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DESENVOLVIMETO DE PRÁTICAS DE ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA

4 ESTADO DO CONHECIMENTO

4.1 Considerações gerais acerca dos trabalhos da ANPEd e da BDTD-Ibict

Percebemos, mediante o levantamento, a incipiência de trabalhos que tratem da temática das práticas bem-sucedidas, publicados em eventos com grande projeção a nível

nacional na área da educação, como o da ANPEd. Desse modo, pudemos perceber, mediante levantamento realizado, que de um total de 226 trabalhos apresentados no GT 10 das reuniões nacionais da ANPEd, do ano 2000 ao ano 201511, na modalidade de comunicação oral, foi identificado apenas um trabalho que tratava da temática das práticas de alfabetização bem-sucedidas, qual seja o de Souza e Cardoso (2012), intitulado “Práticas de alfabetização e letramento: o fazer pedagógico de uma alfabetizadora bem sucedida”.

Cabe nos perguntar sobre o porquê do número reduzido de trabalhos que se debruçam sobre as práticas bem-sucedidas no ensino a leitura e da escrita. Trata-se de um objeto pouco atrativo para os pesquisadores e autores dos artigos científicos? Seria esta uma temática que não desperta ou não dialoga com os interesses daqueles que compõe as bancas examinadoras de eventos científicos e periódicos? Essa é uma questão de ordem da concepção epistemológica de cada sujeito? Temos evitado tratar desse objeto de estudo em virtude dos riscos de incorrer em juízos de valor, ou nos acostumamos a apontar o fracasso em vez de veicular o que tem surtido efeito em matéria de alfabetização?

Independentemente de quais sejam as respostas para essas perguntas, parece-nos que esse é um tema que necessita ser abordado, apesar da pouca visibilidade que se tem dado a ele nos bancos de teses e dissertações e nos lócus de publicação de artigos científicos.

No que diz respeito às pesquisas da BDTD-Ibict, percebemos que, de um total de 346.239 dissertações e de 128.458 teses disponíveis para acesso nessa base de dados, no momento do levantamento, encontramos apenas 12 pesquisas que abordavam a questão das práticas bem-sucedidas na área da alfabetização, sendo 10 dissertações e 2 teses, como se pode observar no quadro a seguir.

11 Não encontramos no GT de Didática nenhum trabalho que tratasse de forma específica das práticas bem-

Quadro 1 - As práticas bem-sucedidas na área da alfabetização na BDTD-Ibict

Fonte: A autora (2016)

Cabe salientar que, apesar de não termos incluído em nosso levantamento, encontramos três outros trabalhos que tratavam da temática do sucesso na BDTD-Ibict, quais sejam: “As práticas exitosas de leitura no ensino fundamental: vozes sociais de professores e de estudantes”, de autoria de Monteiro (2013); “É possível promover o sucesso escolar?: um estudo a partir do pensamento das educadoras de séries iniciais”, realizado por Ferreira (2009); “Professoras bem-sucedidas são professoras reflexivas?! A prática da reflexividade nas ações pedagógicas de professoras nos anos iniciais de escolaridade”, de autoria de Utsumi (2004).

O motivo pelo qual não incluímos esses trabalhos no estado da arte está relacionado ao fato de os mesmos não dialogarem de forma direta com nossa discussão. Assim, no caso do primeiro trabalho, apesar de tratar da leitura, a pesquisa foi realizada nos anos finais do Ensino Fundamental (9º ano), o que nos leva a considerar que as práticas bem-sucedidas nesses níveis de ensino têm suas especificidades. Em se tratando do segundo trabalho, percebemos que ele não trata especificamente de professores considerados bem-sucedidos, mas da visão dos próprios professores em relação a fatores que podem promover o sucesso escolar. No que diz respeito ao terceiro estudo, percebemos que, apesar de fazer algumas referências à alfabetização quando trata das ações pedagógicas das professoras bem- sucedidas, esse não é o seu foco.

No que concerne às pesquisas do estado do conhecimento, percebemos, como pode-se observar no quadro anterior, que o número de trabalhos que trata da temática aqui abordada teve um crescimento, apesar de ainda muito tímido, na primeira década do ano 2000 (6 pesquisas) e na primeira metade da década que se segue (4 pesquisas), em comparação com os anos 80 do século XX (2 pesquisas). O fato de não termos encontrado, na BDTD-Ibict, estudos desenvolvidos sobre esse objeto em anos anteriores a 1980, nos faz inferir que essa é uma temática recente nos estudos encabeçados no âmbito das pós-graduações.

Depreendemos, ainda, que isso pode estar associado, dentre outros fatores, ao foco que se dava, até esse momento, aos métodos de alfabetização como fator determinante do sucesso na aprendizagem inicial da língua escrita, o que foi sendo modificado com o surgimento dos estudos sobre a Psicogênese da Escrita de Ferreiro e Teberosky. Assim, como afirmam Soares e Maciel (2000), esses estudos contribuíram para que houvesse uma diminuição da intensa produção em torno dos métodos de alfabetização. Sobretudo a partir dos anos 2000, os estudos parecem reconhecer também a necessidade e a importância das metodologias no processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita.

Mediante o quadro apresentado anteriormente, também podemos perceber quais são os locus que têm privilegiado a pesquisa sobre práticas bem-sucedidas de alfabetização. Nesse sentido, observa-se que todas as pesquisas, com exceção da desenvolvida por Verzola (2005), são realizadas na área da Educação. É possível observar, ainda, que o maior número de estudos (3) foi desenvolvido na Universidade Estadual Paulista (UNESP), seguido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), cada uma com duas pesquisas. Já os demais estudos são as únicas produções sobre essa temática em programas de pós-graduação de instituições como a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a

Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Metodista de São Paulo e a Universidade Católica de Santos (UNISANTOS).

É perceptível também, que a região Sudeste, mais especificamente o estado de São Paulo, é aquela em que mais Universidades têm realizado estudos sobre as práticas bem- sucedidas na alfabetização. É notável, ainda, que na BDTD localizamos apenas um trabalho realizado no Nordeste sobre a referida temática, região reincidentemente apresentada nas avaliações externas, a exemplo da ANA 2014, como sendo aquela que tem maiores problemas no que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita. Assim, compreendemos que esse baixo quantitativo de trabalho desenvolvidos nessa região, longe de implicar o investimento apenas em outras regiões com melhores índices, ratifica a necessidade de desenvolvermos investigações que evidenciem “o outro lado da moeda”, ou seja, que estudem o que existe de positivo, já que nem tudo é fracasso em determinada área geográfica.

Em suma, compreendemos que as ideias apresentadas nos trabalhos de ambas as bases de dados (ANPEd e BDTD) são relevantes para que possamos compreender as práticas de ensino da leitura e da escrita consideradas bem-sucedidas, uma vez que apresentam discussões relacionadas aos saberes-fazeres mobilizados por professores cujas práticas de ensino da leitura e da escrita são consideradas bem-sucedidas. Contudo, consideramos que existem outras questões importantes a serem discutidas para além destas e que aparecem de forma incipiente nesses estudos, tais como os recursos didáticos utilizados, a forma de agrupamento dos alunos, entre outras, as quais pretendemos contemplar em nossa pesquisa. Nessa direção, pretendemos contribuir com a produção de conhecimento relacionada ao nosso objeto de estudo, contemplando elementos que não foram abordados nos estudos ou que deixaram possíveis lacunas.

Diante do que temos exposto até aqui, é importante considerar que tanto o quantitativo de trabalhos apresentados em cada base de dados, quanto os diversos aspectos a eles referentes, dizem respeito apenas aqueles com os quais nos deparamos no momento do levantamento. Desse modo, tal levantamento está sujeito a mudanças, uma vez que o estado do conhecimento sobre as práticas bem-sucedidas, assim como o de outras temáticas, constitui um trabalho que, literalmente, não tem fim, pois todos os dias aparecem novos estudos, novas perspectivas, novas concepções, que imprimem nele um caráter de inacabamento. Assim, como apontam Soares e Maciel (2000), o estado do conhecimento deve mesmo ser inconcluso, porque ele deve ser progressivamente construído, identificando e explicitando os caminhos da ciência, sempre atentando para a integração de resultados, bem como para as lacunas deixadas na produção de conhecimento sobre determinado tema. Além disso, como

defendem essas mesmas autoras, o estado do conhecimento não tem término devido à necessidade de atualização dos bancos de dados, devido à importância que têm para aqueles que desejam estudar ou pesquisar sobre determinada temática.

Ademais, é importante ressaltar que reconhecemos que há sempre a necessidade de aprofundamento sobre o estado do conhecimento e que com o nosso não é diferente, tendo em vista reconhecermos o caráter um tanto quanto descritivo de muitos aspectos aqui tratados e a necessidade de fazer o levantamento também em outras bases de dados de grande projeção na área de alfabetização e livros que tratem das práticas bem-sucedidas na alfabetização.

4.2 Práticas de ensino da leitura e da escrita consideradas bem-sucedidas: o que dizem

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