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Capítulo 3: O índice de compromisso climático

3.3 Conclusões

Observando a informação contida nas páginas anteriores, algumas conclusões podem ser feitas em relação à evolução do compromisso climático das potências latino- americanas nos últimos 25 anos e seu atual posicionamento.

Se considerarmos a base de 1990, todos os países elevaram seu nível de compromisso climático em 2015, embora de forma muito heterogênea. O caso mais expressivo é o brasileiro, que ganhou no período mais de cinco pontos, e passou da

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 1990 2000 2007 2015 0 0 0 0,25 0 0 0 3,5 0 0 0,5 3,25 0 0 0 1 Venezuela Argentina Brasil México Colômbia 0,54 1,08 2,33 1,44 1,61 1,08 1,62 2,15 1,08 1,62 1,8 2,86 3,56 3,39 3,39 3,56 3,21 3,03 3,92 3,74 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 1990 2000 2007 2015 Venezuela Argentina Brasil México Colômbia

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categoria “muito baixo” em 1990 para um nível médio alto em 2015. México foi o segundo país em termos de aumento de nota, ganhando pouco mais de três pontos nesse tempo, e atingindo a categoria de compromisso médio alto trás iniciar em 1990 no nível baixo.

Entre os outros três países o ganho foi menor no período – aproximadamente 1 ponto para Argentina e a Venezuela e 1,5 para Colômbia – as duas primeiras partindo de um nível muito baixo e a Colômbia de um nível baixo no ano 1990. Com esse movimento a Argentina se posiciona apenas por cima da categoria de muito baixo compromisso, ao ponto que a Colômbia ingressa na categoria de compromisso médio em 2015. A Venezuela se mantém no nível de muito baixo compromisso climático.

O incremento no nível de compromisso climático se torna mais visível a partir de 2007, fundamentalmente pela adoção de políticas climáticas no Brasil e no México, tanto domésticas como internacionais. Esses movimentos são quase nulos na Venezuela e na Argentina e muito baixos na Colômbia. Como vimos, o fato da maior parte da mudança no período ter sido no perfil de políticas tem implicações para a nossa proposta causal contida no ponto 3 dessa tese.

O gráfico anterior permite observar também algumas diferenças em termos de agrupamento de países. Entre 1990 e 2007 aparecem basicamente dois grupos, o menos conservador - Colômbia e México - com níveis baixos de compromisso climático, oscilando entre os 3 e os 4 pontos; e os outros três formando o grupo mais conservador, que manifesta níveis de compromisso climático muito baixo, com a exceção da Venezuela em 2007.

No entanto, em 2015, a adoção de políticas climáticas por parte do Brasil e do México opera uma mudança nos agrupamentos: esses dois países formam agora um grupo moderado, inexistente antes, e próximo dos 6,5 pontos; a Argentina e a Venezuela continuam formando parte do grupo mais conservador, oscilando ao redor dos 2 pontos. Finalmente, a Colômbia, se mantém no mesmo grupo, mas que agora ocupa uma posição intermediária entre os dois anteriores, ao redor dos 5 pontos.

Em termos de análise por caso, o México é o país mais comprometido dessa amostra no ano 2015 (6,81/10), pela combinação de uma nota média alta no perfil de emissões (3,56/5) com uma nota média no perfil de políticas (3,25/5). México tem sido o líder do ranking em três dos quatro pontos considerados, liderança alimentada pelo seu perfil de emissões antes de 2007 e por ambos o perfil de políticas e emissões em 2015.

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O Brasil é o segundo país em termos de compromisso climático em 2015 (6,35/10), combinando uma pontuação média no perfil de emissões (2,86/5) e média alta no perfil de política (3,5/5). O Brasil foi o país que mais escalou posições no período considerado - oscilando entre a terceira e quarta colocação entre 1990 e 2007 - apoiado no processo de redução de emissões por controle de desmatamento desde 2005 e de estabelecimento de políticas climáticas desde 2009.

A Colômbia ocupa a terceira colocação entre os grandes da América Latina em 2015, devendo a maior parte da sua pontuação total (4,74) ao perfil de emissões (3,74/5). Essa ausência de políticas solidas de mitigação (1/5) faz com que o país perca a segunda posição para o Brasil em 2015 - depois de ter oscilado entre o segundo e o primeiro lugar entre 1990 e 2007 - ainda quando a economia brasileira seja mais carbonizada que a colombiana.

A Argentina é o quarto país em termos de compromisso climático em 2015, com um total de 2,65 pontos sobre 10, resultante de uma baixíssima nota no perfil de políticas (0,5/5) e uma baixa nota no perfil de emissões (2,15/5). O país começou o período no terceiro lugar do ranking - por cima do Brasil - para depois cair ao último posto em 2000 e 2007.

Finalmente, a Venezuela apresenta o menor nível de compromisso climático em 2015 (1,69/10), devido a uma baixa nota no perfil de emissões (1,44/5) e ao ter pontuado a mínima nota no perfil de políticas (0,25). A Venezuela tem sido consistentemente o quinto colocado da amostra, com a exceção de 2007, quando se colocou terceira.

Para fechar esse segmento, parece relevante destacar que os resultados do ICC para o 2015 permitem observar uma correlação positiva entre o perfil de emissões e o perfil de politicas, já que os países que pontuam mais baixo no perfil de emissões também o fazem no perfil de políticas, nomeadamente a Argentina e a Venezuela. Contrariamente, os países com melhores notas no perfil de políticas têm as melhores notas no perfil de emissões, a saber, o Brasil e o México. A exceção nessa correlação é a Colômbia, que tem notas superiores ao Brasil e o México no perfil de emissões, mas pontua muito baixo no perfil de políticas. Essa correlação se vê mais claramente na tabela seguinte:

Tabela 20: Consistência valores de perfil de emissões e perfil de políticas

País Argentina Brasil México Colômbia Venezuela

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emissões Ranking Políticas

3,5 2 1 3,5 5

Fonte: Elaboração própria

Essa correlação entre perfil de emissões e política observada através dos resultados do ICC é consistente com uma hipótese que surge da análise qualitativa dos casos, e que nos capítulos a seguir exploramos com mais detalhe. Nos casos mexicano e brasileiro - únicos entre os cinco com metas de mitigação estabelecidas ao longo do período - o movimento inicial de estabelecimento de políticas climáticas se aproveitou do fato de que alguns setores da economia estavam previamente reduzindo emissões.

Tipicamente, esses eram setores em que o custo de mitigação era baixo: controle do desmatamento na Amazônia no caso brasileiro; controle do desmatamento, reflorestação e, descarbonização da matriz elétrica no caso mexicano. Na Colômbia, onde as políticas de compromissos apenas está decolando, o caso aparenta ser o mesmo, isto é, o aproveitamento de opções baratas – sob o conceito de co-benefícios – para construir as estratégias de mitigação.

Em termos mais específicos, avançamos uma correlação e duas hipóteses, como sugerido na introdução:

Existe uma correlação entre o perfil de emissões e o perfil de política nos cinco países analisados nessa pesquisa: os casos que tem perfil de emissões menos carbonizado tem políticas de clima mais sólidas.

Isso não significa que as políticas estejam gerando queda de emissões, senão que os países utilizam os rumos positivos das emissões para criarem políticas neles baseados – Hipótese 1: empacotamento.

Assim, existiria uma sequência de políticas climáticas: na fase 1 nada existe, na fase 2 certas ações de baixo custo – desmatamento, substituição energética - são empacotadas como política de mitigação e, na fase 3, ações de mitigação com alto custo são abordadas – Hipótese 2: sequência de políticas climáticas.

No caso do Brasil e do México, essas políticas setoriais com impactos positivos sobre mitigação foram eventualmente incluídas como o eixo central das políticas climáticas com metas sobre fins do 2000s e se tornaram relativamente convergentes com a estabilização climática global no horizonte de 2020. No entanto, se considerado o horizonte de 2030, nenhum dos dois países têm as suas metas de mitigação alinhadas com o cenário de 2C, fato que sugere que as estratégias de mitigação baratas não são

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suficientes para o horizonte de 2030. Nesse sentido, maior esforço e necessário, ou colocado na linguagem dessa pesquisa, é preciso uma transição da segunda para a terceira fase da sequência de políticas climáticas no Brasil e no México.

Abordamos essa hipótese, e outras alternativas do rumo do compromisso climático nos grandes países da América Latina, nos próximos dois capítulos. Para a parte 3 deixamos outra conclusão que se desprende da observação contida no parágrafo anterior: o argumento causal de que o nível de compromisso climático está influenciado pela percepção sobre o custo-benefício das políticas de mitigação.

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Capítulo 4: Compromisso climático no campo moderado