas a três vezes por semana em espaço e/ou equipamento de lazer inserido na comunidade. E os eventos, como atividades assistemáticas, ocorrem de acordo com a culminância das ações de um determinado núcleo. (FIGUEIREDO, 2009)

Os núcleos PELC até 2008 atendiam a dois segmentos: um que era intergeracional e atendia criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, bem como pessoas com deficiência e com necessidades educacionais especiais; e outro que atendia apenas pessoas acima de 45 anos, denominado Vida Saudável – em 2013 o Programa Vida Saudável se tornou independente do PELC, passando a ser direcionado apenas para pessoas a partir de 60 anos. Posteriormente, surgiu um tipo de núcleo do PELC voltados aos povos e comunidades tradicionais. Foi

estabelecido uma parceria do PELC com o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), vinculado ao Ministério da Justiça, voltado para jovens de 15 a 24 anos envolvidos com situação de violência (BRASIL, 2010).

No âmbito da Rede CEDES104, buscou-se configurar um sistema nacional de documentação e informação esportiva para a implementação de pesquisas sobre políticas públicas de esporte recreativo e de lazer, e para o fomento e a difusão de eventos científicos e o apoio a publicações (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2008). Este eixo buscou promover uma aproximação entre o conhecimento acadêmico e a realidade concreta nos núcleos de atendimento do PELC (FERES NETO; VIEIRA; ATHAYDE, 2012).

A implantação e modernização de infraestrutura para esporte recreativo e lazer esteve associada a construir uma infraestrutura de esporte e lazer para atender ao funcionamento dos núcleos do PELC (CASTELLANI FILHO; VERONEZ; LIÁO JÚNIOR, 2008). Entretanto, conforme discutiremos com maior profundidade no próximo capítulo, estas obras atenderam muitos mais a interesses particularistas de parlamentares no atendimento das suas bases eleitorais.

De 2003 a 2010, teriam sido atendidos pelos núcleos do PELC mais de 10,6 milhões de pessoas em 1.277 municípios (TEIXEIRA et al., 2014). Para termos uma ideia da drástica redução do atendimento deste programa, na vigência do PPA 2012-2015 foram atendidos apenas 291 municípios (BRASIL, 2016b). As principais dificuldades para expansão do PELC seriam os poucos recursos dirigidos a ele e a má distribuição da infraestrutura esportiva e de lazer entre os municípios brasileiros (TEIXEIRA et al., 2014; FERES NETO; VIEIRA; ATHAYDE, 2012; CASTELLANI FILHO, 2008).

Nos PPAs 2004-2007 e 2008-2011 havia um programa voltado para a inserção/inclusão social a partir da produção de material esportivo por detentos, adolescentes em conflito com a lei e populações em situação de vulnerabilidade social. Este programa envolveu duas linhas principais: a ação Pintando a Liberdade, que gerou emprego para 13 mil internos do Sistema Prisional Brasileiro; e a Ação Pintando a Cidadania, que envolveu a mão- de-obra de 2.499 pessoas de comunidades carentes, proporcionando-lhes uma renda mensal. De 2003 a 2010 foram produzidos 8,6 milhões de itens de material esportivo, tendo atendido cerca de 40 milhões de atendimentos às pessoas envolvidas em programas esportivos sociais (BRASIL, 2010).

Fica evidente, portanto, pela análise dos principais programas desenvolvidos pelo ME de 2003 a 2015, que os grandes eventos esportivos se tornaram o elemento organizador das políticas esportivas no país. Expressão disso é que a Rede Nacional de Treinamento passou a abarcar praticamente todos os programas e ações do ME, retomando a pirâmide esportiva, se utilizando inclusive dos programas sociais esportivos que não tinham uma perspectiva de identificação e seleção de talentos esportivos.

Tendo realizado este debate sobre os governos Lula e Dilma no âmbito mais geral e no