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Escolas e as estruturas de orientação educativa

97 No contexto da categoria apresentada, referindo-se ao subsídio para a aquisição de livros escolares atribuído pela CM aos alunos do Agrupamento de Escolas, “o representante da Câmara Municipal disse que o mesmo deveria ser distribuído

2.2.1.3. Conselho Pedagógico

O Conselho Pedagógico (CP), de acordo com o artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio, é o órgão de coordenação e orientação educativa do Agrupamento, especificamente nos domínios pedagógico-didáctico, de orientação e acompanhamento dos alunos e também nos domínios da formação inicial e contínua do pessoal docente e não docente. O normativo em referência (artigo 25.º) determina que a composição do CP é da responsabilidade de cada escola, sendo a sua composição definida no Regulamento Interno, a qual deve salvaguardar a participação e representação da comunidade educativa, até ao máximo de vinte membros. No

Agrupamento de Escolas, de acordo com o Regulamento Interno em vigor (artigo 21.º),

o Conselho Pedagógico é formado pelos seguintes elementos: a presidente do Conselho Executivo, um docente da Educação pré-escolar (coordenador do CD), dois do 1.º CEB (coordenadores dos CD), um representante dos Serviços Especializados de Apoio Educativo, um da Comissão de Contacto, dois da Equipa de Dinamização de Projectos, um representante dos Pais e EE, um representante do Pessoal não Docente102. A Presidente do Conselho Pedagógico é eleita entre os docentes acima mencionados, conforme o previsto no artigo 22.º, alínea a, do Regulamento Interno, tendo sido “eleito por unanimidade para Presidente do Conselho Pedagógico a Presidente do Conselho

Executivo [nome]” (Acta n.º1/CP, 2001/10/24). As competências do Conselho Pedagógico, descritas no Regulamento Interno,

são as atribuídas no Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio, das quais destacamos as

102 O mandato dos coordenadores dos Conselhos de Docentes da Educação Pré-escolar e do 1.º CEB e do representante dos pais e EE tem a duração de um ano (RI, artigo 26.º).

seguintes:

- “Elaborar a proposta de Projecto Educativo do Agrupamento;

- Apresentar propostas para a elaboração do plano anual de actividades e pronunciar-se sobre o respectivo projecto;

- Pronunciar-se sobre a proposta do regulamento interno;

- Pronunciar-se sobre as propostas de celebração dos contratos de autonomia;

- Definir critérios gerais nos domínios da informação e da orientação escolar e vocacional do acompanhamento pedagógico e da avaliação dos alunos;

- Definir os princípios gerais nos domínios da articulação e diversificação curricular, dos apoios e complementos educativos e das modalidades especiais de educação escolar; - Adoptar manuais escolares, ouvidos os Conselhos de Docentes;

- Propor o desenvolvimento de experiências de inovação pedagógica […]; - Definir critérios gerais a que deve obedecer a elaboração de horários; […]” (RI, pp. 20-21).

Este órgão reúne ordinariamente uma vez por mês e extraordinariamente sempre que para tal for convocado. Cada reunião tem a duração máxima de três horas e, como foi definido na primeira reunião (alterando o estipulado no RI, p. 22) que determina: “as reuniões realizam-se em regime de rotatividade, isto é, uma em cada freguesia”), as reuniões realizar-se-ão sempre na sede do Agrupamento.

No ano lectivo 2002/2003, ainda que o RI determine que o mandato dos membros têm a duração de 3 anos, com excepção do mandato do representante dos Pais e EE que tem a duração de um ano, o certo é que, na prática, a reestruturação do CP foi total103, sem que tal, com excepção da presidente e do representante do pessoal auxiliar, tenha ocorrido à margem do RI. A situação ocorrida apenas é anómala para os dois elementos referidos, não tendo sido encontrada qualquer explicação para o facto na acta da reunião que elege a “nova” presidente do CP104. Quanto aos restantes elementos, a situação enquadra-se no princípio de que “os membros do Conselho Pedagógico são substituídos no exercício do cargo se, entretanto, perderem a qualidade que determinou a respectiva eleição ou designação” (RI, artigo 26.º), o que veio a acontecer com o representante do Núcleo de Apoio Educativo e com os elementos da Equipa de Dinamização de Projectos. Quanto aos representantes das estruturas de orientação educativa, os coordenadores dos CD assumem o cargo apenas por um ano (RI, artigo 26.º), situação reforçada no mesmo documento ao determinar que “na primeira reunião geral do Conselho de Docentes, a realizar no mês de Setembro, são eleitos os

103

No segundo ano de “mandato” deste órgão, para além da presidente do CE, permaneceu, por ter sido reeleita, a coordenadora do CD do 1. º CEB da 1.ª área geográfica.

104 Ainda que na acta não haja qualquer referência que justifique a substituição da presidente do CP, em conversa que mantivemos com a docente a situação é explicada em função, por um lado, do desgaste provocado pela acumulação de cargos (presidente dos CE e CP) e, por outro, por uma questão de democraticidade perante uma “equipa” de novos elementos.

coordenadores do 1.º Ciclo, de cada uma das áreas, bem como o Coordenador do Pré-escolar de entre os educadores que integram o Pré-escolar” (RI, artigo 34.º). Relativamente ao elemento da Comissão de Contacto, o CP deixa de contemplar esta estrutura de orientação educativa, na medida em que a comissão foi extinta no ano lectivo anterior, pelos motivos já apresentados.

No ano lectivo 2003/2004 e pelas razões apresentadas anteriormente, só a presidente do CE permanece neste órgão de administração e gestão. Todos os elementos são substituídos, procedendo-se mais uma vez à eleição do presidente do CP, sendo eleita por unanimidade a presidente do CE. Ainda que na análise à acta da reunião em que os elementos do CP elegeram a presidente deste órgão não haja qualquer referência ao facto, o certo é que tal era inevitável uma vez que a docente que, no ano lectivo anterior, presidiu a este órgão deixou de exercer funções no Agrupamento de Escolas105. Anteriormente, ao referirmo-nos à Assembleia de Escola, afirmámos que é no quadro do novo modelo de administração e gestão das escolas que se enquadram as novas estruturas de gestão das organizações escolares e, nas mesmas, a “participação” directa dos elementos não docentes na tomada de decisões. Agora, reafirmamos o mesmo princípio relativamente ao Conselho Pedagógico, ou seja, a participação e o envolvimento destes actores nas reuniões realizadas, deixando os aspectos directamente relacionados com a Avaliação Integrada para uma abordagem posterior, aquando da análise do envolvimento e participação dos representantes dos órgãos de administração gestão durante e após a aplicação do PAIE.

Agora, analisamos a “participação/intervenção”dos actores educativos não docentes nas reuniões do CP realizadas também no ano lectivo 2001/2002, seguindo os mesmos propósitos apresentados para abordagem desta questão na AE106.

Com base na análise às treze actas das reuniões realizadas pelo CP no ano lectivo 2001/2002, também aqui se verifica que sempre que qualquer assunto carece de aprovação ele é aprovado por unanimidade. Relativamente à “participação/ intervenção” dos actores educativos não docentes nas reuniões deste órgão, com base nas categorias apresentadas, há registo, apenas, da intervenção efectuada por uma auxiliar de acção

105 A este propósito é importante salientar que a eleição, por unanimidade, da presidente do CE para presidente do CP teve uma dupla função, na medida em que os restantes elementos a consideraram o elemento mais indicado para presidir o CP e, simultaneamente, fazer o elo de ligação entre o Agrupamento de Escolas e o Agrupamento no qual, no ano lectivo 2004/2005, seriam incluídas todas as unidades educativas do Agrupamento de Escolas.

106 Ainda que a priori não fosse nossa intenção fazer referência à participação/intervenção dos elementos não docentes neste órgão nos dois anos lectivos seguintes, não podemos deixar de mencionar que nas catorze actas relativas ao ano lectivo 2002/2003 e nas onze referentes ao ano lectivo 2003/2004 não encontrámos qualquer registo de “participação/intervenção” dos elementos não docentes.

educativa (AAE) que se enquadra na categoria comentário/opinião107, para apresentar um problema interno de uma escola, mas a avaliar pelo registado, o assunto não mereceu qualquer atenção; ficou apenas pelo registo da apresentação.

Também no Conselho Pedagógico, a “participação/intervenção” dos elementos não docentes na discussão e tomada de decisões nas reuniões realizadas não assume qualquer relevância, sobretudo quando comparada com a participação dos docentes. E disso têm consciência os elementos que constituem este órgão, tanto os não docentes como os docentes, como revelam os excertos das entrevistas efectuadas a alguns deles e que citamos:

“[Os] docentes eram pessoas que […] eram mais activas, porque à partida estavam no globo delas, porque estavam à-vontade naquilo que diziam. O pessoal não docente […] estávamos muito menos à-vontade, porque, por vezes, não estávamos a falar numa situação que nos era, sei lá, uma situação que estivesse dentro do nosso dia-a-dia” (E 5).

“[…] Muitas vezes estavam lá quase de corpo presente e até um pouco desmotivados para a situação, para as reuniões. Não quer dizer que seja sempre, mas havia muitas reuniões em que não havia tema para os não docentes” (E 13).

“Eu estive no Conselho Pedagógico dois anos [e os pais] não participavam muito; limitavam-se quase a ouvir, poucas vezes davam uma opinião assim sábia. Só diziam que sim ou que não. […] Eu acho que não há muito intercâmbio, não havia muito feedback, não é? […] O representante dos pais, […] ao dar uma sugestão, é uma participação um bocadinho pobre e, além disso, faltavam muito às reuniões; um deles faltava muito às reuniões” (E 7).

Quando questionámos uma AAE sobre a importância que atribuiu ao papel que desempenhou no CP, como caracterizava a sua participação e a “participação/intervenção” dos elementos não docentes no órgão do qual fazia parte, a resposta foi clara, traduzindo um processo de “participação/intervenção” pouco articulado e demasiado fragilizado, como se constata a seguir:

“ Lá praticamente só ouvíamos, intervínhamos quando o assunto tinha a ver com o pessoal não docente; de resto, mais nada. […] Quando me diziam respeito, pronunciava-[me]. Agora, a maior parte deles era para tratar de assuntos em relação aos alunos; isso já não nos dizia respeito, já não podíamos intervir. […] Eu acho que a intervenção não era grande coisa, pessoalmente acho que não. Pelo menos, na altura em que eu estava, a nossa votação geralmente não alterava nada. […] Lá ninguém cortava a palavra a ninguém. […] Se estivermos assim a pensar, por exemplo, que os outros elementos é que não davam hipóteses de falar, não. Eles davam, até perguntavam para a gente dar a nossa opinião, mas, realmente, a gente não pode falar daquilo que não sabe, não é? (E 10).

107 Neste sentido é referido: “[…] foi citado pela representante das AAE a necessidade de haver uma maior sensibilização, pela parte dos professores ou educadores, de um respeito mútuo, mais colaboração e bom senso” (Acta n.º4/CP, 2001/12/20).

No mesmo sentido, uma docente escreve:

“Penso que [de] muitos assuntos eles não estão a par e não sabem dar o seu parecer” (E 12).

Atendendo ao papel que a Assembleia e o Conselho Pedagógico assumem na nova unidade organizacional – Agrupamento de Escolas – e aos níveis de “participação/intervenção” dos actores externos à organização educativa nos diferentes órgãos, procurámos uma explicação para a fragilidade registada.

No Relatório da Avaliação Integrada, tendo como objectos de análise os dados recolhidos nas entrevistas efectuadas a diferentes membros da Assembleia e na acta da primeira reunião deste órgão, aponta-se como a causa provável o novo modelo de administração educativa e a sua recente implementação (apenas no ano lectivo anterior, como é referido no texto seguinte:

“Tal situação poderá decorrer do facto do diploma instituinte do novo modelo de organização e administração educativa centrada no Agrupamento apenas ter sido implementado no lectivo anterior e, por isso, não haver tradição de uma participação mais activa dos elementos não docentes da comunidade educativa” (IGE, 2002e, p. 14).

Admitimos que esta hipótese explica em parte a questão da não participação, mas, em nosso entender, outros factores contribuem para tal, sobretudo se tivermos em atenção que, nas entrevistas por nós efectuadas, a explicação para a reduzida participação dos membros não docentes nos diferentes órgãos de administração e gestão relaciona-se com a falta de preparação e de competência dos actores para assumirem o papel que, efectivamente, só recentemente lhes foi exigido; o nível desigual de que partem uns e outros quando se abordam questões educativas, por natureza complexas, o que, em muitos casos, conduz à desmotivação por parte dos actores não docentes, como revelam os excertos que transcrevemos:

“O que me parece é que nem sempre os pais estão preparados para assumir esse papel, porque, de facto, foi muito recentemente […] [que] tiveram mais preponderância; quando se constituíram os Agrupamentos, aí sim os pais foram chamados para fazer avaliações […] [e] tiveram mais representações nos órgãos. […] [No entanto,] […] não me parece que eles estejam muito preparados para isso, neste momento. Mas, como também era um processo que se estava a iniciar, não me parece que eles poderiam estar mais [preparados] do que o que estavam. […] Na altura, ainda não estavam preparados para assumir esse papel […]. As autarquias envolveram-se inicialmente e depois nem tanto. […] Inicialmente, eles foram muito renitentes em relação a todo este processo, mas depois entenderam que o processo era novo e que se calhar ia ser um processo vantajoso para as escolas […]. Não me parece que estejam muito envolvidos ainda em termos de avaliar, de fazer parte destas avaliações das escolas […]. Não sei até que ponto eles também poderiam ter uma grande participação na avaliação das escolas” (E 6).

“[…] a maior parte das vezes, pelo menos assim nestas aldeias onde a gentetrabalha, […] aquilo não lhes diz nada: estar a falar para eles e não estar a dizer nada é absolutamente a mesma coisa. A maior parte das vezes, há representantes dos pais, mas não é porque tenham iniciativa própria; é porque tem que haver alguém e é por isso que eles ficam. Acho que não têm motivação nenhuma para...” (E 10).

Por outro lado, a equipa inspectiva, reconhecendo que a participação dos docentes nestes órgãos tenha sido mais expressiva que a dos elementos não docentes, no Relatório da Avaliação Integrada, referindo-se especificamente à participação dos primeiros no CP, considera que esta decorre não de uma motivação própria de participação na gestão do Agrupamento, mas sim de uma obrigação resultante de uma imposição por parte da Administração Central e Regional do Ministério da Educação. Esta falta de motivação, segundo o mesmo documento, reflecte-se na falta de operacionalidade evidenciada por este órgão que se traduz na ausência de debate e da tomada de decisões em matérias da sua competência, como se percebe no que transcrevemos:

“[…] não foram tomadas decisões relevantes, que façam traduzir por parte deste órgão ‘a estrutura de coordenação e orientação educativa do Agrupamento, nomeadamente nos domínio pedagógico-didáctico, de orientação e acompanhamento dos alunos e da formação inicial e contínua do pessoal docente e não docente’, designadamente ao nível da definição de objectivos/competências essenciais por ano de escolaridade, da definição de critérios de progressão/retenção na avaliação dos alunos, da proposta de definição de critérios de participação dos alunos e pais ou encarregados de educação no processo de avaliação […]” (IGE, 2002e, p. 16).

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