• Nenhum resultado encontrado

condições de produção dos textos; extraído de Bronckart (2006a: 146) Arquitexto

Nebulosa de géneros 1. Diferenças objetivas 2. Classificações explícitas 3. Indexações • Conteúdo • formas de interação • valor atribuído Texto empírico (exemplar de género)

71 representações sociais. Acolhendo as proposições de Habermas, Bronckart distingue três ordens de saberes, ou mundos formais:

O mundo objetivo O mundo social O mundo subjetivo

Neste âmbito, Bronckart ([1997]1999: 91) distingue a situação de ação de linguagem externa da situação de ação de linguagem interna. A primeira corresponde às características dos mundos formais, enquanto a segunda diz respeito às representações desses mundos, ou seja, o modo como um agente as interioriza. Embora só tenhamos acesso direto à situação de ação de linguagem externa, são as propriedades da situação de ação interiorizada que influenciam a produção textual. Neste sentido, as ações de linguagem de que resultam os textos são “unidades psicológicas sincrónicas que reúnem as representações de um agente sobre contextos de ação, em seus aspetos físicos, sociais e subjetivos” (Bronckart, [1997]1999: 107). Importa, porém, sublinhar que, para além dos parâmetros sincronicamente implicados na situação de ação, temos ainda, recorde-se, os pré-contruídos da história social humana (praxeológicos e gnosiológicos). Os de ordem praxeológica correspondem às já referidas atividades coletivas não-verbais (ou atividades práticas) e às atividades coletivas de linguagem. Quanto aos pré-construídos de ordem gnosiológica, estes são o conjunto de saberes produzidos pelas gerações anteriores.

3.1.2. Texto e contexto

Como referido atrás, a realização de qualquer ação de linguagem implica a existência de um agente que dispõe de três conjuntos de representações: referentes aos parâmetros contextuais de ordem física, aos parâmetros de ordem social e subjetiva, bem como outras representações e conhecimentos. Deste ponto de vista, para o ISD, o contexto é entendido como o conjunto de parâmetros físicos e sociosubjetivos que influenciam a construção textual e são as representações destes que constituem as propriedades dos mundos formais.

72 Açã o de lin g ua g em Co nte x to Físico o Emissor o Recetor o Momento o Lugar

Sociossubjetivo o Quadro social

o Papel social do emissor (enunciador) o Papel social do recetor (destinatário) o Finalidade(s) da interação

Outros conhecimentos e representações (tema(s))

Quadro 6: parâmetros contextuais; elaborado a partir de Bronckart ([1997]1999: 93)

Tal como se sistematiza no quadro acima, os parâmetros contextuais de ordem física são os sujeitos físicos, distinguindo-se, por um lado, o emissor, como a pessoa (ou máquina) que produz o texto, na modalidade escrita ou oral e, por outro, o recetor, como a(s) pessoa(s) que irão receber o texto.21 Além disso, de ordem física, temos também o momento e o lugar em que se realiza a ação, ou seja, onde e quando é que o texto é efetivamente produzido. Relativamente ao contexto sociossubjetivo, Bronckart decompõe em quatro parâmetros: o quadro social (instituição ou quadro da interação em que se realiza a ação), o papel social assumido pelo emissor (enunciador) e o papel social atribuído ao recetor (destinatário). Isto significa que o(s) emissor(es) e recetor(es) físicos assumem ou lhes são atribuídos diferentes papéis sociais, consoante o quadro social da interação. Outro parâmetro de ordem sociossubjetiva é a finalidade e diz respeito ao efeito que o texto é susceptível de produzir no destinatário (Bronckart, [1997]1999: 93).

Relativamente a outras representações e conhecimentos, estes dizem respeito, entre outros, ao conjunto de conhecimentos que o agente dispõe sobre os temas verbalizados no texto. Como já foi referido anteriormente, os textos podem tematizar referentes do mundo físico, do mundo social, do mundo subjetivo ou articular refentes dos diferentes mundos (Bronckart, [1997]1999: 97).

21 Como sublinha Miranda (2010: 50), estes “agentes da produção e da receção podem ser individuais ou

coletivos, e, para o interlocutor, identificáveis ou não”. Benveniste (1989: 84) parece assumir uma perspetiva semelhante: “(…) desde que ele se declara locutor e assume a língua, ele implanta o outro diante de si, qualquer que seja o grau de presença que ele atribua a este outro. ”.

73

3.1.3. Uma perspetiva de complexidade

Conforme observámos anteriormente, na perspetiva do ISD, o texto é encarado como resultado de um processo dinâmico que envolve múltiplos elementos de natureza heterogénea em interação. Neste sentido, esta abordagem das condições de produção dos textos e o estatuto do texto como unidade comunicativa constituem uma forma de reconhecer e lidar com a complexidade textual, conforme observado por Coutinho (2003), Miranda (2010) e Gonçalves (2010). Esta perspetiva de complexidade é ainda mais evidente, se confrontarmos alguns dos princípios do paradigma da complexidade com a abordagem do ISD, tal como se apresenta no quadro que se segue.

Paradigma da Complexidade Morin, [1982]2005: 332-334; Morin, Ciurana

& Motta 2003: 34-38

ISD

Bronckart, [1997]1999; 2008b Ser capaz de pensar o real como um todo e não

de o reduzir arbitrariamente a elementos redu- tores

Texto como unidade empírica comunicativa Objeto complexo

Validade, mas insuficiência do princípio da uni- versalidade. Princípio complementar e insepa- rável da inteligibilidade do local e do singular

Singularidade de cada texto como o resultado de uma ação de linguagem situada; realização con- creta do sistema linguístico numa determinada situ-

ação comunicativa

Necessidade de ligar o conhecimento dos ele- mentos ou partes aos conjuntos ou sistemas que

os constituem

Textos como produtos da atividade humana e das suas necessidades, sendo os correspondentes empí- ricos e linguísticos das atividades de linguagem.

Princípio de distinção, mas não disjunção entre o objeto ou ser e o seu meio ambiente

Distinção, mas não disjunção do texto do seu con- texto de produção

Reconhecimento da impossibilidade de isolar as unidades elementares

O todo não é igual à soma das partes: unidade e multiplicidade

O texto não é a soma dos elementos que o consti- tuem, mas é constituído pela totalidade desses ele-

mentos (unidade)

A apreensão da complexidade dos textos não é feita a partir da análise isolada dos elementos que en- tram na sua constituição, mas considerando a inte-

ração entre os diferentes elementos (multiplici- dade)

Necessidade de fazer intervir a história e os eventos em todas as descrições explicações

Pré-contruídos da história social humana: ordem praxeológica (atividades coletivas não-verbais e

atividades coletivas de linguagem); ordem gnosio-

lógica (conjunto de saberes produzidos pelas gera-

ções anteriores)

74 No quadro anterior, apresentamos, na primeira coluna, alguns dos principais princípios do paradigma da complexidade e, na segunda, pressupostos do ISD. Apesar de esta sistematização não dar conta de todas relações que podem ser estabelecidas entre os princípios do paradigma da complexidade e o quadro do ISD, existem pontos de convergência relevantes. Um aspeto fundamental é que a aceção do texto como unidade comunicativa implica a necessidade de analisar o texto como um todo que não é redutível à soma das suas partes, pois a sua unidade e multiplicidade só podem ser apreendidas se forem tidas em conta as relações entre os elementos que intervêm e interagem na produção textual. Neste sentido, os textos, devido à sua singularidade e à especificidade das diferentes situações de comunicação em que são produzidos, não podem ser analisados a partir de leis gerais, ou seja, tal como na perspetiva da complexidade, é necessário considerar o local e o singular. Além disso, a abordagem descendente privilegiada pelo ISD, que parte do global (social) para o particular (linguístico), também está em consonância com os princípios da complexidade, dado que as propriedades dos textos são relacionadas e dependem das propriedades das atividades com que se articulam, bem como das condições contextuais da situação produção e, consequentemente, das escolhas individuais de cada produtor. Nesta perspetiva, embora se distinga o texto do contexto, o segundo faz parte do primeiro, dado que a situação de ação de linguagem só se concretiza pelas representações contextuais do agente. Neste sentido, a aceção do texto como unidade comunicativa implica não reduzi-lo à soma dos elementos que o integram, mas considerar totalidade desses elementos em interação na sua globalidade. Isto significa, por um lado, que nenhum dos elementos que intervêm na produção textual tem uma relação de semelhança com o todo (o texto) e, por outro, são os múltiplos e heterogéneos elementos em interação que constituem o texto.

75

3.2. O modelo da arquitetura interna dos textos

Para além do modelo de ação de linguagem, Bronckart, baseando-se na análise de textos empíricos (Bronckart et al., 1985), propõe o modelo da arquitetura textual, para descrever a organização interna dos textos. Neste modelo de análise textual, o texto é concebido como um “folhado” que integra três camadas que se sobrepõem, evidenciando, assim, o caráter relativamente hierárquico da organização textual (Bronckat, [1997]1999: 119). O modelo abaixo apresentado corresponde ao esquema inicial desenvolvido por Bronckart.

Infraestrutura geral Planificação

Plano de texto Tipos

discursivos Modalidades de articulação dos TD Sequências e outras formas de planificação Mecanismos de textualização Coerência temática

Conexão Coesão nominal Coesão verbal

Mecanismos de responsabilidade enunciativa Coerência pragmática

Gestão de vozes Modalizações