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Fluxo de informação na rede de saúde pública de São Carlos

5.1 CAMPO DE AÇÃO ESTRATÉGICA

5.2.2 Fluxo de informação na rede de saúde pública de São Carlos

Como já foi apresentado ao longo deste trabalho, o Departamento de Regulação, Controle e Avaliação da Secretaria Municipal de Saúde tem, entre outras atribuições, manter o fluxo das informações sobre a rede entre as unidades. De acordo com a Regulação, todas as informações recebidas pelo Departamento são repassadas para as chefias das unidades por e- mail ou nas reuniões periódicas realizadas: “Vem pro Departamento aqui e a gente passa para as unidades. Acho que isso precisava ser mais claro. Eu sei que todo mundo oferece coisas, mas, assim, é as pessoas saberem, terem claro isso. Porque acho que muitas vezes a gente deixa de encaminhar por desconhecer. E encaminha errado também pelo mesmo motivo” (E12). E11, que representa a SMS, acredita que a comunicação é fundamental na rede de saúde, mas aponta que ainda é algo a ser melhorado na gestão: “Acho que isso é fundamental, acho que a comunicação, ela é fundamental para que tudo aconteça. Eu acho que eu, a gente sempre aqui na gestão, quando a gente aponta ‘vamos olhar os pontos positivos e negativos’, eu acho que a comunicação é bem ruim”. O entrevistado cita que há o projeto de um sistema informatizado que vai reunir todas as informações e procedimentos dos pacientes dentro da rede pública, em todos os níveis de atenção, acreditando que isso agilizará e qualificará o atendimento: “Agora você imagina a hora que o médico abrir uma tela com seu nome, seu prontuário, sabe tudo o que você fez. ‘Olha, ela fez um hemograma ontem. Vai colher, não vai? Não, está aqui’. Você consegue economizar, consegue ser ágil, consegue salvar mais vidas” (E11).

A maior parte das unidades reconhece que esse fluxo de informação não é suficiente e dificulta o processo de referência e contra-referência dentro da rede. Os trechos a seguir mostram a dificuldade de comunicação entre as unidades: “Não, não é. Eu tenho unidade que é

muito difícil de você falar. A gente não consegue falar lá. É uma unidade que você liga, liga e não consegue falar, nunca atende. E, às vezes, a gente tem o sistema para agendamento, e não tem vaga. Às vezes, precisa de alguma informação, você não consegue. É difícil até entre unidades. Tem unidades que você consegue” (E23); “Não [é suficiente]. O setor de referência e contra-referência ele acaba não funcionando. Já aconteceu de você mandar paciente pro posto e ele voltar” (E25); “Mas é por conta disso, uma Atenção Básica precaríssima. Isso deve dificultar muito a parte da comunicação, chega uma hora que você não sabe nem como você vai orientar o paciente, ou como fazer o paciente”. (E14); e “Eu acho, que assim, não é suficiente [o processo de comunicação] porque você percebe no dia a dia. Você percebe tanto de ambas as partes, que estão no serviço, tanto do serviço como dos usuários. Se ele se bastasse, eu teria um fluxo acontecendo, mas não” (E12).

Na visão dos entrevistados, se esse fluxo de informação fluísse, se as unidades conhecessem as ofertas umas das outras, o resultado seria bastante positivo para o encaminhamento mais efetivo dos usuários: “Se eu entendo que não tem o serviço ali eu não encaminho, eu crio outra alternativa, outra estratégia para dar conta das necessidades. Se não tem essa informação, a gente acaba encaminhando e o usuário vai e acaba achando a porta fechada” (E16); “Paciente viria mais esclarecido, eu acho. Para gente, que é funcionário, eu acho que otimizaria o serviço. Acho muito importante, pertinente isso” (E20); “Eu acho que teria uma melhora significativa. É justamente a falta de informação que faz com que haja tantas falhas no sistema, né? Com certeza haveria uma melhora com isso, com a informação” (E25); e “Seria perfeito. Seria excelente. Facilitaria muito o fluxo, ia ser perfeito, ia melhorar muito o fluxo” (E17).

Em relação às informações e/ou orientações da USE chegarem às unidades da rede, há respostas diferentes: “Vem por e-mail. A Federal passa para a chefia e a chefia repassa para a gente. Funciona. A cada 15 ou 20 dias, ou qualquer alteração na USE, seja de horário, de agendamento, a USE funciona assim, assim e assim. Quando é notícia mais complexa, a gente imprime e já deixa na recepção. Sempre vem por e-mail” (E24); “Eles [USE] informam em bolsão, assim. Como a USE agora está no CROSS aparece para o profissional da Regulação ‘A USE está dando tantas vagas para tal ou a USE está solicitando vaga’. Aparece isso, mas não tem um canal, assim, falta canal de comunicação. Eu acho que falta também mais associação das gestões. As gestões precisam estar mais próximas, eu acho que isso está atrapalhando um pouco...aquela coisa de olhar sistemicamente” (E17); “Não, nunca [recebe informação/orientação sobre a USE]. Se tem, eu desconheço” (E18); e “Geralmente, são feitas reuniões administrativas e a gestora da Unidade dá a devolutiva nas nossas reuniões de equipe

sobre o que tem e não tem” (E16). Alguns entrevistados relatam que a troca de informações sobre a USE acaba ficando mais restrita a contatos informais com pessoas que atuam na Unidade, como relata E2: “Fica mais nas relações e as conversas com as pessoas”. Outra fala também mostra isso: “Não fico [sabendo informações sobre a USE], e uma vez ou outra que gente ouve alguma coisa de falar é por esse contato, assim, com os professores que têm esse apoio e estudantes que circulam aqui” (E21).

Nesse contexto da divulgação das informações da USE para a rede, as entrevistadas da própria Unidade têm diferentes entendimentos sobre isso, o que retoma o desalinhamento da informação dentro da Unidade. E3 aponta que as informações são enviadas para a Regulação, “mas a gente não manda falando número de vagas. Tem um relatório que a Administração disponibiliza. O serviço eles já sabem[...]A coordenação executiva informa, sempre que tem serviço novo, principalmente ambulatórios médicos, eles informam. Olha, está aberta vaga na saúde... Então, aí tem iniciativas particulares de alguns professores ou profissionais que nesses grupos de WhatsApp acabam divulgando” (E3). Sobre isso, E5 acredita que o repasse das informações é por e-mail ou em reuniões: “Eu não sei dizer com propriedade. Em algumas conversas que eu participei, é por e-mail. Então, quando tenta marcar a reunião com o secretário, com diretor de Atenção Básica, eu ouço a chefe falar: ‘Nós mandamos um e-mail’...E aí eu vejo muito essa falha, mas fulano respondeu e outro fulano não respondeu. Será que vai fazer a reunião ou não vai? E tal... Mas eu entendo que é por e-mail” (E5). Os três próximos trechos de entrevistas com profissionais da USE também trazem informações diferentes: “Nós temos aqui o profissional que é responsável pelas agendas do CROSS e então essas informações sempre chegam pra ele. Ou através dos próprios profissionais que estão oferecendo a ação, ou pela gestão da USE. E aí, quando chegam pelas profissionais ele confere com a gestão da USE. Tudo ok. Quando chega pela gestão, ele já faz que está tudo acordado. Mas a gente tem essa figura aqui dentro” (E10); “Por meio do site da USE. O número de vagas disponíveis na maioria das atividades desenvolvidas na USE não é divulgado para as unidades de saúde, exceto os ambulatórios inseridos no CROSS” (E1) e “Eu acho que não informa. Eu acho que as únicas informações que eles têm são as informações de quando é feita pactuação, dos serviços, do que vai oferecer. Então, fica uma informação de um ano, pelo menos, quando é feito o relatório anual. Não é algo constantemente atualizado” (E6).

Há um reconhecimento da gestão da USE de que esse processo de divulgação das informações sobre a Unidade para a rede ainda é um desafio: “Esse processo de comunicação não é suficiente. Considerando o grande número de ações desenvolvidas na USE, precisaria de um servidor para gerir as informações de comunicação e, também, realizar busca ativa de

informações e divulgá-las” (E1). Nesse aspecto, a Regulação reconhece que recebe as informações sobre a USE e as repassa para as Unidades, mas aponta que esse fluxo não garante que todos se apropriem e repliquem as atualizações de forma satisfatória: “Por mais que, toda vez, que cria um novo ambulatório ou uma nova especialidade dentro da USE, alguma oferta, a gente [Regulação] comunica as unidades. Isso é comunicado, mas, muitas vezes, essa comunicação não é garantida 100%. Porque, assim, quando chega via Secretaria, a Secretaria nos comunica. A gente, o nosso ponto de comunicação é o supervisor, é uma pessoa, né? Da unidade. A gente cobra dessa pessoa que ela dissemine isso para toda a equipe, até porque eu tenho uma equipe além da equipe que trabalha ali diretamente no agendamento, eu tenho a equipe multi, que às vezes, o multiprofissional ele não sabe de tudo isso. E, às vezes, você percebe que não chega a todos. É uma coisa que tem que cobrar o tempo todo. Então, tem uma falha aí nessa comunicação de chegar realmente a todos os atores. Chega, mas não chega a todos eles” (E12).

Na próxima subseção serão apresentados canais, produtos e ações de comunicação que foram mais citados pelos entrevistados e que poderiam ser aplicados como ferramentas para aprimorar esse fluxo de informação na rede.