RAIMUND: Quando nos conhecemos, minha atual mulher estava há dois anos numa relação que estava termi- nando e se desfez de uma forma bastante caótica.
HELLINGER: Quando a segunda mulher também foi casada, o casamento funciona melhor do que quando al- guém que já foi casado toma alguém que ainda não foi.
RAIMUND: Minha primeira mulher tem um novo marido.
HELLINGER: Eles têm filhos?
RAIMUND: Não, mas o marido adotou minha filha. Isso é importante?
HELLINGER: É importante. Ela se vingará seriamente dele por esse fato. Não se tem jamais o direito de fazer is- so. E você não protestou?
RAIMUND: Não, eu concordei.
HELLINGER: Concordou? Pelo amor de Deus! A filha fica zangada com você. Você precisa dizer-lhe que revo- ga isso e que ela permanece sua filha, com todos os direitos. Você não pode jamais confiá-la a outro homem!
Figura 1
Ma Marido (=Raimund)
1Mu Primeira mulher 1 Primeira filha 2Mu Segunda mulher 2 Segunda filha 3 Terceiro filho
HELLINGER (para Raimund): O que você sonhou esta manhã?
RAIMUND: Sonhei que meu filho estava diante da porta.
HELLINGER: Naturalmente, isso significa que você está diante da porta. – Como está a primeira mulher?
PRIMEIRA MULHER: Tenho dores nas costas. Por trás tenho uma sensação muito estranha, como um puxão. Ao mesmo tempo, não posso me voltar nessa direção. Muito estranho.
HELLINGER: Como está a primeira filha?
PRIMEIRA FILHA: No início, quando fiquei sozinha com minha mãe, foi bom para mim. Agora começo a sentir uma dor de estômago. Alguma coisa se agita lá dentro, como um formigamento. É desagradável, mas não ame- açador.
HELLINGER (para o representante de Raimund): Como está o marido?
MARIDO: Com minha família atual me sinto bem. Mas é desagradável aquela imagem lá fora, de minha primei- ra mulher com minha primeira filha. As outras duas crianças protegem o espaço aqui.
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SEGUNDA MULHER: Não muito bem. De certo modo não percebo o marido como um oponente, mas antes como um adversário.
HELLINGER: É isso também.
SEGUNDA MULHER: Sim, e minha relação com os filhos também não está em ordem. Tenho a sensação de que minha filha não deve ficar assim de lado, atrás de mim. Com o filho a situação é melhor porque existe um con- tato de olhar. Mas, para ter contato com minha filha, eu me arrisco a um torcicolo.
HELLINGER (para a primeira mulher, quando se agrava a dor nas costas): Vire-se para se sentir melhor. Não tenho o direito de deixá-la nisso, com tais reações.
Hellinger coloca a primeira mulher ao lado de sua filha. Figura 2
HELLINGER: Como está a segunda filha?
SEGUNDA FILHA: Não estou bem. Sinto-me abandonada, sem abrigo e proteção.
HELLINGER (para Raimund): Ela tem os sentimentos da primeira filha. RAIMUND: Espantoso. Elas se escrevem muito.
HELLINGER: Ela tem os sentimentos da outra.
HELLINGER: Como está o filho?
TERCEIRO FILHO: Tenho a sensação de que preciso apoiar meu pai. Sinto-me usado.
HELLINGER (para Raimund): Ambos estão diante da porta, você e seu filho. Ambos.
HELLINGER: Agora vamos fazer a primeira alteração importante.
Hellinger coloca a primeira filha diante do pai. Figura 3
PRIMEIRA FILHA: Aqui não é agradável. Eu gostaria de me afastar um pouco.
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Ela se afasta um pouco do pai.
PRIMEIRA FILHA: Especialmente ela (a segunda mulher) está me olhando assim fixamente. Isso me ameaça.
Hellinger coloca o segundo marido ao lado da primeira mulher. Figura 4
2Ma Segundo marido da primeira mulher
HELLINGER: Como é isto agora para a primeira filha?
PRIMEIRA FILHA: É muito mais agradável quando a mãe está a meu lado.
HELLINGER (para o representante de Raimund): O que mudou agora para o marido?
MARIDO: A vinda de minha primeira filha foi agradável para mim. Mas então minha mulher me pareceu per i- gosa. Sinto-me atraído por minha primeira filha, mas não gostaria de me afastar de minha atual família. Assim, sinto-me dividido entre ambos os lados.
HELLINGER: O que mudou para a segunda filha?
SEGUNDA FILHA: Sinto-me entre os dois lados. Na direção do pai não sinto nada. Lá continuo a sentir-me des- protegida. Preferia voltar-me para minha irmã mais velha. Não sei para onde vou. Quanto menos me sinto atra- ída pelo pai, tanto mais atraente se torna a irmã mais velha.
HELLINGER (para Raimund): Ela se sente como a irmã mais velha. Ela também se sente entre os dois lados. Hellinger coloca a imagem da solução. Os dois filhos do casamento ficam primeiro diante dos pais e, depois, mais perto da mãe.
Figura 5
HELLINGER: Como está agora a segunda mulher?
SEGUNDA MULHER: Quando os filhos estavam na minha frente, não estava bom para mim. Agora, que estão mais a meu lado, sinto-me melhor.
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SEGUNDA FILHA: Melhor. Mais protegida.
TERCEIRO FILHO: Para mim também é melhor.
HELLINGER (para Raimund): As crianças não confiam em você. Elas confiam mais na mãe.
TERCEIRO FILHO: Quando veio a primeira filha, senti-me aliviado. De repente, desapareceu uma pressão que eu sentia. Agora está muito agradável para mim.
HELLINGER (para a primeira filha): Agora experimente a que proximidade do pai você se atreve a ficar. Ela vai para mais perto do pai, e então volta para junto da mãe.
PRIMEIRA FILHA: Não me atrevo a ficar perto. Prefiro ficar aqui ao lado da mãe. Acho agradável ver os dois irmãos. O engraçado foi que, quando a irmã recuou, fiquei triste por um lado, porque ela foi embora. Ao mes- mo tempo, fiquei também alegre por ver o irmão. Ele é totalmente novo para mim. Não estou mal. Além do pai, preciso ver também os dois. Isso é importante para mim.
HELLINGER: Como está agora a primeira mulher?
PRIMEIRA MULHER: Maravilhosamente. Pela primeira vez, não tenho diante dos olhos a outra família. Eu olhava fixamente para a sua segunda filha, mais fortemente do que para a minha própria filha.
HELLINGER: Como está o segundo marido?
SEGUNDO MARIDO: Aqui está conveniente.
HELLINGER (para Raimund): Você perdeu os direitos sobre a filha quando a liberou para a adoção. Ela reage
de forma proporcional.
RAIMUND: Sim.
HELLINGER: Isso jamais deve acontecer, que num segundo casamento sejam adotados os filhos do primeiro ca- samento ou de uma ligação anterior do parceiro. Isso é muito mau para as crianças e destrói a ordem.
RAIMUND: Pensei que fosse melhor para ela.
HELLINGER: Isso é uma racionalização. Você pode, de certa maneira, recolocar isso em ordem. Pode dizer a ela que sente muito e que ela pode confiar em que você continua sendo seu pai, haja o que houver. Que estará sem- pre disponível para ela e que ela terá igualdade de direitos com os outros filhos seus, por exemplo, na herança ou em qualquer outra coisa. Então a tensão poderá se relaxar. Você quer entrar em seu lugar?
Raimund se coloca em seu lugar e olha em torno. RAIMUND: Pacífico, é totalmente pacífico.
HELLINGER: Quando existe ordem, é pacífico. Então cada um tem seu lugar. Chegue um pouco mais perto de sua filha mais velha e veja como é isso.
HELLINGER: (para a filha mais velha): Você estará reconciliada quando ele chegar mais perto? PRIMEIRA CRIANÇA: Ó sim! Isso eu bem posso imaginar. (Ela ri.)
HELLINGER (para Raimund): Esse seria o próximo passo.
A filha mais velha de Raimund foi representada por Rita.
HELLINGER (para o grupo): Sobre o tema da adoção vou lhes contar ainda uma história. Ela é um pouco cifra-
da e é assim: