• Nenhum resultado encontrado

3.16 Considerações acerca da reabilitação profissional

3.16.2 Considerações acerca das equipes do Programa

No que diz respeito à opinião das participantes sobre qual deveria ser a composição das equipes do Programa de Reabilitação Profissional do Instituto, 100% apontam a necessidade do terapeuta ocupacional e 97,5% a do médico, do psicólogo e do assistente social. 92,5% assinalaram a do fisioterapeuta, 67,5% a do pedagogo e 40%, a do fonoaudiólogo. 32,5% e 30% apontaram as profissões de sociólogo e de advogado, respectivamente. As profissões de antropólogo e nutricionista foram assinaladas por 12,5% das participantes, cada uma. Já as de administrador de empresas e de educador físico foram muito pouco mencionadas – 5% e 2,5%, respectivamente.

Quando questionadas se acreditam existir, de fato, um trabalho de equipe em seus locais de atuação, 42,5% declaram que parcialmente, 30% consideram que o mesmo não existe e 27,5%, que isto ocorre. Quanto ao sentimento de valorização por sua equipe de trabalho, 60% sentem-se valorizadas, 30% consideram que isso ocorre parcialmente e 10% referem não sentir tal valorização por parte da equipe.

Administrador de empresas Advogado Antropólogo Assistente Social Educador Físico Fisioterapeuta Fonoaudiólogo Médico Pedagogo Psicólogo Nutricionista Sociólogo Terapeuta Ocupacional Outro(s) 0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 5,0% 30,0% 12,5% 97,5% 2,5% 92,5% 40,0% 97,5% 67,5% 97,5% 12,5% 32,5% 100,0% 2,5%

Com relação ao trabalho dos estagiários, tem-se:

Como se pôde verificar a partir do questionário, existe uma diversidade de situações com relação ao trabalho em equipe nas diferentes agências, havendo nas entrevistas menções que vão desde uma atuação coesa entre seus membros, com discussão sobre os casos e resoluções geralmente conjuntas sobre as condutas a serem tomadas, passando por situações em que está sendo construída essa questão das proposições e decisões consensuais, até a inexistência de um trabalho em equipe.

Em alguns locais, tem ocorrido uma desconstrução da hegemonia do saber e do poder do médico perito na decisão sobre a avaliação do potencial laborativo, a elegibilidade dos segurados ao Programa e a compatibilidade das funções e/ou dos cursos de qualificação profissional, havendo um trabalho para valorização do conhecimento dos demais profissionais em direção da análise conjunta, conforme determina o Manual Técnico; em outros, a hegemonia médica continua bastante acentuada.

A equipe é um facilitador muito grande, se não tivesse uma situação de equipe muito bem estruturada, que todo mundo está ali preocupado com as mesmas coisas, com os mesmos objetivos, (...) dificultaria muito (...). A gente consegue parar: ‘olha a gente precisa discutir esse caso agora, (...) pensar quais são as possibilidades para oferecer’(E4, p. 8).

Não existe trabalho em equipe, eventualmente se discute o caso com o médico (E1, p. 16).

O médico tem um papel muito fundamental; (...) está sendo ótimo, ele tem um contato muito legal comigo, de entrar na minha sala, de me pedir

opinião, de interromper a avaliação dele para ir lá me perguntar (...). Eu acho isso muito legal, essa coisa de que não está pronto e que tudo bem perguntar, entendeu? Porque ninguém ali sabe pra caramba (E6, p. 26).

Existe a decisão médica e existe toda uma argumentação que você usa para convencer o médico de que ele [o segurado] tem que ficar mais tempo ou não, mas se o médico achar que ele é elegível, ele é (E2, p. 18).

Houve referência ao não reconhecimento por parte da equipe, mais especificamente do médico perito, da terapia ocupacional enquanto uma profissão capaz de compor, tecnicamente, a avaliação e as decisões acerca dos processos de reabilitação profissional dos segurados:

A maior dificuldade que eu vejo nisso é na relação com o médico perito, o como é difícil eles entenderem que eu estou ali como avaliadora também, que eu tenho uma formação completamente diferente da dele, mas que em muitos aspectos se cruzam (...). É importante a gente insistir em falar que eu estou avaliando como terapeuta ocupacional e não como, sei lá, sócio- profissional-administrativo (E4, p. 15).

Com relação às assistentes sociais, no geral, as terapeutas ocupacionais entrevistadas avaliam que elas têm trazido importantes contribuições ao Programa, como a ampliação da visão e da avaliação das condições de vida dos segurados atendidos e o incremento da composição da avaliação sócio-profissional, dentre outras. Sua atuação varia de acordo com as agências, daquelas que dedicam poucas horas semanais à Reabilitação Profissional às que são responsáveis pelo seu andamento em seus locais de trabalho.

Eu percebo que elas [as assistentes sociais] têm em mim uma pessoa para quem elas podem perguntar, (...) elas entendem que a gente pode trocar o tempo inteiro. (...) Tem muita coisa do serviço social que eu não conheço e que os segurados precisam saber, porque às vezes tem gente na família que precisa de algum recurso que elas têm para oferecer (E6, p. 27).

Acho que o ingresso do Serviço Social fez a gente ampliar a nossa visão para o social; se existia alguma coisa só centrada na clínica, o pessoal do Serviço Social veio para bagunçar; aqui, como já não era centrado na clínica, veio para acrescentar, esse jeito de lidar com as questões sociais que estão implicadas no trabalho, ou na falta do trabalho (E2, p. 19).

Em alguns dos relatos, pode-se notar a equipe como um ponto de apoio e de cuidado entre os seus membros, além de um espaço de trocas sobre as vivências, expectativas, projetos e angústias da prática cotidiana:

Eu acho que a equipe de Reabilitação Profissional tem um pouco mais de unidade, pelo menos aqui as pessoas se cuidam, ninguém deixa o outro se machucar, percebe que está tendo uma encrenca com o segurado, chega para dar uma ajuda, se está difícil para atender, “passa que eu atendo”... A pessoa está meio doente, “vai embora para casa, a gente resolve”, “não posso fazer aquela visita, você faz para mim?” (E2, p. 5-6).