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A este propósito, o Decreto-Lei referido destaca: “[…] as direcções-gerais de ensino não podem e não devem exercer outras funções senão as executivas, incluindo embora nestas as de apoio ao ensino consubstancializadas na orientação pedagógica

1 2 As funções da IGE: enquadramento legal e normativo

23 A este propósito, o Decreto-Lei referido destaca: “[…] as direcções-gerais de ensino não podem e não devem exercer outras funções senão as executivas, incluindo embora nestas as de apoio ao ensino consubstancializadas na orientação pedagógica

que devem desenvolver. […] faz-se a separação daquelas funções, criando-se para o efeito a Inspecção-Geral de Ensino, do Ministério da Educação, cuja necessidade há muito se faz sentir, à qual caberão as funções de contrôle […]” (artigos 6.º e 7.º [sublinhado no documento]).

pedagógico, administrativo-financeiro e disciplinar no subsistema de ensino não superior […]”24 (artigo 2.º [sublinhado no documento])25; as competências da Inspecção resumem-se, essencialmente, ao controlo, à verificação da conformidade normativa e ao exercício da acção disciplinar, como se depreende do texto que a seguir apresentamos:

“Verificar e assegurar o cumprimento das disposições legais e das orientações definidas superiormente; exercer a acção disciplinar que se mostrar indispensável ou lhe for determinada” (artigo 2.º, alíneas a e e).

Ao mesmo tempo, como é salientado no documento, é-lhe também atribuída, no âmbito do controlo sobre a qualidade e a eficiência, a competência de:

“Acompanhar com regularidade o funcionamento dos serviços regionais e dos estabelecimentos de ensino do subsistema, velando pela qualidade e pela eficiência administrativa” (artigo 3.º, alínea a).

E, no domínio da avaliação do sistema educativo, são conferidas à IGE competências para:

“Superintender na avaliação de todos os aspectos ligados à gestão dos estabelecimentos de ensino do subsistema […]” (artigo 3.º, alínea j);

Velar pela eficiência da gestão administrativa e financeira dos estabelecimentos de ensino […] (artigo 13.º, alínea a);

Propor a realização de acções de informação e de formação que visem a melhoria do funcionamento dos estabelecimentos de ensino” (artigo 12.º, alínea h).

No âmbito da organização escolar e pedagógica, à IGE é reconhecida competência para:

“Zelar pela existência de condições de organização escolar e pedagógica, nomeadamente no que respeita à constituição de turmas, organização e horários lectivos e actividades complementares educativas” (artigo 12.º, alínea d);

“Verificar e assegurar uma articulação sequencial harmónica entre os diversos graus de ensino, nomeadamente no que se refere às estruturas curriculares, programas, instrumentos didácticos, processos e técnicas pedagógico-didácticas e avaliação” (artigo 3.º, alínea h).

Pelo exposto, compreende-se que a IGE foi criada com funções de controlo sobre o sistema e as escolas, na sequência de uma administração burocrática e

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Nos termos do artigo 15.º do Decreto-Lei n.º 3/87, a função de controlo que cabe à Inspecção-Geral de Ensino é alargada,

no domínio administrativo-financeiro, a todo o sistema educativo.

25 José Fonseca, considerando o sistema de ensino como um complexo ‘produtivo’, alerta para a necessidade de se criar um sistema de “controlo e de avaliação” compatível com as exigências de um “sistema completo de gestão” (Fonseca, 1981, p. 135). Assim, o autor rejeita que esse controlo e a avaliação se concretizem a partir de actuações de “índole burocrático-administrativa, mas [devem] antes assentar num amplo processo participativo de todos os sectores interessados, os quais integrarão uma autêntica massa crítica envolvente” (Fonseca, 1981, p. 136 [sublinhado do autor]).

centralizadora que, perante a aceleração do processo e expansão da escola de massas, se manifesta incapaz de continuar a assegurar o controlo das escolas. Neste contexto, a avaliação era feita em função daquilo que genericamente era determinado e se considerava que devia ser feito em cada escola, ao mesmo tempo que se admitia que todas as escolas funcionavam da mesma forma e não como unidades organizacionais caracterizadas pela sua especificidade. Assistimos assim a uma avaliação exercida sobre as escolas que tinha como objectivo a verificação da conformidade normativa, garantindo ao poder central o controlo total do sistema.

Com a publicação da Lei 46/86, apesar das competências da Inspecção Escolar não reflectirem de forma explícita o disposto no Decreto-Lei n.º 540//79, o certo é que as suas funções não sofrem grandes alterações, mesmo quando na presente Lei se propõe uma focalização diferente, como se verifica pelo teor do artigo 53.º ao referir que:“a inspecção escolar goza de autonomia no exercício da sua actividade e tem como função avaliar e fiscalizar a realização da educação escolar, tendo em vista a prossecução dos fins e objectivos estabelecidos na presente lei e demais legislação complementar”26. Continua a prevalecer a função de controlo.

Neste contexto, e como tivemos oportunidade de referir anteriormente, a avaliação na LBSE continua a incidir sobre o sistema e não sobre a escola enquanto unidade organizacional, remetendo esta tarefa para “[…] estruturas adequadas que assegurem e apoiem actividades de desenvolvimento curricular, de fomento da inovação e de avaliação do sistema e das actividades educativas” (artigo 52.º ponto 1).

Deste modo, após a publicação da LBSE, as funções da Inspecção Escolar, enquanto serviço central do Ministério da Educação, continuam a limitar-se à verificação da conformidade normativa e do controlo disciplinar, numa intervenção caracterizada pelo cumprimento das normas definidas pela administração central. Este processo de intervenção, levado a cabo pela IGE, reafirma a posição que temos vindo a assumir relativamente ao princípio do não reconhecimento das escolas como unidades organizacionais.

Na perspectiva que temos vindo a adoptar, na qual procuramos clarificar, do ponto de vista normativo e legal, as funções atribuídas à Inspecção-Geral de Ensino no processo de avaliação das escolas, no Decreto-Lei n.º 3/87, de 3 de Janeiro, que aprova a Orgânica do Ministério da Educação e Cultura, não se regista qualquer evolução

26 As alterações introduzidas à Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, pela Lei n.º 115/97, não produzem, em matéria de inspecção, qualquer alteração.

relativamente à legislação anteriormente produzida, ou seja, “a Inspecção-Geral de Ensino tem como atribuições o controle pedagógico e disciplinar do subsistema de ensino não superior e administrativo-financeiro de todo o sistema educativo” (artigo 15.º, ponto 1).

Na sequência do enquadramento que acabámos de referir, contextualizado ainda pela legislação publicada no que se refere à política de autonomia das escolas, consagrada na Lei n.º 43/89, e pela emergente legislação que introduz uma nova conceptualização da escola como organização, da qual já demos conta no ponto anterior, destaca-se o Decreto-Lei n.º 304/91, de 16 de Agosto, que incorpora as primeiras alterações nas funções atribuídas à agora designada Inspeção-Geral de Educação. Estas alterações estão patentes logo no preâmbulo do normativo, onde se lê:

“[…] a função de controlo da inspecção do sector educativo concebe-se cada vez mais como a verificação do cumprimento da legalidade, o estudo e a análise das necessidades e o apoio técnico e pedagógico às escolas” (Preâmbulo).

Neste quadro legal, a Inspecção-Geral de Educação, para além das tradicionais funções de controlo, passa a ter funções de avaliação. Como se verifica pela análise ao artigo 2.º, à IGE cabe:

“A avaliação, global e qualitativa, dos estabelecimentos de educação e ensino, tendo em vista a prossecução dos fins e objectivos estabelecidos na Lei de Bases do Sistema Educativo e de mais legislação complementar” (artigo 2.º, alínea c)”.

Neste documento são, ainda, clarificadas as atribuições da IGE nas áreas do controlo pedagógico, do controlo administrativo-financeiro e de acompanhamento e avaliação dos equipamentos educativos, sendo de salientar que o controlo disciplinar não aparece como área específica da intervenção da IGE. A acção disciplinar aparece diluída nas duas áreas de controlo, facto que não será desprovido de sentido, sobretudo se tivermos em atenção que todo o documento apela a um novo modo de actuar da IGE, à valorização do controlo pedagógico e à diminuição da acção disciplinar associada aos modelos clássicos de inspecção.

Posteriormente, em 1993, na sequência do Decreto-Lei n.º133/93, de 26 de Abril, que aprova a Orgânica do Ministério da Educação, é publicado o Decreto-Lei n.º 140/93, de 26 de Abril27, que reconhece a Inspecção Geral de Educação como “[…] um

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serviço central do Ministério da Educação, dotado de autonomia administrativa, com funções de acompanhamento e fiscalização, nas vertentes pedagógica e técnica, dos ensinos pré-escolar, básico e secundário e superior” (artigo 1.º).

No quadro de actuação da IGE, definido pelo Decreto-Lei n.º 140/93, de 26 de Abril, é enfatizado o papel de fiscalização nas vertentes pedagógica e técnica, não havendo qualquer referência a actividades de avaliação. Assim, à IGE cabe: proceder ao controlo da qualidade pedagógica e técnica ao nível de todo o sistema educativo; ao controlo da eficiência administrativa e financeira e verificar, no âmbito do ensino superior público, o cumprimento dos dispositivos legais aplicáveis ao sistema de propinas e à acção social escolar. Estas competências são também exercidas em relação aos estabelecimentos de ensino portugueses situados no estrangeiro (artigo 2.º, pontos 1 e 2).

Este documento, no artigo 5.º, ponto 1, destaca, também, que as competências da IGE são exercidas por cinco núcleos de coordenação28.

Na sequência do definido no documento que acabámos de referir, a Portaria n.º 572/93, de 2 de Junho, define os objectivos, a estrutura e a composição dos núcleos de coordenação29 da Inspecção-Geral de Educação, incidindo a sua actividade sobre o sistema de ensino e não sobre aescola.

Neste contexto, ao Núcleo de Inspecção Técnico-Pedagógica cabe, entre outras competências:

“Promover o controlo da qualidade pedagógica da educação pré-escolar e extra-escolar e dos ensinos básico e secundário da rede pública;

Recolher informações e elaborar relatórios sobre a situação dos jardins-de-infância e das escolas do ensino básico e secundário em matéria pedagógica e técnica e propor as medidas adequadas à correcção das anomalias;

Informar sobre as condições pedagógicas das instalações e equipamentos educativos; Recolher informações e elaborar relatórios sobre o resultado do processo de avaliação do desempenho do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário;

Realizar a avaliação global e qualitativa dos estabelecimentos de educação e ensino;

Exercer a acção disciplinar que lhe for determinada, acompanhar e dar parecer sobre o desenvolvimento das acções de natureza disciplinar nas delegações regionais da Inspecção-Geral da Educação (artigo 2.º, alíneas a, c, f, g, h e l).

28 Aos núcleos de coordenação, de acordo com Decreto-Lei n.º 140/93, compete “recolher informações e elaborar relatórios

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