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Constelação de Laura: Colocando em ordem uma dupla transferência

No documento Ordens Do Amor - Bert Hellinger - 30-4-2013 (páginas 78-82)

LAURA: Estou tremendamente indignada e não sei a razão disso. HELLINGER: Indignada? Realmente furiosa?

LAURA: Sim. Você ri?

HELLINGER: Sim. Devo chorar? — Está bem, vamos colocar sua família.

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Figura 1

Ma Marido

Mu

Mulher (=Laura)

F Filha

HELLINGER: Esta configuração indica a presença de um envolvimento sistêmico, pois não é possível imaginar um relacionamento como este entre marido e mulher, nem mesmo nas representações mais caóticas.

(para Laura): Ocorre-lhe alguma coisa?

LAURA: Tive muitas vezes a sensação de que alguém esconde alguma coisa. Estou na pista de um segredo, mas toda pergunta que faço é despachada com o maior desagrado. Entretanto, tenho uma terrível suspeita de que minha mãe está escondendo alguma coisa.

HELLINGER: Então o envolvimento provém da família dela.

LAURA: Meu avô materno só teve filhas, e eram sete. Isso decerto não lhe agradava. Queria um filho, e para ele era muito importante que todas as suas filhas tivessem filhos sem se casarem. Tinha a esperança de que uma de- las traria ao mundo um filho que continuasse o seu nome. Todas elas se comportaram exatamente como ele ti- nha imaginado, com exceção de minha mãe. Ela se casou e foi a única que teve filhos homens. Todas as outras tiveram filhas.

HELLINGER: Quem é, então, que o seu marido teve de representar na sua constelação? — O avô. Se isso é cer- to, então você ainda está devendo muito ao marido.

(para o grupo): Quero acrescentar alguma coisa sobre o tema “Dinâmica da dupla transferência”. Em primeiro

lugar, pergunto: quais devem ter sido os senti- mentos das filhas, em relação ao pai? — Estavam furiosas, e com razão. E quem recebeu esses sentimentos de indignação?

LAURA: Meu ex-marido.

HELLINGER: Exatamente. Você assume os sentimentos dessas filhas: esta é a transferência do sujeito, das tias para você. Porém, em lugar do avô, quem recebe esse sentimento é o seu ex-marido: essa é a transferência do objeto, do seu avô para o seu marido. Assim, você ainda tem uma grande dívida para com seu marido. Quando alguém sente que está com razão, realmente com razão, como você há pouco, então existe, na maioria dos ca- sos, uma dupla transferência. Quando se trata do próprio direito, as pessoas não se empenham tanto, quanto com o direito alheio.

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Figura 2

HELLINGER (para Laura): Agora, olhe amavelmente para cada tia e lhe diga: “Querida titia”, como uma meni-

na diz a uma tia querida.

LAURA: Mas eu não sinto afeição por elas.

HELLINGER: Então repita tantas vezes até que consiga senti-la.

Laura repete até que consegue fazê-lo melhor.

HELLINGER: Agora ajoelhe-se diante das tias, incline-se até o chão, estenda os braços com as mãos abertas para cima, e diga a elas: “Eu honro vocês.”

Figura 3

LAURA: Eu honro vocês.

HELLINGER: “Queridas tias, eu honro vocês.”

LAURA: Queridas tias, eu honro vocês.

HELLINGER (depois de algum tempo): Agora levante-se, vá para junto das tias e diga a cada uma delas: “Querida titia.”

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LAURA: Querida titia, querida titia...

Laura está muito emocionada. Somente agora fluem seu amor, sua dor e sua com- paixão. Então Hellinger co- loca o marido diante dela.

Figura 4

Laura se dirige ao seu marido, cai nos braços dele e lhe diz, soluçando: Perdoe-me, por favor! HELLINGER: Diga apenas: “Sinto muito.” Apenas isto: “Sinto muito.”

LAURA: Sinto muito.

HELLINGER: Diga-lhe: “Eu não sabia.” LAURA: Eu não sabia.

HELLINGER (quando Laura se acalma): Agora coloque-se ao lado dele, e vou colocar também sua filha.

Figura 5

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Todos estão bem.

HELLINGER: Muito bem, foi isso aí.

(para o grupo): Quero explicar mais em detalhe esse processo. No caso de uma dupla transferência, podemos

observar que a pessoa em questão já não é ela mesma, pois está identificada com uma outra pessoa. A identifi- cação significa que ela está alienada de si e se sente como se fosse a outra; não a vê, portanto, como uma pessoa autônoma, porque está identificada com ela. Por isso, foi necessário inicialmente colocar as tias diante de Lau- ra. A identificação com elas não pôde ser mantida, principalmente quando ela lhes disse: “Eu honro vocês.” Elas voltaram a ser suas tias e Laura voltou a ser somente ela mesma e mais ninguém. As tias voltaram a ser grandes e responsáveis pela própria dignidade e pelos próprios direitos. E Laura voltou a ser pequena e pôde amá-las como se fosse a criança de então.

REPRESENTANTE DE UMA TIA:Para mim foi importante sentir, como tia, como é bom receber a homenagem.

HELLINGER (para o grupo): Vocês viram a beleza da cena, quando as tias se postaram ali, em sua dignidade.

Sem isso, sem a dignificação que precede o amor, o processo não funciona. Mesmo quando um filho encontra o caminho de volta para os pais, frequentemente é preciso que antes lhes preste homenagem: por exemplo, quan- do os injustiçou ou desprezou. Só depois dessa preliminar é possível o encontro. Caso contrário, algo foi omiti- do e o encontro não tem força.

A maioria das dificuldades graves entre casais baseia-se na dupla transferência. Todos os esforços para resolvê- las são inúteis enquanto a identificação não for reconhecida e resolvida. Só então volta a existir uma relação boa e renovada. Na identificação, a pessoa vive num mundo estranho e fica também inacessível, pois não se comporta como ela mesma, mas como um estranho. E, do mesmo modo, não vê seu parceiro, mas uma outra pessoa nele. Então tudo fica distorcido.

LAURA: Estou estupefata. Pela primeira vez em minha vida, senti as costas quentes sem que ninguém me puses- se a mão. Isso eu jamais tinha experimentado.

REPRESENTANTE DO MARIDO: Senti-me comovido quando ela disse: “Sinto muito, eu não sabia.”

No documento Ordens Do Amor - Bert Hellinger - 30-4-2013 (páginas 78-82)