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Chega-se ao final do presente trabalho com a certeza de que a proteção à confiança legitimamente depositada pelo cidadão em atos administrativos insofismavelmente constitui preceito fundamental à concretização do Estado Democrático de Direito, eis que diretamente decorrente dos princípios da segurança jurídica e, mediatamente, do próprio princípio do Estado de Direito.

Possui, portanto, essa proteção, plena aplicação em todas as áreas do direito administrativo pátrio. Isso é especialmente verdadeiro no que se refere aos contratos administrativos, eis que a sua observância é essencial para a regular a efetivação desse verdadeiro instrumento de concretização de políticas públicas constitucionalmente previstas.

De fato, conforme assinalado, a Administração Pública não possui condições de, sozinha, satisfazer completamente os anseios da população, sem o auxílio da iniciativa privada. Em sendo assim, a proteção do interesse do particular contratado reveste-se de enorme importância, pois não há particular que deseje estabelecer relações contratuais com instituição carente de credibilidade, sem a segurança de que a outra parte irá cumprir com os termos do avençado.

Em suma, vê-se com desconfiança aqueles que não cumprem com a sua palavra, aqueles que não dão valor ao acertado por intermédio de um contrato. E esse sentimento não é diferente quando a Administração é uma das partes envolvidas.

Assim, crê-se que uma exagerada mutabilidade do contrato administrativo, escorada em uma incorreta invocação das prerrogativas que a exorbitância daquele tipo de avença atribui à Administração, constitui quebra na confiança depositada pelo particular, prejudicando a sua credibilidade perante os administrados. Além do flagrante dano ao contratado, é, também, prejudicada, a Administração, pois sofre mácula na sua credibilidade e, por conseguinte, tem afetado o seu poderio de contratação. Por via de consequência, é prejudicado o chamado interesse público, pois, sem contratação, não consegue a Administração, de forma isolada, cumprir com todas as suas atividades constitucionalmente previstas.

Como já enfatizado, não se está aqui defendendo a extinção das cláusulas exorbitantes, quer dizer, a impossibilidade de a Administração rescindir ou alterar unilateralmente o contrato administrativo. O que se advoga é que esse direito deve ser exercido com parcimônia, observando-se para tanto, obrigatoriamente, dois critérios: (i) deve-se respeitar, na medida do possível, as expectativas legitimamente depositadas pelos contratados nos termos originalmente avençados quando da assinatura do contrato, sendo essa proteção à sua confiança consubstanciada na observância das limitações à mutabilidade impostas pela própria lei e, se for o caso, pela caracterização de figuras típicas; e, (ii) as hipóteses de alteração e rescisão contratuais perpetradas unilateralmente pela Administração devem cingir-se à proteção do interesse público, motivo último, aliás, por detrás da sua criação.

Assim agindo, estar-se-á, de uma só vez: (i) respeitando a Constituição Federal, dado que o princípio da proteção à confiança é diretamente decorrente dos princípios da segurança jurídica e do Estado de Direito; (ii) zelando pelo interesse público, pois, com o aumento da credibilidade da Administração, mais empresas acorrerão aos procedimentos licitatórios, contratos mais vantajosos ao Erário serão firmados e mais serviços públicos serão satisfeitos; e, por derradeiro, (iii) contribuindo para o desenvolvimento do país.

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