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Bernardo (2006), ao tratar das questões referentes aos segurados incapacitados para sua atividade de trabalho habitual e que passam pela Reabilitação Profissional do INSS, pontua que a passagem pelo Programa e a ciência do desligamento após o cumprimento do mesmo constituem, para os segurados, um período de indefinição em relação às condições futuras de sobrevivência e de retorno ao trabalho. A autora coloca algumas das consequências do afastamento do trabalho, sentidas pelos trabalhadores, como a perda na conformação de sua identidade social e a expectativa negativa de reabsorção no mercado de trabalho. Destaca, ainda, as dificuldades vivenciadas pelo trabalhador em seu percurso do reconhecimento da doença ao encaminhamento para a Reabilitação Profissional, como as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, principalmente nos casos de necessidade de procedimentos de maior complexidade, a significativa mudança na rotina trazida pelo afastamento do trabalho e a desconfiança de médicos-peritos com relação à veracidade de suas doenças e queixas (BERNARDO, 2006).

Segundo Maeno e Vilela (2010),

A construção de uma política pública de reabilitação profissional exige: a inserção da saúde do trabalhador nas políticas de desenvolvimento econômico; a desconstrução da cultura e da máquina previdenciária voltada prioritariamente para os custos; a real articulação da Saúde e da Previdência Social em projetos nacionais e locais; a inclusão do caráter distributivo nos planos de modernização; o monitoramento da trajetória dos trabalhadores; e a transparência institucional (MAENO; VILELA, 2010, p. 87)

Para esses mesmos autores, a reabilitação profissional é parte do processo de intervenção que incide sobre o indivíduo, articuladamente com a intervenção sobre o processo terapêutico e sobre as condições nocivas de trabalho, que geraram o agravo e/ou acolherão novamente o trabalhador (MAENO; VILELA, 2010).

Considera-se o processo de recuperação do trabalhador e do retorno ao trabalho como contínuo e único: "cuidar do retorno do afastado ao trabalho, conhecer o início do processo de adoecimento e intervir nesse processo para prevenir novos acometimentos" (LANCMAN; GHIRARDI, 2004, p. 12).

considerado como o final de um processo de reabilitação bem-sucedido, tende a se realizar cada vez menos, sendo o crescente processo de exclusão de trabalhadores um desafio a ser enfrentado no campo da saúde do trabalhador.

Cremos que um ‘processo de reabilitação bem-sucedido’ seja aquele que culmina em uma reinserção do trabalhador em atividades profissionais cujo desempenho cotidiano lhe seja, de alguma maneira, satisfatório, e lhe permita, além da garantia de sua subsistência, sentir-se socialmente útil e capaz; em que o trabalhador reúna condições para a permanência do exercício dessas atividades no mercado de trabalho, e, além disso, esteja amparado por um sistema de proteção social nos casos de uma nova redução de sua capacidade de trabalho. Consideramos que essas condições passam pelas relações que os indivíduos estabelecem não só com/no trabalho, mas nas diversas esferas de participação social e, ainda, por seu contexto de vida e pelo mercado de trabalho, com suas possibilidades e limites, o que pode ser ilustrado com os relatos de duas das entrevistadas participantes da pesquisa:

A pessoa realmente preparada, capacitada, não está só relacionado à questão das habilidades que a pessoa tem que ter para voltar ao trabalho, das habilidades técnicas, de profissionalização para exercer uma função, mas de como essa pessoa vive esse outro momento, essas outras relações de trabalho (E10, p. 33 e 34).

Uma pessoa capacitada para o mercado de trabalho (...) depende do mercado de trabalho também, que mercado é esse de trabalho? (...) Depende se ela mora perto de uma região que tem trabalho, se ela mora em um lugar de periferia em que em qualquer lugar que ela for trabalhar ela demora 2 horas. Estar capacitado é ter (...) os recursos que sejam necessários para desempenhar algum tipo de trabalho (...), se fazer acreditar, acreditar no potencial que ele tem, valorizar toda a trajetória profissional (E35, p. 38 e 39).

Segundo Maeno e Vilela (2010), a superação dos impasses da reabilitação profissional passa necessariamente pela compreensão do mundo do trabalho contemporâneo e pelas práticas de prevenção de agravos em todos os níveis de intervenção.

De acordo com Lancman e Ghirardi (2004):

A reintegração dos trabalhadores com restrição laboral passa, ainda, por relações diversas, como a questão da desvalorização ou supervalorização da capacidade individual dos trabalhadores nos novos postos de trabalho, por uma necessária mudança de identidade e pelas relações com os demais trabalhadores, que deverão assumir tarefas que os restritos não podem realizar, apenas para citar alguns aspectos. Levar em conta todos estes aspectos é fundamental para que o trabalhador, uma vez retornando ao trabalho não seja demitido, discriminado como restrito ou encostado e para que o retorno ao trabalho não se transforme numa forma de exclusão tardia do acidentado (LANCMAN; GHIRARDI, 2004, p 12).

Maeno e Vilela (2010) colocam que se o entendimento e a integração entre as três áreas afins - trabalho, saúde e previdência – são de difícil consolidação, a desejada ação intersetorial mais ampla, envolvendo setores como a economia, as políticas industriais, o meio ambiente e a educação, permanece muito distante da realidade.

É importante ter-se em conta que o retorno ao trabalho não pressupõe o controle total da dor, e sim o alcance de um estado em que se conquista certa estabilidade no quadro clínico, com diminuição da intensidade e da frequência das crises álgicas. É preciso um espaço real para a manutenção de tratamento, seja físico ou psicológico, que exija saídas durante a jornada de trabalho. Para que isso seja possível, é fundamental que haja uma relação de confiança entre o reabilitando, a equipe de reabilitação profissional e a empresa, além de uma relação trabalhista que inclua a estabilidade por tempo prolongado (MAENO; VILELA, 2010, p. 95)

Para Maeno e Vilela (2010, p. 93), “a saúde do trabalhador, incluindo a reabilitação profissional, ainda é um direito constitucional a ser conquistado na prática”.

2.4 Terapia ocupacional e reabilitação profissional