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Olhar para as vítimas, não para os perpetradores

No documento Ordens Do Amor - Bert Hellinger - 30-4-2013 (páginas 184-186)

opinião, nesse sistema, o pai também perdeu seu direito. Por conseguinte, a criança estava totalmente só. Então

apareceu a Rita e acolheu a criança.

HELLINGER (para o grupo): Ela traz informações que nós não recebemos. As informações que tivemos da Rita

foram diferentes. Por isso não vou entrar na discussão, pois trata-se de algo puramente hipotético. Rita disse que a mãe não revelou o nome do pai. Isso é algo muito diferente. Naturalmente, posso fazer de conta que igno- ro isso; então engano a pessoa que fez a objeção. Isso eu também posso fazer. Quando alguém o deseja, posso fazer. Quando realmente quero enganar alguém, aceito suas objeções.

OUTRA PARTICIPANTE: Pode ser que a ordem tenha sido perturbada, mas isso não significa que deva ficar sempre assim. Que possibilidades existem de restabelecer a ordem agora?

HELLINGER: Isso eu já mostrei. Esta seria a possibilidade.

A PARTICIPANTE: Mas deve haver ainda outras possibilidades.

HELLINGER: Não. A ordem não se deixa manipular.

OUTRA PARTICIPANTE: Não entendi o que você falou sobre enganar. Quando eu cedo...?

HELLINGER: Quando cedo à pessoa que faz uma tal objeção, então estou enganando-a, da mesma maneira como o alfaiatinho valente enganou o unicórnio, tirando o corpo.6

UM PARTICIPANTE: Você acha possível que a criança procure o pai quando tiver condições para isso?

HELLINGER: Ela não terá condições para isso se os pais adotivos se opuserem.

O PARTICIPANTE: Nem quando ela tiver quinze ou vinte anos?

HELLINGER: Não. Assim os adultos empurram para a criança algo que só eles podem fazer.

PARTICIPANTE: Você acha então que é tarefa dos pais adotivos procurar o pai?

HELLINGER: Sim, não apenas procurá-lo, mas levar a criança para ele e para sua família.

UMA PARTICIPANTE: E se eles não a quiserem?

HELLINGER: Isso se verá. Então se poderá tomar outro rumo.

OUTRA PARTICIPANTE: Era isso que eu queria dizer, que agora ainda deve haver uma outra possibilidade de restabelecer a ordem.

HELLINGER (para o grupo): Dizer isso agora é a mesma espécie de hipótese com que ela me recriminou antes.

Isso é realmente uma hipótese. A gente não sabe de nada, porém diz: “O que será, se...” Mas que o pai foi ex- cluído, disso eu sei. Que ele não é desejado, isso eu vi.

O direito da criança a seus pais

UMA PARTICIPANTE: Portanto, pelos dados que temos, o motivo pelo qual a mãe não revela o nome do pai não é importante para a solução?

HELLINGER: Não tem a menor importância. Não existe razão alguma que justifique o segredo. Se existem direi- tos básicos, então existe um direito básico da criança a seus pais e a seu grupo familiar. Na Alemanha, este di- reito é assegurado por lei: a criança tem o direito de saber quem é seu pai. A mãe precisa revelar à criança o nome do pai. Ela tem direito a isso.

Que espécie de ordem legal é esta, quando alguém se arroga o direito de privar a criança de seus próprios pais e se coloca no lugar deles? Ou quando se dá a uma mãe em necessidade o conselho “bem-intencionado” de en- tregar a criança à adoção? ou quando um casal sem filhos alegremente espera que uma criança seja liberada pa- ra adoção? Isso é perverso, mas muitos o consideram normal.

Assim como a criança tem direito aos seus pais, ela tem também direito ao seu grupo familiar.

Olhar para as vítimas, não para os perpetradores

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UMA PARTICIPANTE: Do meu ponto de vista, a constelação da Rita foi um primeiro passo, seja qual for o pró- ximo. A informação foi de que a mãe não quis dizer o nome do pai e penso comigo que algo se esconde por trás disso. A partir daquela época já houve um desenvolvimento e uma dinâmica e quem sabe o que espera essa cri- ança quando for para o pai.

HELLINGER: Gostaria de adverti-la. O perigo consiste em que, com tais ponderações, poupamos os adultos e colocamos o peso sobre a criança, que é a parte mais fraca, em vez de deixá-lo com os verdadeiros responsá- veis, e exigir que o carreguem.

Quando procuro desculpas para a mãe, não posso confrontá-la com toda a seriedade da situação. Quando ajo na intenção de lhe proporcionar desculpas ou alívio, posso talvez conversar longamente com ela, mas sem qual- quer resultado. Só quando ela é totalmente confrontada com sua responsabilidade é que percebe o que o caso requer e então talvez faça algo com isso. Você mesma precisa levar consigo essa seriedade. Então você poderá deixar que as pessoas fortes assumam o peso da responsabilidade, em vez de onerar com ele a criança, como também fazem muitos terapeutas e serviços de assistência a menores.

Quero comentar ainda sua pergunta sobre as consequências da constelação de Rita. Você não tem o direito de fazer objeções contra a constelação. Ela mostrou a realidade. Não fui eu que a coloquei, foi a Rita; eu apenas busquei a solução. Quando você diz agora que poderia ser diferente, que é preciso fazer algo diferente, você tira o impacto da dinâmica e se arroga o direito de saber mais do que a Rita.

A realidade só pode continuar a atuar quando você a reconhece plenamente, tal como ela se revelou. Então o próximo passo nasce dessa realidade. Mas, quando você diz que algo diferente poderá suceder mais tarde, você tira dela a seriedade e a força. Por isso, quando monto uma constelação, vou sempre até o seu limite extremo. Coloquei abertamente diante dos olhos de Rita o lado mau de seu envolvimento, para que ela percebesse a sua seriedade. Só então se toma possível fazer algo diferente mais tarde. O grave e sério é o que realmente atua. Quando o suavizamos, tiramos sua força. Meu olhar estava sempre dirigido para a criança e para o pai. Eu esta- va unido a eles pois eles carregam o peso, são as vítimas. Quando mantenho ambos diante dos olhos, encontro a solução. Quando, porém, me afasto deles e olho para a mãe e para o casal que se une contra o pai da criança, a solução me escapa. Então justifico o problema e os perpetradores, em vez de ajudar as vítimas.

O passo seguinte

RITA: Quando a criança chegou à nossa casa, eu quis fazer alguma coisa. (Chora.) Fui à igreja e lá coloquei um ramo de flores e rezei pela mãe da criança. Nunca tive a sensação de que havia algo entre nós. No pai absolu- tamente não pensei. Mas já sabia então que teria de fazer alguma coisa.

HELLINGER: Um dos principais problemas na psicoterapia é que muitas mulheres agem como se os homens e os pais não tivessem direitos. Não são, nem ao menos, levados em conta, como se tudo o que diz respeito às crianças fosse um assunto exclusivo das mulheres. Chama a atenção o fato de que muitos terapeutas homens

também mostram pouco sentimento pelos homens. Confiam no que dizem as mulheres quando condenam os homens, e tomam o partido delas. Então não existe mais solução. O terapeuta só tem força quando dá ao excluí- do um lugar em seu coração. Eu tenho força para a solução porque o pai da criança tem um lugar em meu cor a- ção. Ele o ganhou imediatamente. Por isso também sei e encontro a solução.

(para Rita): Isso ainda pode ser consertado. De acordo? Rita concorda com a cabeça.

HELLINGER: Seu rosto já está clareando um pouco.

RITA: Está ficando mais fácil.

UMA PARTICIPANTE: Por uma parte, estou muito impressionada com as suas palavras. Existe nelas uma incrí- vel sabedoria que me toca e comove. Percebo que está sendo satisfeito um desejo que tenho, e que seguramente é o de muitos de nós: Aqui está finalmente alguém que nos diz qual é o caminho, que sabe o que é certo e o que é errado. Ao mesmo tempo, porém, cresce dentro de mim um enorme desconforto, porque percebo isso como perigoso. De vez em quando, misturadas com as verdades que você diz, reaparecem afirmações muito generali- zantes que experimento como destrutivas, por exemplo, essa profecia de há pouco, de que tudo está confuso, de

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No documento Ordens Do Amor - Bert Hellinger - 30-4-2013 (páginas 184-186)