• Nenhum resultado encontrado

A importância adquirida pelo etanol como fonte de energia para o setor de transporte conferiu ao Brasil posição de destaque no mercado para fornecimento do produto, tendo em vista o pioneirismo na utilização deste energético como combustível veicular desde o Proálcool em 1975.

O lançamento dos veículos flex fuel em 2003 permitiu a expansão do consumo de etanol no mercado interno e, no restante do mundo as preocupações ambientais associadas a dificuldades para obtenção de petróleo e elevações no preço deste recurso, levaram diversos países, de modo similar ao Brasil, a implantar programas para substituir parcialmente os combustíveis derivados de fonte fóssil e, neste caso o etanol está sendo utilizado em mistura à gasolina em um número variado de países.

O país acumulou grande experiência na produção da matéria-prima (cana-de-açúcar) e do etanol, desenvolveu tecnologia, aperfeiçoou processos melhorando a produtividade agrícola e industrial, tornou-se um dos maiores produtores mundiais de etanol e atualmente tem condições de levar a tecnologia para outros países que desejam implantar programa similar ao brasileiro. Além destas conquistas, os produtores originalmente formados por empresas de origem familiar aprimoraram mecanismos de gestão, profissionalizando seus negócios.

O setor também possui como característica a possibilidade de produzir outros produtos, como a energia elétrica, a partir do bagaço da cana, e o açúcar propriamente dito, que aumentam a competitividade da indústria nacional e, frente a outros países produtores, a posição geográfica do Brasil permite o cultivo da matéria-prima em ampla faixa do território nacional em diferentes períodos do ano.

Assim, esta distribuição espacial permite a existência de unidades produtoras em várias regiões e a produção de etanol em quase todos os meses do ano, favorecendo a logística de distribuição do biocombustível para os centros consumidores.

Embora os programas para implantação do etanol como combustível veicular visem a substituição parcial da gasolina, deve-se ter em mente que o etanol combustível, puro ou em mistura na própria gasolina, é utilizado de forma complementar ao combustível fóssil. A parcela de gasolina substituída pelo etanol permite diminuir a dependência dos derivados de fontes fósseis e aumenta a segurança energética.

O interesse de investidores estrangeiros no setor sucroenergético nacional sinaliza que o país reúne várias características que possibilitam ampliar a produção nacional de etanol, como disponibilidade de terras férteis e clima favorável para o cultivo de sua matéria-prima, a cana-de-açúcar. No entanto, existem importantes questões a serem equacionadas para que o potencial brasileiro de atender plenamente a demanda interna e fornecer o produto para outros mercados não seja prejudicado.

Também é importante lembrar que o setor conta com uma única matéria-prima – a cana-de-açúcar, cuja destinação para a produção de etanol e açúcar costuma variar de acordo com as condições de mercado destes produtos.

A valorização do etanol modificou a visão dos produtores de cana e etanol, que passaram a ser tidos como produtores de energia e atraiu importantes players do mercado global interessados no controle dos ativos de produção do setor, que se traduziu no Brasil em investimentos de diversas empresas estrangeiras. Entre os investidores encontram-se empresas da área de alimentos, interessadas na produção de açúcar, e também importantes empresas do setor de petróleo, como Petrobrás, Shell e BP, cuja participação na produção de etanol passa a ter um caráter estratégico, uma vez que já produzem outros combustíveis fósseis e, com o etanol garantem participação no mercado de biocombustíveis.

Devem ser cuidadosamente tratadas questões como desequilíbrio entre oferta e demanda durante a safra e entressafra; formação de estoques reguladores, que já foi um problema marcante na época do Proálcool; linhas de crédito para viabilizar a expansão e renovação dos canaviais, evitando falta de matéria-prima; oscilações de preço para o consumidor e adequada distribuição das margens de comercialização pelos elos da cadeia produtiva.

A recente inclusão da atividade de produção de etanol entre as atribuições da ANP indica a relevância do setor sucroenergético e a necessidade de definir políticas que contribuam para o desenvolvimento do biocombustível, garantindo oferta, qualidade e preço do produto, assim como ocorre na produção dos demais combustíveis derivados do petróleo. A experiência da ANP na regulação do mercado de combustíveis certamente auxiliará a regulação do mercado de etanol, embora este agregue características agrícolas e industriais, que ainda não são amplamente dominadas pelo órgão regulador.

Devido ao papel complementar exercido pelo etanol em relação à gasolina, obtida a partir do refino da matéria-prima petróleo, é necessária também uma análise da produção desta matéria-prima, fornecendo uma percepção da oferta e consumo de petróleo no território nacional.

Assim, para a produção de petróleo, a abertura do segmento de E&P, desde 1997, à participação de outras empresas nacionais ou estrangeiras, permitiu a ampliação da atividade exploratória trazendo desenvolvimento econômico e social para o setor de petróleo e para o país, dado o efeito indutor que o segmento possui dentro da economia nacional. Retratam esta evolução a 12ª posição do Brasil no ranking dos países produtores de petróleo em 2010 e a sétima posição entre os maiores consumidores de petróleo no mundo.

Inicialmente o número de empresas nacionais a participar das Rodadas de Licitações promovidas pelo órgão regulador do setor para concessão das atividades de exploração e produção de petróleo foi reduzido, o que é explicado pelo longo período de monopólio exercido pela Petrobrás. À medida que as licitações foram realizadas novas empresas de variadas origens participaram do processo e, atualmente observa-se um razoável número de concessionárias nacionais, se comparado ao mercado em que havia somente uma empresa até alguns anos atrás – a Petrobrás. De 1999 até 2008, várias empresas estrangeiras do setor trouxeram seus primeiros investimentos para o país e novas empresas nacionais também investiram no segmento, cuja participação aumentou de forma gradativa ao longo deste período.

internacionais, como BP, Shell e Chevron, que trouxeram importantes investimentos para o país; algumas estatais estrangeiras, como a Ecopetrol, Statoil e Sonangol;

empresas estrangeiras de E&P e também algumas produtoras de petróleo independentes, como Anadarko, Woodside, Perenco, Petrolatina, HRT e PetroRecôncavo. Foi possível também a formação de um novo mercado de pequenas e médias empresas que atuam em áreas compatíveis com seu perfil e porte empresarial, geralmente localizadas em bacias maduras terrestres.

Estes agentes investiram no mercado nacional de E&P com a expectativa de ampliar seu campo de atuação, que deve ter se acentuado a partir da descoberta da província do pré-sal. As empresas buscam ampliar sua produção através de acesso às reservas em áreas promissoras, com potencial exploratório e o investimento nestas atividades reflete a expectativa de que o processo de abertura do mercado seja contínuo e de que novas áreas sejam concedidas, de forma periódica, como ocorreu até 2008 com a Décima Rodada de Licitações.

Neste período a Petrobrás teve atuação expressiva, arrematando cerca de 50% de todos os blocos arrematados, resultado que retrata o conhecimento, experiência e competência técnica adquiridos pela empresa ao longo de décadas do monopólio.

Outro fator que também favoreceu a atuação da estatal, notadamente nas primeiras Rodadas, foi o tempo relativamente curto de abertura do mercado.

Outra característica marcante nas Rodadas de Licitações da ANP foi a atuação, em especial, das empresas estrangeiras de grande porte, através de parcerias com a Petrobrás, visando entre outros, troca de know-how tecnológico e garantia de participar ao lado de uma empresa que possui significativo conhecimento e experiência na geologia do país. O respeito e a credibilidade conquistados pela estatal no mercado internacional também contribuíram para que as novas concessionárias estabelecessem parcerias com a empresa. As novas empresas entrantes no setor passaram a representar potenciais parceiros para a Petrobrás, ao invés de competir diretamente com esta, o que permite à estatal continuar participando na exploração em áreas sob o regime de concessão, podendo, em paralelo, investir em outras áreas de interesse estratégico, como a região do pré-sal.

Contudo, o desenvolvimento e manutenção do segmento de empresas que atuam em atividades de exploração e produção dependem de uma política de incentivos relacionados à realização regular de Rodadas de Licitações, que além de atender a demanda das empresas, também beneficiam socioeconomicamente os Estados e Municípios onde se realizam as atividades e contribuem para ampliar o conhecimento geológico das bacias sedimentares brasileiras. Assim as Rodadas de Licitações para concessão de novas áreas nas regiões com risco exploratório devem ser retomadas para que se possa manter uma área mínima em exploração, possibilitando a realização de novas descobertas nos próximos anos, uma vez que ainda existem questões a serem resolvidas até que as áreas do pré-sal ou aquelas consideradas estratégicas possam ser licitadas.

Além das relevantes mudanças relativas ao marco regulatório que estes dois segmentos estão passando: a atividade de produção de etanol passou a ser regulada pelo Governo Federal e interrupção no ritmo da outorga de novas concessões para as atividades de exploração e produção de petróleo devido a descoberta do pré-sal, que trouxe para o cenário nacional o modelo de partilha da produção, ocasionando a suspensão das Rodadas de Licitações e o adiamento de vários investimentos no setor, nota-se também que a exploração da cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção de etanol, e a exploração de petróleo, matéria-prima para a produção de gasolina, contam no cenário nacional com a atuação de empresas estrangeiras, como a Shell e British Petroleum, além da estatal nacional Petrobrás, que atua nos dois segmentos, retratando o papel relevante do país na produção de petróleo e etanol.

Outra característica importante destes mercados é o seu grau de interligação, visto que o etanol hidratado representa aproximadamente cinquenta por cento do consumo de gasolina A no setor de transportes e, desta forma, os movimentos ocorridos no mercado de etanol são capazes de afetar a demanda de gasolina e vice-versa. Para ilustrar tal situação, pode-se citar a política governamental de controle da inflação através da manutenção no nível de preço da gasolina, que ocasiona uma situação desfavorável para as oscilações de preço do etanol

do biocombustível e prejudicando seu desempenho junto aos consumidores.

Além disso, os volumes de produção de cana e etanol obtidos nas duas últimas safras (2010/11, 2011/12) refletem problemas conjunturais do setor, tais como: falta de investimentos agrícolas (endividamento do setor), valorização do preço do açúcar (quebra de safra na Índia) destinando uma parcela maior de cana para a produção de açúcar, e valorização do real nos últimos anos, que gera reflexos negativos para o setor uma vez que torna a produção brasileira mais cara levando a perda de competitividade nos mercados externos. Somado a esse cenário, as condições climáticas também têm afetado a produção de cana e, consequentemente a oferta de etanol não tem sido suficiente para atender a demanda da crescente frota de veículos flex fuel. As retrações na oferta de etanol têm sido tão significativas que, além de levar o governo a reduzir o teor de etanol anidro na gasolina, gerou também a necessidade do país importar este combustível para atender a crescente frota nacional de veículos. Assim, o Brasil cuja produção nacional de gasolina era capaz de atender a demanda do mercado interno, tendo inclusive excedentes disponíveis para exportação, passou de uma situação confortável para um novo cenário no qual fez-se necessária a importação do combustível fóssil.