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Conseqüências sócio-econômicas da irregularidade de interesse social e da regularização

características no Estado de São Paulo

2.3. Conseqüências sócio-econômicas da irregularidade de interesse social e da regularização

Na situação de irregularidade, os prejuízos são gerais. Para o morador, a irregularidade o impede de obter empréstimos e recursos para a melhoria de sua condição de vida, além da falta de título de domínio na matrícula do imóvel, gerando insegurança jurídica e transtornos quando do inventário de sucessão. Para a sociedade, além do sentimento de insegurança, as situações de irregularidade geram perdas econômicas significativas, como o aumento dos mercados ilegais e a diminuição dos postos de trabalho formais. A eventual ausência ou deficiência de requisitos urbanísticos na disciplina do uso e ocupação do solo causam transtornos ambientais, falta ou deficiência na fruição dos benefícios gerados pelos equipamentos urbanos e comunitários, dificuldade na mobilidade em decorrência de problemas na articulação de vias públicas, entre outros. Ao poder público, os núcleos irregulares geram ônus financeiros e políticos, dificultando o acesso a dados essenciais para a elaboração de políticas sociais, urbanísticas e ambientais, dentre outras, e definição da destinação dos investimentos.

Segundo Rolnik (org, 2007:7), informais e sem crédito, tanto a população sem endereço reconhecido quanto os assentamentos irregulares não possuem acesso ao marco regulatório do sistema financeiro formal. Assim, se multiplicam em áreas improváveis de urbanização: Áreas de Proteção Permanente e Ambiental, insalubres, de risco, nos limites rurais do perímetro urbano, ausentes dos mapas e dos cadastros das Prefeituras, dos registros nos cartórios, das diretrizes das concessionárias. Portanto, identifica-se aí um ciclo vicioso. A irregularidade dificulta o crédito, a falta de crédito impede o financiamento de melhorias na edificação para inverter a condição de subnormalidade.

A regularização, tornando o imóvel e/ou moradia legalizada, de um ponto de vista mais pragmática, gera os seguintes benefícios de modo mais objetivo:

▪ Segurança jurídica, o que atribui o direito de uso e posse do seu imóvel, gerando uma proteção contra despejos forçados;

▪ A possibilidade de transferência de posse e propriedade a terceiros de modo formal e estendida aos descendentes;

▪ Utilização do imóvel como garantia para a obtenção de créditos e financiamentos para consumo e produção ou hipoteca, inclusive para melhoria do imóvel;

▪ Torna mais proporcionais os gastos com habitação e a renda da população;

▪ Integração do proprietário ao sistema econômico, tornando-a apto a participar do processo produtivo;

▪ Facilita a disponibilização dos serviços de infra-estrutura, contrapostos às dificuldades de oferecer condições adequadas, principalmente em áreas de produção;

▪ Melhorias técnicas nas condições de saúde e salubridade;

▪ Possibilidade de realização de políticas habitacionais para incluir grupos vulneráveis;

▪ Planejamento e adequação sócio-espacial para permitir o acesso às opções de emprego, racionalizado o transporte e demais condições básicas;

▪ Facilitação das políticas públicas para a valorização da diversidade cultural, usos e costumes das comunidades e grupos sociais.

Ceneviva (1994:32) já alertava que a regularização, como meio de incorporação sócio-espacial, melhorando as condições de habitabilidade, apresenta dois benefícios: permitiria uma redução do desgaste da força de trabalho e a introdução do trabalhador no mercado de consumo, na medida em que o torna apto a receber crédito. Portanto, esse financiamento não seria somente da construção, mas todos os equipamentos doméstico que ofereceriam conforto, segurança e otimizariam seu trabalho e seu tempo. Complementa a discussão esse trecho de Soto:

A maioria dos pobres já possuem os ativos que necessitam para produzir o sucesso do capitalismo. (...) Mas, eles detêm esses recursos de forma ineficaz, (...) lhes falta um processo para representar a propriedade e criar capital. (...) Eles têm casas, mas não os títulos de posse, isto é, a representação dos ativos em documentos de propriedade legal que lhes confere o poder para criar mais valia. (SOTO apud ROLNIK, 2005:154)

Ou seja, as habitações e os comércios informais são capital morto, que poderiam ser reavivados pelo poder público através da incorporação sócio-espacial, possibilitando o crédito formal investido nas áreas de baixa renda, gerando aquecimento da economia localizada, adquirindo os seguintes privilégios:

▪ Segurança para investir ▪ Segurança titulada

Por esse raciocínio, a questão do financiamento, por conseguinte, transcende a questão da habitação e associa elementos econômicos mais complexos, permitindo uma participação no processo produtivo como um todo. Podemos ver esse fenômeno tanto com desdobramentos simples, até singelos, como a possibilidade de abrir um negócio regular e poder emitir notas; e, portanto, oferecer serviços maiores, para condomínios e empresas, bem como participar de pequenas e, em consórcio, médias concorrências; mas, de modo difuso, com grandes conseqüências econômicas. Além de permitir que façam seguro das suas atividades, principalmente quando exigidos em editais de concorrência, podem oferecer serviços para empresas que se submetem a programas de certificação de qualidade, o que, na condição de informalidade, lhes é vetado. Mas há também a forma mais complexa na viabilização e financiamento de qualquer etapa do estabelecimento do negócio ou de qualquer fase da produção. A hipoteca também é um instrumento importante para a ampliação dos pequenos negócios, gerando maior mobilidade social.

Como o ônus é generalizado, o bônus também o deve ser. Devemos então comentar sobre os efeitos sócio-econômicos positivos da regularidade, que têm principalmente à relação entre a comunidade e o Poder Público a sua maior transformação. Devemos ter em mente que há uma correlação direta entre a defesa dos direitos da cidadania com o desenvolvimento social. A formalização converte lugares de ocupação em endereços de moradias. Produz, portanto, só por essa transformação, informações para a arrecadação de tributos, facilitando o planejamento dos investimentos públicos em serviços, como transporte, educação, saúde, lazer, etc. Além disso, a regularização impede a venda de lotes ou imóveis com falsos contratos; e nesse procedimento à luz da lei, podemos registrar também que a transferência oficial também gera recursos públicos na forma de impostos e taxas.

2.4. Classificação das irregularidades em assentamentos populares e