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Escolas e as estruturas de orientação educativa

97 No contexto da categoria apresentada, referindo-se ao subsídio para a aquisição de livros escolares atribuído pela CM aos alunos do Agrupamento de Escolas, “o representante da Câmara Municipal disse que o mesmo deveria ser distribuído

2.2.2.2. Conselho de Docentes do 1.º CEB

O Conselho de Docentes do 1.º CEB, no sentido de tornar a estrutura de coordenação pedagógica mais funcional, foi desdobrado em dois conselhos, correspondentes a duas áreas geográficas.

Da primeira área geográfica fazem parte as três unidades educativas do 1.º CEB das três freguesias que a constituem. Este Conselho de Docentes é coordenado por uma docente do mesmo nível de ensino e dele fazem parte, no ano lectivo 2001/2002, dezasseis docentes.

Da segunda área geográfica fazem parte sete unidades educativas, correspondendo cada uma delas a uma das sete freguesias que integram a mesma área geográfica. Do mesmo modo, como acontece com o CD da 1.ª área geográfica, este Conselho de Docentes é coordenado por um docente do 1.º CEB e dele fazem parte dezoito docentes.

Estes Conselhos de Docentes, a funcionarem já no ano lectivo anterior, reúnem ordinariamente uma vez por mês e extraordinariamente sempre que convocados. São presididos, em cada uma das áreas geográficas, por um coordenador pedagógico eleito, anualmente, entre todos os docentes da área, o qual tem assento no Conselho Pedagógico.

Estas estruturas de orientação educativa, no ano lectivo 2001/2002, reuniram o mesmo número de vezes, tendo reunido, para além das reuniões previamente definidas (dez), extraordinariamente, nove vezes, das quais duas no mês de Dezembro. O elevado número de reuniões realizadas pode, a priori, levar o leitor a pensar que estamos perante uma estrutura de orientação pedagógica na qual os assuntos são amplamente discutidos, contando para tal com a participação activa de todos os intervenientes. Todavia, nas 140 páginas analisadas, constatámos precisamente o contrário. Nas actas em questão, os registos de intervenções individuais, num universo de trinta e quatro docentes e de

dezanove reuniões efectuadas, totalizam onze intervenções, das quais, apenas quatro se traduzem em “sugestões” como as que, a título de exemplo,transcrevemos a seguir: “a professora […] propôs a realização de uma festa de Natal em conjunto, envolvendo toda a comunidade educativa desta área geográfica”114 ou “a professora […] falou sobre a necessidade de ajustar as competências essenciais para os alunos que têm apoio educativo”115. Das restantes intervenções, duas consubstanciam “opiniões/comentários” sobre factos consumados, concretamente, sobre a Avaliação Integrada, assunto que retomaremos noutro ponto do trabalho, e cinco consistem na “transmissão de

informações”116, como, por exemplo, as que se seguem: “a professora […] como representante de [Associação] comunicou a alteração do dia da apresentação da actividade […]”117 ou “quanto à festa de Natal foi transmitido pela professora […] a confirmação do dia dezanove de Dezembro […]”118.

Para além das intervenções assinaladas, mesmo quando o assunto pressupõe debate e opiniões contraditórias, como é o caso do “ponto um” da ordem de trabalhos de uma das reuniões – “apreciação crítica do registo de avaliação enviado pelo Ministério da Educação”119, no teor da acta, no desenvolvimento deste ponto, não há registo da opinião específica de nenhum dos elementos presentes na reunião, verificando-se unicamente o registo das “conclusões”, como se percebe pelo que se segue: “[…] foi apreciado o registo de avaliação enviado pelo Ministério da Educação. Uma vez que é recomendada a sua utilização no primeiro momento de avaliação, este conselho de docentes propõe a sua utilização, sugerindo apenas uma pequena alteração à sua apresentação gráfica, uma vez que os espaços destinados à avaliação são demasiado pequenos”120 ou, sobre o mesmo assunto, com o “título” “estudo da ficha de registo de avaliação enviada pelo Ministério da Educação”121, numa outra acta pode ler-se: “depois de analisada convenientemente, aceitou-se, por maioria, o modelo proposto pelo

114 Acta n.º3/ CD, área geográfica n.º 2, 2001/10/02.

115 Acta n.º 11/CD, área geográfica n.º 1, 2002/03/05.

116 Aqui não incluímos as intervenções dos coordenadores dos conselhos de docentes por entendermos que se trata de uma função inerente ao cargo que desempenham, na medida em que se supõe que transmitam aos docentes do conselho que representam as decisões tomadas nas reuniões do Conselho Pedagógico. No entanto, não podemos deixar de mencionar que estas “informações” ocupam grande parte das 140 páginas já referidas.

117 Acta n.º 11/CD, área geográfica n.º 1, 2002/05/02. 118 Acta n.º 4/CD, área geográfica n.º 1, 2001/11/06.

119 Acta n.º 6/CD, área geográfica n.º 1, 2001/12/11.

120 Acta n.º 6/CD, área geográfica nº 1, 2001/12/11.

121

Ministério da Educação”122.

Contrariamente ao que acontece na maioria das actas (trinta e duas), as actas referentes à avaliação dos alunos (seis) são extremamente descritivas, como revela o excerto seguinte ao destacar: “de acordo com o ponto número três [avaliação], os docentes de cada escola tomaram a palavra no sentido de serem expostos eventuais problemas existentes relacionados com os alunos nas respectivas escolas”123. Sobre este assunto, e se nas reuniões de avaliação do primeiro e segundo períodos lectivos se verifica uma preocupação em assinalar de forma pormenorizada o “problema” de cada aluno, parece-nos no mínimo estranho que em nenhum momento destas, ou mesmo de outras reuniões, os docentes se tenham debruçado sobre possíveis estratégias a desenvolver pelas escolas no sentido de, pelo menos, minorar o problema. Isto porque, no ano lectivo 2001/2002, no primeiro período lectivo, de acordo com o quadro 17 o número de alunos assinalados com problemas é de 25% e, no segundo período, aumenta para 26,6%.

Quadro 17 – Alunos assinalados com problemas no 1.º e 2.º períodos lectivos e

alunos retidos no 3.º período no 2.º, 3.º e 4.º anos Ano lectivo 2001/2002 1.ºano / períodos lectivos124 2.ºano / períodos lectivos 3.ºano / períodos lectivos 4.ºano / períodos lectivos Unidade educativa 1.º 2.º 3.º 1.º 2.º 3.º 1.º 2.º 3.º 1.º 2.º 3.º Escola-A 2 3 - 14 10 5 7 1 - 6 4 - Escola-B - - - 8 10 6 5 4 4 7 8 7 Escola-C 6 4 - 10 10 3 5 6 - 7 11 2 Escola-D - - - 4 5 6 - 2 2 - - - Escola-E - - - 1 5 4 1 - - 1 1 1 Escola-F - - - 1 1 1 1 2 1 1 - - Escola-G - 2 - - - 1 - - - - Escola-H - - - 1 1 1 4 4 1 - - - Escola-I - - - 1 1 - - - Escola-J - - - 2 1 - - - Totais 8 9 - 39 42 26 23 23 10 22 24 10

Fonte: actas do CD do 1.º CEB números sete (2001/12/19), treze (2002/03/26) e dezanove (2002/07/03) da área geográfica n.º um e as actas números oito (2001/12/19), treze (2002/03/26) e dezanove (2002/07/03) da área geográfica n.º dois.

Dos valores acima referidos, relativos aos alunos com problemas já identificados no primeiro e segundo períodos lectivos, e ainda, de acordo com o mesmo quadro

122 Acta n.º 7/CD, área geográfica n.º 2, 2001/12/11. 123 Acta n.º 8/CD, área geográfica nº 2, 2001/12/19.

(quadro 17), no primeiro período 42,3% dizem respeito a alunos do segundo ano de escolaridade e apenas 8,6% a alunos do primeiro ano e, no segundo período, 42,8% reportam-se a alunos do segundo ano e 9,1% a alunos do primeiro ano de escolaridade. Se compararmos estes dados com a percentagem de alunos assinalados no segundo ano de escolaridade, no primeiro período do ano lectivo 2002/2003 (anexo B, quadro 1), e este com os dados relativos ao mesmo período do ano lectivo seguinte (anexo B, quadro 2), parece-nos evidente que os problemas já se fazem sentir logo no primeiro ano de escolaridade. Não compreendemos porque só no segundo ano eles são referidos. Será que o simples facto da Lei não permitir reter alunos no primeiro ano de escolaridade é motivo para ignorar os problemas que desde muito cedo parecem existir?

Estas estruturas de orientação educativa, de acordo com o RI, são responsáveis: i) pela coordenação das orientações curriculares e dos planos de estudo, ii) pelo desenvolvimento das actividades de coordenação que visem a melhoria da qualidade educativa das práticas educativas e iii) pelo desenvolvimento de formas cooperativas de trabalho docente (cf. RI, pp. 28-29). Neste contexto, as estruturas de orientação educativa relativas ao 1.º CEB, de acordo com o Relatório da Avaliação Integrada, têm revelado dificuldade em assumir as suas competências, conforme se constata pelas afirmações constantes do documento, onde se diz: “ no que respeita ao 1.º CEB, os Conselhos de Docentes […] têm sentido grandes dificuldades na assunção destas competências, pelo que a sua intervenção pedagógica nestas áreas é quase nula. Ao nível da coordenação pedagógica do 1.º CEB e, no que concerne à promoção de formas colaborativas de trabalho docente e à partilha de experiências e materiais, os Conselhos de Docentes revelam algumas fragilidades […]” (IGE, 2002e, p. 17).A fragilidade das relações de cooperação dos elementos dos CD do 1.º CEB assinaladas pela equipa inspectiva permanece nos anos lectivos seguintes e no que respeita à definição de estratégias susceptíveis de colmatar os “problemas” dos alunos identificados nas reuniões de avaliação, concretamente, nada é feito, mesmo quando, numa perspectiva extremamente redutora se procura justificar todos os casos com problemas comportamentais. Esta situação, está bem patente nos registos que apresentamos de seguida, sendo os únicos sobre o tema em destaque, nas cinquenta actas das reuniões efectuadas nos anos lectivos 2002/2003 e 2003/2004, e o registado não passa de simples “intenções”, como se pode constatar a seguir:

“Como foi referenciado [no final da acta da reunião de avaliação do 1.º período lectivo] por todas as escolas problemas disruptivos, deliberou-se que na próxima reunião do Conselho de

Docentes este tema será analisado a fim de se definirem estratégias comuns, as quais serão comunicadas aos encarregados de educação em reunião, para os responsabilizar e envolver nas medidas que se venha a adoptar” (Acta n.º 24/CD, área geográfica n.º 1, 2002/12/20).

Na reunião seguinte, no mesmo CD e sobre o mesmo assunto, é referido:

“Por fim foi referido que a questão da indisciplina é um assunto premente e transversal às escolas desta Área Geográfica e que as estratégias a adoptar devem ser comuns a todos as unidades educativas. O tema deverá ser retomado nas próximas reuniões [o que não aconteceu] para se definirem estratégias a adoptar e qual a forma de comunicar e fazer chegar as informações necessárias aos Encarregados de Educação dos alunos em questão” (Acta n.º 25/CD, área geográfica n.º 1, 2003/01/08).

Relativamente à “participação/intervenção” dos docentes nas reuniões do CD do 1.º CEB, como já se verificou no CD da educação pré-escolar, o número de intervenções é ainda menos significativo, totalizando duas intervenções, uma em cada ano lectivo e em cada um dos CD. Assim, no CD da área geográfica n.º 1 a intervenção registada tem “carácter informativo”125 e a registada no CD da área geográfica n.º 2 consubstancia uma opinião manifestada por um elemento e corroborada por todos os outros126. Quanto aos assuntos agendados para análise e discussão também apenas temos acesso ao que ficou decidido sem, em nenhuma situação, se verificar qualquer registo de opinião, concordante ou discordante, dos elementos presentes na reunião.

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