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Considerações Finais

No documento Transexualidades: um olhar multidisciplinar (páginas 174-177)

A consolidação desses dados de nossa intervenção, bem como a reflexão sobre eles, nos permitiu compreender em que medida o preconceito e a discriminação podem se configurar em elementos fomentadores de negligências e exclusões na vida de sujeitos que vivenciam a identidade sexual e de gênero de forma diversa do padrão vigente. Tais pessoas, além de terem seus direitos violados e serem oprimidas por uma sociedade desrespeitosa e sexista, são muitas vezes impedidas de usufruírem dos fatos mais elementares e simples de sua vida diária.

Assim, vão cotidianamente convivendo com “piadinhas”, insultos e agressões explícitas ou veladas, que paulatinamente os empurram para verdadeiros guetos de partilhas afetivas, muitas vezes os isolando do pleno gozo da vida. Tal cenário propicia isolamento, desencadeia sentimentos de baixa autoestima e afastamento de espaços de sociabilidade. As perseguições que em sua maioria se iniciam nos interiores dos lares, através de exigências de comportamen- tos tidos como masculinos ou femininos, se estendem para a comunidade, escola, espaços de lazer e trabalho. Descobrir-se em sua própria identidade, a partir do entendimento de que é “estranho”, “diferente” ou “anormal”, parece regra diante dos olhares estigmatizantes do outro, via de regra, heterossexual.

Nós, os operadores das políticas públicas, profissionais que coletivamente defendemos a recusa de condutas discriminatórias ou preconceituosas, por orientação e expressão sexual, precisamos somar esforços para, em nosso exercício profissional, efetivamente construirmos trajetórias que garantam o respeito e acesso irrestrito de todos e todas aos bens e direitos da coletividade.

Essas posturas, assim como as nossas atitudes profissionais, não devem se constituir em ações isoladas. É imprescindível a busca pelo trabalho coletivo, a construção de condutas in- terdisciplinares e o olhar constituído pela totalidade, para que seja possível compreender as particularidades envolvidas nas demandas trazidas por tais sujeitos e, assim, construir formas de enfrentá-las.

Diante do exposto, é possível sustentar que a intervenção profissional junto aos usuários/ as inscritos no processo transexualizador do Hospital Universitário Pedro Ernesto necessita ser construída e materializada a partir da articulação das ações e das políticas setoriais. É urgente a necessidade de pensar e planejar o trabalho de maneira mais conectada com as políticas públi- cas, em um viés de intersetorialidade. A complementariedade entre políticas como a de saúde, educação, assistência e habitação, possibilita a efetiva integralidade de ações no atendimento das demandas destes usuários/as.

Por fim, se faz urgente que os profissionais, das diferentes políticas e espaços de interven- ção, busquem objetivar ações cotidianas que considerem e respeitem as diferenças, evitando que, pelo menos nestes cenários, estas se transformem em desigualdades.

Processo transexualizador no Rio de Janeiro ‡ 173

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Representações sociais de graduandos concluintes

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