• Nenhum resultado encontrado

Constelação de Ute: Irmão deficiente e meio-irmão escondido, falecidos quando crianças

No documento Ordens Do Amor - Bert Hellinger - 30-4-2013 (páginas 83-89)

UTE: Desde que você me falou de túmulo, ficou claro para mim que minhas ligações com a morte são múltiplas e grandes...

HELLINGER: Não quero saber disso.

UTE: Também não quero voltar a falar disso. Apenas me veio uma ideia que surgiu ontem e que nunca me havia ocorrido antes. Além de meu irmão mais velho, tive um meio-irmão, um filho extraconjugal de meu pai. Meu irmão mais velho sofria de uma grave deficiência cerebral e morreu quando eu tinha seis meses de idade. Mas eu nunca havia pensado nesse meio-irmão, que também morreu cedo. Depois que você falou da importância de outras pessoas, ele me veio à mente pela primeira vez.

HELLINGER: Ele é o mais velho dos irmãos?

UTE: Não, fica no meio. Meu irmão é o mais velho, então vem o meio-irmão e em seguida eu, que sou a mais nova.

HELLINGER: E o que aconteceu com a mãe desse meio-irmão?

UTE: Dela não sei coisa alguma. Casou-se depois. Era a secretária de meu pai. Só sei que depois ficou bem. Apenas soube disso depois da morte de meu pai.

HELLINGER: Numa situação como esta, a ordem sistêmica é que o homem precisa separar-se da primeira mu- lher e casar-se com aquela de quem tem um filho. Esta teria sido a ordem. Como sua mãe manteve a precedên- cia e seu pai permaneceu com ela, cometeu-se uma injustiça contra essa segunda mulher.

UTE: Minha mãe quis assumir a criança.

HELLINGER: Não, não, isso não pode ser! Ela não tem nenhum direito sobre ela.

UTE: Não, um direito ela não tinha.

HELLINGER: Coloque agora sua família de origem. Vamos ver isso.

Ute começa a colocar sua família de origem.

HELLINGER: Algum dos pais foi anteriormente casado ou noivo?

UTE: Sim, meu pai teve uma primeira mulher. Tudo isso eu vim a saber depois de sua morte.

HELLINGER: Houve filhos nesse casamento?

UTE: Não. Minha mãe também teve um relacionamento anterior, muito importante, com um homem 25 anos mais velho.

83

HELLINGER: Algum dos pais incriminou a si próprio ou ao parceiro, por causa da lesão da criança?

UTE: Acredito que minha mãe. Por ocasião do parto, tinha tomado comprimidos dados pela parteira, provavel- mente porque queria sossego. Acredito que se sentiu culpada por isso.

HELLINGER: O que dizem os médicos a respeito? É possível que o uso de tais comprimidos resulte em lesão ce- rebral?

UM MÉDICO: Se o nascimento foi retardado, é possível.

UTE: O bebê ficou entalado, totalmente entalado, mas ela negou isso mais tarde.

Figura 1

P Pai

M Mãe

†1 Primeiro filho, deficiente, prematuramente falecido

†2 Segundo filho (extraconjugal) do pai, falecido prematuramente

3 Terceira filha (=Ute)

M†2 Mãe do filho extraconjugal falecido 1MuP Primeira mulher do pai

exNM Ex-namorado da mãe

UTE: De repente, há tanta gente aí, e eu fui sempre tão só...

HELLINGER: Como está o pai?

PAI: Não me sinto bem, em absoluto. Estou irritado, mas esta é também uma situação atrapalhada. Minha sen- sação é de que não posso ir para a frente, nem para trás.

HELLINGER: Como se sente a mãe?

MÃE: Horrível. Totalmente horrível. Completamente horrível.

HELLINGER: Como está o falecido filho mais velho?

PRIMEIRO FILHO

: Bem. Sinto-me espaçoso, pesado e aquecido entre os dois. Não preciso de mais nada.

HELLINGER: Como está a mãe do filho extraconjugal?

MÃE DO SEGUNDO FILHO: Por algum tempo fui deixada só com meu filho. Muita responsabilidade.

HELLINGER: Como está o filho extraconjugal falecido?

84

HELLINGER: Como está a primeira mulher do pai?

PRIMEIRA MULHER DO PAI: E estranho. Por um lado, preferia não ter nada a ver com isto, absolutamente nada. Por outro lado, se tivesse de participar, gostaria de ser avó de todo esse povo.

HELLINGER: Como está o ex-namorado da mãe?

EX-NAMORADO DA MÃE: Sinto muito calor no meu lado direito, como se estivesse recebendo ou fazendo carí- cias temas. Sinto realmente uma atração, apenas por essa mulher. O resto não tem importância.

HELLINGER (para a representante de Ute): Como está a filha?

TERCEIRA FILHA: É como se eu estivesse partida ao meio. Na metade direita sinto calor, inclusive nas costas. A outra metade está gelada, e me sinto totalmente indefesa quanto a isto.

Hellinger coloca a primeira mulher do pai de frente para os demais. Figura 2

HELLINGER: Como está o pai agora?

PAI: Acho melhor agora, pois posso vê-la. Quando estava atrás de mim, não me sentia nada bem.

MÃE: Aqui melhorou muito, embora ainda não esteja bem.

TERCEIRA FILHA: Estou contente, pois agora tenho para quem olhar.

HELLINGER: Como está a primeira mulher?

PRIMEIRA MULHER DO PAI: Lá atrás senti frio e agora, por um momento, ficou aquecido. Começo a me inte- ressar. Já existe uma ligação.

85

Hellinger coloca a mãe ao lado da primeira mulher do pai. Figura 3

PAI: Isto é melhor. É realmente a primeira vez que minha mulher fica visível para mim. Antes eu pensava: o que pretende aquela mulher? Nada tenho contra ela, mas também nada a favor.

TERCEIRA FILHA: Posso respirar melhor.

PRIMEIRO FILHO

: Para mim, é indiferente.

Hellinger muda a imagem e faz com que o falecido filho mais velho se sente no chão diante de seus pais, com as costas apoiadas neles.

Figura 4

HELLINGER: Como é isto para o filho mais velho?

PRIMEIRO FILHO

: Conveniente.

HELLINGER: Como é isto para a mãe?

MÃE: Fico triste.

86

Figura 5

HELLINGER: Como está o pai agora?

PAI: Estranho. O fato de meu filho extraconjugal estar aqui a meu lado é antes opressivo para mim. Com o ou- tro filho, aqui embaixo, está tudo em ordem. A ligação com minha mulher existe principalmente em função desse filho. Tenho uma simpatia por ela, mas também uma sensação de que algo não está certo com o relacio- namento. Mas não sei o que é.

HELLINGER: Do ponto de vista sistêmico, ele se desfez.

HELLINGER (para a representante de Ute): Como está a filha?

TERCEIRA FILHA: Não estou bem.

Hellinger coloca a imagem que traz solução. Figura 6

HELLINGER: Como está a filha aqui?

TERCEIRA FILHA: Melhor.

MÃE: Melhor, também.

87

SEGUNDO FILHO

: Estou contente por estar aqui de novo, ao lado de minha mãe. Ali, ao lado do pai, eu me sentia muito só.

TERCEIRA FILHA: Minha sensação de estar dividida desapareceu.

HELLINGER: Como está a mãe do filho extraconjugal?

MÃE DO SEGUNDO FILHO: Muito bem. Estava triste porque meu filho estava tão distante. Mas agora está me- lhor. Muito bom.

MÃE: Isto me deixa triste.

HELLINGER: Como está a primeira mulher do pai?

PRIMEIRA MULHER DO PAI: Não tenho mais nada a ver com isso.

HELLINGER: Os acontecimentos posteriores têm um tal impacto que a relação anterior já não tem importância.

HELLINGER (para o ex-namorado da mãe): Ainda tem alguma importância para você?

EX-NAMORADO DA MÃE: Sinto um calor agradável e, de vez em quando, fico observando, mas já passou.

HELLINGER (para Ute): Quer se colocar pessoalmente? Ute se coloca em seu lugar e olha longamente para todos.

UTE:O que me faz bem aqui é que sinto ligações no lado direito e no lado esquerdo. E para mim é também muito bom ficar assim entre os homens. Fui uma filha de minha mãe. Acho ainda que para mamãe teria sido muito melhor ficar ao lado de papai do que preocupar-se comigo. Achei incrível que minha representante tenha sentido essa divisão. Realmente senti muitas vezes uma divisão assim, tanto no sentido horizontal, entre a parte superior e a inferior, quanto no vertical, entre o lado direito e o esquerdo. De qualquer modo, não sinto isso agora. E o fato de ter ainda este irmão à minha esquerda é algo completamente novo para mim. É a primeira vez que vejo isso. Continuo achando triste mas, neste momento, isso não me atinge tanto.

HELLINGER: Agora existe paz.

Ute acaricia suavemente o pai e os dois irmãos. UTE: Agora está bem.

HELLINGER (para o grupo): Vou contar-lhes outra história. É assim:

A Plenitude

Um jovem perguntou a um ancião: “O que distingue você,

que quase já foi,

de mim, que ainda serei?”

O ancião respondeu: “Eu fui mais.” De fato, o dia jovem que surge parece ser mais do que o velho, pois este já foi antes dele.

Todavia, embora ainda esteja nascendo, o dia novo só poderá ser

o que o velho foi, e tanto mais

quanto mais o outro tiver sido. Como o outro fez, em seu tempo, ele sobe verticalmente até o meio-dia, atinge o zênite antes do pleno calor e parece ficar um certo tempo no alto,

88

até que — quanto mais tarde, melhor — mergulha profundamente na tarde,

como que arrastado por seu peso crescente, e se consumará quando,

como o velho,

tiver sido plenamente.

Entretanto, o que já foi não passou; porque foi, permanece.

Embora tenha sido, ele atua e se acresce através do novo que o sucede.

Como a gota redonda de uma nuvem que passou, o que já foi mergulha num oceano que permanece. Somente o que nunca se realizou, porque foi apenas sonhado, não vivido, apenas pensado, mas não feito,

apenas idealizado, mas não pago como preço pelo que foi escolhido: somente isso passou;

disso, nada nos resta.

O Deus do momento oportuno

nos aparece, portanto, como um jovem com uma franja na frente e uma careca atrás. Pela frente, o seguramos pela franja.

Por trás, tateamos no vazio. O jovem perguntou:

“Que devo fazer, para me tomar o que você foi?"

O velho respondeu: “Seja!”

HELLINGER: Está bem, Ute?

UTE: Essa história me disse algo importante.

No documento Ordens Do Amor - Bert Hellinger - 30-4-2013 (páginas 83-89)