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1.3.6.2 SISTEMAS DE RECOMPENSA

3. POLITICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO

4.2. O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO

Uma vez que optamos pela metodologia de Strauss e Corbin (1998) há que expor os procedimentos que tomamos sobre a matriz de investigação destes autores. Strauss e Corbin afirmam que o trabalho se inicia com: (a) a definição de uma questão de partida, seguindo-se (b) a definição dos elementos de estudo e confluindo numa (c) pesquisa de campo, onde se pretende construir uma teoria a partir de comparações contínuas e sucessivas.

Descrevem-se assim as três fases de codificação (Figura 4.1). Estas fases são designadas por codificação aberta – “o processo analítico pelo qual os conceitos são identificados e as suas propriedades e dimensões descobertas nos dados” (Strauss & Corbin, 1998, p. 101), codificação axial – “o processo de relacionar categorias com subcategorias, designado axial, porque a codificação ocorre em torno do eixo da categoria, ligando-as ao nível das propriedades e dimensões” (Strauss & Corbin, 1998, p. 123) – e codificação seletiva – “o processo de integração e refinamento da teoria” (Strauss & Corbin, 1998, p. 143).

Figura 4.1. Construção de teoria através do processo de pesquisa (Fonte: Goulding, 2002,

p. 115).

Atendendo a que o processo de análise da GT apresenta alguns momentos sensíveis nas diversas fases de codificação seguimos a sugestão de Strauss e Corbin (1998). Para uma fase inicial contamos com a colaboração de investigadores experientes no domínio metodológico e com afinidade na temática em investigação. Este trabalho colaborativo pretendeu dar mais validade à investigação e detetar discrepâncias que pudessem ser reanalisadas. Neste particular, foram discutidas questões como: a construção do guião de entrevista; os grupos de interesse a entrevistar; a seleção dos entrevistados; a dimensão da amostra; a transcrição das entrevistas; a identificação dos códigos de primeira ordem; o reconhecimento das categorias; o processo de codificação adequado à explicação de conceitos e proposições; o desenho de uma teoria explicativa provisória; o reconhecimento da teoria pelos parceiros investigados.

A questão de partida já a definimos na introdução – Quais são os processos pelos quais a gestão de recursos humanos influencia os resultados das políticas públicas destinadas aos alunos nos estabelecimentos públicos de ensino, de nível secundário, na Região Autónoma da Madeira? Na altura, justificamos a sua formulação, que agora se torna mais clara com a definição da metodologia adotada.

O decurso da investigação não nos suscitou a necessidade em reformular esta etapa inicial. Na medida em que, nas entrevistas recolhidas, foram possíveis identificar processos que estabeleciam relações entre a GRH docentes e os RPPE. A redação deste trabalho – ao conter um capítulo sobre GERH e PPE – deixa transparecer que a literatura foi considerada para a redação da questão de partida. No caso da relação proposta não estar estudada, compreendemos que os conhecimentos acumulados sobre GERH e PPE não poderiam ser ignorados. Por outro lado, as conceções detidas sobre essas áreas, não ambicionando ser um obstáculo a novos insights, poderiam facilitar os entrevistados a raciocinar sobre as relações que estudamos. Exemplos de insights conseguidos que não decorreram do guião são as categorias de comunicação interna e externa. Contudo, numa margem que não nos é possível determinar, admitimos que um guião de entrevista semiestruturado também possua a capacidade de limitar o pensamento dos investigados.

A definição dos elementos de estudo na GT é designada por amostragem teórica, sendo compreendida como indivíduos, situações ou eventos idealizados para o processo de análise. “Intencionalmente forma-se um grupo alvo para o estudo e, ao longo dos trabalhos, o grupo torna-se ‘teórico’ à medida que suporta a criação de hipóteses e desenvolve teorias” (Bianchi & Ikeda, 2008, p. 239). Todavia, este grupo pode ser ajustado ao longo da investigação, na medida em que a sua evolução levante dúvidas que indiciem não ser o mais adequado à pesquisa (Strauss & Corbin, 1998). Nesta investigação, não sentimos necessidade de reformular a amostragem teórica, ou seja, elementos que foram definidos pelas conceções de múltiplos interessados que confluem na definição das políticas públicas sociais.

Os elementos de estudo selecionados foram: altos dirigentes da administração da educação pública regional em exercício de funções políticas (com influência na estratégia que o setor

Educação defende e na GRH); presidentes/diretores de estabelecimentos públicos de educação, ou outros representantes da organização, com tutela da GRH; professores, em exercício de funções educativas, com ou sem atribuições de GRH, tais como, delegados de grupo ou diretores de departamentos; alunos e famílias; dirigentes de sindicatos de professores; e parceiros económicos. Uma caraterização dos interlocutores referidos, será desenvolvida no subcapítulo seguinte.

A terceira etapa, o trabalho de campo, decorreu segundo as três fases descritas por Strauss e Corbin (1998). Para suportar a etapa referida, construímos um guião de entrevista semiestruturada (anexo 1). O guião foi definido com 7 blocos de questões: legitimação da entrevista; dados sociodemográficos do entrevistado; processos de GRH; técnicas de GRH; processos de PPE; técnicas de PPE; processos mediadores, pelos quais a GRH impacta os resultados de PPE.

Nesta fase iniciamos a codificação aberta, com recurso a entrevistas aos elementos de estudo enunciados, assim como ao estudo de documentos legais que versem sobre a GRH, tais como: estatuto da carreira docente; regulamentos de contratação e recrutamento; orgânicas. Esperamos que a confluência dos meios invocados conduzisse uma primeira imagem da realidade que investigamos, expondo conceptualizações, definindo categorias e desenvolvendo-as em termos das suas propriedades e dimensões.

Procedemos aqui a 16 entrevistas que foram transcritas e encontram-se como anexo 2. Este período teve inicio em dezembro de 2016 e decorreu durante um ano. No processo de análise adotado, consideramos as entrevistas por grupos de interesse. Assim, começamos pelas noções recolhidas dos políticos, progredimos para os gestores escolares, avançamos para os professores, fomos até os alunos e famílias, consultamos os dirigentes sindicais e terminamos nos parceiros económicos. Não recorremos à literatura na fase de codificação aberta, pretendendo aferir os conceitos sem interferência das noções que o conhecimento científico apresenta. Para nos auxiliar na tarefa de identificar categorias ou conceitos nas transcrições, recorremos a uma ferramenta online - www.wordcounter.net - que permitia identificar as palavras, ou conjuntos de palavras, mais frequentes.

Na fase de codificação axial, promovemos a reorganização dos dados recolhidos na fase anterior, tendo em vista uma explicação inicial e provisória do fenómeno. As perceções recolhidas permitiram identificar e sistematizar 25 categorias de análise que expomos na redação dos resultados de investigação. As categorias apuradas não se apresentaram na forma de categorias e subcategorias. Todavia foi possível perceber múltiplas relações causais ou recíprocas entre as mesmas.

No presente estudo, os dados condicionam o percurso metodológico. Na condição observada, os elementos constituintes da teoria gerada são as categorias concetuais e respetivas propriedades. As relações entre as categorias apresentam-se em termos de proposições. As categorias ambicionam evidenciar os agregados abstratos de conceitos observados, enquanto as proposições propõem relações entre as categorias (Denzin, 1989). Continuamos a não recorrer à literatura disponível, por razão idêntica à invocada na fase de codificação aberta. Num momento em que se pretende compreender e estabelecer relações entre as categorias identificadas, a recusa do conhecimento científico disponível ainda ambiciona a não importação de modelos estabelecidos no setor privado sobre o impacto da GERH no desempenho das organizações (entendido na nossa investigação como resultados de políticas públicas de educação).

Para sustentar o trabalho de conceção e relação entre categorias, bem como perceber as propriedades que exibem, foram identificados múltiplos códigos de primeira ordem (Tabela 4.1). Note-se que um código pode se referir apenas a uma categoria ou a várias, pelo que a soma do número de códigos respeitantes a cada categoria não corresponde ao número de códigos identificados. A verdadeira grandeza dos códigos pode ser avaliada no anexo 3, onde todos os códigos identificados são registados por sujeito entrevistado. Os códigos são rotulados no formato x.y.z, sendo: x – a identificação do entrevistado; y – o registo da questão colocada que levou à resposta; z – o número do código referente à questão colocada.

Na terceira fase (de codificação seletiva) promovemos a integração e refinamento dos sistemas produzidos na fase anterior. Refira-se, contudo, que estes três momentos, embora

numerados, são cíclicos e recorrentes enquanto não é atingido um ponto de saturação teórica. A título de exemplo mencionamos que, numa fase posterior, a categoria “perfil da escola” acolheu na sua explicação a dimensão de formação para o mercado, até o momento considerada uma categoria autónoma. Tabela 4.1. Número de códigos de primeira ordem identificados por categoria (Elaborado pelo autor). Categoria Número de códigos Políticas públicas de educação 50 Cultura organizacional 50 Recrutamento/seleção e mobilidade 87 Sistemas de recompensa 23 Acolhimento e socialização 38 Formação contínua 36 Motivação/satisfação 44 Negociação de conflitos 30 Competência do professor 16 Perfil do professor 17 Avaliação dos professores 161 Estilo de liderança 116 Legislação/regulamentação 31 Autonomia Administrativa 17 Inovação 40 Valorização profissional 35 Resultados na formação/aprendizagem dos alunos 101 Valorização dos recursos humanos no exterior 6 Perceção de qualidade da escola 65 Comunicação interna 17 Contexto da escola 5 Perfil da escola 39 Avaliação da escola 28 Adequação professor/função 141 Comunicação externa de processos e resultados 14

Nesta fase, voltamos à literatura científica, na ambição de confrontar os conceitos e relações percebidos com o conhecimento disponível. Recorremos também ao diálogo com especialistas, que nos ajudaram a contrastar as hipóteses desenhadas, com a ciência escrita. Estas ações permitiram perceber que as 25 categorias e as suas múltiplas relações se deparavam com uma lógica semelhante de uma teoria pré-existente, um modelo teórico focado em analisar as organizações na sua complexidade e propor soluções de melhoria em eficácia (Waterman, Peters & Phillips, 1980), o modelo 7-S da McKinsey. Desta forma, na fase seletiva (que teve início em outubro de 2018), as perceções e compreensões recolhidas passam a ser refletidas na coerência de um modelo de análise validado.

A estratégia de voltar à revisão de literatura, tal como de contactar com especialistas de GRH e PPE, deu-nos a possibilidade de perceber que uma discussão da influência da GRH nos resultados de PPE pode ser apreendida num entendimento de multiplicidade de fatores organizacionais, onde os recursos humanos são um deles. A recusa pela literatura científica neste momento poderia ter conduzido esta investigação à defesa de um modelo causal que ignorasse a complexidade das múltiplas influências que existem nas organizações para além dos recursos humanos. Desta forma, poderíamos estar mais distantes de atingir o objetivo de apreender um modelo que, além de teórico, pudesse constituir-se como um contributo prático à administração pública da educação, para obter melhores resultados por via da gestão dos professores.

No momento em que uma teoria explicativa ficou delineada (em março de 2019), foi altura de a validar, pelo que voltamos à nossa amostragem teórica (anexo 4). Neste processo, verificamos o ajuste da teoria à realidade. Pudemos verificar que o modelo explicativo foi identificado e maioritariamente aceite por esta amostragem (anexo 5), que durante a investigação nos forneceu os dados (Strauss & Corbin, 1998). Nesta ocasião, esteve presente o coorientador da investigação, de forma a se proceder à verificação do reconhecimento da teoria pela amostragem teórica.