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Capítulo 2: Economia política do compromisso climático

2.2 A proposta de condicionantes do compromisso climático

2.2.2 Condicionantes de meio prazo

Parte da literatura aqui revisada destaca que certas características do ator estatal – particularmente a sua proporção presente e futura das emissões globais – o torna foco das pressões da comunidade internacional por maior esforço de mitigação (VICTOR, 2008; VIOLA ET AL, 2013; MEIROVICH, 2014; HOCHSTETLER E MILKOREIT, 2014). Essa leitura foi ratificada pelas entrevistas feitas no marco dessa pesquisa.

De forma que, a hipótese afirma que quanto mais destacada a posição do país no sistema internacional, maior seria a inclinação a estabelecer medidas de mitigação (RONG, 2010).

Utilizamos aqui uma forma simplificada para mensurar a posição do país no sistema internacional, a saber, a proporção de cada país sobre as emissões globais e sobre o PIB global, em termos de porcentagem.

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3. Qualidade do regime político

Esse segmento se alimenta da literatura que analisa o vínculo entre as características do regime político – incluída a noção de democracia – e o compromisso climático (HELD E HARVEY, 2009; BÄETTIG E BERNAUER (2009),; BERNAUER, 2013; VIOLA ET AL, 2013). Como já afirmamos, essa literatura não oferece uma resposta definitiva sobre essa relação e a concebe de diferentes formas. No entanto, e baseados nas reflexões de Held e Harvey (2009) e Viola et al (2013) afirmamos aqui a ideia básica de que quanto maiores sejam os impulsos soberanistas e de curto prazo no seio de uma sociedade – impulsos populistas - menor será o nível de compromisso climático do país.

Como medir o nível de populismo numa sociedade resulta extremamente difícil, decidimos usar como “proxi” desse conceito uma combinação da qualidade da democracia (The Economist) com a solidez das instituições econômicas, medidas pela taxa de risco país de Embi+ de JP Morgan17 e a qualidade da regulamentação do país (World Governance Indicators- WGI-BM18). A essa combinação chamamos qualidade do sistema político, reflexo simplificado da intensidade dos impulsos populistas que habitam uma determinada sociedade.

A escolha desses indicadores pode aparecer como uma simplificação exagerada; no entanto, esse segmento deve ser visto apenas como uma aproximação à problemática da influência do comportamento político – sintetizado como populismo - sobre o nível de compromisso climático dos países. Muito trabalho é necessário para delimitar as fronteiras desse condicionante.

Finalmente, acreditamos que seja necessário sinalizar que esse condicionante se encontra emparentado com aquele referido ao perfil de inserção internacional do país já que, no fundo, ela também reflete os impulsos de curto ou longo prazo que dominam a sociedade. Assim, um comportamento político inclinado a priorizar o longo prazo, teria impactos sobre a qualidade das instituições econômicas e políticas domésticas, mas também sobre a forma de ver os assuntos internacionais, afastados da lógica do soberanismo e da procura de ganhos imediatos (VIOLA ET AL, 2013). No entanto, escapa aos limites dessa pesquisa sintetizar e definir precisamente uma categoria que pudesse albergar essa consideração. Novamente, mais pesquisa é necessária nessa área.

17 http://www.ambito.com/economia/mercados/riesgo-pais/

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4. Capacidade Estatal

A capacidade estatal, isto é, a capacidade das burocracias estatais de estabelecerem e implementarem políticas públicas (ENRIQUEZ E CENTENO, 2012), aparece como condicionante do compromisso climático em parte da literatura (VICTOR, 2008; STEVES E TEYTELBOYM, 2013). Ao mesmo tempo, esse fator apareceu entre as análises causais de alguns dos especialistas entrevistados nessa pesquisa.

Como já afirmamos, tendemos a considerar esse condicionante como pouco relevante para a nossa tese, porque o nosso foco tem sido o estabelecimento de políticas de clima e não a sua implementação. A razão dessa escolha é que nos casos em que de fato existem políticas de mitigação com metas – o Brasil e o México - elas são de vida recente – muito recente no caso da Colômbia. Ainda, essas metas têm como limite os anos 2020 e 2030, de forma que se trata de um processo em andamento.

De todos os modos, e como veremos na parte 3, fizemos o esforço de comparar a capacidade estatal entre os países da amostra para ver que conclusões era possível extrair. Para medir a capacidade estatal, utilizados os indicadores de governança do Banco Mundial19, em particular a categoria “government effectiveness”.

5. Forças ideacionais pró descarbonização

Boa parte da literatura aqui revisada (DOLSAK, 2001; FRANCHINI E VIOLA, 2013; HOCHSTETLER E VIOLA, 2012; BERNAUER, 2013; NEVER E BETZ, 2014; EDWARDS E ROBERTS, 2015) destaca o papel de certas forças que são principalmente sociais e políticas e operam sobre a agenda pública para obstaculizar ou estimular a agenda de baixo carbono.

Esses agentes variam de sociedade em sociedade, mas tipicamente envolvem ONGs, partidos políticos e comunidades epistêmicas. Outros atores - como movimentos sociais ou sindicatos – podem, em princípio, também ocupar algum papel; no entanto, não achamos evidência na análise dos casos que nos incline a contemplá-los. As entrevistas feitas ao longo dessa pesquisa tendem a confirmar a escolha.

Todavia, existe outra força ideacional central que opera sobre o nível de compromisso climático – particularmente sobre o perfil de políticas: o estado da opinião pública em relação à necessidade da descarbonização (GIDDENS, 2009; BERNAUER, 2013). Ela opera em relação complexa com as outras forças ideacionais e incluso com a

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noção de democracia (BÄETTIG E BERNAUER, 2009; STEVES E TEYTELBOYM, 2013). Não obstante, foge das possibilidades e foco dessa pesquisa uma análise dessa relação, de forma que avaliamos apenas a presença de cada um desses elementos em termos comparados. A nossa análise do impacto dessas forças ideacionais é qualitativo para cada um dos casos; alimentado por estudos de opinião, fontes secundarias e, entrevistas.

6. Forças materiais pró descarbonização

Na maioria dos países existem empresas, grupos de empresas e setores econômicos que por diversos motivos se percebem como ganhadores ou perdedores na transição para uma economia de baixo carbono, e por tanto, decidem estimular ou obstaculizar as políticas de mitigação dos respectivos governos. Como vimos, o papel desses atores é destacado por parte da literatura (DOLSAK, 2001; HOCHSTETLER E VIOLA, 2012; UNDERDAL ET AL, 2012; VIOLA E FRANCHINI, 2014; STEVES E TEYTELBOYM, 2013); ao tempo que foi ressaltado nas entrevistas realizadas para essa pesquisa.

A definição que utilizamos tende a ser ampla, mas envolve empresas individuais ou associações de empresas, sejam elas formadas por motivos setoriais – associações industriais ou agrícolas – ou por motivos específicos, como da defesa de uma determinada agenda.

2.2.3. Condicionantes de curto prazo