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1.3.6.2 SISTEMAS DE RECOMPENSA

3. POLITICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO

3.6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA

Produzida uma análise sobre o estado da arte das políticas públicas, com o objetivo de encontrar relevância à sua abordagem numa investigação sobre a relação entre a gestão de recursos humanos docentes e o desempenho da organização instituição pública de ensino, podemos perceber que uma perspetiva de análise dos resultados de politicas públicas parece estar mais adequada à realidade da escola pública, do que uma visão de desempenho organizacional nascida no setor privado.

Sem a teoria das políticas públicas, estudar as variáveis que nos propomos ganharia suporte teórico na Harvard School, socorrendo-se da sua conceção de GERH e envolvendo diversos interessados (stakeholders). Contudo, esta teoria, apesar de considerar a diversidade de interesses que vários atores exercem nas organizações, pretende – em coerência com o seu campo de estudo – estudar organizações privadas.

Sendo que o contexto em que a GRH docentes e a conceção de DO se relacionam é o setor público, compreendemos, tal como Carvalho (2013), que apesar de alguma hibridização entre os setores público e privado – fruto de diversas condicionantes, como por exemplo a difusão do New Public Management – a natureza e contexto das organizações públicas não deve ser isolada. Nesta medida as políticas públicas, nas políticas sociais e de Educação, serão a matriz sobre a qual recairá esta investigação.

A visão de multi interessados não se perde com a teoria das políticas públicas, como podemos constatar em vários autores (por exemplo; Offe, 1984; Souza, 2006; Carvalho, 2013; Sobrinho, 2004). Contextualiza-se porque lhes reconhece influência na avaliação das políticas públicas e reveste-os com as condicionantes específicas das instituições do Estado, num sentido lato. Isto é, administração pública, governo, associações, sindicatos, entre outras. A multidisciplinaridade solicitada por Pollitt (2010) pode ser entendida, para além da invocação de diversas teorias, para analisar os fenómenos complexos que se estudam, como uma forma de melhor compreender o papel dos diversos atores que confluem na dinâmica das políticas públicas.

Constata-se também que as investigações produzidas se assumem como apoio à decisão política, num ciclo de políticas públicas que dialoga com o passado, o contexto presente e a produção científica. Desta forma, analisar o tema que nos propomos sob o contexto político, permite-nos “não criar fosso entre a teoria e prática” (Carvalho, 2013), isto é, relacionar um modelo administrativo e político, no sentido de propiciar intercomunicabilidade entre teoria e prática. Permite-nos ambicionar que o estudo produzido possa apresentar um contributo prático à administração pública da Educação.

Quer o contexto Cultura, como o de Estado, não se apresentariam na investigação se o chapéu teórico adotado pertencesse ao campo da gestão privada. Através das políticas públicas discutem-se estes contextos como relevantes à análise (por exemplo: Souza, 2006; Höfling, 2001). Também compreendemos a especificidade das políticas sociais (e de Educação), na restrição das políticas públicas. Podendo, inclusive, surgir politicas públicas de educação em contraciclo com políticas públicas económicas.

Souza (2006, p. 40) julga que entender as conceções de políticas públicas pode permitir ao investigador “melhor compreender o problema para o qual a política pública foi desenhada, seus possíveis conflitos, a trajetória seguida e o papel dos indivíduos, grupos e instituições que estão envolvidos na decisão e que serão afetados pela política pública”. Posição com que nos identificamos, segundo reflexão realizada.

Em suma, a relevância de assumir as políticas públicas como enquadramento teórico da nossa análise, é entendida como concretização da relevância teórica e prática que uma investigação necessita. Teoricamente, faculta-nos um quadro de entendimento da ação que pretendemos estudar, adaptado à circunstância específica do setor administração pública da educação. Do ponto de vista prático, permite-nos ambicionar produzir um estudo com um contributo válido à valorização da administração pública, na medida em que aproximamos a teoria à prática.

4. METODOLOGIA

4.1. GROUNDED THEORY Como já referimos, a literatura disponibiliza diversos modelos explicativos da relação GERH- DO. Contudo, desta diversidade sobressaem duas condições já mencionadas. Por um lado, não existe uma teoria unificada sobre esta relação no domínio da gestão. Por outro, a relação entre GERH e DO (ou resultados de políticas públicas de educação) não se encontra estudada no contexto da Educação Pública. São estas as condições que influenciam a opção por uma análise qualitativa, assim como a escolha de uma técnica. A escolha pela grounded theory (GT) justifica-se “geralmente porque existe uma lacuna na teoria existente que pode ser suprimida por uma visão original construída a partir do ponto de vista dos envolvidos” (Uhlmann & Erdmann, 2014, p. 6), sendo considerada um método de investigação, bem como uma metodologia em si mesma, que adota o paradigma qualitativo (Strauss & Corbin, 1998).

No que respeita à adequabilidade desta metodologia a uma investigação em ciências sociais, na especialidade da AP e desenvolvida no contexto da administração da educação, recolhemos da literatura a sua adaptabilidade nas seguintes áreas: ciências sociais (Strauss & Corbin, 1998); administração (Bianchi & Ikeda, 2008; Tummers & Karsten, 2012; Uhlmann & Erdmann, 2014); educação (Cohen, Manion & Morrison, 2007; Strauss & Corbin, 1998). A GT foi desenvolvida na década de 60 por Barney Glaser e Anselm Strauss. A sua teoria foi publicada sob o título Discovery of grounded theory: Strategies for qualitative research (Glaser & Strauss, 1967). A obra foi um contributo à investigação qualitativa, que estava a perder terreno face a métodos quantitativos, fruto do crescente domínio do paradigma positivista (Charmaz, 2006).

Barney Glaser e Anselm Strauss, após o seu trabalho inicial, continuaram a desenvolver o método que idealizaram separadamente, o que evidenciou diferenças concetuais entre estes

autores. A linha de evolução que seguimos nesta investigação é a de Stauss e Corbin (1998). O recurso à literatura, presente no enquadramento teórico deste trabalho, assim como a redação de uma pergunta de partida na investigação são reveladores dessa opção. Estas são características do método proposto por esta linha, pelo facto dos autores defenderem um método qualitativo, mais detalhado em procedimentos, isto é, “com etapas de análise mais estruturadas” (Bianchi & Ikeda, 2008, p. 237). A partir daqui a referência ao método GT deverá ser lida como o proposto por Stauss e Corbin (1998).

A utilização da GT tem como finalidade a obtenção de novos conceitos, novas teorias ou um conjunto de proposições, capazes de evidenciar relações entre os atores sociais e as suas perceções sobre a realidade. Estes resultados são conseguidos a partir da abstração dos dados colhidos, sejam eles entrevistas ou documentos. A metodologia em causa pretende compreender em profundidade, em contexto e num determinado momento, um fenómeno social (Strauss & Corbin, 1998).

A GT, quanto às suas características, apresenta três propriedades principais. Em primeiro lugar, é uma abordagem qualitativa indutiva (Glaser & Strauss, 1967), uma vez que os padrões, temas e categorias de análise provêm dos dados. Isto é, a teoria deriva dos dados, em vez de surgir de pressupostos teóricos antes da sua recolha para análise posterior. Em segundo lugar, a GT tem uma forma específica de desenvolver teorias, definida como a “geração sistemática intencional a partir dos dados da pesquisa social” (Glaser & Strauss, 1967, p. 28). Ou seja, a teoria é construída a partir de dados empíricos, mais correspondentes à realidade social. Em terceiro lugar pretende-se uma teoria explicativa, com um propósito diferente das teorias descritivas ou conceituais (Tummers & Karsten, 2012).

Assim, compreende-se que a grounded theory está relacionada com uma reflexão contínua sobre o uso da literatura. À luz da sua conceção e evolução por dois ramos, a reflexão faz-se na discussão entre o recurso ou negação da literatura para construção da teoria que se pretende desenvolver. Esta discussão será mais adequada a quem pretenda estudar o método em si. Contudo, não sendo este o nosso objetivo e tendo-nos posicionado na

metodologia de Strauss e Corbin (1998), a reflexão que nos respeita é de “como” e “quando” recorrer à literatura.

Tummers e Karsten (2012) que refletem sobre o papel da literatura na pesquisa qualitativa em AP, especificamente no âmbito da GT, concluem que existem “oportunidades e armadilhas” ligadas à sua utilização no decurso de uma investigação. O trabalho destes autores revela-se central para a qualidade da investigação que propomos, pelo que procedemos e mantivemos uma reflexão crítica sobre a vantagem ou desvantagem do uso da literatura em cada fase da investigação – (a) projeto de pesquisa; (b) recolha de dados; (c) análise de dados. Para tal, seguimos as suas sete recomendações, divididas nas seguintes categorias: Recomendações gerais:

• A questão de se usar literatura, ou não, merece ponderação em cada fase do processo de pesquisa qualitativa.

• O uso da literatura em todas as fases do estudo não é, por definição, uma característica definidora de uma boa investigação.

Recomendações para o desenho da pesquisa:

• Na fase de definição da investigação, os estudiosos da administração pública devem indicar e justificar onde a literatura será usada em cada uma das restantes fases, em que papel e em que medida. Idealmente, isso deve depender principalmente das questões de pesquisa e dos objetivos da investigação.

• Um desenho de pesquisa minucioso deve também indicar como as armadilhas da literatura serão evitadas e como as oportunidades serão utilizadas em todo o seu potencial.

Recomendações para a recolha e análise de dados:

• Durante a recolha e análise de dados, o papel da literatura e a sua influência sobre o desenvolvimento e resultados da investigação devem ser continuamente revistos. Recomendações para relatórios de pesquisa são as seguintes:

• Os relatórios de investigação devem ser explícitos quanto às fases em que a literatura foi usada. Até que ponto as oportunidades e as armadilhas foram consideradas e quais as limitações daí decorrentes.

• De forma semelhante, as publicações académicas devem ser explícitas sobre como a literatura foi usada durante o processo de investigação, bem como sobre as limitações que se colocam aos resultados. (Tummers & Karsten, 2012, p.80)