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2.1 A ATIVIDADE TURÍSTICA COMO UM SISTEMA

2.1.3 O sistema de turismo

2.1.3.3 Conjunto da organização estrutural

Fazem parte desse conjunto os subsistemas da infra-estrutura e da superestrutura que serão detalhados a seguir.

a) Subsistema da infra-estrutura

A infra-estrutura é “[...] a disponibilidade de bens e serviços com que conta um país para sustentar suas estruturas sociais e produtivas” (BOULLÓN, 2002, p. 58). Ela geralmente não gera renda e é considerado um investimento público para grande parte dos empreendimentos turísticos (COOPER et al., 2001).

O subsistema da infra-estrutura tem como elemento principal às condições de acessibilidade à área de destinação turística – com seus componentes viários e de transporte; e a infra-estrutura urbana – saneamento básico, energia e comunicações, serviços de apoio (saúde e segurança) e organização territorial urbana.

Porém, não se pode atribuir os custos e benefícios da infra-estrutura a um único setor ou atividade, eles são distribuídos de uma maneira ampla e serve a diversos setores. Deve-se, então, fazer uma diferenciação entre a infra-estrutura geral e a específica. No primeiro caso, a infra-estrutura serve à atividade turística de forma incidental, bem como

aos demais setores, atividades e população em geral. No segundo, ela serve especificamente para os turistas, ou seja, é direcionada para a demanda turística (BENI, 1998). Como exemplo, podem-se citar os teleféricos, os acessos a atrativos e equipamentos turísticos, jardineiras para realizar city-tours com os turistas etc.

Salienta-se que o aumento do fluxo de turistas, muitas vezes, causa uma superutilização da infra-estrutura e, conseqüentemente, acaba ocasionando desconforto e problemas aos visitantes. A responsabilidade de ampliar e/ou incrementar a infra-estrutura necessária tende a ser do poder público, além de estimular, incentivar e apoiar a iniciativa privada a investir em equipamentos receptivos (BENI, 1998).

Alguns Municípios ou regiões vêm experimentando o regime de parceria entre o poder público e a iniciativa privada para driblar a carência de recursos destinados à infra- estrutura (BENI, 1998).

b) Subsistema da superestrutura

Além da infra-estrutura, Boullón (2002) concorda que para o funcionamento do sistema turístico existe a necessidade do amparo de um subsistema superior que regule todo o sistema, qual seja: o subsistema da superestrutura, que tem como principal elemento, o ordenamento jurídico-administrativo de gestão e controle do turismo, e refere- se tanto à organização pública quanto privada, que permite harmonizar a produção e a venda de diversos serviços do sistema de turismo (BENI, 1998).

Boullón (2002) acrescenta que fazem parte deste subsistema todos os organizamos especializados incumbidos de otimizar e modificar, quando for o caso, o funcionamento de cada uma das partes integrantes do sistema, além de harmonizar suas relações para facilitar a produção e a venda dos serviços que compõem o produto turístico.

Ao analisar este subsistema, devem-se observar fatores como o planejamento estratégico do turismo, os indicadores macro-econômicos e a normatização e fiscalização dos agentes e operadores do turismo.

No entanto, é de suma importância para a sobrevivência do sistema turístico a existência de uma superestrutura eficiente, pois como o turismo é baseado na prestação de serviços, a ineficiência e a desordem em sua coordenação diminui o nível de satisfação dos

turistas. Muitos turistas enfrentam problemas, tais como: esperas prolongadas na recepção do hotel, banheiros imundos nas estradas, sinalização precária, dentre outros, o que demonstra que o problema da baixa qualidade dos serviços deve-se em boa parte por gargalos na superestrutura (BOULLÓN, 2002).

Boullón (2002) divide a superestrutura em dois agrupamentos, com responsabilidades organizacionais distintas. São eles:

• As dependências da administração pública

Beni (1998) considera que uma das maiores barreiras que o desenvolvimento da atividade turística enfrenta é a dificuldade de defini-lo na visão da gestão pública do turismo. Isso porque os bens e serviços turísticos que são vendidos aos visitantes derivam de vários ramos de produção, uns vendidos exclusivamente aos turistas e outros destinados a outras demandas. Logo, o turismo é uma atividade que não pode ser identificada claramente como um setor econômico diferenciado, por não ser um ramo de produção enquadrado na Classificação Industrial Internacional Uniforme de todas as Atividades Econômicas, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Quanto maior a importância do turismo para a economia de um país, maior é o envolvimento do setor público na atividade. Assim, a posição do organismo público nacional de turismo varia de país para país, não havendo uma padronização da estrutura turística oficial. Tal organismo pode estar dentro ou fora do Ministério de Turismo. Caso esteja fora, o órgão passa a ser uma agência do governo ou um organismo semigovernamental (COOPER et al., 2001).

[...] na América Latina os organismos públicos responsáveis pela administração do turismo oscilam do nível mais alto, representado por um ministério ou secretaria, aos de direção ou institutos ligados o bem-estar social ou a outros organismos do Estado. Em quase todos os casos, suas funções específicas são: a promoção turística no exterior, o controle da qualidade dos serviços, a fixação e o controle de preços, o planejamento do desenvolvimento, a promoção de investimentos da iniciativa privada, a promoção do turismo interno, o desenvolvimento do turismo social e, às vezes, a construção do equipamento e das instalações turísticas (BOULLÒN, 2002, p. 63).

Especificamente no Brasil, o turismo já foi incluído no Ministério do Comércio, Indústria e Turismo; no Ministério do Esporte e Turismo; e na vigência atual (2003-2007), foi criado o Ministério do Turismo, que fica com a incumbência de “[...] articular com os demais Ministérios, com governos estaduais e municipais, com o poder legislativo, com o setor empresarial e a sociedade organizada, integrando políticas públicas e o setor privado” (BRASIL, 2005).

• As organizações privadas

A iniciativa privada participa da superestrutura do sistema turístico através de diversas organizações, que as empresas criam para partilhar e defender seus interesses particulares. Especificamente do Brasil, existem diversas organizações com esse objetivo, a seguir citam-se algumas:

¾ ABAV – Associação Brasileira dos Agentes de Viagens; ¾ ABIH – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis; ¾ ABEOC – Associação Brasileira de Empresas de Eventos; ¾ ABGTUR – Associação Brasileira de Guias de Turismo;

¾ ABDETH – Associação Brasileira de Dirigentes de Escolas de Turismo e Hotelaria;

¾ ABRESI – Associação Brasileira de Gastronomia; e

¾ ABHRBS – Associação Brasileira de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares.

Porém, observa-se que a superestrutura da iniciativa privada é pouco operante devido a confusão de seus dirigentes, que não modernizaram seus objetivos.

Nessas associações civis, trabalha-se sem programas concretos nem estratégias que digam como se quer ou espera concretizar ‘a defesa dos interesses do grupo’. Só uma coisa é clara: o principal inimigo é a superestrutura oficial que lhes impõe os regulamentos, os controles e os ordenamentos arbitrários que lesam seus interesses, criam obstáculos para seu funcionamento e, conseqüentemente, detêm o crescimento de sues negócios (BOULLÒN, 2002, p. 66).

Resumindo, verifica-se que mesmo passando por várias adversidades, tais como, crises econômicas e sociais, guerras, problemas estruturais e de gestão, atualmente o turismo atingiu um patamar de evolução nunca visto em outras épocas. Evolução essa observada em todos as áreas, como: na tecnologia; no transporte; na hospedagem; no agenciamento; na criação de atrativos e destinações; no marketing; na administração pública da atividade; e no construto de teorias que embasem o seu conhecimento, dentre outras.

No que tange ao estudo do turismo, a teoria dos sistemas auxiliou sobremaneira a sua estruturação e organização e, em específico, o modelo proposto por Beni.

Neste item, observou-se a complexidade e abrangência da atividade turística. A seguir enfocar-se-á como ela é tratada pela administração pública e como as políticas públicas direcionadas ao turismo podem influenciar a atividade.