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Quinta Categoria: modos de produção, seleção e uso

No documento História da alfabetização e suas fontes (páginas 73-78)

Quadro 8 – Modos de Produção, seleção e uso

Título D T Autor/a Ano Universidade

Comissão de Seleção dos Livros Didáticos (1935-

1951): Guardiã e Censora da Produção X

Rita de Cássia

GONÇALVES 2005 PUC/SP

Fonte: Dados elaborados pelas autoras.

Nesta categoria temos apenas uma produção (2%), que não analisa cartilhas, mas as prescrições que nortearam a produção, seleção e uso de livros de leitura de primário e cartilhas no Estado de São Paulo, de 1935 a 1960 (Gonçalves).

É importante assinalar a linha tênue que delimita as categorias propostas e que atinge, em especial, o grupo de estudos da terceira categoria. A maioria deles tem uma proposta abrangente de objeto de estudo, valendo-se de diferentes fontes, o que resulta em inúmeros tópicos relacionados à alfabetização. Por exemplo, alguns trabalhos dessa categoria fazem repertórios, apresentam listas e quadros de cartilhas que circularam ou que foram mais utilizadas em determinados lugares e, em alguns casos, até fazem uma breve análise de cartilhas20. No entanto, seu objetivo principal não era repertoriar títulos de cartilhas, diferentemente dos

três trabalhos apresentados na quarta categoria, sendo, portanto, agrupados na categoria em que a cartilha é uma dentre outras fontes estudadas.

Por fi m, notamos que, dentre os 50 trabalhos em perspectiva histórica, encontram-se cinco que estudam o objeto cartilha voltado para a alfabetização de jovens e adultos e apenas um se detém na alfabetização matemática. Os demais tematizam a cartilha voltada para o ensino da leitura e para crianças do ensino primário.

Considerações fi nais

É relativamente recente o interesse dos pesquisadores pelo campo de estudo da história da leitura e dos livros escolares. Segundo Choppin (2009), apenas a partir da década de 80, do século passado, a comunidade científi ca inaugura um tipo de refl exão mais crítica, em relação a estudos anteriores, a respeito dos manuais escolares. Como vimos, no Brasil, só a partir do fi nal da década de 1990, livros e cartilhas escolares ganham atenção dos pesquisadores, que ampliam signifi cativamente este campo de estudo.

A proposta deste capítulo foi a de refl etir sobre as cartilhas como fontes para a historiografi a da alfabetização, a partir de um mapeamento dos trabalhos acadêmicos brasileiros – dissertações e teses – que estudam as cartilhas escolares.

20 A exemplo de Lázara Nanci de Barros Amâncio (2008), que apresenta repertórios de cartilhas mais utilizadas em Mato

Acreditamos que a apresentação dos dados neste texto fornece evidências para a compreensão da importância do tema discutido nas produções acadêmicas das últimas décadas. As cartilhas, como recursos elementares nas práticas pedagógicas de ensino de leitura e escrita – dispositivos de controle – e consideradas imprescindíveis num determinado momento da educação brasileira, fazem parte de um longo capítulo da História da Alfabetização em nosso país. Os estudos mencionados, independentemente da categoria em que se inserem, são representativos das concepções e práticas de alfabetização tematizadas e/ou concretizadas nas escolas brasileiras.

O mapeamento realizado em duas bases de dados eletrônicos (CAPES e BDTD) e a categorização apresentada evidenciou que os descritores escolhidos (cartilha, cartilhas, cartilhas escolares e cartilhas de alfabetização) nos direcionou para dissertações e teses, em sua maioria elaboradas em perspectiva história.

Considerando-se que 52% deste corpus são de trabalhos nos quais a cartilha é uma fonte coadjuvante, que aparece entre outras tantas fontes, conclui-se que ainda há muito a fazer neste campo do conhecimento. Como sugere Ferreira (2014, p.121), “Pesquisadores que tomam os livros didáticos como objetos e fontes de pesquisa são verdadeiros desbravadores de um terreno não totalmente conhecido e tampouco inteiramente mapeado, registrado ou esgotado em sua complexidade e inteireza.”

Interessante notar que esse dado, referente à utilização de várias fontes, atende a algumas recomendações de historiadores como Lombardi (2004) que, ao refl etir sobre fontes históricas e historiográfi cas, afi rma que o pesquisador “[...] deve buscar todo tipo de fonte que o ajude a reconstruir (em pensamento) o objeto de investigação delimitado.” E, ainda, que “[...] é importante não recorrer a uma única fonte, mas sim confrontar várias fontes que dialoguem com o problema de investigação.” (Lombardi, 2004, p.154-157) O autor em pauta considera que todos os tipos de fontes – que são produtos históricos e testemunhos que possibilitam entender a vida – são válidas para a compreensão do mundo e dos homens.

Lembramos, porém, que este repertório é apenas uma parte do trabalho de mapeamento a que nos propusemos realizar. Como esforço da continuidade da pesquisa, temos boas expectativas futuras, momento em que exploraremos os periódicos, livros e eventos da área.

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No documento História da alfabetização e suas fontes (páginas 73-78)

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