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Com a intenção de resumir os levantamentos realizados nessa análise das entrevistas, essa subseção reúne, de forma sintetizada, os principais pontos apurados ao longo da pesquisa, com base em todo o referencial teórico e na pesquisa de campo realizada.

Inicialmente, há uma percepção de todos os entrevistados de que o sistema de saúde do município não funciona como uma rede integrada e horizontalizada em que os serviços se comunicam e estabelecem um fluxo ágil de atendimento e caminho do cuidado em saúde dos usuários. As unidades, em seus diferentes níveis de atenção, atuam de forma desconectada umas das outras e a rede fica fragmentada. Há também escassez de verbas e de profissionais suficientes para atender as demandas de saúde da população.

Tendo como base a Rede de Atenção à Saúde (RAS), nota-se que há um esforço do município em implantar esse formato de organização na saúde pública, dada a configuração do fluxo de atendimento, cuja porta de entrada é a Atenção Básica (AB). No entanto, na RAS, essa Atenção Primária à Saúde precisa estar fortalecida, robusta e preparada para ser a ordenadora do cuidado em todo o caminho de atenção ao usuário e para atuar como o centro de comunicação do sistema. A percepção predominante é que, em São Carlos, existe uma AB fragilizada, com poucos profissionais, infraestrutura insuficiente para atender as necessidades da população, ausência de capacitação e treinamento das equipes, trabalhadores desmotivados e comunicação falha entre as unidades.

Outros fatores também foram apontados como influenciadores desse contexto, como a ausência de uma gestão mais técnica, que se paute por um olhar mais aprofundado para as necessidades de saúde da população, por meio de levantamentos e distribuição das unidades de atendimento; interferência de fatores políticos nas ações e na sua continuidade, especialmente quando há mudanças da Administração do município; e a necessidade de tecnologia apropriada que agilize o fluxo das informações entre as unidades da rede, sejam referentes a questões mais internas/administrativas da rede ou do percorrer dos usuários pelo sistema de saúde.

Com a AB fragilizada há uma sobrecarga na média complexidade. Isso se explica pelo fato de a AB não ter condições de acompanhar e dar continuidade ao tratamento de pacientes que já teriam condições de deixar a atenção secundária e voltar para sua unidade de referência. Com isso, a média complexidade não consegue abrir novas vagas e acaba absorvendo casos que poderiam ficar na AB.

Compreende-se que esse contexto do campo da saúde pública de São Carlos se reflete também na comunicação dentro da rede, que é falha, que não permite um fluxo de informação ágil, proativo e resolutivo entre as unidades. Apesar de haver um caminho da informação que se configura na responsabilidade da Regulação em multiplicar as informações entre as unidades, esse fluxo não funciona adequadamente, gerando problemas na referência e contra-referência dos pacientes, prejudicando a efetividade do atendimento em saúde para a população.

O Departamento de Regulação da SMS compreende que essa realidade existe e relatou o empenho de esforços para melhorar essa condição, como a recente implantação da CROSS (sistema para agendamento das consultas e exames), que ainda não envolve todas as demandas da rede, como as cirurgias, e engessa, de certa forma, a autonomia das unidades em reorganizar suas agendas de atendimento; reuniões periódicas com a AB para multiplicar informações e resolver problemas pontuais das unidades e suas equipes; reflexão sobre os processos de trabalho no sentido de dar mais agilidade e efetividade ao trabalho já realizado.

Em relação à USE, a importância da Unidade como prestadora da rede, inclusive com serviços exclusivos para atender algumas necessidades dos usuários de São Carlos e microrregião é nítida, mas há uma incompreensão por parte da rede no que se refere ao papel e à natureza da USE. Além da assistência aos usuários, a Unidade também tem foco na formação dos estudantes e se configura também como espaço para o desenvolvimento de ações de pesquisa e extensão e, por ter sua força de trabalho relacionada à presença dos alunos em estágio, seu funcionamento também acontece conforme o calendário acadêmico. Neste caso, a Unidade acaba recebendo críticas por diminuir os atendimentos durante determinados períodos do ano. Além disso, nota-se que as unidades têm informações muito desencontradas sobre a USE.

Essa constatação se revela por meio dos relatos uníssonos de encaminhamentos errados que chegam à USE, sem informações sobre as necessidades de saúde dos pacientes e com usuários desinformados e perdidos no fluxo do atendimento na rede, mesmo com um padrão mínimo de encaminhamento determinado pela Regulação. Dentro da USE também há um desalinhamento de informações e dos processos realizados, o que prejudica uma atuação homogênea dentro da equipe. O contato entre a USE e as unidades é voltado majoritariamente para assuntos pontuais sobre referência e contra-referência ou casos de pacientes. A necessidade de aproximação da USE com os demais equipamentos de saúde da rede é reconhecida pelos atores internos e externos da Unidade, que já tem iniciado algumas medidas para melhorar essa comunicação, como a reformulação recente do site e criação de páginas em redes sociais e promoção de alguns eventos abertos a profissionais de saúde. Apesar disso, essas iniciativas ainda não deram conta de publicizar todos os serviços e agendas da USE para a rede.

Além disso, a Unidade lida com a autonomia dos docentes e a pouca relação com os departamentos da UFSCar, que, por sua vez, não compreendem a necessidade da USE, inclusive financeira, de estar associada à rede de saúde de São Carlos. Em alguns casos, isso gera um descompasso entre as ofertas da Unidade, pautadas nos interesses de ensino e pesquisa, e a demanda da rede do SUS. É evidente que a USE-UFSCar não tem a função de atender a

demanda de saúde do município, pois seu foco é voltado à formação de futuros profissionais, envolvendo espaços para pesquisa e extensão. No entanto, é necessário buscar um equilíbrio entre esse papel e as necessidades de saúde demandas pelo SUS local.

Diante do escopo desse trabalho, fica claro que o plano de comunicação externa da USE que será proposto não tem como objetivo resolver os problemas da rede e dar solução às questões que envolvem o gestor municipal da saúde, até porque a USE não tem gerência sobre esse cenário. No entanto, compreende-se que uma relação mais próxima com as unidades de saúde, que são a base do sistema, pode reverberar de forma positiva na gestão, implicando em mudanças nesse cenário e uma consolidação mais expressiva da USE no campo da saúde pública do município. A partir da análise realizada foi possível levantar produtos e ações de comunicação que ampliem as possibilidades da USE de se aproximar das unidades da rede e melhorar seus canais de contato e divulgação de informações necessárias para as unidades. Isso será importante para consolidar seu papel na rede e aumentar as chances de conquistar mais recursos. A proposta dessas ações e produtos será apresentada no plano de comunicação da próxima seção, considerando as limitações da USE de recursos financeiros para a comunicação e de profissionais da área.

6 PLANO DE COMUNICAÇÃO EXTERNA PARA A USE-UFSCar

Conforme expõe Kunsch (2016), é preciso pensar a comunicação nas organizações em um contexto mais amplo que permita reflexões mais profundas e abrangentes da realidade das instituições. Baccega et al. (2002) já apontava transformações no estudo da comunicação que passou a se preocupar também com a inter-relação entre emissor e receptor, considerando a importância de se conhecer o repertório desses polos. Nessa mesma compreensão, Tureta e Júlio (2016) também reforçam que a estratégia das organizações envolve considerar os atores sociais, suas ações e interações para definir a melhor forma de se relacionar com seus públicos. A análise feita até aqui segue esse caminho e apresenta o conhecimento do campo de atuação da USE-UFSCar, principalmente no que se refere à sua interação com a rede pública de saúde de São Carlos. Dentro do escopo desse trabalho, a proposta é apresentar um plano de comunicação externa composto por ações e produtos que serão ferramentas importantes para apoiar a USE na consolidação do seu papel na rede de saúde pública de São Carlos, em uma relação mais próxima e efetiva com as demais unidades da rede, desempenhando seu papel de ensino e formação, o que, futuramente, pode se tornar parte do embasamento para a conquista de mais recursos.

Os públicos que se relacionam com a USE já foram apresentados na subseção 3.1.1.1, mas é importante destacar que nem todos estão contemplados nesse plano, visto que alguns seriam foco de um plano de comunicação interna, que pode até se tornar propósito de pesquisa futura, e outros não foram foco do presente trabalho por questões de limitação para entrevistas com grandes amostras de diferentes públicos. Sendo assim, serão considerados os seguintes pilares (públicos) deste plano de comunicação externa: imprensa; comunidade externa, envolvendo a sociedade de São Carlos, usuários da USE e seus familiares e até pessoas que integram a UFSCar; unidades de saúde de São Carlos e microrregião, incluindo seus profissionais e gestores; e o gestor local da saúde São Carlos, o que inclui a SMS e a Regulação.

É importante ressaltar que esse trabalho não desenvolveu pesquisa direta com usuários e com a totalidade de integrantes da comunidade externa, mas são públicos que serão automaticamente atingidos ao se elaborar estratégias de comunicação embasadas no levantamento feito junto às unidades de saúde de São Carlos e ao gestor da saúde municipal. O atendimento aos usuários, por exemplo, terá reflexos de um processo de comunicação bem elaborado e desenvolvido entre a USE e as unidades, sem contar que alguns produtos sugeridos no plano serão produzidos para informação a esse público. Já a comunidade externa terá mais

conhecimento sobre a USE e sua atuação a partir da comunicação realizada junto à imprensa, que constantemente, já abre espaços para notícias sobre a USE-UFSCar.

O ambiente interno da USE, com levantamento feito junto a representantes das categorias que atuam na Unidade, também não foi foco desse estudo, mas entende-se a sua importância e a necessidade de elaboração de plano de comunicação interna detalhado, que pode ser desenvolvido em pesquisa futura. O que pode ser levantado a partir das entrevistas realizadas foi que a comunicação interna da USE é insuficiente. As informações são divulgadas por e-mail para os profissionais, docentes e alunos e há murais que podem servir para veiculação de informações sobre a Unidade também para o público interno. No entanto, falta um fluxo formal e padronizado de informação entre as equipes e o reconhecimento da importância que esse fluxo tem para o atendimento aos usuários que chegam à Unidade. Também é preciso aprimorar o trânsito mais ágil de informações entre as linhas de cuidados e suas ações e as demais equipes da USE que atendem na linha de frente os usuários encaminhados. Essas ações precisam ser contempladas em um plano de comunicação interna e contar com estratégias defendidas pela gestão e impulsionadas pelo envolvimento da equipe e demais integrantes da USE.