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Considerações fi nais

No documento História da alfabetização e suas fontes (páginas 52-56)

Com quais fontes os estudos sobre a História da Alfabetização têm dialogado?

Termino este capítulo fazendo algumas considerações sobre algumas pesquisas realizadas na pós- graduação por discentes. Em levantamento feito com as palavras-chave história e alfabetização no banco de dados da CAPES, foram localizados 25 títulos de pesquisas de mestrado e 08 de doutorado publicadas até

21 Trabalhos sobre os censos têm sido empreendidos por Alceu Ferraro, numa perspectiva mais sociológica e tomando

como dados os censos dos estados. Ver: FERRARO, Alceu Ravanello. História inacabada do analfabetismo no Brasil. São Paulo: Cortez: 2009. No entanto, a entrada no censo de cada cidade envolve uma pesquisa ainda pouco desenvolvida nos estudos sobre História da Alfabetização.

22 GALVÃO, Ana Maria; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Cultura escrita em Minas Gerais nas primeiras décadas

republicanas. Capítulo de livro História Geral da Educação em Minas Gerais: da colônia à República. Coordenação Geral de CARVALHO, Carlos Henrique e FARIA FILHO, Luciano Mendes de (no prelo).

2012 e, depois da Plataforma Sucupira em 2013, temos 26 resumos de mestrado e 08 resumos de doutorado. Há vários limites nesta busca, pois vários trabalhos abordam alfabetização como uma questão secundária e não como objeto principal e, ao mesmo tempo, nota-se a ausência de trabalhos bem signifi cativos que, apesar de contribuírem para a História da Alfabetização no Brasil, não foram localizados com estas palavras-chave. Sem acesso aos textos dos trabalhos, temos uma visão parcial, mas os indícios apresentados podem ajudar em uma refl exão fi nal. Pela leitura dos temas indicados nos títulos e pelos resumos, pode-se dizer que, geralmente, os trabalhos envolvem um número maior de fontes e, mais raramente, se encontra um trabalho que privilegia apenas uma delas.

As fontes trabalhadas dependem do período. Para o período imperial e início da república, por exemplo, predominam os documentos como atas, relatórios de inspetores, leis, decretos, relatórios de viagem, mensagens de governo. Por outro lado, há um conjunto expressivo de trabalhos que utiliza como fonte e metodologia a história oral, sobretudo quando o recorte é mais recente.

Há um expressivo conjunto que toma como fontes documentais os manuais e cartilhas, revelando algumas tendências que dependem do quadro teórico e das perguntas que determinam o olhar sobre a mesma fonte: análise do conteúdo das cartilhas e manuais, ênfase no processo de autoria ou do autor, análise de sua forma e de seu circuito e análise mais aprofundada de um determinado gênero.

Sobre registros escritos mais aproximados das práticas, chamam a atenção trabalhos que tomam como fontes os diários de professores alfabetizadores, cadernos de planejamento e cadernos escolares. O trabalho com as memórias também possibilita um acesso a práticas que foram, de fato, desenvolvidas ou representadas pelos entrevistados.

No campo dos discursos sobre alfabetização ou analfabetismo e campanhas, a imprensa em geral e a imprensa pedagógica, assim como textos prescritivos, termos de visita, leis e regulamentos permitem o acesso ao ideário que circulava em determinados momentos, sobretudo quando se busca trabalhar concepções envolvidas nos discursos sobre alfabetização.

São lacunares os estudos que tomam o mesmo objeto e a mesma fonte num período de longa ou média duração, o que difi culta o olhar sobre as continuidades e reforça a perspectiva da mudança.

Em síntese, considerando as refl exões feitas neste texto, posso reafi rmar que o trabalho com as fontes depende da forma como olhamos o fenômeno, se queremos investigar permanências/continuidades ou rupturas/mudanças, e das perguntas que fazemos. Pode-se dizer, também, que as fontes ajudam a pensar novos problemas e que novos problemas nos levam a investigar fontes poucos exploradas.

Para terminar esta análise, retomo algumas provocações: que aspectos da alfabetização estamos analisando?; sujeitos, instâncias, objetos, meios de produção e transmissão da escrita, habilidades?; como isolá-los ou relacioná-los aos fenômenos mais amplos que envolvem a cultura escrita? Estas perguntas e a ampliação do fenômeno para além da escola e sua pedagogia podem fortalecer novos estudos e provocar uma renovação de fontes para o campo da História da Alfabetização.

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Cartilhas na historiografi a da alfabetização: fontes,

No documento História da alfabetização e suas fontes (páginas 52-56)

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